domingo, 27 de setembro de 2009

Atualidades Enem 2009 Parte 02

ATUALIDADES ENEM - PARTE 02

ATUALIDADES ENEM - 2009 - PARTE 01

SEGUEM, MINHAS QUESTÕES DE ATUALIDADES PARA O ENEM - 2009 : BONS ESTUDOS, BOA SORTE !

" A ERA DA ESTUPIDEZ" UM FILME PROVOCATIVO...

A três meses da reunião que decidirá o futuro da humanidade, a 15ª Conferência do Clima, estreia o filme ERA DA ESTUPIDEZ" CLIQUE AQUÍ E VEJA ROTEIRO DO FILME: "A era da estupidez" (The Age of Stupid), um olhar crítico sobre a demora dos atuais governantes em lidar com a crise climática. "A era da estupidez" questiona o imobilismo humano diante da ameaça do aquecimento global e pretende transformar 250 milhões de espectadores em ativistas pelo clima.
A reportagem é do sítio do Greenpeace, 21-09-2009.
"A era da estupidez" se passa em 2055 e tem no papel principal o ator inglês Pete Postlethwhaite, indicado para o Oscar em 1994. Ele interpreta o "arquivista", um homem solitário que vive num mundo devastado pelo aquecimento global e que consome seu tempo catalogando o passado. No filme, Postlethwhaite examina imagens de 2007 e se pergunta por que a humanidade não tomou providências contra a crise climática quando ainda havia tempo.
No Brasil, três sessões simultâneas acontecem no dia 22 em São Paulo, Rio e Brasília com o apoio do Greenpeace, dentro de uma semana de atividades para mobilizar a população sobre os perigos do aquecimento global. O evento é parte da pré-estreia mundial, que será feita em mais de 40 países na mesma semana da Assembleia-Geral das Nações Unidas, quando os países terão mais uma oportunidade para definir um acordo antes da Conferência do Clima, marcada para dezembro em Copenhague.
O ambicioso objetivo é transformar 250 milhões de espectadores do filme em ativistas do clima. "As alterações no clima do planeta ilustrados pelo filme não são apenas ficção científica. O Ártico sem gelo, Londres submersa e Austrália em chamas retratam os impactos do aquecimento global em cenários extremos, mas plausíveis. Como as mudanças climáticas não podem ser revertidas, os impactos dependem do que será feito agora para reduzir as emissões de gases estufa", diz João Talocchi do Greenpeace. "Ao combater o aquecimento global, além de evitar as catástrofes, os países tem a oportunidade de proteger as florestas, inovar tecnologias para geração de energia e gerar empregos verdes", completa.
Na reunião de Copenhague, os países desenvolvidos precisam se comprometer com uma redução de 40% das emissões de gases estufa até 2020, tendo como base as emissões de 1990, para que a temperatura do planeta fique bem abaixo dos 2º C. O Brasil deve zerar o desmatamento na Amazônia se quiser agir para barrar o aquecimento global.
"Nossas ações contra as mudanças climáticas irão definir a nossa geração, assim como o fim do apartheid, a abolição da escravidão e a chegada do homem à Lua definiram gerações anteriores. No momento, vivemos na era da estupidez, mas, apesar do pouco tempo que nos resta, ainda é possível mudar esta situação", afirma a diretora do filme, Franny Armstrong.
O palco principal do lançamento de "A era da estupidez" será em uma tenda inteiramente abastecida por energia solar, em Manhattan, Nova Iorque. Os convidados chegarão à festa por meio de transportes alternativos, como bicicletas, skates, veículos movidos a biodiesel de óleo de fritura e riquexós (táxis ecológicos de tração humana). Toda a energia utilizada no evento resultará em apenas 1% do carbono normalmente emitido em uma pré-estreia tradicional. A cerimônia será apresentada pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan.
No Brasil - O Greenpeace apoia o lançamento do filme em nove cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campinas, Brasília, Salvador, Curitiba, Juiz de Fora e Santos. Em Porto Alegre, o apoio será da ONG Amigos da Terra. Consulte a programação no site da MovieMobz.
Assista o trailer do filme aqui.

REVOLUÇÃO AUTOMOBILÍSTIA EM ANDAMENTO !

O veículo elétrico, híbrido ou puro, provocará uma revolução industrial e energética no mundo nas próximas décadas, golpeando em especial os combustíveis líquidos. Mas o etanol vegetal sobreviverá e crescerá, afirmam especialistas brasileiros ouvidos pelo Terramérica. A atual indústria automobilística “estará sepultada dentro de 15 anos” se a produção chinesa de carros elétricos atingir suas metas, estima o economista Gustavo dos Santos, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dessa forma, a expansão do etanol (mais limpo do que a gasolina) será menor do que a esperada pelo governo brasileiro e será interrompida em 2020, prevê Santos.
A reportagem é de Mario Osava e publicada pela Agência Envolverde, 21-09-2009.
A montadora chinesa BYD (Build Your Dreams – Construa seus Sonhos), que começou como uma fábrica de baterias, espera vender 700 mil carros elétricos em 2010, e tem como meta elevar sua produção anual para oito milhões de unidades até 2025, metade para exportação, disse Santos ao Terramérica. O governo da China decidiu converter o país em uma potência automobilística e subsidia a venda de veículos elétricos ou híbridos, que combinam bateria e motor de combustão. O avanço destes novos carros, de maior eficiência energética do que os que utilizam apenas combustão, foi bloqueado desde seu nascimento pelo grande poder político das companhias de petróleo, recordou Santos. Inclusive o setor automotivo resiste às mudanças porque elas representam a perda de toda uma estrutura implantada durante mais de um século.
Entretanto, agora a ameaça da mudança climática tende a tornar “inevitável” a revolução da energia e de toda cadeia metal-mecânica, com consequências em outras duas indústrias centrais, a eletroeletrônica e a química, e no ordenamento urbano, disse o economista. Os gases emitidos pelo transporte automotivo baseado em derivados de petróleo, como gasolina e diesel, aquecem a atmosfera. No mundo, teve início uma corrida tecnológica que se reflete nos numerosos modelos elétricos exibidos no 63º Salão do Automóvel de Frankfurt – que começou no dia 17 e vai até o dia 27 deste mês – reiterando a tendência de mostras semelhantes. Praticamente, todas as grandes fábricas estão produzindo esse tipo de veículo.
Os governos de países ricos subsidiam em grande parte o desenvolvimento e a venda desses carros. A General Motors, salva da bancarrota pela intervenção do governo norte-americano, espera se recuperar com a venda de seu modelo Volt, um híbrido recarregável que poderá desequilibrar o jogo porque “não tem compromissos com a indústria petrolífera nem com a velha indústria automobilística”, afirma Santos em um artigo publicado na edição junho-julho da revista Custo Brasil. O objetivo da China de popularizar o automóvel, necessário para manter o crescimento econômico atual, se torna impossível com o petróleo devido à insuficiência da oferta mundial, acrescentou o economista.
As baterias, ainda muito grandes e caras, exigem muitas horas de recarga para percorrer trechos limitados, e continuam sendo o calcanhar-de-aquiles do carro elétrico. Porém, sua adequação é apenas questão de tempo, porque ao seu desenvolvimento são destinados grandes investimentos pelas indústrias automobilísticas, de informática e de telefonia celular. Santos acredita que o futuro depende “mais das disputas políticas do que de fatores técnicos”. Além das pressões de toda a cadeia metal-mecânica e das companhias de petróleo, Estados Unidos, Europa e Japão tentarão impedir que a China se converta em uma potência automobilística, diz o economista, acrescentando que não se deve descartar uma reação protecionista que poderia jogar o mundo em outra recessão.
O carro elétrico pode promover uma revolução tecnológica que impulsionaria os investimentos, sustentando um crescimento ambientalmente são, ao “destruir boa parte da capacidade produtiva mundial”, diz Santos. A partir de uma fonte de redução do consumo, o preço do petróleo começaria a cair dentro de aproximadamente dez anos. Em consequência, o Brasil tem pouco tempo para aproveitar as gigantescas reservas descobertas, em 2007, sob uma camada de sal em águas profundas do Oceano Atlântico, ressaltou.
Paulo César Lima, assessor da Câmara dos Deputados especializado em questões energéticas, concorda com Santos. Com base em previsões do setor, segundo as quais 30% dos veículos a serem fabricados em 2030 serão elétricos, Lima alerta que a extração das jazidas do pré-sal poderia ser inviável dentro de quatro décadas devido ao baixo preço que o petróleo teria. Descoberto a cerca de sete mil metros de profundidade, o óleo brasileiro terá custos muito altos de produção, cerca de US$ 40 por barril de 159 litros, segundo autoridades da área energética. O “fator determinante”, para Lima, será a questão ambiental, que forçará a vigência do veículo elétrico. Este, por sua vez, “pode afetar o mercado do etanol” e sua passagem à categoria de commodity (mercadoria de livre comercialização), prevê o especialista.
Porém, a revolução tecnológica não impedirá a sobrevivência e expansão do etanol, pois este reduz a emissão de gases causadores do efeito estufa, acrescenta Lima. O etanol brasileiro feito a partir da cana-de-açúcar é reconhecido por seus benefícios ambientais, ao contrário do obtido do milho e de outras matérias-primas agrícolas nos Estados Unidos e na Europa. Contudo, enfrenta críticas pelas penosas condições de trabalho nos canaviais e por ocupar espaços de cultivos de alimentos.
A substituição do combustível líquido “será um processo lento”, e por muito tempo vai predominar o carro híbrido, que emprega motor a combustão para gerar a eletricidade propulsora, prevê Pietro Erber, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico. Para o híbrido, o etanol oferece vantagens sobre os derivados de petróleo, especialmente o diesel que é importado pelo Brasil para abastecer caminhões e ônibus, acrescenta. Essa vantagem pode ser ampliada se o petróleo for taxado para desestimular seu consumo e em benefício do clima, afirma Erber.
Jayme Buarque de Hollanda, diretor do não governamental Instituto Nacional de Eficiência Energética, afirma que o petróleo perderá mercado, mas não o etanol, pois é um combustível “mais homogêneo” e por isso se mistura com a gasolina para melhorar o desempenho e reduzir a poluição. Além disso, não se trata apenas do etanol, mas da biomassa como fonte de energia renovável e menos poluente. A partir da cana também se gera eletricidade, com o bagaço, além da produção de açúcar e vinhaça fertilizante, destaca Jayme. O uso diversificado da biomassa é uma vocação do Brasil, que possui água, sol e terra em abundância. Existe pela frente um futuro amplo de pesquisa e desenvolvimento para substituir boa parte dos “três mil produtos obtidos a partir do petróleo”, acrescenta Fernando Siqueira, presidente da Associação de Engenheiros da Petrobrás.
Para esse futuro, o Brasil deveria investir em células de combustível, destinadas a substituir as baterias, segundo Santos. Este dispositivo eletroquímico converte a energia do combustível em eletricidade com maior eficiência do que a bateria e daria ao etanol viabilidade no longo prazo, diante da morte anunciada do motor à explosão. Para o economista, a atual mudança de modelo, ao reduzir obstáculos permite uma singular oportunidade para que o país crie, como a China, uma indústria automobilística nacional de carros elétricos com marca própria. Para isso dispõe de enormes recursos energéticos e de capacidade tecnológica, concluiu Santos.

NO MEIO DO CAMINHO HAVIA UMA... PERERECA...!

Ela tem dois centímetros. Mas está na frente de gigantescos tratores, caminhões e escavadeiras usados na construção do Arco Metropolitano. E quem ousa passar por cima dela? A maior obra pública em andamento no Rio — 77 quilômetros de pistas que ligarão Itaboraí ao Porto de Itaguaí —, orçada em R$ 1 bilhão, parou pela força da pequena Physalaemus soaresi.
A reportagem é de Dimmi Amora e Ana Claudia Guimarães e publicada pelo jornal O Globo, 26-09-2009.
Trata-se de uma perereca rara e ameaçada de extinção, que não tem nome popular. Ou melhor, não tinha: os operários da obra já a apelidaram de Norminha, a personagem poligâmica da última novela da oito.
A soaresi vive numa área de 4,9 milhões de metros quadrados da Floresta Nacional Mário Xavier (Flonamax), em Seropédica, entre a Rodovia Presidente Dutra e a antiga Rio-São Paulo.
Desde sua identificação em 1965 naquela área, jamais foi localizada em outro lugar do planeta. O arco vai passar no meio da floresta — que perdeu a vegetação original —, ocupando 80 mil metros quadrados (1,6% do total).
Em fase de reprodução, bicho não pode ser removido
Esta semana, a Secretaria estadual de Obras, responsável pelo arco, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal, foi informada sobre a espécie pelos administradores da Flonamax e aceitaram interromper a obra.
Técnicos da secretaria estudavam retirar a perereca e adaptála a outro local. Mas um estudo mostrou que o animal está na fase de reprodução, num período chamado “canto nupcial”.
Essa fase vai até fevereiro. Era o prazo inicial para o encerramento das obras. Mas, de acordo com o vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, até agora apenas 6% do cronograma foi cumprido.
Desde o anúncio da construção do arco, em novembro de 2006, vários problemas o atrasaram:
— É preciso ter muita persistência. Mas estou confiante de que vamos concluí-lo até 2010.
Segundo Vicente Loureiro, subsecretário de Obras, as licenças ambientais foram dadas com várias restrições e compensações que vão custar pelo menos R$ 30 milhões. Mesmo após as licenças, os entraves persistiram. Foram encontrados 23 sítios arqueológicos e, em cada um deles, era necessário interromper a construção. Na Flonamax, já tinha havido um problema.
Após ser concedida a licença para cortar as árvores nos pontos por onde passará a pista, o trabalho foi paralisado. Isso porque a lei manda que seja medida a espessura de cada árvore.
As de até 15 centímetros de diâmetro são cortadas de uma forma; as maiores, de outro.
Para evitar que a obra continue interrompida, a secretaria proporá um isolamento, com placas de ferro, da área da obra.
Segundo Marcelo Marcelino, diretor de Conservação do Instituto Chico Mendes — órgão do governo federal responsável pela Flonamax —, os estudo vão chegar na semana que vem ao órgão, que decidirá a melhor forma de preservar a espécie:
— É uma espécie em extinção, listada desde 2003. Temos que garantir sua conservação.

domingo, 20 de setembro de 2009

Pela 1ª vez em 31 anos, exportação de básicos supera a de manufaturados

O Brasil exportou mais commodities do que produtos manufaturados pela primeira vez nos últimos 31 anos. De janeiro a agosto, as vendas externas de produtos básicos somaram US$ 41,9 bilhões - US$ 300 milhões a mais do que os US$ 41,6 bilhões de exportações de manufaturados. A participação das commodities nas exportações atingiu 42,8%, acima dos 42,5% dos manufaturados.
A reportagem é de Raquel Landim e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-09-2009.
A crise global é a principal responsável pela significativa mudança na pauta de exportações do País. A turbulência atingiu mais duramente os clientes brasileiros de produtos manufaturados, como os EUA e os vizinhos da América Latina. Por outro lado, com a economia local crescendo 8%, a China manteve seu apetite por commodities e se tornou o principal destino das exportações do Brasil.
A participação da China nas exportações brasileiras avançou de 9,1% de janeiro a agosto de 2008 para 14,7% em igual período deste ano. Na mesma comparação, a fatia dos EUA caiu de 14,1% para 10,2%. As fatia de exportações para a América Latina e o Caribe também recuou de 25,4% para 21,6%,
Graças à demanda chinesa, as vendas de soja em grão, que respondiam por 6,8% das exportações de janeiro a agosto de 2008, atingiram 10,3% do total. A fatia do minério de ferro nas vendas externas do País subiu de 7,7% para 9%. Já a participação dos automóveis caiu de 2,5% para 2%; das autopeças, de 1,8% para 1,5%; e dos veículos de carga, de 1,1% para 0,7%.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Comércio Exterior do Brasil (AEB), a "primarização" da pauta de exportação é preocupante, porque torna o País mais vulnerável às oscilações de preços das commodities. Outro problema que os manufaturados enfrentam é a valorização do câmbio. Com o dólar a R$ 1,80, ficou mais difícil exportar.
"Essa receita com exportações de básicos está inflada. Não é sustentável. O mercado de commodities vive momentos de histeria", disse Fábio Silveira, sócio da RC Consultores. Na sua avaliação, o aumento das exportações de commodities é positivo no curto prazo, porque traz mais dólares ao País. Mas, no médio, é negativo, porque os setores ligados a commodities empregam pouco.
Os analistas de comércio exterior ainda não sabem se os produtos básicos vão continuar liderando as exportações até o fim do ano. Isso vai depender da performance da economia mundial. Se os EUA e a América Latina se recuperarem mais rápido que o previsto, as vendas externas de manufaturados podem reagir.
Júlio Callegari, economista do JP Morgan, diz que a tendência de maior participação dos básicos será atenuada nos próximos meses, pois o Brasil antecipou as exportações de commodities como soja e minério de ferro na primeira metade do ano. Nas duas primeiras semanas de setembro, a média diária das exportações de manufaturados está em US$ 279,5 milhões, um pouco acima dos US$ 272 milhões dos básicos.

Lula acertou quando previu a marolinha, diz ''Le Monde''

Ao prever que o tsunami da crise mundial provocaria apenas uma "marolinha" no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma visão "bastante correta", afirmou o jornal francês Le Monde, em artigo publicado ontem, intitulado "A retomada da expansão mundial repousa sobre os Brics", referindo-se ao grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China.
A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 18-09-2009.
O Bric, diz o artigo, é depositário da esperança "de que a fase de recuperação de seus níveis de vida ante os dos países ocidentais vai se acelerar". Diz também que seus modelos de crescimento, até o presente essencialmente baseados nas exportações (...), vão progressivamente dar lugar a um novo modo de desenvolvimento, que enfatize a demanda interna".
Sobre o Brasil, o jornal ressalta o fato de a recessão ter durado apenas um semestre - o quarto trimestre de 2008 e o primeiro trimestre deste ano. "Atingido pela recessão mais tarde do que a maior parte dos países, o Brasil saiu dela mais cedo", afirma o artigo, chamando atenção não apenas para o crescimento de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, mas também para a recuperação da Bolsa e do real ante o dólar e o euro.
"A rápida recuperação do Brasil aponta para a correção da estratégia adotada pelo governo, centrada na sustentação do mercado interno. A redução de impostos de automóveis e eletrodomésticos mantiveram as vendas nesses dois importantes setores industriais", afirma o artigo, que destaca também a atuação do Banco Central (BC) ao irrigar o mercado e a resistência da confiança dos consumidores.

DOENÇAS EMERGENTES ASSOLAM O PLANETA !

Miséria e desmatamento são os principais responsáveis pelo aparecimento de novas infecções e pela volta de surtos que pareciam ter sido erradicados da Terra. A reportagem é de Jennifer Koppe e está publicada no jornal Gazeta do Povo, 14-09-2009.
No fim do século passado, acreditava-se que seria possível erradicar todas as doenças infecciosas do planeta e que a única preocupação da humanidade seriam as doenças crônico-degenerativas. A explosão da aids, durante a década de 1980 e o reaparecimento de doenças que tinham praticamente sumido do mapa como a dengue e a tuberculose, fez com essa teoria caísse por terra.
A pandemia da influenza A (H1N1), a chamada gripe suína, que hoje se espalha pelo mundo nos alerta para o fato de que, provavelmente, jamais nos livraremos das doenças infecciosas – o que não quer dizer que seremos para sempre reféns dos vírus e bactérias que parecem tomar conta do mundo. O controle e a vigilância constante são as armas que temos para combatê-los.
Podemos classificar as doenças infecciosas como emergentes e reemergentes. As emergentes, como explica a epidemiologista Mirian Marques Woiski, chefe do Departamento de Vigilância e Controle em Agravos Estratégicos do Estado do Paraná, são as doenças novas, que nunca existiram em um determinado meio ou que já existiam, mas nunca chegaram a atingir o homem. “Também podemos chamar de emergentes as doenças que causaram infecções em outras populações e que chegam a uma nova região, pela primeira vez. Caso da micobactéria, que já existia em outros estados do Brasil, mas que só chegou ao Paraná em 2007.”
As reemergentes, por sua vez, são doenças que apareceram, foram controladas, mas que voltaram a se manifestar depois de um determinado período. “A dengue e o cólera são alguns exemplos aqui no Brasil. É comum o vírus sofrer uma mutação ou se combinar com outros e voltar a atacar com novas características”, explica.
Por isso, o controle e prevenção da doença, principalmente por meio da vacinação, é fundamental. “Temos a falsa impressão de que doenças imunoprevisíveis como o sarampo e a poliomielite foram completamente erradicadas. Mas, na verdade, se não continuarmos tomando as precauções necessárias, elas podem voltar. É mais difícil manter controlada uma doença que ‘não existe mais’ do que controlar doenças novas, que chamam a atenção da população sobre os cuidados que devem ser tomados, como é o caso da gripe suína. Com doenças como o sarampo, é comum baixar a guarda. Pais deixam de vacinar os filhos, por exemplo, pensando não haver mais riscos”, explica Woiski.
Causas e controle
O comportamento humano é o principal culpado pelo aparecimento e pela transmissão desses patógenos. O desmatamento e a invasão das florestas fez com que a nossa convivência com diferentes espécies de animais se tornasse mais próxima, segundo a infectologista Rosana Camargo, diretora do Hospital Oswaldo Cruz. “Para sobreviver, muitos animais migram para as áreas urbanas. É o caso da hantavirose. Enquanto nós desmatamos o habitat dos ratos silvestres, eles se aproximaram dos galpões de grãos, em busca de alimento e passaram a transmitir a doença.”
O acúmulo de lixo e a falta de saneamento básico, comum nas periferias das grandes cidades, também contribui para a disseminação das doenças, ao provocar o aumento das populações de mosquitos e outros animais que servem como vetores.
A facilidade de deslocamento para outros estados e países é outro fator que aumenta a velocidade das transmissões, causando surtos. Seria o preço da globalização. “Muitas doenças chegaram ao Brasil dessa forma. Caso da febre amarela, que foi trazida da África”, lembra Mirian Woiski.
Para Rosana Camargo, é necessário investir na educação da população sobre as doenças e em um sistema integrado de comunicação para minimizar o impacto das doenças emergentes. Mas, apesar das limitações, os órgãos de vigilância tem conseguido impedir diversos surtos no país. “Conseguimos conter doenças a síndrome respiratória aguda severa (Sars) e a febre do Nilo. Mas esse controle não envolve apenas o trabalho dos órgãos de saúde. É preciso trabalhar em conjunto com outras áreas como agricultura e meio ambiente”, aponta Woiski.
Explosão da aids foi choque de realidade
A explosão da aids durante a década de 80 foi uma espécie de “tapa na cara”, que acabou de vez com a esperança de livrar o mundo das doenças infecciosas. Sem vacina, sem tratamento e se espalhando em um ritmo assustador, o misterioso mal causou pânico e se tornou a doença emergente mais temida pela população.
O Hospital Oswaldo Cruz, em Curitiba, que na época era referência no tratamento de diversas doenças infecciosas, passou a receber pacientes com HIV e teve de se adaptar, rapidamente, a uma nova realidade. “Existia muito preconceito em relação à aids, pois estava ligada ao sexo e ao uso de drogas ilícitas. Nenhum hospital queria atender esses pacientes, por isso passamos a recebê-los em troca de outros com meningite, hepatite e leishmaniose”, lembra a médica Rosana Camargo, diretora do hospital.
A especialista conta que, no início da pandemia, não havia nada a fazer a não ser acompanhar o doente até a morte. “Hoje, a realidade é outra. A maioria dos pacientes pode viver uma vida normal, em sociedade e sem apresentar nenhum sintoma, graças aos tratamentos que existem”, conta. A banalização da aids, entretanto, causada justamente pela eficiência do tratamento, fez com que casos graves da doença voltassem a aparecer nos últimos dois anos. “Muitos pacientes, além de terem tido um diagnóstico tardio, não estão se tratando e, por isso, estão apresentando sintomas, como o sarcoma de Karpos, que só existiam no início da epidemia. No momento, temos seis pacientes internados com tuberculose, o que costumava ser raro”, completa.
A médica lembra que, embora o tratamento exista, a aids continua sendo uma doença letal e cercada de preconceito. “Estamos ampliando o hospital para poder oferecer aos pacientes uma unidade de terapia intensiva e equipamentos para a realização de diversos exames porque ainda encontramos muita resistência ao mandar um paciente nosso a uma UTI convencional”, explica.
Embora atualmente 98% dos pacientes do Hospital Oswaldo Cruz sejam portadores de HIV, o plano é tornar-se um instituto de infectologia referência no tratamento de outras doenças infecciosas.

Epidemias que causaram pânico no Brasil e no mundo
Aids
Sexualmente transmissível, a síndrome da imunodeficiência adquirida foi reconhecida nos Estados Unidos em 1981, mas o vírus HIV teve a sua origem em chimpanzés da África subsaariana. Acredita-se que existam 33 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo. Não se conhece cura para a doença, mas é possível minimizar os seus sintomas.
Influenza
Durante o século 20, o vírus influenza causou três pandemias que mataram milhões de pessoas: a espanhola (1918), a asiática (1957) e a de Hong Kong (1968). Altamente transmissível, afeta animais domésticos como aves, suínos e equinos e possui um código genético de fácil mutação. A gripe suína causou uma nova pandemia neste ano e a gripe aviária continua sendo uma ameaça em todo o mundo.
Dengue
Surgiu durante a década de 50 no sudeste asiático e se espalhou pelo mundo. Na década de 80, reemergiu na América Latina. É causada por quatro tipos diferentes de vírus e transmitida por um vetor: o mosquito Aedes aegypti. Ainda não existe vacina para ela.
60% das doenças emergentes têm origem nas doenças de animais, transmissíveis ao homem, as chamadas zoonoses. A maior ameaça vem de animais selvagens.
20% das doenças emergentes têm como origem a resistência aos tratamentos, como o uso de antibióticos, crescente nos países ricos.
80 é a década que apresentou o maior número de doenças emergentes. Acredita-se que isso tenha ocorrido por causa do vírus HIV, que deixou uma grande parcela da população vulnerável a outras enfermidades.
Fonte: Mapeamento das regiões de risco para novas infecções, publicado pela revista Nature (abril, 2008).

A CORRIDA ARMAMENTISTA NA AMÉRICA DO SUL...

DEPOIS DO BRASIL... AGORA É A VEZ DA VENEZUELA...
O recente anúncio do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, da compra de dez sistemas de mísseis russos deverá tumultuar a reunião de chanceleres e ministros de Defesa da União de Nações Sul-americanas (Unasul), que começa hoje no Equador. No encontro prévio de vice-ministros, ontem, a iniciativa de Chávez foi interpretada como o início de uma "corrida armamentista" na região. No entanto, ao contrário da expectativa de Caracas, reforçou-se a posição da Colômbia de que não apenas seu acordo com os EUA deve estar sobre a mesa de debates da Unasul.
A reportagem é de Denise Chrispim Marin e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 15-09-2009.
"Para consolidar uma visão de confiança entre os países da América do Sul, não se pode mirar um único acordo, mas todos que, teoricamente, possam violar a soberania territorial dos vizinhos", afirmou a chefe da delegação da Colômbia, Clemencia Forero, ao ser questionada sobre o impacto do pacto Venezuela-Rússia. "Nós também não conhecemos esse acordo."
Na semana passada, praticamente às vésperas do encontro de ministros da Unasul, Chávez anunciou a compra de pelo menos dez unidades do sistema de defesa aérea S-300, da Rússia. Trata-se de um equipamento municiado por 300 mísseis capazes de atingir alvos a 27 mil metros de altitude e a 300 quilômetros de distância. A escolha do equipamento foi assinalada como uma resposta direta da Venezuela à ampliação da presença americana na Colômbia.
Recomendado pelos presidentes sul-americanos, que haviam se reunido em Bariloche no fim de agosto para tratar do tema, o encontro de ontem se deu sob um consenso verbal de que todos os acordos militares com países de fora da América do Sul devem ser objeto de debate pela Unasul. Até mesmo a Venezuela concordou com a iniciativa.
"Vamos colocar as cartas sobre a mesa", afirmou o embaixador da Venezuela na Colômbia, Gustavo Márquez. "O senhor tem um acordo com a Rússia? Está bem, ponha sobre a mesa. O senhor tem um com os EUA? Ponha sobre a mesa."
O desafio de hoje será dar um passo a mais no processo de distensão na América do Sul. Com exceção da Colômbia, todos os países da região não têm dúvidas de que as sete bases colombianas estarão sob gestão de militares americanos e poderão ser usadas, em tese, em missões contra vizinhos em nome do combate ao tráfico de armas e de drogas. Tampouco há dúvidas de que as instalações podem se tornar uma ponte para o transporte aéreo de tropas e armas para outras regiões, como a África. A exigência de garantias de que esses movimentos não se darão continua como principal ponto dessas negociações.
Duas das propostas debatidas ontem - a criação de um código de conduta para a compra de armas, apresentada pelo Equador, e o compromisso de que forças estrangeiras presentes em um país não avançarão no território de seus vizinhos, da Argentina - preveem a adoção de mecanismos de verificação e inspeção ainda não detalhados.
Segundo o vice-ministro da Defesa da Argentina, Alfredo Forti, a verificação seria o principal elemento de garantia a ser oferecido pelos Estados. Desconfortável com a proposta equatoriana, a colombiana Forero afirmou que a criação do código de conduta deveria ser o resultado de um processo de negociação, não o seu começo. "Confiança se constrói, não se impõe."
Sensíveis, essas propostas devem ser destrinchadas hoje pelos ministros. Os representantes devem ainda se debruçar sobre a proposta do Peru de harmonizar indicadores de gastos militares. A medida permitiria a países ter uma noção mais clara dos dispêndios regionais. O Brasil sugeriu a adoção de uma norma que obrigue os sócios da Unasul a notificar todos os seus acordos na área de Defesa com países de fora da região e a divulgar seus gastos militares e as compras de armamentos.

O Departamento de Estado americano expressou preocupação sobre a compra de armas anunciada pela Venezuela, alegando que o incremento do arsenal bélico do país representa um grave desafio à estabilidade na América Latina.
A reportagem é da BBC Brasil, 14-09-2009.
No domingo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou que a Rússia concordou em emprestar mais de US$ 2 bilhões para a Venezuela para a compra de armas. O crédito será usado para compra de 92 tanques e um sistema de lançamento de foguetes S-300 da Rússia.
Segundo um porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, as compras de armas efetivadas pela Venezuela e a intenção de compra manifestada pelo país superam todos os outros países na América do Sul. Kelly disse ainda que o governo venezuelano deve ser transparente sobre suas intenções e expressou preocupação sobre a possível transferência de armas para o que chamou de organizações “irregulares” ou “ilegais”.
"Exigimos que a Venezuela seja transparente em suas compras, e muito clara em relação ao objetivo dessas compras. E também queremos que estabeleçam procedimentos e salvaguardas muito claras para que essas armas não sejam desviadas para nenhuma organização irregular ou ilegal", afirmou.
Tensão
O acordo para compra de armas entre Venezuela e Rússia foi assinado em meio a tensões entre a Venezuela e a Colômbia, depois que o governo colombiano anunciou um acordo com os Eatados Unidos para a utilização de bases militares em seu território. A Colômbia afirma que as forças americanas vão ajudar na guerra contra drogas e guerrilhas esquerdistas, e não vão desestabilizar a região.
Chávez sugeriu que a decisão colombiana é uma ameaça à segurança venezuelana e que a compra de armas dificultará um eventual ataque ao seu país. "Com estes foguetes, ficará muito difícil para que eles [os Estados Unidos] venham e nos bombardeiem. Se isso acontecer, eles deveriam saber que nós vamos instalar em breve estes sistemas", disse.
"A Venezuela não tem planos para invadir ninguém ou atacar ninguém. Estas armas são necessárias para a nossa defesa nacional.
O Brasil também está modernizando suas Forças Armadas e deve fechar em breve um acordo de compra de jatos com a França. A licitação ainda não acabou e o governo deve aprofundar a negociação com outros dois países – Suécia e Estados Unidos. Os anúncios dos países latino-americanos contribuem para um aumento do temor de uma corrida armamentista na região.
Os EUA já expressaram preocupação sobre o aumento das tensões na região e a crescente influência da Rússia, Irã e China na América Latina.

RÚSSIA: MAIOR EXPORTADOR DE PETRÓLEO DO MUNDO !

Produção em agosto foi de quase dez milhões de barris por dia, um recorde pós-soviético. País desbancou a Arábia Saudita do primeiro lugar.
No ano passado os membros da OPEP concordaram em reduzir a produção de petróleo em resposta à crise econômica. Moscou havia indicado em dezembro que iria seguir o mesmo caminho, mas acabou aumentando a produção no segundo trimestre de 2009, com novos campos na Sibéria começando a funcionar.
A Rússia já era o maior exportador de gás do mundo, fornecendo cerca de um terço do que é consumido na União Europeia. A Europa teme que o maior controle russo sobre as fontes de energia do mundo possa resultar em uma crise de abastecimento no próximo inverno no hemisfério norte.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

DESVENDANDO ALGUNS TERMOS... ANTES DA REUNIÃO DE COPENHAGUE !

Com a proximidade da reunião da Conferência do Clima de Copenhague (COP 15), em dezembro próximo, crescem as discussões sobre assuntos relativos às discussões internacionais que deverão levar a um novo acordo mundial sobre o clima. Um dos temas de maior interesse para o público brasileiro é o REDD, sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal. É um mecanismo que permite que se remunerem os responsáveis por manter uma floresta em pé, sem desmatar, e com isso, evitar as emissões de gases de efeito estufa decorrentes do desmatamento.
A reportagem é de Maura Campanili, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), e publicada pelo EcoDebate, 09-09-2009.
As discussões sobre o tema incluem como esse mecanism será empregado (se no mercado de carbono ou de forma voluntária, por exemplo) e quem serão os beneficiados com os recursos (as populações que vivem na floresta, os donos da terra, o governo do país etc.). Mas, se já é difícil entender seu significado geral, ainda há outras variantes REDD, que complicam ainda mais: REDD+ e REDD++.
Segundo Paula Moreira, advogada do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, “REDD não será acordado em Copenhague somente com o objetivo de reduzir desmatamento, mas também para premiar a conservação, manejo sustentável de florestas e garantir o papel da conservação. Caso contrário, simplesmente não haveria acordo”. No entanto, não existe uma definição oficial do seu significado.
O que ficou definido na Carta do Caminho de Bali, documento da COP 13, em 2007, foi a “criação de políticas e incentivos positivos com relação a questões referentes à redução de emissões provenientes do desflorestamento e da degradação florestal nos países em desenvolvimento; e o papel da conservação, do manejo sustentável das florestas e do aumento dos estoques de carbono das florestas nos países em desenvolvimento”.
“Por este texto, constatamos que o que chamamos equivocadamente de apenas REDD, desde Bali, na verdade não se refere somente a redução de emissões do desflorestamento (desmatamento) e degradação florestal nos países em desenvolvimento, mas também aos outros três elementos descritos”, explica Paula.
Por conta disso, a comunidade internacional resolveu finalmente dar ênfase a esta diferenciação, chamando de:
REDD: Elemento de valorização da floresta correspondente à redução de emissões provenientes do desflorestamento e da degradação florestal nos países em desenvolvimento.
REDD+: É o REDD, incluindo o papel da conservação, do manejo sustentável das florestas e do aumento dos estoques de carbono das florestas em países em desenvolvimento.
REDD++: É o REDD+, incluindo também a agricultura (a garantia de melhores práticas em prol do não desmatamento).

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

COMO SER FELIZ SE ESTAMOS EM 70º LUGAR NO IDH !

“Como permanecer calado quando descubro que cerca de 22%, ou 40 milhões de brasileiros, vivem abaixo da linha de pobreza, incapazes de sequer obter alimentos para subsistir?”. A pergunta é do médico Miguel Srougi – pós-graduado em urologia pela Havard Medical School (EUA), é professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente do Conselho do Instituto Criança é Vida – em artigo na Folha de S.Paulo, 06-09-2009.
Eis o artigo.
A minha infância, povoada por soldadinhos de chumbo e outras fantasias, continha momentos inebriantes. Era quando os soldados, evoluindo nas paradas do Sete de Setembro, desviavam o seu olhar e miravam, respeitosamente, os senhores da nação. Hoje não quero mais assistir aos desfiles. Com medo de não encontrar os mesmos olhares, de não vislumbrar a mesma nação.
Exagero meu ou aflições verdadeiras, produzidas por uma realidade desconcertante? Ouço que o Brasil tornou-se uma nação soberana, que nunca antes neste país materializaram-se tantas aspirações do seu povo, que as potências estrangeiras dobram-se à grandeza da nacionalidade.
Nos jornais encontro números tão expressivos quanto misteriosos. O PIB brasileiro em 2008 foi de US$ 1,94 trilhão, o nono na escala planetária. O Brasil tornou-se credor do FMI. As exportações brasileiras atingiram, em 2008, o valor de US$ 197,94 bilhões. O índice Bovespa registra em 2009 valorização que supera 50%.
Diante dessas notícias, por que tanto desconsolo da minha parte? Talvez por ser médico e por compreender que a saúde de uma nação tem de ser pautada não apenas pelo seu PIB, mas, principalmente, pelo respeito à condição humana e pela luta sem tréguas contra a desigualdade social.
Como ser feliz se estamos no 70º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano, conceito mais justo que incorpora o dogma da existência usufruída com dignidade? Como permanecer calado quando descubro que cerca de 22%, ou 40 milhões de brasileiros, vivem abaixo da linha de pobreza, incapazes de sequer obter alimentos para subsistir?
Como ficar indiferente quando leio que mais de 25% dos membros da nação são analfabetos ou não conseguem compreender o que estão lendo? Desconforto que fica quase insuportável quando descubro que Cuba, Venezuela, Chile, Equador e Bolívia declararam-se recentemente territórios livres do analfabetismo. Como não ficar indignado quando estatísticas da ONU mostram que, para cada 1.000 crianças pobres que nascem no Brasil, 83 morrem antes de completar seu primeiro ano de vida, um número que contrasta com 5 mortes no Canadá, 8 no Chile e 15 na Argentina?
Mesmo ciente das minhas limitações, desconfio que a desgraça que nos assola resulte de uma coreografia insana que mistura uma histórica desigualdade social, governos descomprometidos com a condição humana e ações nefastas de um sem-número de oportunistas que tomaram de assalto, espraiaram-se e passaram a consumir o Estado.
Dados que ilustram a injustiça são abundantes. No Brasil, ainda de acordo com a ONU, 1% dos cidadãos mais ricos têm a mesma renda que a soma dos 50% mais pobres. Estes que perambulam pelas ruas da nação, oprimidos pela fome, pelas pragas e pela violência, incapazes de esboçar reação e controlar seus destinos. Subjugados por um sistema dirigente insensível, que foi capaz de pagar, em 2008, R$ 120 bilhões de juros da dívida nacional e destinar apenas R$ 48 bilhões e R$ 29 bilhões, respectivamente, para financiar toda a saúde e toda a educação superior do povo brasileiro. Governantes incapazes de compreender que sem saúde e sem educação não existem seres livres.
Frequentemente nosso presidente manifesta sua revolta diante da tragédia social que nos assola. Talvez seja um começo. Mas é pouco, sr. presidente. Pouco para alguém que, em período recente menos glorioso da história, conviveu com a injustiça e com autoridades que não eram coisa boa. Agora que o senhor é autoridade e a sociedade brasileira continua açodada por outras formas de truculência, imagine se a tua complacência for mal interpretada, confundida com aquiescência.
Como lembrava o arcebispo Desmond Tutu, incansável na luta pelos direitos civis: "Se ficarmos neutros numa situação de injustiça, teremos escolhido o lado do opressor". Presidente, principalmente você, que tem história para ser o exemplo, pode atender ao grito ensurdecedor de tantos filhos da nação. Assumindo o combate sem limites ao grupo de predadores assentados no poder. Exigindo que a Justiça faça das leis instrumentos verdadeiros de defesa dos direitos, e não objetos de proteção aos ímprobos e poderosos.
E, tomado por compaixão, adotando ações genuínas para reduzir os efeitos da desigualdade e para resgatar a condição humana desses brasileiros. Só assim, perfilado no dia da pátria, você conseguirá, marejado, declamar com a multidão: "Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada, Brasil".

FRANÇA, ALIADO PREFRENCIAL DO BRASIL NO MUNDO DESENVOLVIDO !

A segunda visita ao Brasil do presidente da França, Nicolas Sarkozy, em menos de um ano reforça, neste 7 de Setembro, uma parceria estratégica que vai muito além do acordo de compra de submarinos e de helicópteros franceses, no valor de E 8,6 bilhões (R$ 22,6 bilhões), pelas Forças Armadas Brasileiras. Nessa aliança, o Brasil de Lula vê a França como o amigo rico e preferido do Norte.
A reportagem é de Denise Chrispim Marin e publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo, 07-09-2009.
A França virou aliada preferencial no mundo desenvolvido no momento em que o Brasil ambiciona colocar em prática uma política industrial de defesa, além de alavancar sua presença nos órgãos de governança global. Sarkozy, por sua vez, explora as oportunidades de negócios no País que ambiciona tornar-se hegemônico na América Latina.
O presidente francês será o convidado de honra do desfile militar do Dia da Independência, hoje, na Esplanada dos Ministérios. Ele desembarcou ontem à noite na capital, escoltado por seis ministros, assessores, 14 representantes de grandes grupos empresariais franceses e, desta vez, sem a companhia da primeira-dama, Carla Bruni. Da Base Aérea de Brasília, onde foi recebido por Lula, o presidente francês seguiu para um jantar no Alvorada.
Sarkozy terá grandes chances de ouvir de Lula, mesmo que informalmente, o resultado favorável à francesa Dassault no processo de escolha para a compra de 36 caças pela Força Aérea Brasileira (FAB) - um negócio de US$ 7 bilhões. Na semana passada, em entrevista à mídia francesa, o presidente brasileiro deixou escapar essa predileção pelo produto da Dassault na concorrência, o caça Rafale.
O diferencial na relação Brasil-França, comparando com as demais parcerias estratégicas firmadas pelo governo brasileiro nos últimos anos, está inegavelmente na área militar, segundo a embaixadora Maria Edileuza Fontenele Reis, diretora do Departamento de Europa do Itamaraty. Para a diplomata, trata-se de um caso feliz de exploração de um momento favorável a tais iniciativas.
Para Marcos Azambuja, ex-embaixador do Brasil em Paris, esse diferencial alcança também as posições convergentes dos países nos debates relevantes da agenda internacional, azeitadas por uma afinidade cultural e de mútua curiosidade. "Não existe afinidade do Brasil com Angela Merkel ou com o Gordon Brown", disse o ex-embaixador, ao referir-se aos primeiros ministros da Alemanha e do Reino Unido. "Mas há muita afinidade com Sarkozy. Sobretudo, com madame Sarkozy", completou ele, dono de inconfundível humor.
A França foi uma das primeiras vozes do Primeiro Mundo a apoiar uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o que pode permitir o ingresso do Brasil entre seus membros permanentes - ambição cultivada especialmente pelo governo Lula. Nos últimos anos, passou a defender a ampliação do G-8, as sete economias mais industrializadas e a Rússia, para a formação de um G-14 que incluiria, além do Brasil, a África do Sul, a China, a Índia, o México e o Egito. Mesmo com o desinteresse manifestado pelo presidente Lula por esse novo organismo, em junho passado, a França insiste na montagem do G-14.
Com a eclosão da crise econômica mundial, em setembro do ano passado, os dois países viram no G-20, o grupo das maiores economias do mundo, um foro mais representativo para a discussão de uma nova ordem financeira global. Lula e Sarkozy deverão fechar uma posição conjunta para a cúpula do G-20 em Pittsburgh (EUA), nos próximos dias 24 e 25. Em especial, para impedir que sejam afrouxados os compromissos do G-20 de reforma no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial (Bird).
Um dia depois do retorno de Sarkozy à França, sua ministra de Economia, Christine Lagarde, comandará uma missão empresarial francesa em São Paulo e um encontro com o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge. O foco estará no aumento do comércio bilateral, que somou US$ 8,8 bilhões em 2008, e na elevação de investimentos franceses no Brasil, que acumulam US$ 17,5 bilhões.

O BRASIL SAI FORTALECIDO COM A CRISE MUNDIAL !

O Brasil está saindo da atual crise econômica mundial fortalecido em relação aos países desenvolvidos, na avaliação de especialistas ouvidos pela BBC Brasil.A análise da situação da economia brasileira foi feita a pedido da BBC Brasil, que publica a partir desta segunda-feira até o dia 24 de setembro a série "Depois da Tempestade", um especial de toda a BBC com um balanço de um ano de crise econômica.
Segundo os especialistas, neste último ano, o Brasil não foi poupado da crise, como esperavam os defensores da teoria do "descolamento", mas se prepara para sair da recessão com indicadores relativamente saudáveis quando comparados aos das principais economias do mundo.
Instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) preveem que o país, ao lado de outros emergentes, se recupere da crise mais rapidamente e também amplie a margem de vantagem em relação ao crescimento dos países ricos.No entanto, mesmo com o crescimento econômico relativamente acelerado, o Brasil e outros emergentes ainda lutam para ter mais voz política em organismos e grupos internacionais como o FMI e o G8.VantagemO FMI prevê que as economias emergentes crescerão 1,5% neste ano, enquanto os países desenvolvidos terão retração de 3,8%. Em 2010, quando as economias avançadas devem crescer 0,6%, segundo o FMI, os países emergentes estarão crescendo quase oito vezes mais rápido: a 4,7%.Antes da crise, os países emergentes já vinham crescendo mais rapidamente do que o mundo desenvolvido, mas em uma escala menor. Em 2007, os países emergentes registraram aumento de 8,3% - três vezes mais acelerado do que o crescimento de 2,3% das economias avançadas.O Brasil se encaixa nessas previsões.

Segundo o FMI, a economia do país deve cair 1,3% em 2009 - menos da metade do ritmo das economias avançadas. No próximo ano, a economia nacional cresceria 2,5% - mais de quatro vezes o ritmo dos países ricos.As projeções do FMI são bem menos otimistas do que as do governo brasileiro que prevê crescimento de cerca de 1% para 2009 e de 4,5% para 2010.EndividamentoPara o analista de América Latina do Deutsche Bank, Gustavo Cañonero, a região foi fortemente afetada pela crise econômica mundial, mas o Brasil e alguns países latino-americanos apresentam duas características que os tornam menos vulneráveis do que as economias ricas."Em primeiro lugar, a região tem menos dívidas no setor público e privado", afirma Cañonero.

Os países ricos aumentaram muito o seu endividamento público com pacotes fiscais e de estímulo à economia, mas na América Latina e em outros países emergentes o endividamento é baixo."Hoje o Brasil tem um histórico muito bom em comparação com as economias desenvolvidas", diz Cañonero.Segundo um relatório recente da OCDE sobre o Brasil, "a relação dívida pública/PIB deve manter-se próxima de 40% do PIB em 2009 - e depois deve cair gradualmente para 35% no médio prazo".Enquanto no Brasil a perspectiva é de queda, nos Estados Unidos, que desembolsaram bilhões de dólares para ajudar o setor financeiro a sair da crise, a tendência é de aumento. Os americanos viram sua dívida pública aumentar de 65% do PIB no final de 2006 para 70% em 2008. A previsão da Casa Branca é que a dívida pública atinja 90% este ano e passe de 100% em 2011.

No Reino Unido, outro país que gastou muito com pacotes para o setor financeiro, a dívida pública aumentou de 43% do PIB, no final de 2008, para 56% em julho passado. Um instituto independente prevê que o índice chegue a 83% até 2012.CommoditiesO segundo fator, segundo Cañonero, é que os países emergentes são grandes produtores de commodities, vistas como investimentos seguros no longo prazo.

No começo da crise, o preço de muitas commodities caiu drasticamente, afetando também grandes exportadores como o Brasil.No entanto, alguns preços já voltaram a subir. De dezembro até junho, o preço da soja subiu 60%. Segundo a Economist Intelligence Unit (EIU), o preço geral das commodities comercializadas pelo Brasil está crescendo no segundo semestre deste ano, graças à China, que está aumentando suas importações."Países emergentes são vistos como produtores de commodities e com baixo nível de endividamento, em um mundo em que os países ricos estão aumentando suas dívidas exponencialmente. Também são associados a contas externas saudáveis, com altos níveis de investimentos diretos estrangeiros", diz o analista do Deutsche Bank.

Além das commodities e do baixo endividamento, a Economist Intelligence Unit, que, recentemente revisou de 2,7% para 3,3% o crescimento do Brasil em 2010, aponta um terceiro fator: o sólido sistema financeiro brasileiro."O sistema financeiro [brasileiro] é muito mais dominado por capital brasileiro do que por capital estrangeiro, e isso se provou uma vantagem já que sistemas dominados por bancos estrangeiros estão diminuindo severamente", diz Justine Thody, diretora regional de América Latina da consultoria.Perigos para o BrasilPara o professor de Relações Internacionais Andrew Hurrell, especialista em Brasil da universidade britânica de Oxford, a crise econômica criou desafios e oportunidades para que o país aumente sua participação nos centros de decisão do poder."Recentes análises do papel do Brasil no mundo são cada vez mais otimistas - e com bom motivo. O Brasil de fato estabeleceu-se como um 'player' importante e influente na política mundial", escreveu o professor em um recente artigo sobre o papel do país no mundo.

No entanto, ele alerta que uma recuperação muito acelerada da economia mundial diante da crise poderia prejudicar as ambições brasileiras, já que os países ricos poderiam voltar à normalidade, sem promover reformas que ampliem a voz de países emergentes nos centros internacionais de decisão."O Brasil seria prejudicado no caso de a economia mundial não conseguir se recuperar. Mas suas opções também seriam restringidas em um cenário no qual as principais economias se recuperassem sem uma reforma séria. Em um cenário assim, as ortodoxias liberais de mercado se manteriam dominantes", escreve o professor."Depois de uma corrente inicial de pedidos por regulamentações mais profundas e firmes, já há sinais de uma atitude de 'volta à normalidade' tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido."Justine Thody, da EIU, também alerta para o fato de que mesmo tendo se fortalecido diante da crise em relação aos demais países, o Brasil ainda não é um "grande tigre".

"O Brasil ainda tem problemas enormes em várias áreas, como terrível infra-estrutura, um enrolado sistema tributário que não é atraente para investidores, baixos níveis de educação dos trabalhadores em geral - apesar de alguns bolsões de excelência - e serviços públicos muito pobres."

domingo, 6 de setembro de 2009

A MAIOR COMPRA BÉLICA DA HISTÓRIA BRASILEIRA




"Temos que proteger o pré-sal e, para isso, é preciso pensar grande", afirmou o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Na noite da quinta-feira 3, o ministro estava eufórico. Havia concluído uma etapa crucial no processo de reaparelhamento das Forças Armadas. Com autorização do Senado, o Brasil investirá R$ 20 bilhões na compra de cinco submarinos franceses, incluindo um nuclear. Além disso, Jobim está prestes a fechar mais um acordo militar, de R$ 5 bilhões, para a compra de helicópteros.
A reportagem é de Denize Bacoccina, Gustavo Gantois e Leonardo Attuch e publicada pela IstoÉDinheiro, 09-09-2009.
"É o momento mais importante da Marinha nos últimos 30 anos", reforca o contra-almirante Wellington Liberatti, que comanda o programa naval. Agora, o Brasil poderá concluir o projeto do seu submarino nuclear, numa decisão que terá repercussões tecnológicas e geopolíticas.
No Sete de Setembro, ao lado do francês Nicolas Sarkozy, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará clara a ambição brasileira de ganhar peso político em organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU. E falará ainda da necessidade de proteção do pré-sal, que ele define como uma "segunda independência".
O dinheiro dos submarinos, que faz parte do Programa Nacional de Defesa, um dos carros-chefes da gestão de Jobim, virá de um financiamento de E 5 bilhões. Foi aprovado na semana passada, com prazo de 20 anos, e será liderado pelo BNP Paribas.
Com os recursos, o Brasil será o sexto país do mundo com um submarino a propulsão nuclear, depois de Estados Unidos, França, Inglaterra, Rússia e China. Ele deverá ficar pronto em 2014 e será construído numa nova base naval, na cidade de Itaguaí, no Rio de Janeiro, que deverá empregar cerca de cinco mil pessoas.
A vantagem de um submarino nuclear, na comparação com os convencionais, é a possibilidade de ficar submerso por muito mais tempo, em águas ultraprofundas, sem ser captado por sonares ou imagens de satélite.
E o brasileiro entrará em operação no mesmo momento em que o petróleo do pré-sal estará sendo extraído a pleno vapor, de acordo com as estimativas da Petrobras. "Mais de 90% do petróleo brasileiro vem do mar. Se não formos capazes de guardar isso, estaremos suscetíveis a todo tipo de ataques, como piratas e até mesmo terroristas", afirma o capitão de mar e guerra Emílson Paiva de Faria, assessor de Estratégia da Marinha.
Além disso, o Brasil está prestes a expandir suas fronteiras navais, com autorização da ONU, em áreas onde há também reservas comprovadas de petróleo - elas passarão de 3,5 milhões para 4,5 milhões de quilômetros quadrados. O processo de compra dos submarinos enfrentou a resistência de concorrentes alemães, que chegaram a apresentar uma proposta mais barata na última hora.
Só que com um detalhe: ao contrário dos franceses, os alemães não operam submarinos nucleares e não haviam previsto, na fase inicial, a construção de uma base naval no Brasil. "Foi choro de perdedor", disse Jobim, a respeito da posição alemã. Americanos e ingleses, por sua vez, são proibidos por lei de ceder a outros países a inteligência da área bélica.
A Rússia vende apenas o equipamento, enquanto o submarino chinês encontra-se em fase de teste. Restou a França, cuja empresa naval, a DCNS, concordou com a instalação da base naval no Brasil, que será feita em parceria com a Odebrecht.
No projeto nuclear, o grande desafio de engenharia é a construção de um casco duplo, capaz de receber, sem riscos, a propulsão nuclear. O reator, cuja tecnologia o Brasil já domina, é desenvolvido desde 1979 no Centro de Aramar, em Iperó, no interior de São Paulo. Além de modernizar as Forças Armadas, os cinco novos submarinos trarão ainda um benefício de longo prazo para a economia brasileira.
As tecnologias bélicas poderão ser apropriadas pela indústria nacional e utilizadas também na área civil. Muitas coisas que hoje fazem parte do dia a dia surgiram como uso militar. É o caso dos radares, GPS, laser, internet e até micro-ondas. Na produção dos submarinos serão desenvolvidas, por exemplo, bombas hidráulicas de alta pressão que poderão ser empregadas na indústria petrolífera, nas plataformas marítimas.
O conjunto de baterias, com orçamento de US$ 7 milhões, será produzido por um fornecedor brasileiro. Além do contrato milionário, a indústria que conseguir a encomenda terá desenvolvido tecnologia que poderá ser útil em outros projetos. "O cerne deste contrato com a França é a transferência de tecnologia", diz o contra-almirante Wellington Liberatti
O contrato dos submarinos representa ainda uma guinada de 180 graus na situação financeira da Marinha. O orçamento da área naval nunca foi muito abastado, mas em 2002 chegou ao ponto mais crítico, com um gasto de R$ 788 milhões e apenas R$ 46 milhões de investimentos.
"Agora, teremos de investir, no mínimo, R$ 5 bilhões por ano pelos próximos 20 anos", disse à DINHEIRO o comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto. "Esse plano não vai resolver todos os problemas militares de uma só vez, mas se o governo investir o que propõe, vai certamente colocar o nome do Brasil em outro patamar na região", diz o estrategista militar Geraldo Cavagnari, fundador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp.
O acordo Brasil-França serve aos interesses brasileiros de se projetar como potência regional e ser um importante ator global. Os cinco países que já têm submarino com propulsão nuclear são justamente os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Além disso, no caso da Marinha, o Brasil tem interesses bem práticos a proteger na região do petróleo. No modelo montado por Jobim, naviospatrulha ficariam mais perto da costa. No limite do pré-sal, naviosescolta e os porta-aviões. Fechando a estratégia, os submarinos fariam o monitoramento da região.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

CRISE MUDOU MAPA DA GLOBALIZAÇÃO !

Os fluxos de investimentos mudaram de direção, a China se transformou no maior exportador do planeta e organizações consideradas como pilares das decisões internacionais hoje são questionadas e até substituídas. Em 12 meses, a crise acelerou processos de profunda mudança na geografia da globalização e uma incipiente nova relação de poder entre países.
A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 30-08-2009.
No campo comercial, a maior novidade foi a transformação da China na maior exportadora do mundo. Por uma margem mínima, superou a Alemanha, que liderava desde 2003. A China exportou US$ 521,7 bilhões em seis meses, ante US$ 521,6 bilhões da Alemanha. Os americanos estão na terceira colocação.
A China já vinha subindo no ranking mundial. Mas a crise na Europa acelerou sua nova posição. Em 2002, a China era a quinta maior exportadora, com vendas anuais de US$ 325 bilhões, US$ 200 bilhões abaixo do que o país vendeu apenas nos últimos seis meses. Em 1997, a China era apenas a 16ª maior exportadora, com US$ 24,5 bilhões em vendas.
Nos últimos anos, dezenas de medidas foram adotadas contra os produtos chineses, que são hoje os mais afetados por medidas restritivas. Uma delas foi adotada pelo Brasil no início do ano para barrar a entrada de produtos siderúrgicos.
A crise ainda redesenhou o mapa dos principais destinos das exportações de vários países, inclusive o do Brasil. Neste ano, a China superou os EUA como o principal comprador de bens brasileiros. Além disso, passou a ser o maior fornecedor de produtos à Europa, acabando com 50 anos de relação comercial privilegiada entre europeus e americanos.
Em junho, as importações americanas estavam 34,5% abaixo dos níveis de junho de 2008. No ano passado, os Estados Unidos foram os maiores importadores do planeta, consumindo mais de 12% de tudo o que o mundo exporta.
No setor de investimentos, a crise também mudou a estratégia de multinacionais e coloca os países emergentes no centro da internacionalização. Levantamento com mais de 240 multinacionais elaborado pela ONU deixou claro que não há um risco de "desglobalização" da produção. O processo de internacionalização será retomado, mesmo mais lentamente. E será direcionado de forma cada vez mais clara aos emergentes.
A pesquisa mostrou que as multinacionais continuarão a investir no exterior para a internacionalização de suas vendas, produção e compra de ativos. Tanto em países emergentes como nos ricos, o levantamento indica que a crise está dando um incentivo extra para as empresas buscarem novos mercados, além de novos locais de produção para reduzir custos.
A tendência de uma maior atenção aos emergentes já vinha ocorrendo nos últimos dez anos. Em 1998, os países em desenvolvimento tinham 8% dos fluxos de investimentos, ante 13% em 2007. A tendência é de que a taxa aumente até 2011.
A preferência será pela Ásia, pelo tamanho do mercado e acesso a trabalhadores mais baratos. Cinco dos 15 maiores destinos de investimentos estarão na Ásia até 2011. Os países que formam o Bric - Brasil, Rússia, Índia e China - ocupam agora quatro dos cinco primeiros lugares preferidos para investimentos até 2011 e dividem as preferências com os americanos.
Em termos gerais, porém, o mundo ainda verá uma queda de investimentos em 2009 de cerca de 50%, ante 2008. Os mais afetados serão os países ricos, com redução de 60%. Mas os emergentes mostrarão certa resistência, com queda de apenas 25%. Em 2008, o mundo já sofreu queda de 15% nos investimentos, depois de atingir recorde de US$ 1,9 trilhão em 2007.
Outro sinal de mudança no mapa da globalização é a iniciativa de alguns países de reduzir sua dependência em relação ao dólar e acelerar a compra de papéis emitidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). A decisão de Brasil, China e Rússia de se tornarem credores do FMI promove uma pequena revolução no mercado. Parte da estratégia dos emergentes é mostrar que têm como ser credores e, portanto, têm direito a uma maior voz em entidades como o FMI e o Banco Mundial.
O debate sobre os grupos e instituições financeiras ainda deixa alguns na defensiva. É o caso de Angel Gurría, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países ricos e por anos tentou atrair os emergentes. Para Gurría, o mundo passará a viver em nova relação entre instituições e diferentes grupos de países, como o G-8 ou o G-20. "Cada grupo precisa de seu espaço. Hoje, o mundo é das redes, do network. E assim é que podemos imaginar uma nova configuração de países."