terça-feira, 29 de junho de 2010

HAITÍ E ALAGOAS.... UMA TRAGÉDIA, LÁ E CÁ...

Tendo praticamente a mesma extensão territorial, Alagoas e Haiti guardam também outras semelhanças históricas.
A reportagem é de Thalles Gomes e Ti Rivye Latibonit e publicada pelo Brasil de Fato, 23-06-2010.
O número de atingidos pelas fortes chuvas que assolaram Alagoas na última sexta-feira, 19 de Junho de 2010, são desoladores. De acordo com dados divulgados pela Defesa Civil do estado em 21 de Junho, as enchentes dos rios Mundaú e Paraíba atingiram 177.282 pessoas, deixando mais de 600 desaparecidos e 26 mortos. Ao todo, 26 municípios foram afetados pelas enchentes. São dados alarmantes, mas seria no mínimo insano compará-los aos 300 mil mortos e mais de 1 milhão de desabrigados que o terremoto de 12 de Janeiro de 2010 acarretou no Haiti. Nesse caso a comparação é válida não pela quantidade, mas sim pela qualidade.
Tendo praticamente a mesma extensão territorial, Alagoas e Haiti guardam também outras semelhanças históricas. Em suas terras surgiram dois marcos da luta pela liberdade nas Américas. Zumbi, Dandara, Ganga Zumba, Acotirene e os quilombolas de Palmares combateram a escravidão negra e criaram em plena Serra da Barriga uma sociedade livre e igualitária que resistiu por mais de um século contra as ofensivas dos senhores-de-engenho e capitães do mato.
Menos de cem anos após a morte de Zumbi em terras alagoanas, Toussaint Louverture, Capóis La Mort, Alexander Petion, Henri Kristophe e Jean Jacques Dessalines lideraram aquela que foi a primeira revolução vitoriosa de escravos que se têm notícia na história da humanidade. Em 1804, o Haiti se tornava independente, abolia a escravidão e iniciava um processo popular de reforma agrária.
Essa ousadia foi punida severamente pelos senhores de engenho de ontem e de hoje e, ao que parece, Alagoas e Haiti foram escolhidos como símbolos de sua opressão e imponência. Ao Haiti, após 1804, foi imposta uma descabida e impagável “dívida da independência” por parte dos Franceses, seguida de vinte anos de ocupação militar estadunidense (1915-1934) e uma ditadura sanguinária dos Duvalier pai e filho, que em trinta anos (1957-1986) assassinou cerca de 30.000 haitianos.
Com a abertura política no final da década de 80, a esperança de mudanças surgiu com a chegada ao poder do Padre Jean Bertrand Aristide em 1990, mas foi extinta menos de um ano depois com mais um golpe militar sob os auspícios de Washington. Desde então, o país não conseguiu encontrar o equilíbrio e autonomias suficientes para caminhar com as próprias pernas. Situação que só se agravou com a ocupação militar da MINUSTAH em 2004, liderada pelo exército brasileiro. O resultado é que o Haiti é hoje a nação mais pobre do continente americano, com 56% da população abaixo da linha da pobreza e com uma expectativa de vida de 58,1 anos. Isso sem contabilizar as conseqüências do terremoto de 12 de Janeiro.
Não houve ocupações militares da ONU ou dos Estados Unidos em Alagoas, é fato, mas em compensação o estado vive sob uma ditadura ferrenha que já dura séculos e que ceifou mais vidas que qualquer outro regime ditatorial nas Américas: a ditadura da Cana. Mesmo sendo o segundo menor estado em extensão no Brasil, Alagoas está entre os cinco maiores produtores de cana-de-açúcar do país. São 448 mil hectares destinados para esse monocultivo, com uma produção que se aproxima dos 30 milhões de toneladas de cana por ano. Isso só é possível graças à devastação ambiental e à exploração dos trabalhadores.
Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o estado é o terceiro do país em índices de trabalho escravo, e o primeiro da região Nordeste com mais casos de trabalho escravo no campo. Somente em 2008, foram libertados 656 trabalhadores escravos, todos saídos dos canaviais. O resultado é que Alagoas sustenta hoje o pior Índice de Desenvolvimento Humano, a maior taxa de mortalidade infantil, o maior índice de analfabetismo e a menor expectativa de vida dentre todos os estados do país. Isso sem contabilizar as conseqüências das enchentes de 19 de Junho.
Fenômenos naturais podem agravar, mas não criam a miséria. No Haiti e Alagoas, a miséria já existia antes de qualquer terremoto ou enchente.
Os negócios da Catástrofe
Nos dias que se seguiram ao terremoto de janeiro, a devastada Porto Príncipe se tornou o local de peregrinação preferido para políticos e personalidade de todo mundo expressarem sua compaixão. Sobrevoando as ruínas em seus helicópteros, declararam com voz embargada suas condolências perante as câmeras de televisão e reafirmam compromissos de ajuda às vítimas do terremoto. O fenômeno parece se repetir em terras caetés. Campanhas para arrecadação de alimentos e agasalhos, visita do Ministro de Integração Nacional aos municípios afetados, discursos emocionados de governadores e candidatos à presidência, promessas de verbas e ajudas às vítimas das enchentes.
No caso de Alagoas ainda é cedo para tal conclusão, mas passados quase seis meses do terremoto no Haiti, pode-se dizer que essa compaixão tem prazo de validade e não resiste a novas manchetes internacionais.
As ruínas ainda dificultam o tráfego pelas ruas de Porto Príncipe e não se vê nenhuma movimentação por parte das tropas da ONU ou de qualquer outra entidade internacional para a retirada dos escombros, muito menos para a reconstrução das casas e edifícios. Os acampamentos improvisados se proliferam por praças e terrenos baldios e as únicas ações visíveis do governo são recomendações de higiene espalhadas em baners e faixas, além de escassos mutirões de voluntários que retiram com as próprias mãos os entulhos dos prédios.
Não que falte dinheiro. A Conferência Internacional de Doadores Rumo a um Novo Futuro para o Haiti ocorrida em 31 de março no escritório das Nações Unidas em Nova Iorque definiu a quantia de U$ 9,9 bilhões a serem desembolsados para a reconstrução do país, sendo que U$ 5,3 bilhões serão usados já nos próximos dois anos.
Acontece que o a idéia de reconstrução desses doadores é bastante peculiar. Como afirmou o empresário estadunidense Bradley J. Horwitz durante a Conferência de Nova Iorque “o que é bom para os negócios é bom para o país”. Portanto, quando esses doadores falam em beneficiar a agricultora haitiana, o que eles querem dizer de fato é que irão financiar o monocultivo da manga para que a Coca-Cola possa lançar no mercado um novo refrigerante feito a partir desta fruta.
Quando falam em facilitar a exportação de produtos têxteis especializados haitianos e criar mais de 100.000 empregos no país, o que querem dizer de fato é que irão aumentar a lucratividade das indústrias ‘maquiladoras’ estadunidenses instaladas no Haiti, que não pagam nenhum imposto e não respeitam os mais elementares direitos trabalhistas. Quando falam em melhorar a infra-estrutura com a construção de novas estradas, eles buscam de fato garantir o lucro de empresas como a espanhola Elsamex S.A., que recebeu 32 milhões de euros para construir uma estrada de 43 km de extensão. Por fim, quando falam em melhorar os serviços públicos, esses doadores cogitam transformar o Haiti na primeira ‘nação totalmente wirelles’ do Caribe, uma empreitada que será levada a cabo pela empresa de Bradley Horwitz.
A indústria da Cheia
De fato, seria inconcebível fazer uma transposição rasa da conjuntura haitiana para a realidade de Alagoas. Entretanto, acreditar que os recursos a serem enviados a Alagoas após as enchentes de 19 de junho irão transformar o estado num “território totalmente wirelles” é tão improvável quanto acreditar que eles vão realmente chegar às mãos das mais de 177 mil vítimas das chuvas.
Para os desavisados, é bom não esquecer que estamos tratando de um estado onde há não menos de cinco anos foi deflagrada pela Polícia Federal a Operação Gabiru, responsável pela prisão de 31 pessoas, entre elas oito prefeitos, quatro ex-prefeitos, secretários municipais e empresários, suspeitas de desviar dinheiro destinado à merenda escolar e lavagem de dinheiro. Todos os prefeitos foram soltos e muitos continuam a frente de cargos públicos.
Mas não é só na baixa política que a corrupção se alastra em Alagoas. Dois dos atuais senadores alagoanos também estiveram envolvidos em escândalos políticos. Renan Calheiros viu seu nome ligado a uma série de denúncias de desvio de dinheiro público no ano de 2007, no que ficou conhecido como Caso Renangate. Corrupção e desvio de verbas públicas também foram os motivos do impeachment de Fernando Collor de Mello quando era presidente da república em 1992.
Diante desse quadro, aumentam as possibilidades de que se repita em Alagoas o que ocorreu em outros estados do Nordeste no primeiro semestre de 2009, quando fortes chuvas provocaram enchentes em diversos estados da região, atingindo principalmente Maranhão, Piauí e Ceará. Mais de 1 milhão e 300 mil pessoas foram afetadas, sendo que 450 mil ficaram desalojadas e desabrigadas.
Como relatou naquela ocasião Hortência Mendes, pedagoga e integrante da Cáritas Regional Piauí, “se na Indústria da Seca, a seca era usada para o interesse dos políticos, agora já começa a ter uma Indústria da Cheia. Porque na hora que começa a chover todos os prefeitos dizem “Estado de Calamidade Pública”, “Estado de Emergência”, para quê? Para receber recursos do governo federal. Os recursos vem e não são aplicados”. E continua a denúncia: “Ano passado, o que nós soubemos é que o Piauí recebeu R$ 126 milhões para trabalhar com as situações de emergência causadas pelas enchentes. Em todo lugar que nós fomos, não vimos esse recurso ser aplicado. Esse ano todos os municípios estão pedindo de novo dinheiro para o Governo Federal. Mas o que vemos são as pessoas fazendo suas próprias casas, indo atrás do barro, para levantar a casa de taipa.”
Entre agasalhos e canaviais
Os exemplos do Haiti e das enchentes anteriores no nordeste evidenciam que a simples doação de agasalhos, alimentos e campanhas de solidariedade na internet servem apenas para aplacar algumas consciências e suprir as necessidades emergenciais das vítimas das catástrofes. Entretanto, nem todos os agasalhos e cestas básicas do mundo impedirão que novas chuvas caiam no ano que vem e encontrem a mesma falta de infra-estrutura nos municípios, junto com o deserto verde da cana-de-açúcar se alastrando pelas matas e margens dos rios, impedindo a captação da chuva pelo solo e aumentando o assoreamento dos rios.
Nesses momentos de catástrofe, o mais sábio seria buscar compreender e combater suas causas e não se resumir apenas a lidar com suas conseqüências. No Haiti, diante das ruínas e da dor do terremoto, diversos setores da sociedade começam a se organizar em busca de uma verdadeira reconstrução do país, que crie um outro modelo de organização política, econômica e agrária a ser levada adiante pelo povo e não a partir dos escritórios de Porto Príncipe. Um exemplo tangível para seus pares alagoanos.

O sofrimento da África e o impasse no clima

"De 1995 para cá, a África do Sul já viu diminuírem em 4% seus recursos hídricos, num quadro extremamente difícil, já que foram vendidos "direitos" sobre parte deles - o que impede que as pessoas mais pobres tenham acesso", escreve Washington Novaes, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 18-06-2010.
Eis o artigo.
São estranhos os caminhos que impediram o Prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela de estar presente à cerimônia de abertura da Copa do Mundo, em Johannesburgo. Afinal, ninguém lutou mais do que ele para a África do Sul ser a sede do evento. Mas não resistiu à tristeza de ver a bisneta morta num acidente em que o motorista do carro estava embriagado. Ele que, segundo uma neta, "quando a Fifa deu o Mundial à África do Sul, chorou como uma criança" (Estado, 10/6).
Mas o sofrimento é uma constante na vida dos sul-africanos, desde que o colonialismo europeu retalhou o país, misturou as 11 etnias que ocupavam o território, levou umas a lutarem contra outras e ainda implantou o apartheid. Lutar contra ele custou a Mandela 27 anos na prisão - de onde saiu para liderar a luta pacífica de seu povo contra a discriminação racial autorizada por lei. Vitorioso, ensinou à sua gente o que todos repetem hoje: "Perdoar, sim; esquecer, jamais."
E é nesse território onde a separação legal acabou, mas na prática continua, que ocorre a Copa, com a televisão levando para todo o mundo a imagem - aparentemente paradoxal - de pessoas que riem muito, cantam muito e dançam na rua sempre que se juntam três ou quatro sul-africanos. Em 2002, na Cúpula Mundial do Desenvolvimento, em Johannesburgo, o autor destas linhas perguntou a um jovem negro, motorista de táxi, onde seu povo, tão sofrido, encontrava tanta alegria. E ele, empertigado atrás do terno e da gravata: "O sofrimento nos ensinou que a nossa alegria tem de ser só nossa, vir de dentro; nada pode tirar nossa alegria."
Não faltariam razões para tristeza. O modelo do passado, banido da lei, continua na prática. Johannesburgo é dividida entre bairros ricos de brancos europeus (ou seus descendentes) e bairros pobres, como Soweto, com seus muitos milhões de negros. Só funcionam ônibus no começo da manhã, levando negros para o trabalho nos bairros e no comércio ricos, e antes de cair a noite, para levá-los de volta. Brancos visitantes são aconselhados a não andarem sozinhos nas ruas.
A África do Sul, segundo relatórios da ONU, é um dos dez países com maior desigualdade de renda no mundo, parte dessa África subsaariana que tem 555 milhões de habitantes (eram 292 milhões em 1981). No território sul-africano são 79,8% de "nativos" e 9,1% de brancos, além de 8,9% de "mestiços" e 2,1% de hindus e asiáticos; 44% da população vive em zonas rurais nesse país com 1,22 milhão de km2. Mas 5,7 milhões de pessoas (mais de 10% da população) são vítimas da aids, que atinge 350 mil a cada ano. Uma das consequências está nas estatísticas sobre órfãos (1,4 milhão), crianças de 0 a 14 anos vítimas da doença (280 mil), parte delas fruto dos inacreditáveis números de estupros (só os registrados na polícia, 36 mil em dois anos), que favorecem a disseminação da aids. A cada ano são 500 mil novos casos, 20% deles entre crianças. Por esse caminho, são mil mortes por dia.
Outro drama grave está no desemprego, que atinge 27% da população (22% segundo os números oficiais), mas com participação muito maior na faixa abaixo de 35 anos: 65%. Parte da violência está explicada aí: são 28 mil assassinatos/ano (o dobro do número brasileiro), a maior parte entre as pessoas mais pobres - 34% dos sul-africanos vivem com menos de US$ 2 por dia (menos de R$ 4), segundo o Banco Mundial. E só 5% dos negros conseguem chegar à universidade.
A África do Sul não é caso único nem isolado dessa herança do colonialismo no continente, que em muitos lugares provoca guerras terríveis entre etnias, frequentemente em disputa de recursos naturais de que algumas foram privadas pelas divisões impostas de fora. Para citar apenas alguns casos, a guerra interminável entre Ruanda, Burundi e Congo já deixou milhões de mortos; no Sudão, 200 mil pessoas foram expulsas de suas moradias, dezenas de milhares, assassinadas; Nigéria e Angola ainda não curaram suas feridas das guerras.
Não bastasse, a África (e a África do Sul) é uma das regiões que mais sofrem com "desastres climáticos", principalmente secas acentuadas. De 1995 para cá, a África do Sul já viu diminuírem em 4% seus recursos hídricos, num quadro extremamente difícil, já que foram vendidos "direitos" sobre parte deles - o que impede que as pessoas mais pobres tenham acesso. Os números sobre falta de saneamento são quase inacreditáveis em alguns lugares - no Chade, por exemplo, menos de 10% das casas têm instalações sanitárias; 90% fazem parte da terrível estatística que a Organização Mundial da Água repete e repete e já foi mencionada aqui: mais de 1 bilhão de pessoas no mundo defecam ao ar livre.
Sobram razões, assim, para a África subsaariana e os sul-africanos serem das vozes mais contundentes nas reuniões da Convenção do Clima - como ocorreu ainda nas últimas duas semanas, em Bonn. Ali, de pouco adiantaram as pressões de sul-africanos, dos demais subsaarianos, dos representantes dos países-ilhas (ameaçados de desaparecer com a elevação do nível dos oceanos). No texto lá discutido - na tentativa de chegar a um acordo para a reunião de novembro, em Cancún -, o G-77 e China disseram que "a ênfase foi colocada incorretamente nos cortes das emissões pelos países pobres, e não pelos ricos" (Estado, 12/6). Mesmo EUA e Europa, entretanto, também fizeram restrições à meta de corte global de emissões de gases de efeito estufa até 2050, situada "entre 50% e 85%" (calculados sobre as emissões de 1990, que eram menores que as de hoje).
Uma discussão tão empacada que o próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já anda dizendo que não considera provável que se chegue a acordo este ano. Pior, o demissionário secretário da convenção, Yvo de Boer, agora afirma que a discussão pode "levar ainda uma década".
Então, é preciso fazer como os sul-africanos: cada pessoa buscar dentro de si mesma razões para alegria.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O BRASIL VOTOU "CONTRA" AS SANÇÕES AO IRÃ...

ACREDITO QUE ESTE VOTO DO BRASIL, FEZ O PAÍS TOMAR ATITUDES, QUE ANTIGAMENTE, ERAM SÓ DE ACENAR POSITIVAMENTE COM A CABEÇA, QUANDO AS GRANDES POTÊNCIAS TOMAVAM SUAS ATITUDES, SEM CONSULTA AO MUNDO... OU COMO, NO CASO DO IRAQUE, OPTAR PELA PARTE DO BELICISMO: PARABÉNS AO BRASIL...
AGORA, É ESPERAR PRÁ VER NO QUE VAI DAR....

O JOGO DO IRÃ DEU CERTO, E A ONU CAIU DIREITINHO....

LEIA ABAIXO, A FALA DO BRASIL NA ONU HOJE, E JULGUE COMO QUISER...


O Itamaraty divulgou a íntegra da intervenção da embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, explicando o voto.
Leia abaixo o voto brasileiro:
"Sr. Presidente,

O Brasil votou contra a proposta de resolução.

Ao fazer isso, estamos honrando os propósitos que nos inspiraram nos esforços que resultaram na Declaração de Teerã em 17 de maio.

Não vemos as sanções como um instrumento efetivo nesse caso. As sanções irão, provavelmente, levar sofrimento ao povo iraniano e farão o jogo daqueles que, em todos os lados, não querem que o diálogo prevaleça.

Experiências passadas nas Nações Unidas, notadamente no caso so Iraque, mostraram que a espiral de sanções, ameaças e isolamento podem resultar em consequências trágicas.

Nós votamos contra também porque a adoção das sanções, nesse contexto, vai de encontro aos bem-sucedidos esforços do Brasil e da Turquia em engajar o Irâ numa solução negociada para o seu programa nuclear.
Como o Brasil repetidamente defendeu, a Declaração de Teerã adotada em 17 de maio é uma oportunidade única que não deveria ser desperdiçada. Foi aprovada pelos níveis mais altos da liderança iraniana e endossada pelo Parlamento.

A Declaração de Teerã promoveu o que teria assegurado o pleno exercício do direito do Irâ de um uso pacífico da energia nuclear, enquanto promoveria garantias verificáveis de que o programa nuclear iraniano tem exlusivamente propósitos pacíficos.

Nós estamos firmemente convencidos de que o único caminho possível para alcançar o objetivo geral é assegurar a cooperação iraniana para uma efetiva e orientada ação visando o diálogo e as negociações.

A Declaração de Teerã mostrou que o diálogo e a persuasão podem fazer mais do que ações punitivas.

Seus propósitos e resultados foram construídos na confiança necessária para endereçar uma série de aspectos do programa nuclear iraniano.

Como explicamos ontem, a Declaração Conjunta removeu obstáculos políticos na materialização de uma proposta pela AEIA em dezembro de 2009.

Muitos governos e instituições altamente respeitadas reconheceram seu valor como um importante passo para uma discussão mais ampla sobre o programa nuclear iraniano.

O governo brasileiro lamenta profundamente, portanto, que a Declaração Conjunta não tenha recebido nem o reconhecimento político que merecia nem tido o tempo necessário para gerar frutos.

O Brasil não considera natural recorrer a sanções antes que as partes envolvidas possam sentar e conversar sobre a implementação da Declaração.

A reação do Grupo de Viena à carta iraniana de 24 de maio, a qual confirmava o comprometimento do Irã em relação ao conteúdo da Declaração, foi recebida há apenas poucas horas. Não foi dado tempo ao Irâ para reagir às opiniões do Grupo de Viena, incluindo a proposta de um encontro técnico para analisar os detalhes.

A adoção de sanções em tais circunstâncias manda uma mensagem errada que poderia ser o início de um engajamento construtivo em Viena.

Também foi objeto de grave preocupação a maneira com a qual os membros permanentes, junto com um país que não é membro do Conselho de Segurança, negociaram entre si durante meses, a portas fechadas.

Sr. Presidente,O Brasil confere a maior importância ao desarmamento e à não-proliferação e nosso histórico nesse domínio é impecável.

Também afirmamos - e reafirmamos agora - o imperativo de que toda atividade nuclear seja conduzida sob as salvaguardas aplicadas na Agência Internacional de Energia Atômica.

As atividades nucleares do Irâ não são exceção.

Nós continuamos a acreditar que a Declaração de Teerã é uma política relevante que deve ser perseguida.

Nós esperamos que todas as partes envolvidas enxerguem a sabedria a longo prazo em fazê-lo.

Em nossa visão, a adoção de novas sanções pelo Conselho de Segurança vai atrasar ao invés de acelerar ou assegurar o progresso na abordagem da questão.
Nós não devemos perder a oportunidade de começarmos um processo que pode levar a uma solução pacífica e negociada a essa questão.

As preocupações em relação ao programa nuclear iraniano levantadas hoje não serão resolvidas até que o diálogo comece.

Em adotando essas sanções, esse Conselho opta atualmente por um dos dois caminhos que deveriam ter sido percorridos em paralelo - em nossa opinião, o errado.

Muito obrigado".

AGORA É SÓ ESPERAR O IRÃ REAGIR, E O MUNDO ASSISTIR MAIS UM CONFLITO...

AGORA, NÃO ESQUEÇAM: IRÃ NÃO É IRAQUE...

Ahmadinejad não é um Saddan Hussein...

O mundo verá até onde a falta de DIÁLOGO, pode levar a HUMANIDADE....

terça-feira, 1 de junho de 2010

MUNDO CLAMA: QUE ATAQUE BRUTAL: SOLUÇÃO: PAZ ! CADÊ OS DIREITOS HUMANOS ?

AS IMAGENS NÃO NEGAM, SÓ CONFIRMAM: A VIOLÊNCIA NÃO LEVA A NADA, E SÓ INSTIGA A VIOLÊNCIA E O TERROR: É PRECISO ACABAR COM ESTE TIPO DE AÇÃO, ANTES QUE O TERROR SE ESTIMULE, SEJA ESTIMULADO PELO TERROR.
Protesto em Downing Street, sede do Governo britânico, contra o ataque israelense.Fonte: El País/EFE
Protesto multitudinário na praça Taksim, em Istambul. Grande parte dos ativistas que participaram no carregamento de ajuda humanitária eram da Turquia.Fonte: El País/AP
Enfermeira israelense transfere um dos feridos que chegaram no helicóptero ao porto de Haifa.Fonte: El País/AFP
Estudantes iranianos protestam em frente à embaixada da ONU em Teerã Fonte: Abedin Taherkenareh/Efe
Manifestantes de reúnem na Trafalgar Square, em Londres, para ato em apoio aos palestinos
Fonte: Facudo Arrizabalaga/Efe
Ativistas na Indonésia seguram cartazes com mensagens contra o ataque israelense em Gaza
Fonte: Adi Weda/Efe
Moradores de Damasco, Síria, organizam manfiestação contra o governo de Israel
Fonte: Youssef Badawi/Efe
Manifestantes em Amã, Jordânia, gritam palavras de repúdio a Israel Fonte: Jamal Nasrallah/Efe
Crianças palestinas seguram bandeiras da Turquia - nacionalidade da "Flotilha da Liberdade" - em Beirute, Líbano Fonte: Wael Hamzen/Efe
Grupo na capital do Egito, Cairo, segura cartazes contra Israel
Fonte: Khaled el-Fiqi/Efe
Milhares de turcos protestam em Istambul contra a ação israelense em Gaza Fonte: Efe
Ativistas israelenses em Ashdod seguram cartazes contrários ao cerco israelense a GazaFonte: Jim Hollander/Efe
Palestina é atingida pelo exército israelense, após manfiestação em Kalandia, CisjordâniaFonte: Atef Safadi/Efe
Palestinos na Cisjordânia jogam pedras contra veículos militares de Israel, após ação militar em Faza
Fonte: Atef Safadi/Efe
Habitantes da Faixa de Gaza queimam bandeira de Israel, após o país interceptar e atirar contra comboio humanitário
Fonte: Ali Ali/Efe
Numa ação que revoltou o mundo árabe e irritou o restante da comunidade internacional, o Exército israelense atacou ontem uma flotilha de seis embarcações que pretendia romper o cerco à Faixa de Gaza, que Israel mantém desde 2007. O assalto aos navios, em águas internacionais, deixou o saldo de pelo menos 10 mortos e 25 feridos, além de 600 passageiros detidos.
A reportagem é de Nathalia Watkins e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 01-06-2010.
A operação israelense frustrou a expedição da ONG Free Gaza. O ataque aos navios ocorreu a pelo menos 130 quilômetros da costa israelense, por volta das 4h30 locais (22h30 de domingo em Brasília). Israel mantém o controle das águas territoriais a até 20 milhas (37 quilômetros) da costa da Faixa de Gaza. A ação mais violenta ocorreu no navio turco Mavi Marmara. Nas outras cinco embarcações, a resistência foi pacífica.
"Na escuridão da noite, os militares israelenses desceram de um helicóptero para o barco turco de passageiros Mavi Marmara e começaram a atirar quando pisaram no convés. Eles atiraram em direção à multidão de civis que dormia", afirma o site do Movimento Gaza Livre. De acordo com o Exército israelense, os soldados foram recebidos com violência e tiros - um deles disparado por uma arma capturada de um militar -, enquanto tentavam redirecionar a expedição para o Porto de Ashdod, no sul de Israel - o que teria dado início aos confrontos.
Os ativistas de 38 países e suas embarcações foram recebidos em um centro montado no Porto de Ashdod. As embarcações menores começaram a atracar por volta das 13 horas (horário local), mas o maior dos navios, o Marmara, aportou no final da tarde. Os feridos, cerca de 25, foram levados de helicóptero a 6 hospitais israelenses. Os ativistas que se identificam e concordam com a deportação são levados diretamente para o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Tel-Aviv. Aqueles que se recusam são transferidos para uma prisão em Beer Sheva, no sul de Israel. Ontem à noite, 25 ativistas teriam concordado com a deportação. Pelo menos 32 haviam sido presos - 16 por rejeitar se identificar. Segundo a imprensa israelense, vários ativistas jogaram seus passaportes no mar para dificultar a identificação e deportação.
Israel acusa os passageiros da "Flotilha da Liberdade" de ter aberto fogo, uma versão contestada pelos ativistas. Israel diz que o Exército agiu em legítima defesa e os soldados utilizaram suas armas quando correram risco de vida. As imagens transmitidas por uma câmera instalada em um dos navios e disponibilizadas pela internet mostram oficiais israelenses descendo de helicópteros e confrontos entre militares e ativistas. O Exército israelense também disponibilizou vídeos nos quais soldados são atacados com facas e atirados ao mar. Nos vídeos também são vistos vários feridos deitados no navio.
"Descemos do helicóptero um a um, éramos uns 15 soldados. Cada um que descia da corda, era atacado por quatro ou cinco pessoas. Nossas armas estavam nas costas e fomos instruídos a utilizá-las apenas em casos de emergência", contou um soldado à televisão israelense. Um repórter israelense do Canal 2 de televisão, que acompanhou a Marinha em alto-mar, Nir Dvori, relatou que os soldados não estavam preparados para enfrentar tamanha resistência e foram linchados pelos passageiros à bordo dos navios. Sete militares ficaram feridos, dois em estado grave.
"Esperávamos ativistas de paz e encontramos ativistas de guerra", disse um deles ao repórter. Outro militar contou que atirou nos pés de ativistas a poucos centímetros de distância enquanto era atacado e pulou no mar para escapar da violência. "Meus colegas esperavam ser presos antes de chegar ao seu destino. Israel interrompeu uma atividade legítima de tentar romper o cruel bloqueio à Faixa de Gaza. Em Israel, fala-se de violência enfrentada na invasão, mas devemos ressaltar que o ataque ocorreu longe das águas territoriais, é pirataria", afirmou Jonathan Pollak, ativista da esquerda israelense.
Israel nega que haja uma crise humana na Faixa de Gaza, e alega que a missão de paz foi, na verdade, um golpe publicitário.

A DIFÍCIL SITUAÇÃO DE ISRAEL PÓS ATAQUE: JUSTIÇA
A sangrenta interceptação da flotilha humanitária para Gaza rapidamente provocou apelos pela suspensão do bloqueio ao território palestino e deve aumentar a pressão para que se chegue a um acordo com o Hamas, considerado um grupo terrorista por Israel, EUA, Grã-Bretanha e União Europeia.
O comentário é de Ian Black, correspondente no Oriente Médio do jornal britânio Guardian, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 01-06-2010.
O Hamas e o Fatah, como era previsível, imediatamente condenaram Israel, acusando-o de cometer crimes de guerra e de usar força desproporcional - as mesmas acusações feitas contra o país depois da ofensiva em Gaza, que terminou no início do ano passado. Mas muito mais surpreendente foi a onda de declarações críticas vinda de países que em geral são amigos, como as do chanceler da Grã-Bretanha, William Hague, exigindo o fim do bloqueio a Gaza. França, Suécia, Dinamarca e Grécia convocaram os embaixadores de Israel, exigindo explicações.
Esse drama grotesco e a repercussão global levarão a uma reanálise da situação mais fundamental? Como as imagens que documentaram o assassinato da autoridade do Hamas Mahmoud al-Mabhouin, em Dubai, em janeiro, as imagens gráficas deste espetáculo no Mar Mediterrâneo mostram Israel usando sua superioridade militar esmagadora a serviço do que parece cada vez mais uma meta política insustentável.
Desta vez foram os comandantes da Marinha, e não agentes do Mossad, que se mobilizaram. Mas o "inimigo" era um grupo fortemente motivado de pessoas comprometidas com a justiça para os palestinos, impacientes com a ineficaz "pressão diplomática" e o quase moribundo processo de paz, confiantes de que esta seria mais uma luta assimétrica que conseguiriam vencer sem esforço - embora poucos imaginassem que haveria provavelmente um custo humano.
A posição de Israel provavelmente não vai mudar. O Hamas recusa-se formalmente a renunciar à violência, reconhecer o Estado judeu ou aceitar algum acordo firmado pela Organização de Libertação da Palestina (OLP). Israel, apoiado pelo Egito, utilizou o cerco de Gaza deliberadamente, mas sem sucesso, para corroer o Hamas, que venceu as eleições palestinas em 2007 e desfruta do apoio do Irã e da Síria.
O ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, insistiu novamente que não existe fome nem crise humana em Gaza, reiterando que Israel permite a entrada de uma quantidade limitada de ajuda. É óbvio que a polêmica em torno dessa frota atrairá muita atenção internacional e criará uma condenação veemente de Israel. Mesmo defensores irredutíveis de Israel admitem que será difícil para o país sair ileso dessa história. Mas a questão que de fato importa é se, politicamente, alguma coisa vai mudar realmente depois do que ocorreu.