terça-feira, 24 de novembro de 2009

COPENHAGUE E O RISCO DE UMA NOVA GUERRA FRIA !

Uma das autoras do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a professora de Economia e Matemática Estatística da Universidade Columbia, em Nova York, Graciela Chichilnisky considera inviável a posição brasileira de apresentar metas de redução das emissões como forma de pressionar outros países a fazerem o mesmo. "Puxados pela China, os países em desenvolvimento não vão concordar em limitar sem compensações. Essa posição é ratificada pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, de 1992", diz ela, que participou do Protocolo de Kyoto, estruturando o mercado de crédito de carbono.
Por sugestão de Graciela, os 25 países ilhas, os mais afetados pelo aquecimento mundial, apresentarão em Copenhague uma proposta de extensão de Kyoto, que expira em 2012 e é o único acordo global para reduzir as emissões de CO2 na atmosfera.
A entrevista é de Fabiana Cimieri e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 23-11-2009.
Eis a entrevista.

Por que desde Kyoto todas as tentativas de se avançar nas negociações fracassaram?
Esses fracassos nada significam porque nada acontece nas Nações Unidas até a 11ª hora, quando somos obrigados a tomar uma decisão. Toda nação tem um motivo para procrastinar. Ninguém quer reduzir as emissões de carbono por conta própria. Em Copenhague, assistiremos ao confronto entre os dois maiores emissores: EUA e China e, de uma maneira generalizada, entre ricos e pobres. Essa guerra crescente pode provocar uma nova Guerra Fria, e, dessa vez, a arma não será nuclear, mas sim aquecer o planeta até a morte.


Qual é a sua proposta?
Há uma fórmula para cálculo da assistência financeira e técnica no próprio Protocolo de Kyoto, que pode ser atualizada para superar o impasse e criar um consenso entre nações industrializadas e em desenvolvimento. A parte financeira é uma modesta extensão do mercado de carbono. Por exemplo, os EUA poderão ter a "opção" de reduzir as emissões chinesas, enquanto proporcionam uma "compensação" à China. Dessa forma, nenhum dos dois países poderá dizer ter sido humilhado pelo outro. A China pode fixar um preço para essa redução ou então exigir em troca a redução americana, diminuindo a necessidade de troca monetária. A compensação também pode assumir a forma de créditos de exportação para tecnologias que tornem possíveis a redução das emissões.


Como isso pode ser feito?
Uma modesta extensão do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo de Kyoto é a minha segunda proposta. Existem tecnologias que fornecem energia ao mesmo tempo em que reduzem o carbono da atmosfera. São conhecidas como carbono negativo. O custo envolvido é de US$ 100 milhões para 1 milhão de toneladas de CO2 capturados por ano. Um total de US$ 3 trilhões seria suficiente para capturar hoje todo o estoque de emissões. Isso é menos de 5% do PIB do planeta.

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