domingo, 5 de abril de 2009

REUNIÃO DO G20: DIAS DEPOIS : PARTE 03: O BRASIL E A CHINA SAEM GANHANDO !

Talvez a maior dica de mudanças no mapa-múndi geopolítico tenha sido dada pelo notório documento do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, vazado recentemente para a mídia britânica.
A reportagem é de Fernando Duarte e publicada pelo jornal O Globo, 05-04-2009.
Nele, os outros 19 países que compõem o G-20 foram, às vésperas da cúpula dos chefes de Estado em Londres, classificados em duas divisões de importância para os planos britânicos, incluindo uma campanha de relações públicas: enquanto nações de ligações históricas, como as excolônias Austrália e Canadá, foram colocadas no segundo escalão — ao lado de México, Turquia e Argentina —, Brasil, China e Índia apareceram ao lado de Estados Unidos, Japão, França e Alemanha.
Na própria cúpula, o cumprimento entusiasmado do presidente dos EUA, Barack Obama, a Luiz Inácio Lula da Silva (“Esse é o cara”) foi um sinal gritante de uma nova ordem mundial, em que o poder econômico já não é monopolizado pelos países mais industrializados do mundo, tampouco por Washington.
E a transformação do G-7 (grupo dos sete países mais ricos) em um G-20 — que inclui nações emergentes —, por necessidade de uma resposta coordenada à crise econômica global, abre espaço para mudanças no campo político, ainda que especialistas apontem a ausência de um grande catalisador para o processo.
Tendência a novas alianças e ao multilateralismo
— É claro que o encontro do G-20 não resolveria tudo em um dia e deixaria todo mundo satisfeito, mas sua conclusão foi muito importante, por ter uma transcendência de ideologias nacionais no plano econômico e uma genuína internacionalização de soluções. Mas precisamos lembrar que o mundo estava contra a parede por causa da crise, e os países do G-20 não se sentaram à mesa de maneira tão espontânea assim — explica Roger Lee, especialista em geografia econômica da Universidade de Londres.
Em outras palavras, a ausência de um maior instrumento de pressão global ainda torna difícil uma distribuição de poder mais horizontal em fóruns internacionais como a ONU, especialmente o Conselho de Segurança, onde a obtenção de uma vaga permanente é uma das principais batalhas da política externa do governo Lula. O exemplo de Londres poderá contribuir para isso, dependendo do sucesso das medidas na cúpula do G-20.
— O mundo está começando a reconhecer com mais força que a economia se tornou global e que nenhum país, sozinho, poderá salvar o dia — afirma Steve Schifferes, comentarista político da BBC.
Para o acadêmico e escritor Martin Jacques, o crescimento dos emergentes, sobretudo da China, na esfera política é inevitável diante de sua ascensão econômica. Jacques acredita num multilateralismo que não ficará concentrado no G-20, mas será marcado por microalianças, que levarão em conta aspectos regionais e ideológicos:
— Países como China e Brasil vão gradativamente ocupar mais espaço em organismos internacionais, e isso resultará em um cenário internacional bem diferente do que vemos hoje, por mais que haja tendência de maior supremacia americana e chinesa.
Mesmo entre especialistas americanos existe o sentimento de que a parceria com a China não deve ser de fidelidade absoluta, diante da expansão dos interesses chineses a regiões como África e América Latina. Parag Khanna, um dos assessores para assuntos internacionais da campanha de Obama, diz que mesmo a União Europeia (UE) deve ter algum tipo de diversificação de alianças.
— O sucesso da UE não depende da força de coalizões. A França pode se beneficiar de uma liderança junto a nações mediterrâneas, e a Espanha lucraria buscando maior integração com os países latino-americanos.
Nos EUA, a relação com a América Latina precisa ser mais forte. A Venezuela representa uma aliança estratégica em independência energética frente ao Oriente Médio, e o Brasil oferece uma alternativa em termos de poderio industrial.

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