quarta-feira, 29 de abril de 2009

POSSÍVEIS CENÁRIOS DA GRIPE SUÍNA!

CENÁRIOS
COMO A GRIPE SUÍNA PODE EVOLUIR?
29 de Abril de 2009
Por Maggie Fox
WASHINGTON (Reuters) - A novo vírus H1N1, da gripe suína, já se espalhou para nove países e pode ter contaminado mais de 2.500 pessoas. A doença matou dezenas no México, e um bebê mexicano que estava de passagem pelo Texas se tornou a primeira vítima fatal em território norte-americano. A Organização Mundial da Saúde diz que não há como conter a epidemia, e que o melhor a fazer é mitigar seus efeitos. Embora ainda não seja uma pandemia (epidemia global de uma doença nova e grave), pode rapidamente passar para esse estágio. A seguir, três possíveis cenários:
PANDEMIA GRAVE
É o pior cenário. A cada 30-40 anos, o mundo sofre uma epidemia de "influenza", na qual uma nova cepa do vírus da gripe se propaga rapidamente, matando centenas de milhares de pessoas em poucas semanas.
A pandemia de 1918 (dita "gripe espanhola") é considerada modelo para o cenário mais grave. Naquela ocasião, pelo menos 40 milhões de pessoas morreram num período de 18 meses, e a epidemia passava de uma comunidade a outra em ondas.
Mas isso foi na era pré-antibióticos, quando as pessoas morriam por causa de infecções simples, não havia respiradores mecânicos e as vacinas eram primitivas. A população em geral não tinha ideia de como as doenças eram transmitidas.
Mesmo assim, os especialistas preveem que uma gripe como a de 1918 manteria 40 por cento da força de trabalho afastada, seja porque as pessoas estariam doentes, ou cuidando de parentes doentes, ou simplesmente recolhidas. Isso levaria à escassez de gêneros e até de energia.
Nas circunstâncias atuais, milhões de pessoas poderiam morrer, o comércio global iria se desacelerar e muitos países entrariam em crise econômica.
PANDEMIA BRANDA
A última aconteceu em 1968, quando o vírus H3N2 ("gripe de Hong Kong") matou cerca de 1 milhão de pessoas no mundo. Os especialistas acreditam que uma cepa desse tipo hoje teria efeitos muito menos graves, já que existem antivirais que não estavam no mercado há 40 anos.
Mesmo com mais vacinas, mais remédios e uma população mais informada, as gripes sazonais comuns matam entre 250-500 mil pessoas por ano, em geral bebês, idosos e pessoas com imunidade comprometida. No caso de uma pandemia, adultos saudáveis são mais suscetíveis, e, ao contrário da gripe comum, não há uma vacina imediatamente disponível.
Uma pandemia branda já seria suficiente para afetar o comércio e as viagens, provocar flutuações cambiais e escassez de medicamentos antivirais e antibióticos destinados a combater as "infecções paralelas" que costumam acompanhar a gripe. Há quem preveja também a falta de equipamentos como respiradores mecânicos, pois hospitais de muitos países, especialmente os Estados Unidos, já operam no limite.
SEM PANDEMIA
O mundo inteiro torce para que esta cepa da gripe simplesmente suma. A "influenza" é um vírus promíscuo, trocando genes o tempo todo com outros vírus de gripe dentro de organismos humanos e animais. Além disso, sofre mutações constantes. Ambos esses fatores implicam que o H1N1 de repente pode se tornar pior, ou mais brando. A qualquer momento ele poderia perder sua capacidade de passar facilmente de pessoa para pessoa, ou poderia se tornar brando como uma gripe sazonal comum.
Mas levará meses para que se saiba se isso aconteceu. Cepas de gripe costumam desaparecer durante os meses de verão (meados do ano no Hemisfério Norte, origem da epidemia), voltando no final da estação ou no começo do outono. A cepa de 1918 voltou vingativa.
Por enquanto, a Organização Mundial da Saúde diz apenas que uma pandemia é possível. "É provavelmente prematuro pensar nisso como uma pandemia branda ou como uma pandemia grave", disse na quarta-feira Keiji Fukuda, dirigente da OMS. "Está claríssimo que não podemos prever qual será o rumo disso."

PEGUNTAS E REPOSTAS
A gripe suína ameaça se alastrar pelo mundo, num devastador efeito dominó, e já deixa em alerta autoridades sanitárias de vários países, além da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas (ONU), que vislumbram o risco de uma nova pandemia internacional. O mal teve início no México, onde em 27 de abril era suspeito de provocar pelo menos 149 mortes, e, em poucos dias, já atingia os Estados Unidos, o Canadá, a Espanha e a Grã-Bretanha. Entenda o que é a febre de origem suína e como surgiu.
1. O que é a gripe suína?
A gripe suína é uma doença respiratória dos porcos, que pode ser transmitida para criadores e tem capacidade de se propagar rapidamente. A epidemia teve início no México e, em poucos dias, já atingia os Estados Unidos, o Canadá, a Espanha e a Grã-Bretanha.

2. Quais os sintomas?
Os sintomas da gripe suína são similares aos da gripe comum, porém mais agudos. Segundo o Ministério da Saúde, é comum o paciente apresentar febre acima de 39 graus, acompanhada de problemas como tosse e dores de cabeça, nos músculos e nas articulações.
2. Qual é o agente causador da doença?
O vírus da gripe suína clássico é o Influenza H1N1, tipo A, que foi isolado pela primeira vez em 1930. Mas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem outros subtipos de vírus. Isso porque, assim como no ser humano, os vírus da gripe sofrem mutação contínua no porco, um animal que possui, nas vias respiratórias, receptores sensíveis aos vírus da influenza suínos, humanos e aviários. O organismo do porco funciona como um tubo de ensaio, combinando vírus e favorecendo o aparecimento de novos tipos. Esses vírus híbridos podem provocar o surgimento de um novo tipo de gripe, tão agressivo como o da gripe aviária e tão transmissível quanto o da gripe humana. Ainda desconhecido do sistema imunológico humano, esse vírus poderia desencadear uma pandemia de gripe.
3. E quem chegou de viagem?
Se a pessoa esteve nos últimos dez dias em países onde houve casos, como o México, e apresenta sintomas. pode procurar um médico e realizar o exame para identificar o tipo de gripe. Deve-se evitar locais com presença de muitas pessoas enquanto não sai o resultado.

4. Quais são as formas de contágio?
A gripe de origem suína não é contraída pela ingestão de carne de porco, mas por via aérea, de pessoa para pessoa. Isso porque, de acordo com os Centros de Controle de Enfermidades dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), a temperatura de cozimento (71º Celsius) destrói os vírus e as bactérias presentes na carne de gado suíno.

5. A gripe suína tem cura?
Drogas antivirais podem ser usadas no tratamento e na prevenção do mal. Sua atuação consiste em impedir que o vírus da gripe suína se reproduza dentro do corpo humano. A eficácia do tratamento é maior quando ele é iniciado até dois dias após os primeiros sintomas. De olho nisso, autoridades americanas já anunciaram que irão distribuir 11 milhões de antivirais contra a gripe suína.
6. Qual a diferença entre a gripe suína e a gripe comum?
A gripe suína é caracterizada pelos sintomas da gripe comum, mas pode causar vômitos e diarreia mais graves. A gripe comum mata entre 250 mil e 500 mil pessoas a cada ano, principalmente entre a população mais velha. A maioria das pessoas morre de pneumonia, e a gripe pode matar por razões que ninguém entende. Também pode piorar infecções por bactérias. A maioria dos mortos da gripe suína tinha entre 25 e 45 anos.
7. Trata-se de um novo tipo de gripe suína?
Assim como no ser humano, os vírus da gripe sofrem mutação contínua no porco, um animal que possui, nas vias respiratórias, receptores sensíveis aos vírus da influenza suína, humana e aviária. Os porcos tornam-se incubadoras que favorecem o aparecimento de novos vírus gripais, através de combinações genéticas, em caso de contaminações simultâneas. Esses tipos de vírus híbridos podem provocar o aparecimento de um novo vírus da gripe, tão virulento como o da gripe aviária e tão transmissível como a gripe humana.
8. Existe vacina contra o mal?
Só para porcos. Não para o ser humano. Segundo as autoridades mexicanas, que citam a Organização Mundial de Saúde (OMS), a vacina existente para humanos é para um tipo anterior do vírus e não é eficaz. Mas a produção de uma vacina eficaz já está em pauta. O porta-voz da OMS, Gregory Hartl, anunciou que autoridades de saúde dos Estados Unidos tomaram os primeiros passos para iniciar a produção de uma boa vacina contra o vírus. Além disso, de acordo com a OMS, o Tamiflu, o medicamento que contém oseltamivir, utilizado contra a gripe aviária, é eficaz também contra a suína. A vacina contra a gripe humana não protege contra o mal causado pelos porcos.

9. Há medidas preventivas que possam ser tomadas no dia-a-dia?
O Instituto Brasileiro de Auditoria em Vigilância Sanitária (Inbravisa) está repassando aos que o procuram cinco recomendações dadas pelos Centros de Controle de Enfermidades (CDC, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. São elas: 1) evitar contato direto com pessoas gripadas; 2) ficar em casa se estiver doente, para não contaminar outras pessoas; 3) cobrir a boca e o nariz com um lenço de papel ao tossir ou espirrar; 4) lavar as mãos frequentemente, principalmente ao tocar os olhos, nariz ou boca; 5) usar máscara cirúrgica em locais de grande concentração de pessoas, como aeroportos, ruas movimentadas e shopping centers. As autoridades sanitárias americanas também orientam, como forma de aumentar a resistência do organismo, que as pessoas se vacinem contra a gripe comum, tenham no mínimo 8 horas de sono por dia, bebam líquidos em abundância e consumam alimentos nutritivos. De acordo com a Inbravisa, as recomendações do CDC devem ser seguidas pelos brasileiros.

10. Quais são os países afetados até o momento?
Até 27 de abril, havia casos confirmados no México, Estados Unidos,. Canadá, Grã-Bretanha e Espanha. Ponto de partida da doença, o México era o país mais afetado: o ministro da Saúde do país acreditava que a gripe suína fora responsável por 149 mortes de pessoas entre 20 e 50 anos. Para frear a disseminação do mal, o governo mexicano decidiu fechar as escolas de todo o país até 6 de maio. Peru, Chile, El Salvador, Honduras, Colômbia, Nicarágua, Hong Kong, Japão, Argentina, Brasil e Costa Rica ativaram planos de vigilância sanitária - com exame de passageiros que desembarcam nos aeroportos, por exemplo. Aeroportos de Hong Kong, Malásia, Coreia do Sul, Japão e Brasil criaram postos de controle para evitar a entrada da gripe suína. Depois da aterrissagem, os viajantes passavam por uma verificação de sintomas. Na Argentina, o foco eram os viajantes vindos do México. No Canadá, a ministra da Saúde, Leona Aglukkaq, pediu à população para manter-se alerta.

11. O que a OMS diz a respeito?
A OMS entrou em estado de alerta, "porque há casos humanos associados a um vírus de gripe animal, mas também pela extensão geográfica dos diferentes focos, assim como pela idade não habitual dos grupos afetados", segundo comunicado oficial. No dia 27 de abril, a organização elevou o nível de alerta de pandemia de 3 para 4 - o que ainda não caracteriza a existência de pandemia, mas se aproxima mais, dentro de uma escala que vai de 1 (baixo risco de casos humanos) a 6 (transmissão sustentável e eficiente entre humanos).

12. A internet oferece fontes seguras de informação sobre o assunto?
Sim. No Brasil, o Ministério da Saúde está disponibilizando informações em seu site. Em âmbito global, são também fontes confiáveis os sites da OMS (em inglês, com opções de espanhol e francês), da Organização Panamericana de Saúde (Opas, em inglês e espanhol) e dos Centros de Controle de Enfermidades dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês, idioma do site).

terça-feira, 28 de abril de 2009

A CHEGADA DE UM DESCONHECIDO !

"Precisamos saber seu (vírus da gripe suína) poder de agressão e de mortalidade. Até o momento, é cedo para sabermos como esse vírus se comporta no homem", escreve Stephan Cunha Ujvari, autor de "A história da humanidade contada pelos vírus (Ed. Contexto), médico infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz de São Paulo e mestre em doenças infecciosas pela Unifesp, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 28-04-2009.

Eis o artigo.
No último final de semana a humanidade tomou conhecimento de uma nova epidemia de gripe.
O novo vírus influenza (H1N1) surgiu em porcos mexicanos. A história se repete. As últimas duas pandemias também surgiram de animais, porém no sudeste asiático. Uma ocorreu em 1957 pelo H2N2, e a outra em 1968 pelo H3N2. Ambas se alastraram pelo planeta e mataram pouco mais de um milhão de pessoas cada. O influenza atual formou-se por mistura genética de diferentes vírus influenza no organismo de porco no México.

Conclusão: surgiu um vírus influenza desconhecido.

As secreções e líquidos desses animais transmitiram o vírus ao homem a exemplo do que ocorreu com o influenza H5N1 há seis anos, sobretudo na Ásia, transmitido das aves ao homem.

Mas esse vírus da gripe suína conseguiu passar de homem a homem - o H5N1, não. Portanto, iniciamos uma epidemia humana pelo vírus suíno. O vírus mostrou o poder de disseminação de homem a homem, e novos casos devem surgir nas próximas horas. Será difícil conter seu avanço. Mas, por outro lado, as medidas de prevenção organizadas pelos órgãos de saúde podem surtir efeito e reduzir sua disseminação.
Dúvidas
Precisamos saber seu poder de agressão e de mortalidade. Até o momento, é cedo para sabermos como esse vírus se comporta no homem. O influenza H1N1 da gripe espanhola de 1918 agredia os pulmões e favorecia a pneumonia por bactérias. Conclusão: mais de 20 milhões de mortes pelo planeta. Já o vírus da gripe aviária H5N1 mostrou ser muito letal. Desencadeia inflamação importante nos pulmões e mata mais da metade dos doentes -por sorte não consegue se disseminar de pessoa a pessoa. O diagnóstico de novos casos dessa gripe suína implementará as estatísticas desse vírus e então saberemos qual o grau de mortalidade a que ele leva e quais as lesões pulmonares. Até o momento sabemos que se trata de um novo vírus originado em porcos e com capacidade de transmissão pessoa a pessoa. Estamos conhecendo o início da epidemia. Os órgãos de saúde internacionais tomarão as medidas cabíveis para conter seu avanço. Enquanto isso, a população deverá tomar as medidas necessárias para evitar a transmissão do influenza. O paciente com gripe deve tossir ou espirrar em um lenço para não disseminar o vírus pelo ambiente. Precisa ficar em casa para se recuperar e também evitar a transmissão da doença em aglomerados. A lavagem das mãos é fundamental porque é uma forma de transmitir a doença aos outros. Evita-se tocar as mãos na boca, nariz e olhos.

GRIPE SUÍNA: PANDEMIA, OU PÂNICO GLOBAL?

A Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu elevar o nível de alerta pandêmico da gripe suína para fase 4 (em uma escala que vai a 6), informam agências internacionais. Até esta segunda-feira, 27, o nível de alerta estava em 3.
A fase 4 representa risco significativo de pandemia, ou epidemia em escala mundial, com a confirmação de que existe transmissão direta entre humanos.

O nível seguinte, 5, define pandemia "iminente".
A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 28-04-2009.

Até esta tarde, havia 149 mortes no México atribuídas à doença, entre quase 2 mil pacientes. Eram ainda 41 casos confirmados nos Estados Unidos, seis no Canadá e três no continente europeu - dois no Reino Unido e um na Espanha. Além dos países com casos confirmados, há casos suspeitos em várias partes do mundo. A Alemanha investiga três pacientes que podem estar com o vírus causador da doença, o H1N1.

Outros países que podem estar enfrentando casos da doença são Austrália, Nova Zelândia, Israel e Dinamarca.

No Brasil, um casal que voltou de viagem de lua de mel ao México está em observação em Minas Gerais. Em nota emitida no final da tarde desta segunda-feira, a OMS diz que a "situação está evoluindo rapidamente", mas que não vê necessidade na imposição de restrições a viagens, apenas sugerindo que pessoas doentes evitem viajar por algum tempo. A OMS também afirma que não há risco no consumo de carne suína bem cozida, e que trabalhadores que manipulam carne de porco crua devem lavar as mãos com cuidado, usando água e sabão.

Entenda os níveis de alerta da OMS

Fase 1 - nenhum vírus que circula entre os animais causou infecção em humanos;

Fase 2 - um vírus que circula entre animais causou infecção em humanos, o que causa uma potencial ameaça pandêmica;

Fase 3 - casos esporádicos e pequenos focos da doença em humanos, mas que não têm suficiente capacidade de transmissão entre humanos;

Fase 4 - a transmissão entre humanos já é possível. Há um risco significativo de pandemia;

Fase 5 - o vírus se transmite de pessoa para pessoa em pelo menos dois países de uma região monitorada pela OMS. A pandemia é iminente;

Fase 6 - mostra que uma epidemia global está acontecendo


VÍRUS E PÂNICO: DOIS PERIGOS!

Dois são os perigos que surgem a partir do aparecimento de novos vírus: a efetiva difusão da doença em nível mundial e o pânico ao qual as pessoas podem ser arrastadas. Porém, "é preciso esclarecer que [...] não se observa uma pandemia viral no mundo desde o século passado, nos tempos da terrível gripe espanhola".
A opinião é do cirurgião e oncologista italiano Umberto Veronesi, em artigo para o jornal La Repubblica, 27-04-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
Nestes dias, com o aparecimento de novos vírus, como o vírus mexicano, se apresentam não só um, mas dois perigos.

O primeiro é a efetiva difusão da doença em nível mundial.

O segundo é o pânico ao qual as pessoas podem ser arrastadas.

Acima de tudo, é preciso esclarecer que, mesmo que esse novo vírus se apresente muito agressivo, pelo número dos primeiros contágios, não se observa uma pandemia viral no mundo desde o século passado, nos tempos da terrível gripe espanhola.
Desde então, os fantasmas como o mal da vaca louca, a Sars e a gripe aviária foram perseguidos com as medidas sanitárias e preventivas oportunas. É verdade que, paradoxalmente, no campo das doenças infecciosas, o mundo moderno parece mais frágil do que o mundo antigo. Aprendemos a nos defender de infecções quase certamente mortais (pensemos na varíola, na peste, no tifo, no cólera), mas na era da globalização e dos voos intercontinentais, os oceanos e as grandes distâncias por terra não servem mais como barreiras.
E também o conceito de "cordão sanitário" se enfraqueceu: o alarme se difunde muito tarde com relação à velocidade das viagens e do grande número de viajantes no mundo. São interrogativas novas, frente às quais fechar os olhos não ajuda, mas levantar a guarda sim. Eu estou convencido de que hoje uma pandemia também pode ser enfrentada e resolvida, se procedermos com uma organização eficaz e moderna, como está se demonstrando a que foi ativada rapidamente pela Europa e pela Itália. Porém, esse "sistema de salvamento" corre o risco de empacar se a população não seguir racionalmente as recomendações de comportamento, perdendo-se nas suas ânsias.
E aqui chegamos ao segundo perigo. Todos sabemos bem que a imprensa, pela sua natureza, está em busca da notícia e vive na onda emotiva que aquela desencadeia inevitavelmente. Porém, no caso de um alarme de doença, a emotividade pode criar fragilidades nas estruturas sanitárias e induzi-las a adotar medidas desproporcionais, com o objetivo de vencer mais o medo do que o vírus.
Por exemplo, para a gripe aviária, foram investidos milhões de euros em fármacos que nunca foram utilizados. Era forte a pressão da população assustada, e a essa força contribuíram as imagens de milhares de frangos queimados vivos que ricocheteavam de uma TV à outra. Vivi em primeira pessoa, quando era ministro da Saúde, a odisséia da encefalite bovina via bactérias (vaca louca) que colocou o ministério e o país inteiro em sérias dificuldades. O compromisso maior para nós foi o de controlar e curar os rebanhos bovinos, mas o esforço mais duro foi o de tranquilizar os italianos, sabendo que o risco de eles ficarem doentes foi inferior ao de aspirar a fumaça de uma tragada de cigarro ou de percorrer 700 metros de carro.
Os vírus não surgem de mundos e épocas obscuras, sem um porquê. Os animalistas pensam, nos casos de vírus de animais, em uma espécie de nêmese da natureza. Doenças temíveis são liberadas no mundo porque o homem, no seu ávido consumismo, violou as leis da natureza: vacas e bois são atingidos por bactérias porque o homem os obriga a comer farinha animal como se fossem canibais; os frangos e os suínos são obrigados a engolir alimentos e a não se mover nunca se não em espaços minúsculos, em que são esmagados quase sem saber que o sol e o ar livre existem.
Eu não como os animais porque os amo de verdade, mas respeito a posição de quem consome carne, e não me parece certo acusar os criadores pela difusão de algum vírus. É certo, porém, que melhores condições de criação e um maior respeito pelos direitos dos animais contribuiriam com uma melhoria geral da situação higiênico-sanitária internacional.
Se de um lado os riscos para a saúde em um mundo consumista e globalizado aumentam, de outro, aumentam também os instrumentos para entendê-los e as medidas para enfrentá-los. Por isso, faço um apelo às pessoas para que, justamente nos momentos de maior insegurança como este, tenham ainda mais confiança na ciência, na medicina e nas capacidades dos seus homens de proteger o seu bem mais precioso: a saúde.

terça-feira, 21 de abril de 2009

O PIOR JÁ PASSOU ? A ECONOMIA DESPIOROU ?

"Falta luz e sobra metáfora no fim da picada das explicações de economistas sobre o atual estado da Grande Recessão", escreve Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 19-04-2009.
Eis o artigo.
O pior já passou? A economia despiora? Há "brotos verdes"? Eles morrerão de frio? "Cintila a esperança" (como diz Barack Obama)? A segunda derivada ficou positiva? Sim, até cálculo diferencial entra na dança das hipóteses midiáticas sobre a chegada ao fundo do poço. Alguém se entende? Não muito.
Abaixo, uma coletânea de palpites de luminares da economia sobre os vaga-lumes no fim do túnel.
"A recuperação deve ser anêmica, [mas] a enorme ação global nos livrou de uma Grande Depressão. O pior ficou para trás? Segundo nossas projeções, sim! Mas a Grande Recessão ainda vai durar. O PIB mundial deve voltar a crescer no terceiro trimestre de 2009. No G10 [europeus ricos, EUA, Canadá e Japão], no último trimestre." De Manoj Pradhan, economista do Morgan Stanley.
"Muitos dos otimistas duros de matar de Wall Street foram reduzidos a pó, mas aqueles que ainda resistem agora apelam a um pouquinho de cálculo. A segunda derivada, dizem, está ficando positiva. Isso significa que, embora a economia ainda caia em parafuso, agora cai mais devagar". "Há alguns dados para sustentar tal afirmação... [Mas] para cada naco de boas notícias, há um monte de coisa ruim". Na revista "Economist" que saiu na quinta, 16.
"As coisas ainda estão piorando [nos EUA]... O máximo que se pode dizer é que há sinais esparsos de que as coisas estão piorando mais devagar. Algumas das boas notícias não convencem. As mais positivas vêm dos bancos. Mas alguns desses balanços parecem bem esquisitos." Do Nobel Paul Krugman em sua coluna no "New York Times", de quinta, 16. Mais Krugman: "Mesmo quando [o pior] passar, não terá passado. O desemprego ainda continuou a crescer por um ano e meio depois do fim oficial da recessão de 2001."
"Os resultados [de nosso estudo] indicam que a presente recessão será especialmente longa e grave; a recuperação será lenta." Do FMI, no seu "Perspectiva Econômica Global", divulgado na quinta, 16."É uma alta num mercado baixista [nas Bolsas], pois o pior não passou na economia [real]". "A perspectiva para o Brasil é melhor que a da maioria dos outros países." De George Soros. Na Bloomberg, 7 de abril.
"Os dados de março confirmaram que a economia da China entrou acelerando neste trimestre... Os indicadores americanos, por outro lado, foram mais ou menos, na melhor das hipóteses." Do relatório diário mundial do JPMorgan, no dia 16.
"A economia brasileira dá sinais de vida com os fortes números de emprego e de vendas de varejo e de carros." Idem, ibidem. Por isso, o JPMorgan passou a achar que o juro cairá menos no Brasil, neste ano."Quem fez esse plano [de Obama] está no bolso dos bancos ou é incompetente. Vão é salvar os acionistas e os credores [dos bancos]. Alguns dos que vão entrar nessa [comprar papéis de bancos com subsídio do governo], como a Pimco, são grandes acionistas [a Pimco é uma das maiores gestoras de investimento do planeta]. Eles querem recriar uma bolha." Do Nobel Joseph Stiglitz.
Mais Stiglitz: "As pessoas vão de Wall Street para o Tesouro e voltam para Wall Street. Ainda que não exista toma-lá-dá-cá, essa não é a questão. O problema é a mentalidade". Questão de mentalidades, sim.

MST : 25 ANOS DEPOIS: CRÍTICAS E RESULTADOS !



O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) completou 25 anos em janeiro de 2009 e, nos últimos tempos, houve críticas ainda mais severas aos passos tomados pelo grupo, como repasse ilegal de recursos recebidos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), invasão a terras com pesquisas científicas e assassinatos, como aconteceu recentemente em Pernambuco. O dirigente nacional do movimento, João Paulo Rodrigues, chegou a apelidar o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de “Berlusconi tupiniquim”. Com o suposto ideal de reforma agrária, o grupo é criticado por ser mais político que social. E afirma que “nunca usou um centavo de dinheiro público” para ocupar terras.
A Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República no Estado de São Paulo divulgou, no mês passado, que o Ministério Público Federal em São Paulo ajuizou ação de improbidade administrativa contra a Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca) e o seu presidente em exercício na época, Adalberto Floriano Greco Martins. Foram acusados de repasse ilegal de recursos recebidos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Em 2004, o FNDE, por meio do Programa Brasil Alfabetizado, transferiu uma quantia de R$ 3.801.600,00 para a Anca, a fim de alfabetizar 30 mil jovens e adultos e capacitar 2 mil alfabetizadores em 23 unidades do Brasil. A Anca transferiu ilegalmente às secretarias estaduais do MST R$ 3.642.600,00, sem apresentar comprovação do destino final do dinheiro. Não há extratos bancários, cópias de cheques, cadastro de educadores e alunos, listas de presenças, relatórios de execução e de resultados. Além disso, no termo do convênio estava determinado que os recursos só poderiam ser sacados da conta específica para pagamento de despesas previstas no plano de trabalho.
Vice-presidente do Instituto Liberal, o economista Roberto Fendt afirma que os sem-terra são, “em bom português, ladrões”. “Como os sem-terra estão soltos e o Estado se omite, não há dúvida de que são acobertados. E o pior é que eles recebem dinheiro. É como se Robin Hood recebesse dinheiro da Coroa inglesa e distribuísse aos pobres. No caso do MST, eles se apossam da propriedade e vendem.”
O governo repassa verba para entidades, associações dos pequenos proprietários. Os assentamentos recebem créditos dos pequenos agricultores pelo banco do Brasil, conta o sociólogo e professor da UFRJ Ivo Lesbaupin. “Não é só assentar, tem que conseguir créditos, plantar sementes. E o Fernando Henrique sempre esperava passar a safra.”
Já Fendt critica o repasse das verbas. “São bandidos, só conseguem o que querem com a opinião pública. Se ficarem contra, não terão dinheiro. Como vão financiar a invasão? Quem bota o dinheiro é o governo, são as organizações laranjas. Eles procuram cativar a mídia, que os trata como coitadinhos.”
Em fevereiro, o dirigente nacional do movimento, João Paulo Rodrigues, atribuiu a culpa pela distribuição de verbas a ONGs ao governo Fernando Henrique Cardoso. O líder sem-terra também fez duros ataques a Gilmar Mendes. Ao chamá-lo de “Berlusconi tupiniquim”, Rodrigues fez referência ao primeiro ministro da Itália, Silvio Berlusconi, membro de um partido de direita, o novo Partido do Povo da Liberdade (PDL). Em nota, a direção nacional do movimento afirmou que o movimento “nunca usou um centavo de dinheiro público” para ocupar terras.

Sem sede, sem estatuto, sem terra
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra — MST — surgiu no final da década de 1970 com o propósito de promover a Reforma Agrária, um sistema que visa a distribuição de terras. A partir desse pensamento, pessoas que não possuem terras para plantio organizaram um movimento de protesto contra a centralização desses espaços. Atualmente, o próprio movimento confessa que a Reforma Agrária não é feita para melhorar a condição econômica do lavrador pobre e, sim, por razões político-ideológicas. O movimento está organizado em 24 estados brasileiros a partir de comissões de frente; não possui nem sedes e nem estatuto.
De acordo com Ivo Lesbaupin, as ocupações duram entre três e quatro anos e há pressão para que o Poder Público doe as terras, passando de acampamento para assentamento. “Quando o MST começa com o assentamento, os integrantes experimentam formas de produção, a organização dos grupos. Eles descobriram que a melhor forma é a cooperativa. É um movimento que sempre teve como tática de luta a ocupação de terras improdutivas.”

Como forma de reivindicação, o MST ocupa latifúndios privados e se mobiliza em massa, deixando, muitas vezes, os proprietários de terra sem ter como agir contra a ocupação. Mesmo assim, Fendt observa que os próprios proprietários auxiliam na ocupação. “E não são só eles, também existem outros que se aproveitam. O MST tem servido a pessoas que são donos de terra que não encontram compradores. Algumas pessoas contratam o movimento para invadir. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) desapropria e paga ao proprietário.”
Lesbaupin afirma que algumas prefeituras se interessam por assentamentos. “São cerca de mil pessoas que produzem muito, começa a haver um comércio onde não existia, o local cresce.”
Até o ano 2000, o MST contabilizava aproximadamente 250 mil famílias assentadas e 70 mil famílias acampadas em todo o Brasil. Além das invasões, existem pessoas que se infiltram no movimento com a intenção de enganar o governo para obter pedaços de terra. O MST diz que estes não devem ser considerados integrantes sem-terra, mas o movimento não tem mostrado credibilidade o suficiente para defender essa e outras opiniões.
“Eles violam a cláusula pátria. O direito de propriedade está inscrito como inalienável. Então é crime ocupar. São criminosos, salteadores, ladrões. A invasão por ai só já é um crime. Às vezes acontece um crime maior, como agora em Pernambuco, quando houve o assassinato de seguranças”, observa Fendt. O economista faz, inclusive, uma comparação entre a ação dos sem-terra e a de criminosos “urbanos”. “Eles são tão bandidos quanto as pessoas que assaltaram casas em Santa Teresa e estupraram uma menina.

Quando o MST invade e faz sorte de violência, acham que é um movimento social.”
O que tem chamado a atenção dos diversos segmentos da sociedade é o fato de os sem-terra, cada vez mais, apresentarem características que o distinguem de um simples movimento social de trabalhadores do campo. Eles, por exemplo, mostram-se radicais no jeito de fazer a “luta” e os sujeitos que ela envolve. Ao longo dos anos, o MST conseguiu permanecer impune às ações consideradas criminosas, praticadas desde sua existência. Há algum tempo, o movimento tem sido criticado por “lutar disfarçadamente pela reforma agrária e querer não só um pedaço de terra, mas, sim, ela toda”, de acordo com matéria da Veja.
“O MST e outros movimentos como Via Campesina não são empresas, não têm CGC. O governo, na verdade, financia e não justifica, e deveria reprimir. Não sei porque as pessoas acham normal darem nosso dinheiro a bandidos. Mas elas preferem ignorar”, analisa Fendt.
Questionado sobre uma crítica que faria ao MST, Lesbaupin afirma que eles são possivelmente os mais radicais dentre os movimentos sociais. Desde o começo, eles adotaram a prática de ocupar a propriedade. Na maneira de agir, o grupo nem sempre leva em conta a opinião dos outros. Eles se consideram os melhores dentre os movimentos sociais, segundo o sociólogo.
Em 19 de junho de 1985, cerca de 45 famílias, armadas de foices e facões, invadiram uma área de 1.300 hectares no Ceará — uma confusão que começou com o anúncio do presidente José Sarney sobre seu Plano Nacional de Reforma Agrária. Os proprietários de terra passaram a armar seus funcionários. Cinco anos depois, em 15 de agosto de 1990, 400 agricultores confrontaram a lei e montaram um acampamento a poucos metros do Palácio Piratini, sede do governo estadual. A confusão resultou em troca de tiros com a tropa de choque e, logo, no assassinato de um soldado da Brigada Militar.
Em uma reportagem de 23 de abril de 1997, a Veja publicou a seguinte opinião sobre o movimento: “A rebeldia é a marca do MST. Os sem-terra não aguardam quietinhos as decisões da Justiça. Não fazem lobby para modificar as leis no Congresso. Não, nada disso. Eles tomam as terras primeiro, conversam depois. São gente brava, que invade o terreno onde se funda a ordem capitalista: a propriedade privada”. O próprio líder do MST na época, o economista João Pedro Stedile, deixou claro em entrevistas as críticas ao presidente Fernando Henrique Cardoso e confirmou o porquê de as ações do grupo serem julgadas como criminosas. “Aqui vem o meu alerta à elite brasileira: se uma população tão grande de excluídos continuar à solta, sem organização, aí sim o Brasil vira barril de pólvora.”
Vista como uma das ações mais expressivas do MST, uma operação relâmpago, em 10 de maio de 2000, reuniu 5 mil sem-terras para ocupar prédios públicos em 14 capitais. Outros 25 mil fizeram invasões e passeatas pelo interior. Em três lugares, foram atacadas sedes regionais do Incra. A Veja, mais uma vez, na época, publicou que o MST pretendia tomar o poder no país por meio da revolução e, assim, implantar no Brasil um socialismo tardio.
Em 2006, integrantes do Movimento dos Sem-Terra, do Movimento das Mulheres Camponesas e da Via Campesina invadiram um laboratório e um viveiro florestal da Aracruz Celulose no Rio Grande do Sul. Foi destruído o material genético, estudado fazia 20 anos, para melhorar a produtividade das plantações de eucalipto que abastecem outra fábrica no estado. Quatro milhões de mudas da área de distribuição para plantio também foram destruídas. Na época, a Via Campesina acusou a companhia de provocar danos ambientais pela monocultura de eucalipto. O gerente regional florestal da Aracruz Celulose, Renato Alfonso Rostirolla, afirmou que os manifestantes sabiam o que faziam, pois destruíram os lugares estratégicos.
Sobre a invasão a propriedades da Aracruz, Lebauspin afirmou que a ação do grupo se justifica pelos membros serem contra os produtos transgênicos. Ele observou que é a forma que eles têm de chamar a atenção. Disse que o grupo ocupou e fez acampamento com os conhecidos plásticos pretos. Já Fendt acredita que é mais uma prova de que são “bandidos”. “Eles destruíram dezenas de espécies nativas. É uma atitude duplamente criminosa, pois destruíram o progresso. Deveriam ter sido processados.”
“Eles já foram muito mais autocentrados do que são.” Lesbaupin diz que eles continuam defendendo a Reforma Agrária, o combate aos transgênicos e a luta pelas sementes orgânicas. O movimento chama os biocombustíveis de agrocombustíveis. “O que faz o etanol é muito mais poluidor que o que faz a gasolina.”
Roberto Fendt afirma que a reforma agrária seria um imenso atraso. “No mundo inteiro, a produtividade no campo precisa de uma maciça aplicação de capital, colheitadeiras, fertilizantes, tratores. Você acha que um desempregado urbano saberá viver dessa forma? Além disso, tem o custo.”
De acordo com o economista, o ideal seria se os assentados fossem para indústrias e serviços e deixassem o campo para grandes empresas para investir em capital e grande produtividade. Ele, inclusive, sugere uma alternativa ao movimento. “Eles deveriam eleger deputados e senadores que tenham bandeira e proposta para fazer reforma agrária. Por que eles não fazem uma bancada política para colocarem os interesses deles?”

Um breve histórico da relação Mídia X MST
A relação entre a mídia e o MST é muito ruim, segundo Ivo Lesbaupin. Até 1995, a mídia tratava o MST como terrorista, além de dizer que era vinculado ao Sendero Luminoso, que é uma organização armada. “O MST nunca foi um movimento de luta armada”. E também quiseram comparar o MST às Farc.
“Há uma mudança em 1995, há um massacre em Rondônia. Morreram nove sem-terra, inclusive uma criança. Já em 1996, no Pará, 19 sem-terra morreram, Eldorado do Carajás.” O assunto foi abordado no noticiário internacional e, a partir desse segundo momento, a imagem dos sem-terra muda na mídia. “A Veja, inclusive, faz reportagem sobre os ‘trabalhadores’ de forma mais positiva. Neste momento, a Globo lança a novela ‘Rei do Gado’, onde a imagem dos sem-terra fica bastante positiva, com participação de Patrícia Pillar.”
“A diferença entre o Lula e o Fernando Henrique é que FHC não dava moleza. Os assentamentos passaram agora a receber de forma mais regular que na época de Fernando Henrique.” De acordo com Lesbaupin, o ex-presidente tratava o MST como governo de oposição, eles não conseguiam dialogar. Com Lula, eles são chamados para conversas.
Em dezembro de 1996, segundo Lesbaupin, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso estava saturado da abordagem da mídia sobre o MST e pediu que cessassem as reportagens sobre o movimento. E, em janeiro de 1997, os sem-terra programaram uma marcha até Brasília, começando de três pontos diferentes do território nacional, para marcarem um ano do episódio de Eldorado do Carajás. Pessoas juntavam-se aos grupos no caminho. No fim de 1997, uma pesquisa de opinião pública nacional, de acordo com o sociólogo, mostrava que a maioria dos brasileiros era a favor da Reforma Agrária. “Foi uma jogada midiática genial.”
“Graças ao Gilmar Mendes”, há uma volta ao regime anterior. Nos últimos dez anos houve muitas críticas. A partir de um ano e meio atrás, houve uma retomada da criminalização dos movimentos sociais. O Ministério Público do Rio Grande do Sul fez uma denúncia sobre o MST quase decretando ilegalidade do movimento. Houve reação por parte da sociedade. “A partir do ano passado, os movimentos sociais começaram a ser tratados como caso de polícia.”
Ivo Lesbaupin diz que Lula se elegeu criticando a política de Fernando Henrique, mas também acabou tornando-se a favor do agronegócio.

O MST na opinião da população brasileira
Uma pesquisa realizada em novembro de 2000 pelo governo federal, divulgada na ocasião pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, revelou que 57% da população não apoiavam o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra. Além disso, 67% diziam acreditar que a ação do MST é mais política do que social. O estudo foi publicado pela Revista Veja.
Outros 70% afirmaram que os líderes conduzem as reivindicações de maneira errada e 87% defenderam que o governo deveria fazer uma auditoria nas contas do movimento.
Escrito por: Fabíola Leoni e Daniele Carvalho

CALIFÓRNIA SE PREPARA PARA TERREMOTOS !

Sempre à espera do “big one”, o grande terremoto, os californianos se alarmaram com o recente tremor na Itália, que matou 294 pessoas.
Toda a costa ocidental dos EUA se situa sobre falhas geológicas, ou perto delas. Na Califórnia, onde há cerca de 1.500 falhas, duas são particularmente ameaçadoras. Uma é a de San Andreas, e a outra é a falha de Hayward, cujas placas tectónicas se movimentaram, em média, a cada 140 anos ao longo dos últimos 700 anos.
A melhor forma de se preparar para terremotos é construindo estruturas mais seguras. Referindo-se ao recente desatre na Itália, uma especialista diz que a diferença entre a Califórnia e o país europeu é que, no estado-norte-americano, as cidades e os edifícios são mais novos, e as técnicas de construção vão progredindo a cada terremoto.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O BRASIL E A CRISE DA GLOBALIZAÇÃO !



"O Brasil tem que aceitar que esta crise é mundial e duradoura. A principal projeção de crises extensas é a transformação estrutural do padrão organizacional, operacional e das hierarquias do sistema que entrou em crise. A crise marca o fim de uma era e o início de um processo de transição, do qual emergirá uma economia substantivamente modificada", escreve Carlos Lessa, economista, ex-presidente do BNDES, em artigo publicado no jornal Valor, 15-04-2009. Segunoo o economista, "o Brasil é, dos "países baleia", o que está potencialmente melhor posicionado para o desenvolvimento de um projeto civilizatório". Para Lessa, o Brasil pode "converter o limão em limonada. Há uma ampla fronteira de investimentos produtivos na renovação e ampliação de nossa matriz logística".

Eis o artigo.

Em Davos, templo dos executivos que prosperaram com a globalização - que foram, e ainda são, adeptos do neoliberalismo e, por conseguinte, profetas acima de qualquer suspeita -, o prognóstico de recuperação mundial daqui a quatro anos, feito por um banqueiro, foi considerado excessivamente otimista, segundo a mídia.

O Brasil tem que aceitar que esta crise é mundial e duradoura. A principal projeção de crises extensas é a transformação estrutural do padrão organizacional, operacional e das hierarquias do sistema que entrou em crise. A crise marca o fim de uma era e o início de um processo de transição, do qual emergirá uma economia substantivamente modificada.

Com os ouvidos abertos aos discursos políticos do epicentro dominante, registro que Barack Obama, além de indispensáveis intervenções pontuais, prometeu em seu discurso de posse que "os EUA voltarão a liderar". Sublinho que já delineou um programa de longo prazo que supõe a modernização e recuperação da infraestrutura da economia americana e uma concentração de esforços para inventar e inovar um vetor energético, pois corretamente percebe que esta questão é seu calcanhar de Aquiles. A União Europeia sinaliza sua exigência de uma profunda reorganização do sistema financeiro mundial, que deverá ter um novo padrão de regulamentação e fiscalização. O controle dos 72 paraísos fiscais está, progressivamente, adquirindo consenso. A China já formalizou ambicioso programa de investimentos públicos e explicitou que assumirá a ampliação de seu mercado interno como futura frente de desenvolvimento.

A postura de cada nação ante estes prognósticos e decisões tem sido diferenciada. Com erro de todas as generalizações, afirmaria que muitas reagem a este cenário como se estivessem sob uma nuvem tempestuosa, porém passageira; acreditam que a dinâmica mundial será restaurada; permanecem esperando. Embora procurem minimizar as perdas e reduzir as emanações da crise em seu território, não ousam propor uma trajetória própria, um padrão desejado para o desenvolvimento nacional. Infelizmente, o Brasil parece estar nesta categoria.

Passando por cima de qualquer crítica pontual, aceitando sem discutir que o Brasil está com uma melhor blindagem em relação à atual crise mundial e assumindo que, no cenário de devastação progressiva, o Brasil crescerá um pouco em 2009, quero deplorar a timidez com o que está enunciado com o olhar no futuro. Três decisões merecem ser visitadas. O PAC é correto, porém insuficiente. Sua magnitude e ritmo de execução não elevaram a participação do investimento público na economia. É um ensaio modesto de execução de alguns projetos inadiáveis no segmento de infraestrutura.

Foram excelentes as diretivas do presidente Lula em relação ao pré-sal: afirmou que Brasil não se converterá num país exportador de petróleo, mas sim de produtos refinados e/ou outros itens que agregam valor à atividade dos brasileiros, beneficiados com a ampliação da energia por habitante. Determinou que os efeitos dinâmicos - à frente e para trás - da economia do petróleo serão exclusivos para desenvolver atividades internas geradoras de renda e emprego. Esta diretiva abre uma frente de expansão para o investimento privado dinâmico. Mas estas não parecem ser diretivas da pauta principal da Petrobras - nossa maior empresa tem hoje 40% de seu capital em mãos estrangeiras -, que anunciou uma associação extremamente perigosa com a China.

Finalmente, foi formulado um programa de habitação que parece desconhecer a reduzida capacidade de endividamento de nosso povo. Reconheço o mérito, em tese, de ativar a construção civil, porém deveria ser matéria de amplo subsídio público e assumir que o próprio povo já demonstrou que é capaz de construir suas habitações. Seria preferível apoiar a construção "formiguinha" que o povo faz com o que poupa em materiais de construção. Acho que a combinação de um programa de criação de lotes edificáveis na rede urbana e um de aperfeiçoamento do transporte coletivo de massas na rede metropolitana seriam decisões mais consistentes para o desenvolvimento brasileiro.

Aos trancos e barrancos, existe já um esboço de proposta de futuro. O que não estão explicitadas são as janelas ideológicas e as oportunidades que se abrem para o Brasil. Como se sabe, a questão social é nacional e nas sociedades abertas, apesar de democracia imperfeita, nenhum governo deixará de proteger seu povo, logo, sua economia. Haverá um neoprotecionismo, não necessariamente aduaneiro, provavelmente operacionalizado a partir de um sistema bancário mais estatizado e ultrarregulamentado. Haverá neonacionalismo.

O Brasil é, dos "países baleia", o que está potencialmente melhor posicionado para o desenvolvimento de um projeto civilizatório. Nossa população é urbanizada e metropolitana; estamos no melhor momento de nossa história demográfica; dispomos de um povo que quer ser feliz e está disponível para ser empregado em atividades de mais alta produtividade; podemos, pelos nossos recursos naturais, exorcizar a questão energética, preservando e aperfeiçoando a matriz (temos o mais alto índice de formas energéticas renováveis) e elevando a disponibilidade de energia por habitante.

Em contrapartida, é péssima a matriz logística brasileira, predominantemente baseada nas rodovias, cujo custo é quatro vezes superior aos transportes ferroviário e aquaviário. Não incorporamos a logística nacional às três bacias fluviais e desprezamos a navegação de cabotagem. Apesar de sete regiões metropolitanas estarem na linha da costa, optamos pela rodovia de norte a sul. Não integramos nem ampliamos o acesso territorial mediante ferrovia.

Podemos converter o limão em limonada. Há uma ampla fronteira de investimentos produtivos na renovação e ampliação de nossa matriz logística. A grande e espetacular vantagem é que podemos fazer uma revolução tecnológica, reduzindo frete e elevando o poder de compra de nosso povo, a partir do desenho de uma nova matriz de transporte. Estas tecnologias (rodoviária e aquaviária) são conhecidas e dominadas pela engenharia brasileira e têm o mérito de ser puramente criadoras, ao contrário da renovação de uma matriz energética no Primeiro Mundo, que será igualmente criadora, porém também destrutiva.

terça-feira, 14 de abril de 2009

REUNIÃO DO G20: DIAS DEPOIS : PARTE 07: UMA NOVA ORDEM ?



Aplicar o conceito de uma nova ordem internacional à reunião de Londres é um despropósito,a firma o economista Rubens Ricupero. “Substituir o G1, G2 ou G8 pelo G20 é alguma coisa. Pouco, porém, para fazer jus à legitimidade, que só pode vir do G192, número de membros da ONU. Será, por exemplo, que os 850 milhões de africanos negros se dão por representados apenas pela África do Sul?”, indaga Ricupero em artigo no jornal Folha de S.Paulo, 12-04-2009.
Eis o artigo.

A julgar pela extravagante retórica de Gordon Brown após a reunião do G20, o mesmo "ghost-writer" vem escrevendo ao longo de 20 anos todos os discursos que falam de uma nova ordem internacional. Em 1988, Gorbatchov dizia na ONU que o progresso só seria possível mediante a busca do consenso de toda a humanidade em "movimento rumo a uma nova ordem". Dois anos depois, Bush pai declarava de modo mais exorbitante que uma nova parceria de nações tinha começado e nos encontrávamos em um momento único e extraordinário. Desses tempos conturbados, "uma nova ordem mundial pode emergir na qual as nações do mundo, no leste e no oeste, no norte e no sul, poderão prosperar e viver em harmonia".

Ambos se referiam, é claro, ao fim da Guerra Fria e do permanente risco de destruição nuclear devido à hostilidade entre leste e oeste. Ainda não se previa que, pouco depois, o colapso da própria URSS e do "comunismo real" tornaria a mudança mais avassaladora.

Abria-se janela que não tinha existido desde o final da Segunda Guerra: a oportunidade de reconstruir a ordem internacional em bases de maior equilíbrio. Desperdiçou-se o momento propício; se foi por falta de imaginação ou de tempo (Bush não foi reeleito), é matéria de debate. Tenho para mim que a razão é outra. Seduzido pela ilusão do poder unipolar, o governo americano quis que ele se tornasse perpétuo, confundindo-o com a nova ordem. Afinal, a primeira Guerra do Golfo não havia demonstrado que era possível resolver os desafios mediante a afirmação da vontade dos EUA?

No episódio, a "coalizão dos decididos", liderada por Washington, tomou o lugar do consenso. A fórmula foi repetida por Clinton, com menos seguidores, na Bósnia e no Kossovo, e de forma mais unilateral na invasão do Iraque por Bush filho. A nova ordem se parecia cada vez mais com a velha desordem estabelecida. O discurso de Gorbatchov indicava qual era o primeiro elemento da nova ordem: o consenso de todos. O segundo é a equidade, isto é, certa igualdade e equilíbrio na justiça.

Sem isso, pode-se ter situações de fato, nunca verdadeira ordem. Aplicar o conceito à reunião de Londres é um despropósito. Substituir o G1, G2 ou G8 pelo G20 é alguma coisa. Pouco, porém, para fazer jus à legitimidade, que só pode vir do G192, número de membros da ONU. Será, por exemplo, que os 850 milhões de africanos negros se dão por representados apenas pela África do Sul?
Equidade foi algo só mencionado pro forma no comunicado. Tratar do tema a sério exigiria esforço muito maior. Os aspectos políticos -reforma a fundo do Conselho de Segurança, solução justa do conflito Israel-palestinos, desarmamento para valer, acordo sobre clima- dependeriam de consenso o mais amplo possível.
Chamar esse modesto começo de nova ordem é enganador. Obama, aliás, evitou o exagero da campanha e falou com sobriedade. A contundente realidade já começou a confirmar o salmo 32: o Senhor desfaz os projetos das nações. A bomba da Coreia do Norte, o silêncio do Irã, a guinada à direita de Israel e o fantasma de um novo Vietnã pairando sobre o Afeganistão-Paquistão são lembretes de como será árduo construir uma nova ordem. Uma nova ordem é só uma palavra, diria Fernando Pessoa. Para torná-la realidade é preciso merecê-la.

sábado, 11 de abril de 2009

REUNIÃO DO G20: DIAS DEPOIS : PARTE 06: AS PRÁTICAS DA REUNIÃO !

O que o G2 deve tentar discutir agora que o G20 acabou
Martin Wolf
A cúpula do Grupo dos 20, realizada em Londres na semana passada, colocou a economia mundial no caminho de uma recuperação sustentável? A resposta é "não". Essas reuniões não podem resolver os desentendimentos fundamentais sobre o que saiu errado e como corrigir. Como resultado, o mundo está no caminho de uma recuperação insustentável, como argumentei na semana passada. Uma recuperação insustentável pode ser melhor do que nenhuma, mas não é boa o suficiente.O encontro de cúpula conseguiu duas realizações: uma ampla e uma específica.Primeiro, "conversa fiada é melhor do que guerra", como comentou Winston Churchill. Dada a intensidade da raiva e medo à solta no mundo, a simples discussão deve ser boa.Segundo, o G20 decidiu triplicar os recursos disponíveis para o Fundo Monetário Internacional (FMI), para US$ 750 bilhões, e apoiar a alocação de US$ 250 bilhões em direitos especiais de saque (SDRs, na sigla em inglês) - a moeda de reserva do FMI. Se implantadas, estas decisões deverão ajudar as economias emergentes mais duramente atingidas durante a crise. Elas também marcam o retorno de um grande debate: o funcionamento do sistema monetário internacional.Este é o ponto em que os olhos de inúmeros leitores vão ficar vitrificados. É mais fácil para a maioria acreditar que a explicação para a crise é apenas a desregulamentação e a má regulamentação dos sistemas financeiros dos Estados Unidos, Reino Unido e alguns poucos países. Mas, dada a escala dos desequilíbrios macroeconômicos do mundo, está longe de óbvio que padrões regulatórios mais elevados por si só teriam salvo o mundo.Não é apenas uma questão de interesse histórico.
Também é relevante para a sustentabilidade da recuperação. Os déficits fiscais agora são bem maiores em países com déficits estruturais em conta corrente do que nos países com superávits em conta corrente. Isso ocorre porque os últimos podem importar uma parte substancial do estímulo introduzido pelos primeiros. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde) prevê um salto na dívida pública americana de quase 40% do produto interno bruto ao longo de três anos. É muito provável, portanto, que a próxima crise será ativada pelo que os mercados consideram uma dívida fiscal excessiva nos países com grandes déficits estruturais em conta corrente, notadamente os Estados Unidos. Se for o caso, este poderia ser um momento crítico para o sistema econômico internacional.De forma intrigante, o país que está levantando estas grandes questões é a China.

Isto ocorre, sem dúvida, por motivos de interesse próprio: a China está preocupada com o valor de suas reservas de moeda estrangeira, a maioria denominada em dólares americanos; ela quer se livrar da culpa pela crise; ela deseja preservar o máximo possível de seu modelo de desenvolvimento; e está, eu suspeito, buscando contrabalançar a pressão americana sobre a taxa de câmbio do yuan.Wen Jiabao, o primeiro-ministro da China, notou a preocupação de seu país com o valor de suas vastas reservas. Próximas de US$ 2 trilhões, elas são quase metade do PIB de 2008. Imagine o que os americanos diriam se seu governo tivesse investido cerca de US$ 7 trilhões (o equivalente relativo ao PIB americano) nas dívidas de um governo não totalmente amistoso. O governo chinês está começando a perceber seu erro - tarde demais, a propósito.Enquanto isso, o presidente do Banco Popular da China, Zhou Xiaochuan, produziu uma série de trabalhos e discursos notáveis sobre o sistema financeiro global, sobre os desequilíbrios globais e reforma do sistema monetário internacional. Eles são tanto uma declaração do ponto de vista chinês quanto uma contribuição ao debate global. É possível não concordar com tudo o que ele está dizendo. Mas o fato de estar se manifestando é importante por si só.

O presidente Zhou argumenta que a alta taxa de poupança da China e de outros países do Leste Asiático é um reflexo de tradição, cultura, estrutura familiar, demografia e do estágio do desenvolvimento econômico. Além disso, ele acrescenta, eles "não podem ser ajustados apenas mudando a taxa de câmbio nominal". Além disso, ele insiste, "a relação entre alta poupança e grandes reservas de moeda estrangeira nos países do Leste Asiático são resultado das reações defensivas contra a especulação predatória", particularmente durante a crise financeira asiática de 1997-98.Nada disso pode ser mudado rapidamente, insiste o presidente do banco central: "Apesar dos Estados Unidos não poderem sustentar o padrão de crescimento de alto consumo e baixa poupança, este não é o momento certo para elevar sua taxa de poupança". Em outras palavras, nos dê frugalidade americana, mas não agora.

Enquanto isso, acrescenta o presidente, o governo chinês implantou um dos maiores programas de estímulo do mundo.Além disso, o vasto acúmulo de reservas de moeda estrangeira, de US$ 5,4 trilhões entre janeiro de 1999 e seu pico em julho de 2008, reflete a busca por segurança das economias emergentes. Mas como o dólar americano é o principal ativo de reserva do mundo, o mundo depende das emissões monetárias americanas. Além disso, os Estados Unidos tendem a incorrer em déficits em conta corrente, por este motivo. O resultado é o ressurgimento da fraqueza discutida nos últimos anos do sistema de Bretton Woods de taxas de câmbio fixas, que ruiu no início dos anos 70: a emissão excessiva de moeda chave. A resposta a longo prazo, ele acrescenta, é uma "moeda de reserva supersoberana".É fácil fazer objeção a muitos destes argumentos.

Grande parte do aumento extraordinário nas reservas agregadas da China é resultado do aumento dos lucros corporativos. Certamente seria possível tributar e então gastar parte destas imensas reservas corporativas. O governo também poderia tomar mais empréstimos: a 3,6% do PIB previstos pelo FMI neste ano, seu déficit continua sendo decididamente modesto. Também é difícil de acreditar que um país como a China deva economizar metade de seu PIB ou administrar superávits em conta corrente próximos de 10% do PIB.De modo semelhante, apesar do sistema monetário internacional estar de fato defeituoso, este é dificilmente o único motivo para os vastos acúmulos de reservas de moeda estrangeira do mundo. Outro é a dependência excessiva no crescimento liderado pelas exportações.

Todavia, o presidente Zhou está correto ao dizer que parte da solução a longo prazo da crise está na criação de um sistema de reserva que permita às economias emergentes incorrer de forma segura em déficits em conta corrente. A emissão de SDRs é uma forma de atingir esta meta, sem mudar o caráter fundamental do sistema global.A China está buscando o engajamento dos Estados Unidos. Isto por si só é enormemente importante. Apesar de motivada por interesse próprio, esta é uma condição necessária para uma discussão séria das reformas globais. Mas a China também deve entender um ponto essencial: o mundo não pode absorver em segurança os atuais superávits em conta corrente que provavelmente serão gerados segundo o curso atual de desenvolvimento. Um país tão grande quanto a China não pode esperar depender desses grandes superávits em conta corrente como fonte de demanda. Os gastos domésticos ainda devem aumentar de forma acentuada e sustentável, em relação ao crescimento da produção potencial. É assim simples e difícil.

Tradução: George El Khouri Andolfato

quarta-feira, 8 de abril de 2009

REUNIÃO DO G20: DIAS DEPOIS : PARTE 05: AS ILUSÕES !

A reunião de Bretton Woods, em 1944, durou mais de 20 dias e deu origem à arquitetura financeira dos últimos cinquenta anos. Já a reunião do G20 em Londres durou apenas um dia. O que se decidiu em Londres foi garantir ao capital financeiro continuar a agir como tem agido nos últimos trinta anos. Ou seja, acumular lucros fabulosos nas épocas de prosperidade e contar, nas épocas de crise, com a “generosidade” dos contribuintes, desempregados, pensionistas roubados, famílias sem casa, garantida pelo Estado do Seu Bem Estar.
A análise é do sociólogo Boaventura de Sousa Santos em artigo publicado pela Carta Maior, 07-04-2009.

Eis o artigo.
Tudo foi feito para que os cidadãos do mundo se sentissem aliviados e confortados com os resultados da Cúpula do G20 que acaba de se realizar em Londres. Os sorrisos e os abraços encheram os noticiários, o dinheiro jorrou para além do que estava previsto, não houve conflitos – do tipo dos que houve na Conferência de Londres de 1933, em igual tempo de crise, quando Roosevelt abandonou a reunião em protesto contra os banqueiros – e, como se não houvesse melhor indicador de êxito, os índices das bolsas de valores, a começar por Wall Street, dispararam em estado de euforia. Além de tudo, foi muito eficaz.
Enquanto uma reunião anterior, com objetivos algo similares, durou mais de 20 dias – Bretton Woods, 1944, de onde saiu a arquitetura financeira dos últimos cinquenta anos – a reunião de Londres durou um dia.Podemos confiar no que lemos, vemos e ouvimos?
Não. Por várias razões. Qualquer cidadão com as simples luzes da vida e da experiência sabe que, com exceção das vacinas, nenhuma substância perigosa pode curar os males que causa. Ora, por sob a retórica, o que se decidiu em Londres foi garantir ao capital financeiro continuar a agir como tem agido nos últimos trinta anos, depois de se ter libertado dos contrelos estritos a que antes estava sujeito.
Ou seja, acumular lucros fabulosos nas épocas de prosperidade e contar, nas épocas de crise, com a “generosidade” dos contribuintes, desempregados, pensionistas roubados, famílias sem casa, garantida pelo Estado do Seu Bem Estar. Aqui reside a euforia de Wall Street. Nada disto é surpreendente se tivermos em mente que os verdadeiros artífices das soluções – os dois principais conselheiros econômicos de Obama, Timothy Geithner e Larry Summers – são homens de Wall Street e que esta, ao longo das últimas décadas, financiou a classe política norte-americana em troca da substituição da regulamentação estatal por auto-regulação. Há mesmo quem fale de um golpe de Estado de Wall Street sobre Washington, cuja verdadeira dimensão e estrago se revela agora.
O contraste entre os objetivos da reunião de Bretton Woods, onde participaram não 20, mas 44 países, e a de Londres explica a vertiginosa rapidez desta última. Na primeira, o objetivo foi resolver as crises econômicas que se arrastavam desde 1929 e criar uma arquitetura financeira robusta, com sistemas de segurança e de alerta, que permitissem ao capitalismo prosperar no meio de forte contestação social, a maior parte dela de orientação socialista. Ao contrário, em Londres, assistimos a pura cosmética, reciclagem institucional, sem outro objectivo que não o de manter o actual modelo de concentração de riqueza, sem qualquer temor do protesto social – por se assumir que os cidadãos estão resignados perante a suposta falta de alternativa – e mesmo recuando em relação às preocupações ambientais, as quais voltaram ao seu estatuto de luxo para usar em melhores tempos.As instituições de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial, em especial) há muito que vinham a ser desvirtuadas.
As suas responsabilidades nas crises financeiras dos últimos 20 anos (México, Ásia, Rússia, Brasil) e no sofrimento humano causado a vastas populações por meio de medidas depois reconhecidas como tendo sido erradas – por exemplo, a destruição, de um dia para o outro, da indústria do caju de Moçambique, deixando milhares de famílias sem subsistência – levaram a pensar que poderíamos estar num novo começo, com novas instituições ou profundas reformas das existentes. Nada disso ocorreu.
O FMI viu-se reforçado nos seus meios, continuando a Europa a deter 32% dos votos e os EUA 16,8%. Como é possível imaginar que os erros não vão repetir-se?A reunião do G20 vai, pois, ser conhecida pelo que não quis ver ou enfrentar: a crescente pressão para que a moeda internacional de reserva deixe de ser o dólar; o crescente protecionismo como prova de que nem os países que participaram nela confiam no que foi decidido (o Banco Mundial identificou 73 medidas de protecionismo tomadas recentemente por 17 dos 20 países participantes); o fortalecimento de integrações regionais Sul-Sul, na América Latina, na África, na Ásia, e entre a América Latina e o Mundo Árabe; a reposição da proteção social – os direitos sociais e econômicos dos trabalhadores – como fator insubstituível de coesão social; a aspiração de milhões para que as questões ambientais sejam finalmente postas no centro do modelo de desenvolvimento; a ocasião perdida para terminar com o segredo bancário e os paraísos fiscais – como medidas para transformar a banca num serviço público ao dispor de empresários produtivos e de consumidores conscientes.

SUBNUTRIDOS JÁ SÃO MAIS DE UM BILHÃO DE PESSOAS !

Um tsunami foi a imagem usada para descrever o dano causado pela crise alimentar do ano passado. A situação atual se assemelha mais à lenta, mas implacável, subida da maré, que vai arrastando cada vez mais pessoas para dentro das fileiras dos subnutridos.
A reportagem é de Javier Blas, publicada no Financial Times e reproduzida pelo jornal Valor, 07-04-2009.
Quase despercebida por trás da crise econômica, uma combinação de crescimento baixo, alta do desemprego e queda nas remessas de divisas, aliada a preços de alimentos que continuam elevados, empurrou o número dos cronicamente famintos para acima de um bilhão de pessoas pela primeira vez.
O forte aumento reverteu uma queda ocorrida ao longo dos últimos 25 anos na proporção da população cronicamente faminta no mundo. "Não estamos fora de perigo na crise alimentar", diz Josette Sheeran. Ela chefia o Programa Mundial de Alimentação, em Roma, que necessita de cerca de US$ 6 bilhões neste ano para alimentar os mais pobres, um aumento de 20% em relação à soma recorde de US$ 5 bilhões, no ano passado.
"O impacto dos altos preços do ano passado se mantém. Além disso, os países agora sofrem uma perda de receita devido à crise financeira mundial", diz ela, repercutindo uma visão amplamente aceita por outros altos funcionários e especialistas entrevistados pelo "Financial Times".
Kanayo Nwanze, novo presidente do Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrícola da ONU, alerta que os migrantes estão retornando das cidades para o interior em grande número, gerando mais pressão. "Haverá mais bocas para alimentar com pouca ou nenhuma comida", ele diz.
A crise está se expandindo para fora da África, à medida que a recessão se incorpora ao impacto dos altos preços. Países que tiveram poucos problemas com alimentação por 20 anos, como o Quirguistão, agora pedem auxílio.
O pior ainda está por vir, à medida que o impacto da recessão sobre o poder aquisitivo fica mais evidente e o custo dos alimentos continua alto, dizem autoridades, executivos do setor e especialistas.
Robert Paarlberg, professor de Ciências Políticas no Wellesley College, nos EUA, e especialista em agricultura, diz estar "mais preocupado com a fome na crise econômica atual" do que "no auge da disparada nos preços das commodities no ano passado".
Peter Brabeck, presidente do conselho de administração do conglomerado de alimentos Nestlé, também acredita que a crise está se agravando. "Não se esqueça que os preços dos alimentos hoje estão cerca de 60% mais altos do que há apenas 18 meses. E isso significa que as pessoas que gastam 60%, 70% da sua renda disponível em alimento foram muito, muito duramente atingidas", ele diz.
Os alertas surgem mesmo num momento em que os preços das commodities agrícolas registram fortes quedas em relação às altas recordes do ano passado. Entre os gêneros de primeira necessidade, os preços do milho, trigo e arroz caíram quase à metade. Apesar disso, Allan Buckwell, professor emérito de Economia Agrícola no Imperial College, em Londres, diz que as commodities agrícolas simplesmente retornaram aos seus níveis de meados de 2007. "O preço dos alimentos não caiu como outras commodities, como petróleo".
Além disso, os preços estão muito acima da sua média. Alguns produtos estão sendo negociados ao dobro do nível de 1998-2008, apesar da queda. Por exemplo, o custo atual do arroz tailandês, referência mundial, a US$ 614 a tonelada métrica, é mais que o dobro da média de 10 anos, de US$ 290.
Ademais, os preços internos dos alimentos em muitos países em desenvolvimento, especialmente na África Subsaariana, nem caíram e, em alguns casos, estão subindo de novo, devido ao impacto de uma colheita insuficiente e à escassez de crédito para importações. Sheeran destaca esse problema: "Os preços locais estão subindo. Por exemplo, o preço do milho em Maláui subiu 100% em um ano."
Agravando o cenário, agricultores em todo o mundo estão plantando menos, reduzindo assim a produção para a safra deste ano e potencialmente ajudando a manter os preços dos alimentos em alta, mesmo que a demanda esteja fraca, devido à crise econômica.
Nos EUA, maior exportador de commodities agrícolas, os produtores devem interromper cinco anos de expansão do plantio. Há ainda o temor de que agricultores carentes de crédito, especialmente em países ricos em alimentos, como Ucrânia, Argentina e Brasil, reduzam o uso de sementes híbridas de rendimento superior e de fertilizantes, afetando a produção.
O cenário mais aterrador para governos, entidades de ajuda e para a indústria alimentícia é que um golpe de mau tempo afete a próxima safra. Num momento em que os estoques agrícolas estão no seu mais baixo nível em muitos anos, isso poderia empurrar os preços para cima, desencadeando mais uma crise, além da econômica.

domingo, 5 de abril de 2009

REUNIÃO DO G20: DIAS DEPOIS : PARTE 04: VIDA LONGA AO G20 !

LE MONDE !
O G20 passou por seu exame de aprovação. Não era garantido.
Entre as economias do norte e das potências emergentes do Sul, não faltavam motivos de conflito, de querela e de disputa: a reunião de Londres, na quinta-feira (2), poderia ter resultado em cacofonia.
Mas o interesse comum por uma ação coordenada para tentar frear a pior crise econômica e financeira depois de 1945 prevaleceu.
Pode-se dizer que há um pouco de marketing, ou seja, de ostentação, em sua embalagem final. Isso sem dúvida é verdade. Não sabemos muito qual matemática "browniana" o primeiro-ministro britânico usou para adicionar números que não têm nada a ver entre si para anunciar, como um grito de vitória, que o G20 destinará 1,1 trilhão de dólares à retomada econômica. Mas tudo bem se isso for capaz de restaurar um pouco de um elemento que será fundamental para sair da crise: a confiança.
O que então aconteceu em Londres? O equivalente ao retorno de um pouco de Estado na cena internacional. Dito de outra forma, o G20 esboçou as novas regras do capitalismo mundial. Vivíamos num momento de globalização financeira totalmente desregulamentada, cujo curso selvagem desembocou na crise atual.
A reunião de Londres - que se deveu em grande parte à insistência de Nicolas Sarkozy, o primeiro a tê-la convocado, em setembro de 2008 - introduziu a regulamentação, ou seja, a prudência, nas finanças mundiais.
Ela conferiu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um novo papel de fiscalização das práticas econômicas e financeiras dos Estados - caberá a ele acionar o sinal de alarme quando o comportamento de algum dos países ameaçar todo do sistema.
E aconteceu mais do que isso.
A reunião em Londres destruiu o G8, a cúpula anual americana-nipo-europeia que tinha intenção de administrar parte dos negócios do planeta, uma vez que ela não era nem um pouco representativa do mundo de hoje.
O G20 é, ele sim, o espelho justo da repartição de poder econômico nesse começo de século 20: com a ascensão poderosa, cada dia mais evidente, dos gigantes do Sul que incluem a China, a Índia e o Brasil, entre outros.
Ainda que exclua a África, o G20 é mais representativo que o Conselho de Segurança da ONU, cuja composição reflete o equilíbrio resultante da 2ª Guerra Mundial. Mas o G20 não é uma instituição.
É uma reunião informal, sustentada apenas pela boa vontade de seus participantes. Se quisermos um embrião de governança mundial - imposta pela globalização - é necessário institucionalizar o G20, começando por dar a ele um secretariado permanente.

PONTE DE GELO SE ROMPE NA ANTÁRTICA, E GERA TEMORES PELO MUNDO !

BBC: Ponte de gelo na Antártica se rompe e causa temores sobre clima
Uma ponte de gelo que liga um bloco do tamanho da Jamaica a duas ilhas da Antártica rompeu-se, informaram pesquisadores neste final de semana.
Cientistas afirmam que o rompimento pode indicar que o bloco Wilkins, como é conhecido o território, flutuará livremente, o que seria um sinal das mudanças provocadas pelo aquecimento global.
O bloco Wilkins, que fica no oeste da Península Antártica, está diminuindo de tamanho desde a década de 1990.
Para os pesquisadores, a ponte de gelo era uma barreira importante que mantinha o bloco ligado à região. O rompimento permitiria que o bloco Wilkins se movimentasse livremente entre as ilhas de Charcot e Latady.
Nível do mar Fotos da Agência Espacial Europeia haviam demonstrado que a ponte estava começando a se romper.
O pesquisador David Vaughan, do instituto British Antarctic Survey, colocou um GPS na ponte de gelo em janeiro e está monitorando o movimento do bloco Wilkins."Nós sabemos que [o bloco de gelo Wilkins] está completamente ou muito estável desde os anos 30, e depois ele começou a diminuir de tamanho nos anos 90", disse ele à BBC."O fato de que ele está diminuindo e agora perdeu conexão com uma das ilhas é uma indicação forte de que o aquecimento da Antártica está tendo efeito em outro bloco de gelo."
O rompimento não deve ter impacto direto no nível dos mares, porque o gelo está flutuando e não derreteu, mas cientistas estão preocupados com as mudanças no clima da Antártica.Nos últimos 50 anos, a península tem sido uma das que mais está se aquecendo no planeta.Muitas das camadas de gelo diminuíram no período e seis delas se romperam por completo - Prince Gustav, Larsen Inlet, Larsen A, Larsen B, Wordie, Muller e Jones.Pesquisas mostram que quando os blocos se rompem, as geleiras e as massas degelo começam a se movimentar em direção ao Oceano.
É esse gelo que pode aumentar o nível do mar, mas ainda há muitas dúvidas sobre a forma como esses fenômenos estão ocorrendo.
Esses fenômenos não foram incluídos no relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), que fez projeções sobre o aumento do nível do mar no futuro. O texto de 2007 do IPCC diz que as dinâmicas do gelo ainda são pouco compreendidas pelos cientistas.

COISAS QUE SÓ A CRISE FINANCEIRA GLOBAL PODE TRAZER !

A CRISE APROFUNDA AS DIFERENÇAS ENTRE RICOS, MAIS RICOS, E OS POBRES, MAIS POBRES !

A capa retrata o povo em barricadas da revolução francesa, mas com um cartaz moderno em mãos: "Get the rich!", peguem os ricos. E o título de um suplemento no centro do jornal tem um sabor de um juízo divino. "É mais fácil para um camelo". Não há necessidade de concluir a frase evangélica: todos sabem como ela termina.
O Economist, jornal semanal com sede em Londres mas com mais de um milhão de leitores em todo o mundo, fotografa assim a realidade do momento: uma onda universal de raiva, dirigida aos banqueiros, aos corretores, aos especuladores que, durante anos, enriqueceram enormemente e depois contribuíram para que o sistema financeiro quebrasse, desencadeando a pior recessão desde 1929.

A reportagem é de Enrico Franceschini, publicada no jornal La Repubblica, 04-04-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma revolta popular que se esconde nas manifestações de praça pública em Londres e em Estrasburgo, por trás dos sequestros dos administradores principais e as ocupações das fábricas, apontada contra uma era de crescentes desigualdades, contra uma brecha entre ricos e pobres que aumentou excessivamente no arco das últimas três décadas.
No dia seguinte ao encontro do G20, que promete tratar desses excessos, as cifras coletadas pelo semanário londrino impressionam. Em 1979, 0,1% dos americanos mais ricos ganhava 20 vezes mais do que os 99% mais pobres. Em 2006, antes da crise atual, ganhava 77 vezes mais.
Em 1982, as 400 pessoas da lista dos mais ricos do mundo publicada pela revista Forbes tinham um patrimônio total de 92 bilhões de dólares.
Em 2006, o valor havia subido para 1,25 trilhões. Em 1982, 75 milhões de dólares eram suficientes para entrar na lista. Em 2006, era necessário um bilhão. Em 1982, 10% dessas fortunas haviam sido feitas no setor financeiro. Em 2006, 25%.
Sempre houve, naturalmente, ricos e pobres, mas aqui está a diferença entre aqueles de então e os de hoje: banqueiros e especuladores, afirma o Economist, parecem "imerecidamente" ricos, diferentemente dos clássicos empreendedores do passado ou dos mais recentes, como os fundadores da Microsoft e do Google.
Algo diferente do capitalismo: isso tem a aparência de um "socialismo para os ricos", uma "plutonomia", uma economia dominada pelo consumismo dos ricos, um "Richistan".
Identificado o fenômeno, o Economist, porém, faz uma distinção e lança um aviso. A distinção é que os ricos da terra já estão pagando um preço: desde o início da crise, perderam 10 trilhões de dólares, um quarto das suas riquezas.
A Forbes calcula que, em dois anos, o número dos bilionários no mundo diminuiu de 1.125 para 793. E o Spectrem Group, sociedade de pesquisas, estima que, apenas nos EUA, os milionários tenham caído de 9,2 para 6,7 milhões. E não termina por aí: as medidas adotadas pelo G20 trarão mais transparência e mais rigor fiscal com relação aos ricos.
Porém, o dossiê contém um aviso: as finanças não causaram só danos. Criaram também benefícios para o resto da economia, serviram de reboque para a globalização, que levou bilhões de homens para fora da pobreza. Reformar o capitalismo, conclui o prestigioso semanário, é justo, mas é preciso resistir à tentação de um populismo fácil contra os bancos, os banqueiros e os ricos, senão todos sairemos perdendo.

REUNIÃO DO G20: DIAS DEPOIS : PARTE 03: O BRASIL E A CHINA SAEM GANHANDO !

Talvez a maior dica de mudanças no mapa-múndi geopolítico tenha sido dada pelo notório documento do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, vazado recentemente para a mídia britânica.
A reportagem é de Fernando Duarte e publicada pelo jornal O Globo, 05-04-2009.
Nele, os outros 19 países que compõem o G-20 foram, às vésperas da cúpula dos chefes de Estado em Londres, classificados em duas divisões de importância para os planos britânicos, incluindo uma campanha de relações públicas: enquanto nações de ligações históricas, como as excolônias Austrália e Canadá, foram colocadas no segundo escalão — ao lado de México, Turquia e Argentina —, Brasil, China e Índia apareceram ao lado de Estados Unidos, Japão, França e Alemanha.
Na própria cúpula, o cumprimento entusiasmado do presidente dos EUA, Barack Obama, a Luiz Inácio Lula da Silva (“Esse é o cara”) foi um sinal gritante de uma nova ordem mundial, em que o poder econômico já não é monopolizado pelos países mais industrializados do mundo, tampouco por Washington.
E a transformação do G-7 (grupo dos sete países mais ricos) em um G-20 — que inclui nações emergentes —, por necessidade de uma resposta coordenada à crise econômica global, abre espaço para mudanças no campo político, ainda que especialistas apontem a ausência de um grande catalisador para o processo.
Tendência a novas alianças e ao multilateralismo
— É claro que o encontro do G-20 não resolveria tudo em um dia e deixaria todo mundo satisfeito, mas sua conclusão foi muito importante, por ter uma transcendência de ideologias nacionais no plano econômico e uma genuína internacionalização de soluções. Mas precisamos lembrar que o mundo estava contra a parede por causa da crise, e os países do G-20 não se sentaram à mesa de maneira tão espontânea assim — explica Roger Lee, especialista em geografia econômica da Universidade de Londres.
Em outras palavras, a ausência de um maior instrumento de pressão global ainda torna difícil uma distribuição de poder mais horizontal em fóruns internacionais como a ONU, especialmente o Conselho de Segurança, onde a obtenção de uma vaga permanente é uma das principais batalhas da política externa do governo Lula. O exemplo de Londres poderá contribuir para isso, dependendo do sucesso das medidas na cúpula do G-20.
— O mundo está começando a reconhecer com mais força que a economia se tornou global e que nenhum país, sozinho, poderá salvar o dia — afirma Steve Schifferes, comentarista político da BBC.
Para o acadêmico e escritor Martin Jacques, o crescimento dos emergentes, sobretudo da China, na esfera política é inevitável diante de sua ascensão econômica. Jacques acredita num multilateralismo que não ficará concentrado no G-20, mas será marcado por microalianças, que levarão em conta aspectos regionais e ideológicos:
— Países como China e Brasil vão gradativamente ocupar mais espaço em organismos internacionais, e isso resultará em um cenário internacional bem diferente do que vemos hoje, por mais que haja tendência de maior supremacia americana e chinesa.
Mesmo entre especialistas americanos existe o sentimento de que a parceria com a China não deve ser de fidelidade absoluta, diante da expansão dos interesses chineses a regiões como África e América Latina. Parag Khanna, um dos assessores para assuntos internacionais da campanha de Obama, diz que mesmo a União Europeia (UE) deve ter algum tipo de diversificação de alianças.
— O sucesso da UE não depende da força de coalizões. A França pode se beneficiar de uma liderança junto a nações mediterrâneas, e a Espanha lucraria buscando maior integração com os países latino-americanos.
Nos EUA, a relação com a América Latina precisa ser mais forte. A Venezuela representa uma aliança estratégica em independência energética frente ao Oriente Médio, e o Brasil oferece uma alternativa em termos de poderio industrial.

sábado, 4 de abril de 2009

REUNIÃO DO G20: DIAS DEPOIS : PARTE 02

COMO SEMPRE, ESTE TEMA, O G20, E SUA ÚLTIMA REUNIÃO, TEM GERADO COMENTÁRIOS E IDÉIAS QUE NOS FAZ PENSAR E REPENSAR....
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O sociólogo e politólogo Atílio A. Boron, secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e professor de Teoria Política na Universidade de Buenos Aires, analisa neste artigo a reunião do G20 que ocorre em Londres.
Segundo o Boron, "o melhor que os países convidados para Londres [...] poderiam fazer é denunciar com serenidade, mas com firmeza, a futilidade das medidas" adotadas no encontro. E reconhecer que, dentro do capitalismo, não haverá solução para nossos povos.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
Meses atrás, a formidável maquinaria propagandística do império alimentava a ilusão de que a reunião do G20 em Londres daria a estocada final à crise. No entanto, a medida que a data se aproximava, começaram a se ouvir vozes discordantes.
Nicolas Sarkozy e Angela Merkel jogaram baldes de água fria sobre o iminente conclave, e o anfitrião, o "progressista" britânico Gordon Brown, aconselhou que se diminuíssem as expectativas, enquanto um número crescente de economistas críticos e historiadores advertiam sobre a futilidade da tentativa. Apesar disso, os ilusionistas e os malabaristas do sistema não deixaram de exaltar a reunião de Londres e tentar que as medidas mornas que ali se adotassem fossem interpretadas pelo público como propostas sensatas e efetivas para resolver a crise.
Como era de se esperar, pouco ou nada de concreto saiu da reunião. E isso por várias razões. Primeiro, porque ao que alguns caracterizaram, com arrogância e ignorância inauditas, como Bretton Woods II nem se fez a pergunta fundamental: reformar para que, com que objetivo? Ao deixar o tema de lado por omissão, ficou estabelecido que o objetivo das reformas não seria outro que o de voltar à situação anterior à crise. Isso supõe que o que a causou não foram as contradições inerentes ao sistema capitalista, mas aquela "exuberante irracionalidade dos mercados", da qual Alan Greenspan se lamentava, sem se dar conta de que o capitalismo é, por natureza, exuberantemente irracional, e que isso não se deve a um defeito psicológico dos agentes econômicos, mas tem seus fundamentos na própria essência do modo de produção.
Segundo: dado o anterior, não surpreende comprovar que o G20 tenha decidido fortalecer o papel do FMI para liderar os esforços da recuperação, sendo o principal autor intelectual da crise atual. O FMI foi, e continua sendo, o principal veículo ideológico e político para a imposição do neoliberalismo em escala planetária. É uma tecnocracia perversa e imoral que recebe honorários exorbitantes (isentos do pagamento de impostos!) e cuja pobreza intelectual foi muito bem resumida por Joseph Stiglitz, quando disse que o FMI está povoado por "economistas de terceira categoria, formados em universidades de primeira". E se pensa em sair da crise mais grave do sistema capitalista em toda a sua história pela mão desses aprendizes de feiticeiros?
Não há nisso um ápice de exagero: essa crise é a manifestação externa de várias outras que irrompem pela primeira vez: crise energética, ambiental, hídrica. Não havia nada disso na depressão de 1873-1896 ou na Grande Depressão dos anos 30. Em seu entrelaçamento, essas crises apresentam um desafio de proporções inéditas, frente ao qual as receitas do FMI só aprofundarão os problemas até extremos insuspeitos.
Terceiro, dada essa situação, o tema é muito grave para deixá-lo nas mãos do G20 e seus "especialistas". Por isso, o presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel D'Escoto, disse que o que se precisa não era de um G20, mas sim de um G192, uma cúpula de todos os países, e a convocou para junho deste ano. O G20 tenta cooptar vários países do Sul com a esperança de robustecer o consenso para uma estratégia fingida de "saída capitalista da crise do capitalismo": mudar alguma coisa para que nada mude.
Mas não existe possibilidade nenhuma de contornar esse temporal apelando às receitas do FMI, e o melhor que os países convidados para Londres, entre eles a Argentina, poderiam fazer é denunciar com serenidade, mas com firmeza, a futilidade das medidas ali adotadas e que, dentro do capitalismo, não haverá solução para nossos povos nem para as ameaças que pairam sobre todas as formas de vida do planeta Terra.

"Os EUA, ao se endividarem sem crescer, desperdiçam recursos do mundo sem oferecer uma contrapartida", escreve Cesar Benjamin, editor da Editora Contraponto, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 04-04-2009.
Eis o artigo.
Há poucos dias, troquei ideias com dois amigos sobre o plano apresentado pelo presidente Obama, que prevê o uso de recursos públicos para comprar US$ 1 trilhão em títulos podres, com farta emissão de moeda. Três pessoas conversando, três opiniões diferentes. Um dizia que o plano é ruim: o esforço para provocar inflação e desvalorizar o dólar é uma tentativa de repassar ao mundo - credor do dólar - o preço da crise. Outro dizia que o plano é bom: cria um mecanismo de enxugamento de ativos tóxicos, condição para restabelecer o crédito; a recuperação americana, que depende disso, seria a melhor contribuição para a economia mundial. Ambas as posições têm sentido.
Mas eu creio que o plano, simplesmente, não vai funcionar. Denominei "O tamanho da crise" um recente artigo neste espaço. Mas é preciso prestar atenção também à qualidade dela. O modelo econômico americano, predominantemente financeiro e rentista, não poderá se reconstituir nas mesmas bases anteriores.
As sofisticadas formas de gestão da pirâmide financeira e dos endividamentos superpostos deterioraram-se irremediavelmente. Será preciso renovar instituições, práticas, sistemas de regulação, saberes, formas de relação entre o mundo da finança e a economia real -ou seja, os "softwares" que fazem a economia funcionar. Esse me parece ser o ponto mais importante, pois mostra a complexidade da situação.Não há exagero em falar em colapso. O Estado americano está funcionando à custa de aumentar déficits internos e externos que já são estratosféricos. Vários entes federativos estão quebrados. O sistema financeiro deixou de funcionar, e sua situação tende a se deteriorar rapidamente. Fundos de pensão e outros importantes investidores institucionais experimentaram perdas trilionárias, com óbvias projeções para o futuro. Várias grandes empresas -outrora chamadas "campeãs nacionais"- podem falir. Com o crescimento do desemprego e a queda na renda, as dívidas das famílias mostram-se cada vez mais impagáveis, ameaçando financeiras e operadoras de cartões de crédito. Basta um mau passo para tudo desandar.
O trilhão de ativos tóxicos, que o presidente Obama pretende enxugar, é uma diminuta parte do problema, para o qual, visto como um todo, não há solução à vista. Produzir déficits não significa, necessariamente, aplicar políticas keynesianas. Keynes propunha que o Estado irrigasse com recursos uma economia que estivesse operando abaixo do seu potencial, tendo em vista estimular o sistema produtivo, conduzindo-o gradativamente à posição de pleno emprego. Ao aumentar a produção, também se aumenta a capacidade de tributar, o que possibilita recuperar o equilíbrio em um nível mais elevado de atividade econômica. O déficit keynesiano não é um gasto qualquer, que sai pelo ralo, mas sim aquele que tem sensível efeito multiplicador sobre a renda. Ao permitir obter um produto maior, ele se compensa dinamicamente, fortalecendo até as receitas do Estado.
O que está em curso, porém, são déficits crescentes que não conseguirão produzir uma retomada minimamente organizada e significativa da atividade, pois as instituições e os modos de regulação da economia não funcionam mais. Os Estados Unidos podem não ter problemas de solvência em curto prazo, pois ainda são os emissores da moeda mundial.
Mas, ao se endividarem sem crescer, desperdiçam recursos do mundo sem oferecer uma contrapartida. Espalham desordem e instabilidade.
Estamos em voo cego. Para além das retóricas e até mesmo das boas intenções, as tensões geopolíticas tendem a crescer.

As ações anunciadas para enfrentar a crise financeira foram inovadoras, ambiciosas e aplaudidas mundo afora, já para combater o aquecimento global sobrou apenas um discurso breve, vago e sem objetivos.
A reportagem é de Fabiano Ávila, do CarbonoBrasil e publicada pela Agência Envolverde, 03-04-2009.
Ambientalistas previam que o encontro das maiores economias mundiais seria totalmente voltado para a crise financeira. E os líderes reunidos em Londres não desapontaram, realmente foi isso que aconteceu, uma grande estratégia de US$ 1 trilhão para salvar a economia foi anunciada e apenas umas poucas frases perdidas foram dedicadas ao aquecimento global.
O documento final do encontro possui nove páginas e apenas na penúltima delas, em dois itens, aparecem intenções com relação a uma economia de baixas emissões e às mudanças climáticas.
“Nós reafirmamos nosso compromisso para combater a ameaça de uma mudança climática irreversível, baseado no princípio de responsabilidades comuns, porém diferenciadas e também para alcançar um acordo na conferência de mudanças climáticas em Copenhague em dezembro”, afirma a declaração final do evento.
O Secretário Executivo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCC), Yvo de Boer, comentou que as palavras são bonitas, mas ações seriam mais bem vindas. “É sempre útil reiterar um compromisso, mas muito melhor é realmente colocar em prática.”
Já o diretor da ONG WWF, David Norman, disse que uma decisão mais concreta em relação ao clima era altamente improvável, mas mesmo assim havia esperança de que algo fosse anunciado.
“Foi outra oportunidade perdida pelos países mais ricos do mundo. Eles falharam, de novo, em colocar a sustentabilidade no centro dos esforços da reestruturação da economia mundial. Infelizmente os resultados dessa reunião de Londres foram vagos”, afirmou.
Economia verde
Os líderes parecem ao menos estarem chegando à conclusão que uma economia baseada em baixas emissões e em tecnologias limpas pode ser uma saída para a crise.
“Para lutar contra a recessão nós estamos decididos a promover um crescimento baseado em baixas emissões e criar empregos verdes, ações das quais depende nossa prosperidade no futuro”, disse em discurso o Primeiro-Ministro britânico, Gordon Brown.
Segundo o presidente Barack Obama está na hora dos Estados Unidos liderar pelo exemplo, e assim convencer a China, a Índia e outros países em desenvolvimento a se comprometer a assinar o tratado climático que substituirá Quioto em 2012.
“É muito importante que os EUA reduzam suas emissões para que os outros países também o façam. Entendemos o discurso daqueles que dizem que não querem comprometer seu desenvolvimento por causa de problemas gerados pelos ricos e faremos tudo para ajudá-los”, afirmou Obama.
Porém para a WWF já passou da hora dos países pararem de especular sobre as baixas emissões e realmente buscarem esse novo modelo econômico. “Já deveria estar bem claro que as crises climáticas e financeiras estão ligadas, e tentar resolver uma e deixar a outra para depois não tem como dar certo”, disse Norman.
“Nos próximos meses teremos outras oportunidades, por exemplo, a reunião do G8, para concretizar os estímulos financeiros e de comércio para a criação de uma economia verde. O mundo não pode deixar passar essas últimas chances”, concluiu o ambientalista.

A reunião desta quinta-feira (02/04) foi uma grande oportunidade perdida para os líderes do G20. Eles falharam em posicionar a sustentabilidade no centro de seus esforços para reestruturar a economia mundial.
A reportagem é da eedação do WWF-Brasil e publicada pela Agência Envolverde, 03-04-2009.
Enquanto caminhamos para negociações cruciais sobre clima em Copenhagen, em dezembro, é vital que os países sinalizem rumo a uma economia baseada em baixa emissão de carbono e a um futuro mais justo. Sem isso, não há chance de evitar os piores impactos previstos do aquecimento global. Infelizmente, o resultado da reunião de hoje é preocupantemente vago.
É bom que os líderes do G-20 tenham reafirmado seu desejo de alcançar um acordo climático global. Porém não há um comprometimento de que uma porcentagem substancial do estímulo econômico previsto seja de baixa emissão de carbono. Já deveria estar muito claro a esta altura que as crises financeira e climática estão intrinsecamente ligadas e que tentar resolver as duas de forma separada será mais um custo para nós e para o planeta.
Nos próximos meses haverá outras oportunidades como a reunião do G8, por exemplo, para os líderes ligarem os estímulos financeiros e comerciais a uma economia mais verde. O mundo não pode perder essas oportunidades também.