sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

FRACASSO DA CÚPULA, DESRESPEITO COM O MUNDO !

Caso um mundo não chegue a um acordo para reduzir suas emissões, os cenários para o aquecimento global preveem uma mudança drástica na face da Terra. De uma elevação da temperatura média do planeta em dois graus Celsius — o limite que os cientistas anseiam e o teto das negociações em Copenhague —, até o pesadelo de uma elevação de cinco graus Celsius, eis os cenários previstos:
DOIS GRAUS CELSIUS: As ondas de calor que atingiram a Europa em 2003, deixando milhares de mortos, voltarão a acontecer, todos os anos. O sudeste da Inglaterra vai se acostumar com temperaturas de 40 graus Celsius no verão. Partes da Floresta Amazônica começam a se transformar num deserto, enquanto o aumento de CO2 na atmosfera vai promover a acidificação dos oceanos, tornando improvável a sobrevivência de recifes de corais e milhares de formas de vida marinha.
Mais de 60 milhões de pessoas, a maioria na África, sofrerão com aumento de casos de malária.
A cobertura de gelo no lado ocidental da Antártica e na Groelândia vai derreter. Geleiras vão se retrair em todo o mundo, reduzindo também o suprimento de água potável para as grandes cidades. Regiões costeiras serão alagadas, afetando mais de 10 milhões de pessoas. A extinção atingirá um terço das espécies do planeta à medida em que a elevação transforma rapidamente seus habitats.
TRÊS GRAUS CELSIUS: Um cenário cada vez mais provável.
Com tal elevação, o aquecimento global se torna incontrolável, fazendo com que esforços para mitigação passem a ser inviáveis.
Milhões de quilômetros da Floresta Amazônica serão queimados, liberando carbono das árvores e do solo, incrementando o aquecimento, talvez até em 1,5 grau Celsius. Desertos vão avançar no sul da África, na Austrália e no oeste dos EUA. Bilhões de pessoas serão forçadas a abandonar suas terras, em busca de água e alimento. Na África e no Mediterrâneo, a oferta de água vai diminuir entre 30% e 50%. No Reino Unido, secas no verão serão seguidas por enchentes no inverno. A elevação do nível do mar vai causar o desaparecimento de países-ilha, e também de lugares como Nova York, Flórida e Londres.
A reportagem é do jornal O Globo, 19-12-2009.
QUATRO GRAUS CELSIUS: Cenário possível, com um acordo fraco. Nesse estágio, o permafrost (solo congelado) do Ártico se torna grande ameaça. Metano e carbono aprisionados no solo serão liberados na atmosfera. Ainda no Ártico, a cobertura de gelo desaparecerá, causando a extinção do urso polar e outras espécies nativas. Na Antártica, o degelo vai se acelerar, incrementando a elevação do nível do mar, fazendo com que diversas ilhas fiquem submersas.
Itália, Espanha, Grécia e Turquia podem virar desertos. A região central da Europa passa a ter temperaturas médias de 50 graus Celsius no verão, típicas de desertos.
CINCO GRAUS CELSIUS E ALÉM: Um pesadelo altamente improvável. Com um aumento médio de cinco graus, as temperaturas na Terra vão ficar tão quentes quanto àquelas de 50 milhões de anos atrás. No Ártico, as temperaturas subirão bem mais do que a média global — acima de 20 graus Celsius —, significando que a região ficará sem gelo o ano inteiro. A maior parte das regiões tropicais, subtropicais e mesmo as regiões de latitudes média se tornarão inabitáveis por causa do calor. A elevação do nível dos mar fará com que a maioria das cidades costeiras do planeta tenha que ser abandonada. A população humana será drasticamente reduzida..
DIANTE DESTA REPORTAGEM, FICO COM SENTIMENTO DE FRACASSO....
Fracasso. Não há outra palavra à altura do resultado de Copenhague.
O maior encontro diplomático de todos os tempos se arrastava para um desfecho inglório, sem nenhum compromisso concreto de redução de emissões por parte dos países ricos nem garantia de dinheiro para os pobres.
O comentário é de Herton Escobar e publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-12-2009.
A declaração do presidente americano Barack Obama, que saiu de uma reunião com China, Índia, África do Sul e Brasil dizendo ter chegado a um acordo "sem precedentes" com os países emergentes, deverá entrar para a história como um desrespeito igualmente sem precedentes aos milhares de ativistas, diplomatas, empresários e jornalistas que passaram frio, apanharam da polícia, ficaram sem comer e sem dormir durante duas semanas de desgastantes negociações na capital dinamarquesa. Sem falar nos outros milhões de pessoas que acompanharam o processo à distância, pela imprensa, à espera de um acordo minimamente efetivo no sentido de combater as mudanças climáticas.
Obama também se esqueceu de dizer que o tal acordo "sem precedentes" - e sem metas - ainda precisava ser aprovado em reunião plenária por todos os outros países signatários da Convenção do Clima das Nações Unidas (193 no total). Pegou o avião e foi embora sem perguntar para Tuvalu e outras pequenas nações insulares se elas estavam de acordo com o risco de serem inundadas pela elevação do nível do mar. Mas não esqueceu de ressaltar que os EUA "não estão legalmente vinculados a nada do que aconteceu aqui". Ou seja: além de não trazer metas, o acordo não teria força de lei. Seria só um acordo político.
Todas as decisões da Convenção precisam ser tomadas por consenso, com aval de todas as nações. E até as 3 horas da madrugada de Copenhague, a plenária final não havia começado. Os presidentes foram embora, deixando seus diplomatas à espera de algum anjo ou sábio capaz de resolver a questão. O tal acordo anunciado por Obama não passa de uma carta de intenções, com algumas promessas de financiamento, mas nenhuma obrigatoriedade de resultados.

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