NOVOS ARES ? NOVA ECONOMIA? NOVO PLANETA ?
DIAS DEPOIS DA HISTÓRICA REUNIÃO COM 38 LÍDERES MUNDIAIS, E PAÍSES DO G20, E OUTROS CONVIDADOS,
VÁRIAS COISAS SÃO JÁ DE COMENTÁRIO GERAL:
VAI DAR CERTO ?
O QUE DE FATO FOI DECIDIDO ALÍ ?
QUE NÓS NÃO ENTENDEMOS DIREITO ?
O QUE VAI MELHORAR NO MUNDO APÓS ESTA REUNIÃO ?
BEM, AFIRMEI A ALGUNS ALUNOS NESTA SEXTA O SEGUINTE:
OU FOI O MAIOR ESPETÁCULO DE MÍDIA DA HISTÓRIA,
OU O MUNDO ESTÁ MUDANDO...
EM QUE VOCE ACREDITA ?
Será que tudo isso vai funcionar?
Os líderes mundiais alcançaram o mínimo possível em seu encontro de cúpula em Londres, improvisando mais recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI) e comprometendo-se a se sair melhor na regulamentação de mercados financeiros indisciplinados. Nenhum país se afastará de suas posições, ou seja, os grandes objetivos não foram atingidos.
A reportagem é de Martin Crutsinger e publicada pelo jornal Valor, 03-04-2009.
Os mercados mundiais, de qualquer forma, aplaudiram, satisfeitos pelo Grupo dos 20 (G-20) ter conseguido demonstrar unidade em meio à pior crise financeira em décadas.
No fim das contas, a capacidade de o presidente Barack Obama e dos outros líderes ocultarem suas diferenças pode acabar revelando-se o maior de todos os feitos.
Apesar de certas declarações duras antes do encontro, incluindo uma ameaça de abandono por parte do presidente francês, Nicolas Sarkozy, caso as coisas não saíssem de seu jeito, os líderes emergiram com uma exibição de propósitos comuns.
Seu comunicado final até trouxe uma agradável surpresa, na forma de um satisfatório US$ 1,1 trilhão, comprometido para ajudar a certificar que algumas economias emergentes como as do Leste Europeu e a América Latina possam ter acesso a recursos suficientes no FMI para resistir às atuais turbulências.
Esse monte de dinheiro foi mais fácil de obter porque não obrigará os EUA ou outros países a elevar seus déficits para fornecer recursos adicionais ao FMI. Em vez disso, grande parte do apoio adicional virá na forma de créditos que os principais países concordaram em fornecer ao FMI caso a instituição precise de mais poder de fogo.
Obama manteve-se firme contra as pressões determinadas de Nicolas Sarkozy e da premiê alemã, Angela Merkel, para criar um órgão regulador mundial para atacar o que os europeus veem como um tipo de capitalismo desenfreado, com a marca dos EUA, que deixou a economia mundial de joelhos.
A reportagem é de Martin Crutsinger e publicada pelo jornal Valor, 03-04-2009.
Os mercados mundiais, de qualquer forma, aplaudiram, satisfeitos pelo Grupo dos 20 (G-20) ter conseguido demonstrar unidade em meio à pior crise financeira em décadas.
No fim das contas, a capacidade de o presidente Barack Obama e dos outros líderes ocultarem suas diferenças pode acabar revelando-se o maior de todos os feitos.
Apesar de certas declarações duras antes do encontro, incluindo uma ameaça de abandono por parte do presidente francês, Nicolas Sarkozy, caso as coisas não saíssem de seu jeito, os líderes emergiram com uma exibição de propósitos comuns.
Seu comunicado final até trouxe uma agradável surpresa, na forma de um satisfatório US$ 1,1 trilhão, comprometido para ajudar a certificar que algumas economias emergentes como as do Leste Europeu e a América Latina possam ter acesso a recursos suficientes no FMI para resistir às atuais turbulências.
Esse monte de dinheiro foi mais fácil de obter porque não obrigará os EUA ou outros países a elevar seus déficits para fornecer recursos adicionais ao FMI. Em vez disso, grande parte do apoio adicional virá na forma de créditos que os principais países concordaram em fornecer ao FMI caso a instituição precise de mais poder de fogo.
Obama manteve-se firme contra as pressões determinadas de Nicolas Sarkozy e da premiê alemã, Angela Merkel, para criar um órgão regulador mundial para atacar o que os europeus veem como um tipo de capitalismo desenfreado, com a marca dos EUA, que deixou a economia mundial de joelhos.
REUNIÃO PARA MASSAGEAR EGOS ?
"Os EUA gostam de globalização só quando se trata de abrir fronteiras para as transnacionais, o capital e o comércio. Na hora de regular e fiscalizar, preferem a soberania", escreve Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo e ex-secretário-geral da Unctad, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 03-04-2009. Segundo ele, "de longe a ação mais concreta e nova consistiu no aumento dos recursos do FMI para US$ 750 bilhões, mais que o Fundo pedira, e a decisão de emitir US$ 250 bilhões em Direitos Especiais de Saque".
Eis o artigo.
A última vez em que se anunciou que nova ordem mundial estava emergindo foi em dezembro de 1990, quando Bush pai pediu emprestada a expressão a Gorbatchov. Ambos são hoje simpáticos aposentados, depois que o primeiro fracassou na reeleição e o último acabou destruindo o comunismo que pretendia restaurar.
Oxalá o precedente não traga má sorte a Gordon Brown. Autêntico herói que não se poupou para garantir o êxito da cúpula do G20 poderá terminar como Churchill, vencedor da guerra, mas rejeitado pelos eleitores britânicos. Lutando contra a maré conservadora, Brown demonstrou que nem um escocês austero, filho de pastor presbiteriano, consegue resistir à hipérbole quando se trata de exagerar o êxito de uma reunião para impressionar o eleitorado.
Mas, se o encontro de Londres está longe de se comparar ao nascimento da nova ordem da ONU e do FMI, merece ser visto como contribuição útil, embora não espetacular, para restabelecer a confiança. Retomando os três critérios que sugeri ontem, vou invertê-los da cabeça para baixo por ordem de importância dos resultados.
De longe a ação mais concreta e nova consistiu no aumento dos recursos do FMI para US$ 750 bilhões, mais que o Fundo pedira, e a decisão de emitir US$ 250 bilhões em Direitos Especiais de Saque. Na mesma linha destacam-se os US$ 250 bilhões para financiar o comércio. Nada disso é imediato; levará meses, talvez um ano, para que esse dinheiro entre de fato e comece a ser desembolsado.
Não obstante, não há dúvida de que os países necessitados se sentirão mais tranquilos. O México não esperou para se candidatar a US$ 47 bilhões da Linha de Crédito Flexível.
No critério da regulamentação, a parte conceitual do comunicado vai na boa direção: todos, entidades cinzentas como os fundos de hedge e instrumentos financeiros tóxicos, serão disciplinados, e os padrões internacionais para evitar risco excessivo ou contágio passarão por reforço. Mas os americanos lograram resistir à ideia de transnacionalizar as regras. Os EUA gostam de globalização só quando se trata de abrir fronteiras para as transnacionais, o capital e o comércio. Na hora de regular e fiscalizar, preferem a soberania. O primeiro critério, o de substanciais estímulos adicionais, pecou pela ausência. Figura apenas como veleidade de fazer mais, caso necessário. Os europeus e os que dependem da demanda alheia para crescer não se emocionaram.
Um sucesso de relações públicas, para não usar palavra mais feia, foi convencer a imprensa de que era pertinente fazer o êxito da cúpula depender de tema periférico, sem relação direta com as causas da crise: os paraísos fiscais, preocupação dos fiscos alemão e francês. Aqui, como na questão da regulação, tudo dependerá da qualidade e do rigor das regras internacionais a serem definidas nos próximos meses. Afinal, antes da crise já existiam os padrões de Basileia, que se revelaram frouxos e complacentes. No caso do protecionismo e da conclusão da Rodada Doha, ouvimos a mesma canção com letra um pouco modificada.
Quanto ao mais, Obama saiu-se bem na modéstia de pretender ter vindo para escutar, Brown teve sua "finest hour" e todos os atores voltaram para casa convencidos de que o sucesso se deveu a eles. Que mais desejar de uma Cúpula de Egos?
Eis o artigo.
A última vez em que se anunciou que nova ordem mundial estava emergindo foi em dezembro de 1990, quando Bush pai pediu emprestada a expressão a Gorbatchov. Ambos são hoje simpáticos aposentados, depois que o primeiro fracassou na reeleição e o último acabou destruindo o comunismo que pretendia restaurar.
Oxalá o precedente não traga má sorte a Gordon Brown. Autêntico herói que não se poupou para garantir o êxito da cúpula do G20 poderá terminar como Churchill, vencedor da guerra, mas rejeitado pelos eleitores britânicos. Lutando contra a maré conservadora, Brown demonstrou que nem um escocês austero, filho de pastor presbiteriano, consegue resistir à hipérbole quando se trata de exagerar o êxito de uma reunião para impressionar o eleitorado.
Mas, se o encontro de Londres está longe de se comparar ao nascimento da nova ordem da ONU e do FMI, merece ser visto como contribuição útil, embora não espetacular, para restabelecer a confiança. Retomando os três critérios que sugeri ontem, vou invertê-los da cabeça para baixo por ordem de importância dos resultados.
De longe a ação mais concreta e nova consistiu no aumento dos recursos do FMI para US$ 750 bilhões, mais que o Fundo pedira, e a decisão de emitir US$ 250 bilhões em Direitos Especiais de Saque. Na mesma linha destacam-se os US$ 250 bilhões para financiar o comércio. Nada disso é imediato; levará meses, talvez um ano, para que esse dinheiro entre de fato e comece a ser desembolsado.
Não obstante, não há dúvida de que os países necessitados se sentirão mais tranquilos. O México não esperou para se candidatar a US$ 47 bilhões da Linha de Crédito Flexível.
No critério da regulamentação, a parte conceitual do comunicado vai na boa direção: todos, entidades cinzentas como os fundos de hedge e instrumentos financeiros tóxicos, serão disciplinados, e os padrões internacionais para evitar risco excessivo ou contágio passarão por reforço. Mas os americanos lograram resistir à ideia de transnacionalizar as regras. Os EUA gostam de globalização só quando se trata de abrir fronteiras para as transnacionais, o capital e o comércio. Na hora de regular e fiscalizar, preferem a soberania. O primeiro critério, o de substanciais estímulos adicionais, pecou pela ausência. Figura apenas como veleidade de fazer mais, caso necessário. Os europeus e os que dependem da demanda alheia para crescer não se emocionaram.
Um sucesso de relações públicas, para não usar palavra mais feia, foi convencer a imprensa de que era pertinente fazer o êxito da cúpula depender de tema periférico, sem relação direta com as causas da crise: os paraísos fiscais, preocupação dos fiscos alemão e francês. Aqui, como na questão da regulação, tudo dependerá da qualidade e do rigor das regras internacionais a serem definidas nos próximos meses. Afinal, antes da crise já existiam os padrões de Basileia, que se revelaram frouxos e complacentes. No caso do protecionismo e da conclusão da Rodada Doha, ouvimos a mesma canção com letra um pouco modificada.
Quanto ao mais, Obama saiu-se bem na modéstia de pretender ter vindo para escutar, Brown teve sua "finest hour" e todos os atores voltaram para casa convencidos de que o sucesso se deveu a eles. Que mais desejar de uma Cúpula de Egos?
FOI FRACASSO, OU NÃO SUCESSO ?
"Reunião não fracassou, mas não teve sucesso, apesar de clima político bom, e inexiste o tal US$ 1 trilhão prometido", avalia Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 03-04-2009.
Eis o artigo.
A reunião do G20 poderia ter sido um fracasso, mas não foi um sucesso. As mentiras foram várias, algumas vergonhosas, e houve omissões sem vergonha.
Não há pacote de US$ 1,1 trilhão. Não houve, talvez nem pudesse haver por lá, ideia prática a respeito do que fazer da podridão bancária. Não houve acordo nem sobre como deverá ser discutido o problema de bancos que criam crises e quebram de modo transnacional, mas são mal e mal fiscalizadas e socorridas por governos nacionais, como hoje.
Para piorar, a ironia da história fez coincidir o discurso do G20 sobre "maior transparência" de balanços bancários com uma decisão americana de permitir que seus bancos possam maquiar balanços, dando preços de fantasia para papéis que deveriam ser "marcados a mercado" (em tese, o preço na praça).
De positivo, afora o clima político não ter desandado, como se previa, saiu algum dinheiro para socorrer países falidos ou contagiados, como os do Leste Europeu, que ameaçam levar bancos europeus à breca.
Eis o artigo.
A reunião do G20 poderia ter sido um fracasso, mas não foi um sucesso. As mentiras foram várias, algumas vergonhosas, e houve omissões sem vergonha.
Não há pacote de US$ 1,1 trilhão. Não houve, talvez nem pudesse haver por lá, ideia prática a respeito do que fazer da podridão bancária. Não houve acordo nem sobre como deverá ser discutido o problema de bancos que criam crises e quebram de modo transnacional, mas são mal e mal fiscalizadas e socorridas por governos nacionais, como hoje.
Para piorar, a ironia da história fez coincidir o discurso do G20 sobre "maior transparência" de balanços bancários com uma decisão americana de permitir que seus bancos possam maquiar balanços, dando preços de fantasia para papéis que deveriam ser "marcados a mercado" (em tese, o preço na praça).
De positivo, afora o clima político não ter desandado, como se previa, saiu algum dinheiro para socorrer países falidos ou contagiados, como os do Leste Europeu, que ameaçam levar bancos europeus à breca.
Houve um acordo para criar uma entidade parecida com aquela que faz alertas de tsunamis pelo mundo, mas agora dedicada a avisar que o caldo financeiro vai entornar - o Conselho de Estabilidade Financeira (CEF), composto pelo G20 e convidados, que trabalharia com o FMI. O CEF, porém, nem arranha a soberania regulatória de país algum.
Houve um compromisso de vigiar e/ou regular "hedge funds" e derivativos de balcão. Como fazê-lo sem regra ou acordo internacional? E os parlamentos nacionais, sob o lobby da finança, vão aprovar tais coisas?
Prometeram punir paraísos fiscais que não abrirem as contas de bancos e clientes picaretas ("A era do segredo bancário acabou"). Vão acabar com a Suíça? Disseram ainda que vão regular as agências que dão notas para a qualidade de crédito (como S&P, Moody's e Fitch), cúmplices da mentira de que o papelório ora podre era quase à prova de calote. Não adianta nada, se não houver punição para essas agências.
Há confusão geral sobre como se chegou ao "US$ 1,1 trilhão". Há certeza sobre o fato de que não há US$ 1,1 trilhão. Houve um acordo para que os países coloquem até mais US$ 500 bilhões no FMI. Parte desse dinheiro já havia sido ofertada pelo Japão no ano passado e, para piorar, o programa começa com US$ 250 bilhões. Os EUA devem bancar parte relevante do dinheiro novo -não se sabe quanto.
Ademais, o FMI vai poder "imprimir" US$ 250 bilhões de sua "moeda" (equivalente a uma cesta de dólares, euros, libras, ienes) Houve acordo para colocar mais US$ 100 bilhões em instituições financeiras multilaterais, tais como o Banco Mundial e seus equivalentes continentais, como o BID, da América, que emprestam a países pobres.
O braço financeiro do Banco Mundial (IFC) deve oferecer, diz um dos anexos do "communiqué" do G20, US$ 50 bilhões para financiar o comércio mundial (empréstimos que pagam antecipadamente a produção e/ou venda de exportações). Isso nos próximos três anos e com "significativo apoio do setor privado". Por ora, os países arrumaram apenas de "US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões". Os US$ 250 bilhões do comércio são puro "wishful thinking".
Houve um compromisso de vigiar e/ou regular "hedge funds" e derivativos de balcão. Como fazê-lo sem regra ou acordo internacional? E os parlamentos nacionais, sob o lobby da finança, vão aprovar tais coisas?
Prometeram punir paraísos fiscais que não abrirem as contas de bancos e clientes picaretas ("A era do segredo bancário acabou"). Vão acabar com a Suíça? Disseram ainda que vão regular as agências que dão notas para a qualidade de crédito (como S&P, Moody's e Fitch), cúmplices da mentira de que o papelório ora podre era quase à prova de calote. Não adianta nada, se não houver punição para essas agências.
Há confusão geral sobre como se chegou ao "US$ 1,1 trilhão". Há certeza sobre o fato de que não há US$ 1,1 trilhão. Houve um acordo para que os países coloquem até mais US$ 500 bilhões no FMI. Parte desse dinheiro já havia sido ofertada pelo Japão no ano passado e, para piorar, o programa começa com US$ 250 bilhões. Os EUA devem bancar parte relevante do dinheiro novo -não se sabe quanto.
Ademais, o FMI vai poder "imprimir" US$ 250 bilhões de sua "moeda" (equivalente a uma cesta de dólares, euros, libras, ienes) Houve acordo para colocar mais US$ 100 bilhões em instituições financeiras multilaterais, tais como o Banco Mundial e seus equivalentes continentais, como o BID, da América, que emprestam a países pobres.
O braço financeiro do Banco Mundial (IFC) deve oferecer, diz um dos anexos do "communiqué" do G20, US$ 50 bilhões para financiar o comércio mundial (empréstimos que pagam antecipadamente a produção e/ou venda de exportações). Isso nos próximos três anos e com "significativo apoio do setor privado". Por ora, os países arrumaram apenas de "US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões". Os US$ 250 bilhões do comércio são puro "wishful thinking".
O MODELO VAI MUDAR ?
"A afirmação de Obama de que o mundo não deve contar mais com o excesso de consumo nos EUA é um divisor de águas", afirma Luiz Carlos Mendonça de Barros, economista, ex-presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso), em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 03-04-2009.
Eis o artigo.
O encontro do G20 em Londres é um evento de extraordinária importância para o enfrentamento da crise econômica que vivemos. Não por outra razão ele tem concentrado a atenção da imprensa mundial e dos mercados financeiros. Embora até as pedras saibam que, em encontros como esse, as decisões já foram tomadas nos níveis técnicos, o resultado final animou a todos.
Mas o fato mais importante por ele criado me parece ser a sinalização de que entramos em um período de grandes mudanças. A afirmação do presidente Obama de que o mundo não deve contar mais com o excesso de consumo nos Estados Unidos para crescer é um divisor de águas. Essa foi a principal fonte de crescimento na última década e, a partir dela, é que as economias mais importantes do planeta se organizaram. A declaração do presidente americano evidencia a necessidade de uma revisão profunda das regras atuais.
A partir da revolução tecnológica e da globalização desde os anos 90, foi a demanda do consumidor americano que permitiu a construção de um sistema produtivo integrado e espalhado por várias regiões do planeta. O crescimento do comércio mundial foi o resultado mais claro dessa dinâmica. Hoje está claro o desenho que as forças racionais de mercado criaram para responder a esse apetite voraz da maior economia do mundo.
De um lado, países como a China, que operavam uma estrutura industrial de baixo custo voltada para a exportação; de outro, economias que forneciam matérias-primas brutas ou componentes industriais mais sofisticados para esses verdadeiros "hubs" industriais. No primeiro grupo, o Brasil é um dos mais importantes exemplos; no segundo, temos as economias asiáticas, tais como Coreia do Sul e Taiwan. Fechavam essa cadeia os países produtores de máquinas e equipamentos, como Alemanha e Japão. Esse sistema de produção e consumo viabilizava-se do ponto de vista financeiro via um fluxo de recursos para financiar os desequilíbrios da conta corrente americana e de outros países menores. Os recursos vinham principalmente dos países exportadores de petróleo e de outros com grandes saldos em conta corrente, como a Alemanha, o Japão e, nos últimos anos, a China. O próprio Brasil fazia parte desse grupo de banqueiros do consumo em razão do acúmulo de reservas externas no Banco Central.
Pois o presidente Obama disse com todas as letras que esse mundo acabou. Os Estados Unidos -governo e setor privado- vão ter que recriar o hábito da poupança e da redução de seus gastos correntes. A dívida pública americana vai chegar a um nível tal que os gastos com juros no futuro próximo vão obrigar a um esforço fiscal de grandes proporções. A contrapartida desse movimento será uma economia mundial com crescimento medíocre por algum tempo, talvez alguns anos.
Somente o crescimento da demanda interna nos países superavitários pode gerar mais dinamismo ao mundo. É nesse contexto que os países emergentes aparecem com destaque, ora reconhecido no âmbito do G20. Essas economias já atingiram dimensão suficiente para ter peso sistêmico, e daqui para a frente o sistema monetário internacional não poderá deixar de lado esse fato.
Está dado que eles serão líderes no processo de reconfiguração da economia mundial nos próximos anos. No que se refere ao Brasil, é preciso considerar estrategicamente as imensas oportunidades que tal dinâmica oferece.
Eis o artigo.
O encontro do G20 em Londres é um evento de extraordinária importância para o enfrentamento da crise econômica que vivemos. Não por outra razão ele tem concentrado a atenção da imprensa mundial e dos mercados financeiros. Embora até as pedras saibam que, em encontros como esse, as decisões já foram tomadas nos níveis técnicos, o resultado final animou a todos.
Mas o fato mais importante por ele criado me parece ser a sinalização de que entramos em um período de grandes mudanças. A afirmação do presidente Obama de que o mundo não deve contar mais com o excesso de consumo nos Estados Unidos para crescer é um divisor de águas. Essa foi a principal fonte de crescimento na última década e, a partir dela, é que as economias mais importantes do planeta se organizaram. A declaração do presidente americano evidencia a necessidade de uma revisão profunda das regras atuais.
A partir da revolução tecnológica e da globalização desde os anos 90, foi a demanda do consumidor americano que permitiu a construção de um sistema produtivo integrado e espalhado por várias regiões do planeta. O crescimento do comércio mundial foi o resultado mais claro dessa dinâmica. Hoje está claro o desenho que as forças racionais de mercado criaram para responder a esse apetite voraz da maior economia do mundo.
De um lado, países como a China, que operavam uma estrutura industrial de baixo custo voltada para a exportação; de outro, economias que forneciam matérias-primas brutas ou componentes industriais mais sofisticados para esses verdadeiros "hubs" industriais. No primeiro grupo, o Brasil é um dos mais importantes exemplos; no segundo, temos as economias asiáticas, tais como Coreia do Sul e Taiwan. Fechavam essa cadeia os países produtores de máquinas e equipamentos, como Alemanha e Japão. Esse sistema de produção e consumo viabilizava-se do ponto de vista financeiro via um fluxo de recursos para financiar os desequilíbrios da conta corrente americana e de outros países menores. Os recursos vinham principalmente dos países exportadores de petróleo e de outros com grandes saldos em conta corrente, como a Alemanha, o Japão e, nos últimos anos, a China. O próprio Brasil fazia parte desse grupo de banqueiros do consumo em razão do acúmulo de reservas externas no Banco Central.
Pois o presidente Obama disse com todas as letras que esse mundo acabou. Os Estados Unidos -governo e setor privado- vão ter que recriar o hábito da poupança e da redução de seus gastos correntes. A dívida pública americana vai chegar a um nível tal que os gastos com juros no futuro próximo vão obrigar a um esforço fiscal de grandes proporções. A contrapartida desse movimento será uma economia mundial com crescimento medíocre por algum tempo, talvez alguns anos.
Somente o crescimento da demanda interna nos países superavitários pode gerar mais dinamismo ao mundo. É nesse contexto que os países emergentes aparecem com destaque, ora reconhecido no âmbito do G20. Essas economias já atingiram dimensão suficiente para ter peso sistêmico, e daqui para a frente o sistema monetário internacional não poderá deixar de lado esse fato.
Está dado que eles serão líderes no processo de reconfiguração da economia mundial nos próximos anos. No que se refere ao Brasil, é preciso considerar estrategicamente as imensas oportunidades que tal dinâmica oferece.
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