sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O BRASIL NO MUNDO ATUAL - AMÉRICA DO SUL



É SEMPRE BOM LER SOBRE QUEM É O BRASIL NESTE MUNDO GLOBALIZADO, E AO MESMO TEMPO, PODER OBSERVAR SUAS AÇÕES A NÍVEL CONTINENTAL, E ATÉ GLOBAL...

POR ISSO SELECIONEI ESTA REPORTAGEM, TENDO COMO OBJETIVO FAZER CONHECER A PARTICIPAÇÃO DO PAÍS NO CONTESTO DA AMÉRICA DO SUL, NESTA DÉCADA QUE VIRÁ...


A inserção do Brasil e da América do Sul na segunda década do século XXI

O futuro do projeto sul-americano dependerá cada vez mais das escolhas brasileiras e da forma pela qual o Brasil desenvolva suas relações com os Estados Unidos. No campo político, depois da hegemonia das idéias neoliberais e privatistas, e de uma coalizão de poder partidária do “cosmopolitismo subserviente”, no campo internacional, está se consolidando no Brasil um novo consenso desenvolvimentista, democrático e popular que transcende cada vez mais as siglas partidárias. As perspectivas futuras desta nova coalizão dependerão da estratégia internacional dos próximos governos. A análise é de José Luis Fiori, professor e diretor do Programa de Pós-Graduação de Economia Política Internacional da UFRJ, em artigo publicado pela Carta Maior, 10-02-2010.
Eis o artigo.
Notas para uma reflexão sobre a inserção internacional do Brasil e da América do Sul na segunda década do século XXI
1. Brasil e América do Sul: história e conjuntura
1 - As guerras e disputas políticas e territoriais, durante a formação dos estados sul-americanos, no século XIX, não produziram as mesmas conseqüências sistêmicas - políticas e econômicas - das guerras de centralização do poder e de formação dos estados e das economias nacionais européias. E mesmo no século XX, não se consolidou no continente sul-americano, um sistema integrado e competitivo, de estados e economias nacionais, como ocorreu na Ásia, depois da sua descolonização. Por isto, nunca existiu na América do Sul uma disputa hegemônica, entre os seus próprios estados e economias nacionais, e nenhum dos seus estados jamais disputou a hegemonia continental com as grandes potências.
De fato, desde sua independência, o continente sul-americano viveu sob a tutela anglo-saxônica: primeiro, da Grã Bretanha, até o fim do século XIX, e depois, dos Estados Unidos, até o início do século XXI. Como conseqüência, os estados latino-americanos nunca ocuparam posição importante nas grandes disputas geopolíticas do sistema mundial, e funcionaram durante todo o século XIX, como zona de experimentação do “imperialismo de livre comércio” da Grã Bretanha. No século XX, e em particular depois da 2ª. Guerra Mundial, quase todos estados sul-americanos alinharam sua política externa, com os Estados Unidos, durante a Guerra Fria, e aderiram com graus diferentes de sucesso, às políticas econômicas desenvolvimentistas, apoiada pelos Estados Unidos, até a década de 1970. Depois do fim da Guerra Fria, durante a década de 1990, de novo, a maioria dos governos da região voltaram a se alinhar ao lado da política externa e da política econômica preconizada pelos EUA e seu projeto de “globalização liberal”.
2 - No início do século XXI, entretanto, a situação política do continente mudou, com a vitória - em quase todos os países da América do Sul – de partidos e coalizões políticas nacionalistas, desenvolvimentistas e socialistas, que mudaram o rumo político-ideológico do continente, durante a primeira década do século. No início do período, quase todos os novos governos de esquerda mantiveram a política macroeconômica ortodoxa dos neoliberais da década de 90, e só aos poucos foram mudando, em alguns casos, o rumo mais amplo de sua política econômica, sem conseguir alterar a estrutura e o modelo tradicional de inserção internacional da economia continental.
Assim mesmo, todos estes novos governos se posicionaram ideologicamente contra o neoliberalismo da década anterior, e mudaram sua política externa, apoiando a integração político-econômica da América do Sul, e criticando intervencionismo norte-americano no continente. Este giro político à esquerda ocorreu de forma simultânea, em quase todo o continente, e coincidiu com a mudança do governo e da política externa americana, com a nova administração republicana de George Bush, que engavetou, na prática, o globalismo econômico liberal, da Administração Clinton, e o seu projeto da ALCA, para as Américas.
Este giro à esquerda coincidiu também com um novo ciclo de expansão da economia mundial, que se prolongou até 2008, e permitiu a retomada do crescimento, alto e generalizado, de todas as economias nacionais da região. A grande novidade foi a participação da China, que se transformou na grande compradora das exportações sul-americanas de minérios, energia e grãos. Neste período também, os altos preços das commodities fortaleceram a capacidade fiscal dos estados e ajudaram a financiar várias iniciativas do projeto de integração da infra-estrutura energética e de transportes do continente. Além disto, permitiram a acumulação de reservas e a diminuição da fragilidade externa do continente, aumentando o poder de resistência e negociação da região.
3 - Durante esta primeira década do século, destacou-se dentro do continente, a rápida mudança da posição política e econômica do Brasil, que retomou – aos poucos e de forma ainda irregular - a trilha do crescimento e aumentou sua participação no produto e no comércio dentro e fora da América do Sul. Ao mesmo tempo, o Brasil assumiu a liderança do processo de integração do continente e expandiu suas relações comerciais e financeiras com outras regiões do mundo, projetando sua presença diplomática em várias instâncias e fóruns multinacionais de negociação, dentro e fora das Nações Unidas. E hoje o Brasil já tem praticamente assegurada, até o fim da próxima década, uma posição entre as cinco maiores economias do mundo, quando deverá ser provavelmente, o maior produtor mundial de alimentos, e um dos maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo, além de seguir controlando a maior parte dos recursos hídricos e da biodiversidade da Amazônia.
Neste movimento duplo, em direção à América do Sul e aos demais continentes, e zonas de expansão e conflito internacional, o Brasil tem se apoiado, aliado e competido, a um só tempo, com outros estados e economias nacionais que também estão se expandindo rapidamente e reivindicando uma maior participação nas decisões do núcleo central de poder do sistema mundial, entre as quais se destacam ,sobretudo, a China e a Índia.
4 - Agora bem, depois de quase uma década convergente, a crise financeira de 2008 provocou uma queda abrupta do crescimento regional e uma desaceleração do projeto integração econômica do continente sul-americano. E quase ao mesmo tempo, ainda na Administração George Bush, os Estados Unidos abandonaram sua passividade no continente, e decidiram reativar sua IVº Frota Naval responsável pelo controle marítimo do Atlântico Sul. E logo em seguida, já na administração democrata do presidente Barak Obama, os Estados Unidos assinaram o acordo militar com a Colômbia que lhe deu acesso a sete bases militares dentro do território colombiano, e com isto fragilizou o processo de integração política, e os planos de defesa conjunta e autônoma do continente.
Logo em seguida, os EUA tiveram uma participação ativa na crise política de Honduras, e unilateral no terremoto que destruiu o Haiti, demonstrando vontade e decisão de retomar ou reafirmar sua presença e sua supremaca dentro do “hemisfério ocidental”. Por outro lado, no início de 2010, o Chile interrompeu a sucessão de vitórias eleitorais da esquerda, e elegeu um presidente de centro-direita, que reforçará a aliança estratégica com os Estados Unidos do “eixo anti-bolivariano”, na Região Andina. E com isto, deverá aumentar as divisões que sempre facilitaram – através da história - a tutela externa do continente. De qualquer maneira, a configuração completa deste novo cenário político ainda dependerá das eleições presidenciais no Brasil e Colômbia, em 2010, e na Argentina e Peru, em 2011.
5 - Neste momento de incerteza política, uma discussão sobre a inserção do Brasil e da América do Sul, no cenário internacional, na segunda década do século XXI, tem que partir de uma definição do que seja uma “inserção soberana”. Com relação ao que seja uma política externa soberana, nosso ponto de partida é muito simples: um estado e um governo que se proponham expandir o seu poder internacional, inevitavelmente terão que questionar e lutar contra a distribuição prévia do poder, dentro do próprio sistema. Como condição preliminar, eles terão que ter sua própria teoria e sua própria leitura dos fatos, dos conflitos, e das assimetrias e disputas globais, e de cada um dos “tabuleiros” geopolíticos regionais ao redor do mundo.
Para poder estabelecer de forma sustentada e autônoma, os seus próprios objetivos estratégicos, diferentes das potencias dominantes, e conseqüentes com sua intenção de mudar a distribuição do poder e da hierarquia mundial. Por isto, não é possível conceber uma política externa soberana e inovadora, que não questione e enfrente os consensos éticos e estratégicos das potencias que controlam o núcleo central do poder mundial. Neste campo, não estão excluídas as convergências e as alianças táticas, e temporárias, com uma ou várias das antigas potencias dominantes. Mas toda política externa soberana e inovadora, sabe que está e estará em permanente competição com estas potencias, e que terá que assumir as suas divergências, com a visão de mundo, com os diagnósticos e com as estratégias defendidas por elas, seja no espaço regional, seja a escala global. Isto não é uma veleidade irrelevante, nem é o fruto de uma animosidade ideológica, é uma conseqüência de uma “lei” essencial do sistema inter-estatal, e de uma determinação que é em grande medida geográfica, porque o objetivo do “estado questionador”, é ampliar sempre e cada vez mais, a sua capacidade de decisão e iniciativa estratégica autônoma, no campo político, econômico e militar, para poder difundir melhor e aumentar a eficácia de suas idéias e propostas de mudança do sistema mundial.
6 - Do lado oposto, fica mais fácil de definir e identificar as características essenciais de uma política externa conservadora ou subalterna. Em primeiro lugar, os conservadores não se propõem mudar a distribuição do poder internacional, nem questionam a hierarquia do sistema mundial. Sua reação frente aos desafios colocados pela agenda internacional, é quase sempre empírica, isolada, e moralista. Os conservadores não têm uma teoria nem uma visão histórica própria do sistema internacional e dos seus acontecimentos conjunturais, e são partidários, em geral, de uma política externa de baixo teor, sem grandes iniciativas estratégicas nacionais, e com uma alta taxa de submissão aos valores, juízos, e decisões estratégicas das potencias dominantes. Por isto, consciente ou inconscientemente, os conservadores delegam a terceiros, uma parte da soberania decisória de sua política externa, e acabam assumindo, invariavelmente, uma posição subalterna dentro da política internacional.


2. Um balanço no final da primeira década do século XXI
Ao terminar a primeira década do século XXI, entre crise e guerras, é possível fazer um balanço preliminar da estratégia imperial americana, que nasceu da crise dos 70 e se aprofundou depois do fim da Guerra Fria:
1 - O poder militar americano cresceu de forma contínua e se projetou sobre todo o mundo, mas a própria dinâmica contraditória da sua expansão, fortaleceu politicamente e “ressuscitou” militarmente, a Alemanha, a Rússia e o Japão, e contribuiu para o fortalecimento da China, Índia, Irã, Turquia, Brasil, países que disputam zonas de influência com os EUA, e participam da “corrida imperialista” que se explicitou nesta primeira década, e que deve se intensificar nos próximos anos. Os revezes políticos e militares dos EUA, na primeira década do século XXI desaceleraram o projeto imperial americano, mas ele não foi abandonado. Mas apesar disto, estes revezes criaram novas fraturas e divisões dentro dos EUA. E depois da Guerra do Iraque, está em curso um realinhamento interno de forças e posições, como ocorreu também na década de 70, e não é improvável que surja daí uma nova estratégia internacional. Mas estes processos de realinhamento interno do establishment americano costumam ser lentos, e os seus resultados finais dependerão ainda da própria luta interna e da evolução dos conflitos dos EUA com os seus principais concorrentes nas várias regiões do mundo. Porque apesar dos seus revezes recentes, e de suas dificuldades econômicas, os EUA seguem sendo o único player global, que está presente e disputa posições em cada uma, e em todas as regiões do mundo.
De qualquer forma, do nosso ponto de vista, não há possibilidade que os EUA abdiquem do seu poder, ou renunciem à expandi-lo permanentemente. Pelo contrário, deverão seguir aumentando sua capacidade militar em escala geométrica, numa velocidade que aumentará na medida em que se aproxime a sua ultrapassagem econômica pela China. Qualquer mudança mais substantiva, nesta correlação de forças, só ocorrerá com o aumento da capacidade e do poder regional e global das novas potências que estão se projetando neste início do século XXI.
2 - Por outro lado, do ponto de vista econômico, também se pode dizer que a resposta americana à crise de Bretton Woods acabou se transformando numa estratégia, que levou à recuperação e à expansão contínua da economia americana, cada vez mais associada ao crescimento da economia chinesa, sobretudo a partir de 1990. Este novo eixo dinâmico da economia mundial, por sua vez, provocou uma mudança estrutural da economia mundial, com o deslocamento para a Ásia, do seu principal centro de produção e acumulação de capital, e com o surgimento de uma economia nacional – a chinesa - com um poder gravitacional, sobre o conjunto da economia capitalista, equivalente ao dos Estados Unidos. Esta nova configuração estrutural, e sua expansão contínua, explica o aumento da “pressão competitiva”, dentro da economia mundial, na primeira década do século XXI.
3 - Por isto, do nosso ponto de vista, esta pressão econômica, somada à competição geopolítica, e à corrida imperialista que está em curso, são manifestações essenciais, e são ao mesmo tempo o anuncio de que o “sistema inter-estatal capitalista” está atravessando uma grande “explosão expansiva”. Nestes momentos, é impossível prever com precisão o futuro. O o único que se pode dizer, é que são transformações seculares dentro de um mesmo universo, que seguirá se expandindo, enquanto for constituído e liderado por “estados-economias nacionais” capitalistas, complementares e competitivas.
4 - Assim mesmo, no horizonte de curto prazo, entretanto, o “núcleo duro” da competição geopolítica mundial deverá estar composto velos Estados Unidos, China e Rússia. Três “estados continentais”, que detém um quarto da superfície da terra, e mais de um terço da população mundial. Nesta nova “geopolítica das nações”, a União Européia terá um papel secundário, ao lado dos Estados Unidos, enquanto não dispuser de um poder unificado, com capacidade de iniciativa estratégica autônoma. E a Índia, Irã, Brasil, Turquia, África do Sul, e talvez a Indonésia, deverão aumentar o seu poder regional, em escalas diferentes, mas não serão poderes globais, ainda por muito tempo. Na segunda década do século XXI, a nova “corrida imperialista” provocará um aumento dos conflitos localizados, entre os principais estados e economias do sistema, mas ainda não está no horizonte uma nova “guerra hegemônica”.
Por outro lado, do ponto de vista econômico, as novas crises financeiras que seguirão não deverão interromper o processo em curso de deslocamento do centro da acumulação capitalista, para a Ásia, e para algumas outras economias nacionais, dispersas pelo mundo, entre as quais, o Brasil e a Rússia, e em menor escala, a África do Sul, a Turquia, a Indonésia e o próprio Irã. Ou seja, no médio prazo, deverá ocorrer uma convergência assintótica, envolvendo numa mesma competição geopolítica e econômica, quase os mesmos estados e economias que deverão alcançar as primeiras posições na hierarquia internacional do poder e da riqueza mundial, ao lado dos Estados Unidos e da velha Europa.
5 - Por último, para avaliar a importância das próximas crises financeiras e políticas que deverão se manifestar e ocorrer na próxima década, é importante compreender que: em primeiro lugar, quase todas as grandes crises do sistema mundial foram provocadas até hoje, pela própria potência hegemônica; em segundo lugar, que estas crises são provocadas quase sempre, pela expansão vitoriosa (e não pelo declínio) das potências capazes de atropelar as regras e instituições que eles mesmos criaram, num momento anterior, e que depois se transformam num obstáculo no caminho da sua própria expansão; e em terceiro lugar, que o sucesso econômico e a expansão da potência líder é sempre uma força e um impulso fundamental para o fortalecimento de todos os demais estados e economias que se proponham concorrer ou “substituir” a potência hegemônica. Mas o que é mais esdrúxulo é que, as crises provocadas pela “exuberância expansiva” da potência líder, quase sempre afetam, de forma mais perversa e destrutiva, aos “concorrentes” mais do que ao próprio líder ou hegemon, que costuma se recuperar de forma mais rápida e poderosa do que os demais.
Seja como for, é dentro deste contexto geopolítico e econômico, que se pode e deve pensar as alternativas de mais longo prazo, de inserção internacional soberana da América do Sul e do Brasil, na segunda década do Século XXI.


3. Brasil: possibilidades e escolhas
1 - Brasil é - hoje - o segundo player mais importante, dentro do tabuleiro geopolítico da América do Sul ,e já tem tido uma importância maior nos desdobramentos político-ideológicos da América Central e do Caribe. Depois de assumir a liderança militar da missão de paz das Nações Unidas no Haiti, o Brasil tomou uma posição decidida a favor da reintegração de Cuba na comunidade americana e tem defendido, em todos os foros internacionais, o fim do bloqueio econômico norte-americano à Cuba. Ao mesmo tempo, tem assumido sua influência políitico-ideológica sobre alguns novos governos de esquerda da América Central, e tomou uma posição rápida e dura frente ao golpe de estado militar de Honduras, em junho de 2009, e frente à crise provocada pelo terremoto do Haiti, no início de 2010.
Mas apesar do seu maior ativismo diplomático, o Brasil ainda não tem capacidade de projetar seu poder afirmativo ou de veto, à região centro-americana, nem tem nenhuma disposição de competir ou questionar o poder americano no seu “mar interior caribenho”. Mais ao sul, entretanto, o Brasil tem exercido uma política cada vez mais ativa, mesmo quando conviva com uma desaceleração temporário do processo de integração econômica do continente. Com a criação da UNASUL, e do Conselho Sulamericano de Defesa, o Brasil se distanciou e esvaziou o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca e a Junta Interamericana de Defesa que sempre contaram com o aval norte-americano. Além disto, nesta últimos dois anos, o Brasil teve uma participação ativa e pacificadora, nos conflitos entre Equador e Colômbia e entre Colômbia e Venezuela, na conflito interno da Bolívia, quando se transformou numa ameaça de guerra civil e de secessão territorial.
2 - De qualquer forma, uma coisa é certa: o futuro do projeto sul-americano dependerá cada vez mais das escolhas brasileiras, e da forma que o Brasil desenvolva suas relações com os Estados Unidos. Do ponto de vista econômico, a pressão dos mercados internacionais e as novas descobertas do petróleo da camada do pré-sal, também estão oferecendo para o Brasil a possibilidade de se transformar numa economia exportadora de alta intensidade, uma espécie de “periferia de luxo” dos grandes potências compradoras do mundo, como foram no seu devido tempo, a Austrália e a Argentina, entre outros. Mas existe a possibilidade do Brasil escolher um outro caminho que combine seu potencial exportador, como uma estrutura produtiva industrial associada e liderada por uma economia mais dinâmica, como é o caso contemporâneo do Canadá, por exemplo.
Além disto, neste momento, o Brasil também dispõe de uma terceira alternativa, absolutamente nova para o país, e que aponta de certa maneira, para a reprodução da estrutura produtiva da economia norte-americana: com uma indústria de alto valor agregado, e uma enorme capacidade de produção e exportação de alimentos e outras commodities de alta produtividade, incluindo o petróleo, no caso brasileiro. Por outro lado, no campo político, depois da hegemonia das idéias neoliberais e privatistas, e de uma coalizão de poder partidária do “cosmopolitismo subserviente”, no campo internacional, está se consolidando no Brasil um novo consenso desenvolvimentista, democrático e popular que transcende cada vez mais as siglas partidárias. As perspectivas futuras desta nova coalizão, entretanto, dependerão da estratégia internacional dos próximos governos brasileiros.
O Brasil pode se transformar num “aliado estratégico” dos Estados Unidos, da Grã Bretanha e da França, com direito de acesso à uma parte de sua tecnologia de ponta, como no caso do Japão ou mesmo de Israel, que construiu seu arsenal atômico com a ajuda da França. Mas o Brasil também pode escolher um caminho próprio de afirmação internacional. Mas, se o Brasil quiser mudar de posição e de estratégia, dentro das “regras” do sistema mundial, terá que desenvolver um trabalho extremamente complexo de administração contínua das relações de complementaridade e competição com os Estados Unidos, e com as outras grandes potências, a partir dos seus próprios interesses econômicos e geopolíticos. Numa disputa prolongada pela hegemonia da América do Sul, como se fosse uma “luta oriental” com os Estados Unidos. Caminhando através de uma trilha muito estreita e durante um tempo que pode se prolongar por várias décadas. Além isto, para liderar a integração sul-americana no mundo, o Brasil terá que inventar uma nova forma de expansão econômica e política continental e mundial, sem “destino manifesto” nem missão missionária, e sem o imperialismo bélico das duas grandes potências anglo-saxônicas.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

AVATAR: UM FILME MUITO BONITO: MENSAGEM PARA OS HUMANOS!

AVATAR FOI O FILME MAIS CHEIO DE EFEITOS ESPECIAIS QUE JÁ VÍ, E OLHA QUE ASSISTO QUASE TODOS OS LANÇAMENTOS QUE ESTÃO POR AÍ....
PENSEI EM VÁRIAS COISAS AO VER O FILME.... MUITAS DELAS QUE FIZERAM LEMBRAR QUE OS HOMENS SÃO ASSIM MESMO: BUSCAM A TODO CUSTO EXPLORAR AS RIQUEZAS DE POVOS E NAÇÕES A CUSTO DO "PROGRESSO"...

PENSEI NISSO NAS FÉRIAS... E DEPOIS ACABEI LENDO ESTA REPORTAGEM ABAIXO, E FIQUEI IMPRESSIONADO...

CONCORDEI COM TODAS AS ANÁLISES FEITAS....

"Não temos a opção de ir a outro planeta atrás de recursos que esgotamos", escreve Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo", em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 10-01-2010.
Eis o artigo.
O tão comentado filme de James Cameron, "Avatar", explodiu nas telas terráqueas em dezembro. Parece que já arrecadou mais de US$ 1 bilhão, superando seus enormes custos (US$ 237 milhões na produção e mais US$ 150 milhões de marketing e promoção).
O que se poderia esperar do diretor de "Exterminador do Futuro", "Alien" e "Titanic"? Com certeza, muita ação e efeitos especiais. E uma história que não inspira muito. Pelo menos, essa era a minha expectativa antes de assistir ao filme.
Sem dúvida, ação e efeitos especiais não faltaram. As técnicas de computação gráfica são revolucionárias e iniciam uma nova fase na história da cinematografia. Mas me enganei na história. Extremamente oportuna e necessária, a criação de Cameron faz, de forma muito bela e eficiente, o que milhares de cientistas vêm tentando há anos: mostrar às pessoas os riscos da exploração desordenada das fontes de riqueza de um planeta.
O que se passa em Pandora, um planeta distante (aparentemente uma lua de um planeta gasoso), é uma metáfora para o que acontece aqui na Terra. Alguns podem até afirmar que é óbvia demais, quase trivialmente revivendo os antigos filmes de faroeste. A diferença é que, agora, os "mocinhos" são os malvados e os "índios" são os bonzinhos. Mas, às vezes, é necessário simplificar a mensagem para que seu conteúdo atinja o objetivo desejado. Kevin Costner fez o mesmo em "Dança com Lobos".
O filme é um dos mais belos que já vi. As árvores majestosas e seus "espíritos", uma representação da hipótese Gaia - segundo a qual a Terra como um todo é um ser vivo - são pura poesia visual. Um paraíso inspirado por visões de uma floresta tropical não tão diferente da nossa Amazônia.
O time corporativo, interessado em explorar a qualquer custo o minério que existe sob as vilas dos Na'Vis -os habitantes azuis de três metros de altura que vivem em completa união com a natureza - representa a cobiça das corporações multinacionais que invadem terras distantes para fazer o mesmo, pouco ligando para as tradições e costumes locais.
O filme me fez pensar nas indústrias farmacêuticas norte-americanas e europeias e seu interesse em extrair conhecimento e riqueza da medicina nativa e da biodiversidade da Amazônia e de outras florestas.Seguindo a tradição das histórias de extraterrestres, o filme de Cameron usa sua existência como um espelho de nós mesmos, das nossas ações -ou, ao menos, das ações de potências expansionistas- contra os povos nativos. A mesma temática do encontro dos europeus com os nativos das Américas e da África.
A mensagem do filme é simples: se não controlarmos o ritmo em que estamos explorando as riquezas do nosso planeta, em breve não teremos mais o que explorar. Como o zinco, por exemplo, que deve se esgotar em torno de 2040. Outros metais têm o mesmo destino.
No filme, temos a opção de ir a outro planeta encontrar o que não temos aqui. O metal "unobtainium" (que significa "que não pode ser obtido") é uma óbvia metáfora para qualquer preciosidade rara por aqui.A realidade, infelizmente, é que não temos esse tempo todo. E nem a opção de irmos a um outro planeta. Temos que resolver nossos problemas por aqui mesmo. E o mais rápido possível.
No filme, a natureza, a força vital que move Pandora, junta-se aos nativos e ajuda a derrotar o exército corporativo. Na Terra, estamos sozinhos nessa guerra contra nós mesmos. Como escrevi antes, somos nossos piores inimigos e nossa única esperança. A natureza não vai nos ajudar.

OBAMA UM ANO DEPOIS: OS SETE ERROS DO PRESIDENTE DOS EUA...

TAÍ UM FATO QUE MERECE SER PENSADO E FALADO: UM ANO DEPOIS DA POSSE DE BARACK OBAMA O QUE MUDOU?
LEMBRO-ME DE QUE NO BRASIL TAMBÉM FOI ASSIM: UM ANO DEPOIS DE LULA E NADA...

SÓ DESACERTOS, E HOJE O QUE VEMOS?

SERÁ QUE O CAMINHO TRAÇADO POR OBAMA SERÁ DO DE LULA?

"ESSE É O CARA" DISSE OBAMA A LULA...

ACHO QUE ESPERÁVAMOS QUE OBAMA FOSSE O CARA...

MAS, AINDA NÃO ESTÁ SENDO TUDO QUE ESPERAMOS...

MAS, O TEMPO DIRÁ...

AFINAL, APENAS UM ANO...

O presidente Barack Obama completou neste dia 20 janeiro um ano de mandato. As expectativas há um ano eram enormes. Obama começou 2009 com 78% de aprovação e viu seu índice cair para 47% em menos de um ano. Foi uma das maiores quedas já registradas por presidentes norte-americanos em seu primeiro ano. O Opinião e Notícia selecionou sete erros do presidente que podem ter contribuído para esta queda e que devem trazer problemas para Obama nos próximos anos.

1. Guantánamo. A decisão de fechar a prisão na ilha foi comemorada internacionalmente, mas o presidente cometeu um grave erro ao declarar que ao fim de 2009 ela estaria completamente desativada. A transferência de prisioneiros se mostrou um trabalho mais complexo que se imaginava e muitos países não desejavam ter de volta seus cidadãos.
Ao final do ano, não só a prisão na ilha não fechou como o sistema de libertação/transferência dos prisioneiros provavelmente terá que ser revisto. Muitos deles estavam sendo enviados para países instáveis. O IÊMEN, por exemplo, recebeu sete prisioneiros de Guantánamo. O Iêmen foi o país no qual foi treinado o terrorista Umar Farouk Abdulmutallab, responsável pela tentativa de explodir um avião vindo de Amsterdam em direção a Detroit, nos Estados Unidos, no Natal.


2. Guerra contra Fox News. Na mesma entrevista em que matou uma mosca com reflexos rápidos, Obama investiu contra um rival bem mais poderoso: a Fox News. “Existe um canal de televisão inteiramente dedicado a atacar o meu governo. Seria bem difícil encontrar uma única notícia positiva sobre mim no noticiário deles”, afirmou. Os assessores pioraram a polêmica criada pelo presidente. A diretora de comunicações da Casa Branca, Anita Dunn, chegou a afirmar que a Fox News opera como uma extensão do Partido Republicano, opositor do partido governista, e que o canal seria tratado como um adversário pelo governo. Membros da administração do presidente pararam de comparecer aos programas da Fox News e a empresa passou a ter seus jornalistas barrados nas coletivas de imprensa.
Obama foi comparado a dois presidentes norte-americanos, John Adams — o segundo a ocupar o cargo — que em uma jogada autoritária emitiu um ato suprimindo críticas ao governo, o Ato de Sedição. O outro foi Richard Nixon, que era conhecido por manter uma “lista de inimigos”, com o nome de comentaristas e jornalistas que não eram simpáticos a seu governo. Especialistas afirmaram que o presidente teria atentado contra a primeira emenda da constituição norte-americana, de liberdade de expressão. Quem agradece é Rupert Murdoch, dono da Fox News, que viu a audiência no canal bater recordes.

3. Envio de tropas para o Afeganistão. Ainda é cedo para saber se o envio de mais tropas para o Afeganistão foi a decisão correta, mas a forma como ela foi feita certamente foi um erro. O general norte-americano Stanley McCrystal, que comanda as tropas da OTAN no país, pediu que o presidente enviasse mais 40 mil soldados, ou encarasse uma “possível derrota”. Em discurso, Obama anunciou o envio de 30 mil soldados, mas cometeu o erro político de fixar um prazo de 18 meses para o início de seu retorno. O que se tentou fazer foi agradar o Partido Democrata e os cidadãos dando um prazo para o fim do conflito enquanto o presidente fazia o que achou ser necessário: enviar mais tropas para o Afeganistão.
O que Obama conseguiu foi colher a impopularidade resultante do envio de mais tropas enquanto era criticado por indecisão e por mandar mensagens contraditórias em seu discurso. Segundo o presidente, as tropas deverão começar a retornar ao fim de 2011. Tudo indica que este, assim como Guantánamo, será um prazo não cumprido. McCrystal não parece acreditar na data. O general não vê ainda início do fim do conflito. Citando Winston Churchill, McCrystal foi mais realista: “este é o fim do início”.

4. Eleições no Afeganistão. John Dempsey, chefe do Instituto Norte-Americano de Paz em Kabul, afirmou em janeiro de 2009 que Obama “não vai apoiar cegamente o presidente Hamid Karzai como o governo Bush fez por tanto tempo”. Durante sua campanha, Obama criticou presidente afegão por seu governo corrupto e leniente com o tráfico de drogas crescente no país. A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, definiu o governo de Karzai como uma “cleptocracia.” Existia forte especulação de que o presidente Obama tentaria forçar a saída de Karzai.
O que aconteceu foi exatamente o inverso. Os partidários do presidente afegão fraudaram as eleições do país. Quando a fraude se tornou irrefutável, a comunidade internacional obrigou Karzai a convocar um segundo turno, mas seu oponente desistiu de participar da corrida presidencial. Obama se viu forçado, junto com a ONU, a reconhecer Karzai como vitorioso, mesmo ele não tendo conseguido metade dos votos válidos. O presidente – que se elegeu com a promessa de mudanças – teve se resignar com um telefonema para Karzai, congratulando-o pela vitória e pedindo para que o presidente afegão “inicie um novo capítulo” na legitimação de seu governo.

5. Obama na Ásia. No dia 13 de novembro o presidente fez sua primeira viagem pela Ásia, começando pelo Japão. As críticas de que ele teria se curvado demais para o imperador japonês são exageradas — foi mera cortesia — mas a forma como Obama se curvou diante da China, este sim foi um erro. Obama aceitou condições nunca antes feitas a um presidente norte-americano em visita ao país.
Obama não se encontrou com o líder tibetano Dalai Lama. O presidente não pressionou o governo chinês sobre a sua política de desvalorização do yuan ou sobre os mísseis apontados para Taiwan, o que era esperado. Chegou a falar sobre a questão de liberdade de informações e direitos humanos, em uma reunião com estudantes de Shangai, que, ironicamente, teve sua transmissão censurada no país. O presidente e o primeiro-ministro chinês, Hu Jintao, estiveram em uma reunião conjunta com repórteres, mas a China não permitiu que a imprensa fizesse perguntas.
Se compararmos com a visita de Bill Clinton, em 1998, a diferença é gritante. Clinton também falou com estudantes, mas falou o que quis com transmissão para todo o mundo. No caso de Obama, os “estudantes” eram ligados ao partido comunista e foram treinados sobre quais perguntas deveriam fazer ao presidente. O ex-presidente conversou à vontade com repórteres, ao contrário de Obama. A análise da revista inglesa The Economist foi que as precauções da China mostram que o governo do país teme os direitos que os Estados Unidos simbolizam, mas que Obama se mostrou fraco ao não defender com mais veemência.

6. Protecionismo. “Vandalismo econômico”. Este foi o título do editorial da revista Economist ao se pronunciar sobre a decisão de Obama de colocar tarifas contra a importação de pneus vindos da China. O governo, sabendo que a decisão iria receber críticas, escolheu a sexta-feira do dia 11 de setembro às 21h para fazer o anúncio. Não funcionou. O Wall Street Journal lembrou que o presidente assinou diversas declarações junto com os membros do G20 afirmando que um dos maiores perigos para a recuperação econômica mundial é o retorno de medidas protecionistas. Na ocasião, o ministro de Comércio chinês, Chen Deming, afirmou que se tratava de uma violação das regras da Organização Mundial do Comércio e de compromissos que o governo norte-americano fez em reuniões do G20.
Como apontado pelo New York Times, o presidente recorreu a uma seção nunca usada do código norte-americano de leis de comércio. Pior, o presidente usou a lei contra o que se tratava de uma competição legítima, e não desleal. As tarifas impostas não foram só atacadas pela imprensa por serem politicamente irresponsáveis, elas também são ineficientes. A principal razão para os pneus chineses serem mais baratos é sua grande oferta de mão-de-obra. Ao aumentar o preço do produto em 35%, os fabricantes de carros simplesmente passarão a importar do Brasil ou Índia, que segundo a Economist fabrica pneus que são mais baratos que os norte-americanos. Obama também perdeu a liderança em conversas sobre livre-comércio, tudo em nome de um sindicato de fabricantes de pneus que não representa a maioria que trabalha no setor, mas que apoiou o presidente na campanha de 2008.

7. Impostos para classe média. Se existe algo que os cidadãos norte-americanos são conhecidos por detestar são impostos. Desde a Festa do Chá de Boston a rejeição a impostos altos faz parte da cultura do país. Em campanha, Obama prometeu que não aumentaria impostos sobre a renda de famílias de classe média (até US$ 250 mil por ano). Embora tenha sido aplaudida na época, a promessa está se tornando uma dor de cabeça para o presidente, que aumentou gastos e endividamento e precisa pagar de alguma forma por isto.
Durante todo o ano de 2009 o presidente teve que reiterar sua promessa de não aumentar impostos, enquanto o déficit público também aumentava. Um aumento de impostos sobre cigarros foi motivo de polêmica, pois teoricamente seria um aumento afetando a classe média. Normalmente um imposto como este não chamaria a menor atenção. Embora Obama tecnicamente ainda não tenha quebrado sua promessa (o imposto sobre cigarro não discrimina renda), analistas acreditam que é só questão de tempo até que ele o faça. James Pethokoukis, comentarista político e econômico da Reuters, afirmou que a promessa de Obama é tratada como “piada” nos círculos políticos. O jornal New York Times concorda que a situação de endividamento e gastos crescentes não pode conviver com impostos baixos, mas o presidente parece determinado a levar esta impossibilidade econômica o mais longe possível.

2010: O VERDADEIRO INÍCIO DO SÉCULO XXI !

O MÊS DE JANEIRO SE FOI, MUITAS COISAS VÍ PELA TV, NET, LÍ JORNAIS SOBRE VÁRIAS COISAS... MUITAS ASSUSTARAM: HAITÍ... CHUVAS NO BRASIL, NO SUDESTE....ROUBALHEIRA EM BRASÍLIA...
COISAS INTERESSANTES: O PODERIO DA CHINA, AS CRISES DOS PAÍSES RICOS QUE DESPEJAM EM NÓS SEUS PROBLEMAS....

NESTE ANO DE 2010 TEREMOS ELEIÇÕES...

O MUNDO APROFUNDA A GLOBALIZAÇÃO... AS COISAS VÃO DE FATO CONSOLIDANDO AS CERTEZAS E INCERTEZAS REFERENTES AO SÉCULO XXI.

POR ISSO, ESCOLHÍ ESTE TEXTO ABAIXO, ENTRE MUITOS PARA ILUSTRAR O QUE PENSO TAMBÉM...


A grande crise do sistema financeiro norte-americano de 2007-2009 marcará o fim de um longo ciclo de expansão econômica mundial marcada pela hegemonia absoluta dos EUA e pela globalização financeira. Nesse contexto, o dinamismo para os demais países emergentes como o Brasil terá de se localizar na expansão do mercado doméstico e nas exportações de commodities para a China, que está configurando uma nova divisão internacional do trabalho.
A opinião é do economista Yoshiaki Nakano em artigo no jornal Folha de S.Paulo, 27-01-2009.
O ano de 2010 deverá ficar na história econômica mundial como início de uma nova era ou do verdadeiro início do século 21. A grande crise do sistema financeiro norte-americano de 2007-2009 marcará o fim de um longo ciclo de expansão econômica mundial marcada pela hegemonia absoluta dos EUA e pela globalização financeira.
Essa crise já trouxe mudanças profundas tanto na configuração política como na economia global. É verdade que mudanças estão ainda em gestação, mas algumas tendências são visíveis, de forma que podemos fazer pelo menos duas conjecturas do quadro global a partir de 2010.
Em primeiro lugar, a mudança na governança global é visível com a constituição do G20, em substituição ao G7. É importante lembrar que o G20 era um fórum de ministros de Fazenda. Com a crise financeira, a reunião do G20, em outubro passado, transformou-se em fórum maior de chefes de Estado das 20 nações mais importantes do planeta. A participação do presidente dos Estados Unidos nessa reunião representou simbolicamente o fim do unilateralismo e da hegemonia absoluta norte-americana e o reconhecimento da "cidadania política mundial" de países emergentes como a Índia, o Brasil e a África do Sul.
Essa mudança na governança global terá consequências mais profundas na América Latina e no Brasil do que na Ásia. Está surgindo o novo desenvolvimentismo nacional, em que alguns emergentes terão espaço para traçar autonomamente o seu destino, ainda que num mundo cada vez mais integrado e globalizado. De fato, o Brasil nesse novo quadro do G20 está tendo que descobrir e definir pragmaticamente os seus interesses nacionais, na medida em que tem de negociar de igual para igual com nações desenvolvidas que sabem muito bem defender os seus.
A segunda grande mudança está ocorrendo na dinâmica da economia global. O superendividamento do consumidor norte-americano, que se traduzia num enorme deficit em transações correntes e num desequilíbrio global, está na raiz da atual crise. Isso está provocando grandes ajustes, com aumento da taxa de poupança e redução do deficit. O colossal socorro do governo norte-americano aos bancos está se convertendo num crescimento explosivo da sua dívida pública, enfraquecendo o dólar como moeda de reserva.
Tudo isso deverá romper com a estrutura dinâmica da economia mundial, em que os EUA estão deixando de ser o centro dinâmico global como consumidores e importadores em última instância. Além disso, como a única saída sustentável para a recuperação do emprego está no aumento das exportações, os EUA estão depreciando o dólar e promovendo uma "guerra cambial" contra o resto do mundo.
Por outro lado, em 2010 a China ultrapassará o Japão, constituindo-se na segunda maior e mais dinâmica economia mundial. Mas, ao atrelar o yuan ao dólar, a China também promove a "guerra cambial". Nesse quadro, o dinamismo para os demais países emergentes como o Brasil terá de se localizar na expansão do mercado doméstico e nas exportações de commodities para a China, que está configurando uma nova divisão internacional do trabalho.