Antonio Cechin e Jacques Távora Alfonsin, comentam o fracaso da COP-15, à luz da celebração do Natal.
Antonio Cechin é irmão marista, miltante dos movimentos sociais. Jacques Távora Alfonsin é advogado do MST e procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado.
Eis o artigo.
Os ambientalistas e ecologistas do mundo todo estão lamentando as chances perdidas por lideranças de países ricos como China e Estados Unidos, por exemplo, de garantir a recuperação climática da terra, na recente Conferência de Copenhague, impondo ao futuro do planeta um aquecimento de tal forma progressivo que é capaz de diminuir as possibilidades da espécie humana sobreviver.
Por mais que a história confirme em que medida a concentração da riqueza, o volume astronômico do PIB, a quantidade de dinheiro desviada da produção de bens indispensáveis à reprodução da vida saudável, são inversamente proporcionais ao respeito devido às/os pobres, à terra, à água, à toda a natureza, nenhum prognóstico de futuro do nosso meio-ambiente, mesmo que se prove catastrófico, consegue motivar as potências nacionais que o agridem a mudarem o rumo da depredação violenta que marca o seu interesse econômico.
O sangue das pessoas necessitadas, a semente e a seiva das árvores e dos frutos, a água dos rios e dos mares, o ventre líquido de petróleo e o sólido dos metais, tudo o que a terra abriga, gera e transforma em vida, tem que ser transformado em mercadoria, traduzido em dinheiro, para ser consumido como coisa que tem preço. Mesmo que esse seja o da perda de qualidade de vida na terra. A Conferência de Copenhague não aceitou qualquer vacina contra esse mal. Justamente nessa época do ano, com esse frenesi de aquisição de coisas, de presentes, de shoppings e de supermercados lotados, de papai Noel abraçando e beijando crianças inocentes, de multidões se endividando, comprometendo o seu orçamento familiar para o resto do ano vindouro, a Conferência traduziu bem a cultura dos nossos tempos. Já não são muitas as pessoas que conseguem parar para pensar sobre a distância que tudo isso guarda do Menino nascido em Belém e que deu origem à festa do dia 25, toda ela repassada de sinais retirados da vida, da natureza, do mundo que habitamos.
Uma Criança filha de pais tão pobres que só encontrou refúgio num abrigo de animais, berço num coxo, companhia de pastores, veio para o que era seu “e os seus não a receberam” como diz São João no início do seu evangelho.
Os “seus” de hoje, quem sabe aqueles que estiveram reunidos em Copenhague, será que recebê-la-iam? As semelhanças das agruras e dificuldades de ontem não garantem mudança nenhuma. O casal tinha chegado a Belém obedecendo uma ordem de recenseamento. Os líderes das nações em Copenhague também queriam saber quantas/os somos, mas, pelo que ficou lá decidido, melhor dizendo não decidido, é pouco provável que fosse para tomar as providências urgentes em comida, casa, educação, saúde e outras condições de vida boa e ambiente saudável que o nosso crescimento demográfico exige.
Estamos cansados de constatar que o mundo capitalista transforma tudo o que existe em mercadoria, isto é em produto de venda, com vistas a um ganho em dinheiro e em lucro. É o consumismo desenfreado que dá origem a um desperdício sem tamanho, como se as matérias-primas que a terra nos fornece fossem infinitas. Caminhamos para o desastre, dizem os ecologistas, porque já estamos gastando uma terra inteira e mais um quarto de planeta que já estamos pilhando das gerações futuras.
Enquanto Deus criou a maravilha do Natal, o sistema capitalista inventou o papai Noel que não passa de uma contrafação. Esse velho barbudo que, no tempo natalino, toma conta das ruas e praças e praticamente de toda a mídia é o símbolo por excelência do apelo ao consumismo.
Alguns anos atrás, no auge de nossas Comunidades de Base, era costume ensinar às crianças que enquanto o papai Noel é dos ricos, os pobres têm o Menino Jesus. Hoje, talvez até por causa dos bons ofícios do governo Lula que trouxe inúmeros benefícios para o pobrerio que enche as periferias, como a “Bolsa Família”, as mais variadas políticas públicas como a possibilidade dos próprios catadores de contrair um empréstimo no banco para comprar um carrinho, etc. o sistema consumista anda treinando levas e levas de papais noéis que invadem as vilas e vem à frente das caravanas que distribuem presentes até pelos mais afastados grotões periféricos. O que querem mesmo é esvaziar o bolso dos pobres do que ainda resta de um décimo terceiro salário, ou de algum biscate de final de ano a fim de saldar alguma dívida. O tal de papai Noel é um tormento para as mães pobres que, praticamente são obrigadas pelas crianças cantadas pela propaganda a passar horas numa fila imensa, sob um sol escaldante, para o tal presente distribuído diretamente pelo personagem barbudo, geralmente uma boneca ou um caminhãozinho, tudo de plástico. Objetos de nenhum valor. Melhor seria chamar o símbolo do consumismo, em vez de papai Noel, de o velho de plástico. Todo esse horror de lixo acaba entulhando arroios e mananciais em geral.
Tão difícil quanto salvar o mundo do consumismo e do desperdício é acabar com o símbolo que o capitalismo se apressa em aperfeiçoar de ano para ano. Temos que começar a gritar: Viva o Menino Jesus e abaixo o papai Noel! Aliás o catolicismo popular criou, para o sábado santo, a brincadeira de fundo religioso, da queima ou do enforcamento de Judas o traidor, não raro personificado no cotidiano das Comunidades em alguma figura de político safado. Em face do planeta terra em exaustão por causa de tanto desperdício, não seria o caso de enforcar um boneco chamado papai Noel, símbolo do consumismo e destruidor do Natal cristão?
Então, sim, teríamos feito algo para somar com os milhares de militantes que, do lado de fora da aula magna em que se realizou o Encontro de Copenhage, sofreram maus tratos e prisões pela luta incansável que travaram contra os governos inermes de 193 países, omissos em relação à nossa casa comum que é o planeta Terra.
Antonio Cechin é irmão marista, miltante dos movimentos sociais. Jacques Távora Alfonsin é advogado do MST e procurador do Estado do Rio Grande do Sul aposentado.
Eis o artigo.
Os ambientalistas e ecologistas do mundo todo estão lamentando as chances perdidas por lideranças de países ricos como China e Estados Unidos, por exemplo, de garantir a recuperação climática da terra, na recente Conferência de Copenhague, impondo ao futuro do planeta um aquecimento de tal forma progressivo que é capaz de diminuir as possibilidades da espécie humana sobreviver.
Por mais que a história confirme em que medida a concentração da riqueza, o volume astronômico do PIB, a quantidade de dinheiro desviada da produção de bens indispensáveis à reprodução da vida saudável, são inversamente proporcionais ao respeito devido às/os pobres, à terra, à água, à toda a natureza, nenhum prognóstico de futuro do nosso meio-ambiente, mesmo que se prove catastrófico, consegue motivar as potências nacionais que o agridem a mudarem o rumo da depredação violenta que marca o seu interesse econômico.
O sangue das pessoas necessitadas, a semente e a seiva das árvores e dos frutos, a água dos rios e dos mares, o ventre líquido de petróleo e o sólido dos metais, tudo o que a terra abriga, gera e transforma em vida, tem que ser transformado em mercadoria, traduzido em dinheiro, para ser consumido como coisa que tem preço. Mesmo que esse seja o da perda de qualidade de vida na terra. A Conferência de Copenhague não aceitou qualquer vacina contra esse mal. Justamente nessa época do ano, com esse frenesi de aquisição de coisas, de presentes, de shoppings e de supermercados lotados, de papai Noel abraçando e beijando crianças inocentes, de multidões se endividando, comprometendo o seu orçamento familiar para o resto do ano vindouro, a Conferência traduziu bem a cultura dos nossos tempos. Já não são muitas as pessoas que conseguem parar para pensar sobre a distância que tudo isso guarda do Menino nascido em Belém e que deu origem à festa do dia 25, toda ela repassada de sinais retirados da vida, da natureza, do mundo que habitamos.
Uma Criança filha de pais tão pobres que só encontrou refúgio num abrigo de animais, berço num coxo, companhia de pastores, veio para o que era seu “e os seus não a receberam” como diz São João no início do seu evangelho.
Os “seus” de hoje, quem sabe aqueles que estiveram reunidos em Copenhague, será que recebê-la-iam? As semelhanças das agruras e dificuldades de ontem não garantem mudança nenhuma. O casal tinha chegado a Belém obedecendo uma ordem de recenseamento. Os líderes das nações em Copenhague também queriam saber quantas/os somos, mas, pelo que ficou lá decidido, melhor dizendo não decidido, é pouco provável que fosse para tomar as providências urgentes em comida, casa, educação, saúde e outras condições de vida boa e ambiente saudável que o nosso crescimento demográfico exige.
Estamos cansados de constatar que o mundo capitalista transforma tudo o que existe em mercadoria, isto é em produto de venda, com vistas a um ganho em dinheiro e em lucro. É o consumismo desenfreado que dá origem a um desperdício sem tamanho, como se as matérias-primas que a terra nos fornece fossem infinitas. Caminhamos para o desastre, dizem os ecologistas, porque já estamos gastando uma terra inteira e mais um quarto de planeta que já estamos pilhando das gerações futuras.
Enquanto Deus criou a maravilha do Natal, o sistema capitalista inventou o papai Noel que não passa de uma contrafação. Esse velho barbudo que, no tempo natalino, toma conta das ruas e praças e praticamente de toda a mídia é o símbolo por excelência do apelo ao consumismo.
Alguns anos atrás, no auge de nossas Comunidades de Base, era costume ensinar às crianças que enquanto o papai Noel é dos ricos, os pobres têm o Menino Jesus. Hoje, talvez até por causa dos bons ofícios do governo Lula que trouxe inúmeros benefícios para o pobrerio que enche as periferias, como a “Bolsa Família”, as mais variadas políticas públicas como a possibilidade dos próprios catadores de contrair um empréstimo no banco para comprar um carrinho, etc. o sistema consumista anda treinando levas e levas de papais noéis que invadem as vilas e vem à frente das caravanas que distribuem presentes até pelos mais afastados grotões periféricos. O que querem mesmo é esvaziar o bolso dos pobres do que ainda resta de um décimo terceiro salário, ou de algum biscate de final de ano a fim de saldar alguma dívida. O tal de papai Noel é um tormento para as mães pobres que, praticamente são obrigadas pelas crianças cantadas pela propaganda a passar horas numa fila imensa, sob um sol escaldante, para o tal presente distribuído diretamente pelo personagem barbudo, geralmente uma boneca ou um caminhãozinho, tudo de plástico. Objetos de nenhum valor. Melhor seria chamar o símbolo do consumismo, em vez de papai Noel, de o velho de plástico. Todo esse horror de lixo acaba entulhando arroios e mananciais em geral.
Tão difícil quanto salvar o mundo do consumismo e do desperdício é acabar com o símbolo que o capitalismo se apressa em aperfeiçoar de ano para ano. Temos que começar a gritar: Viva o Menino Jesus e abaixo o papai Noel! Aliás o catolicismo popular criou, para o sábado santo, a brincadeira de fundo religioso, da queima ou do enforcamento de Judas o traidor, não raro personificado no cotidiano das Comunidades em alguma figura de político safado. Em face do planeta terra em exaustão por causa de tanto desperdício, não seria o caso de enforcar um boneco chamado papai Noel, símbolo do consumismo e destruidor do Natal cristão?
Então, sim, teríamos feito algo para somar com os milhares de militantes que, do lado de fora da aula magna em que se realizou o Encontro de Copenhage, sofreram maus tratos e prisões pela luta incansável que travaram contra os governos inermes de 193 países, omissos em relação à nossa casa comum que é o planeta Terra.
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