domingo, 27 de setembro de 2009

NO MEIO DO CAMINHO HAVIA UMA... PERERECA...!

Ela tem dois centímetros. Mas está na frente de gigantescos tratores, caminhões e escavadeiras usados na construção do Arco Metropolitano. E quem ousa passar por cima dela? A maior obra pública em andamento no Rio — 77 quilômetros de pistas que ligarão Itaboraí ao Porto de Itaguaí —, orçada em R$ 1 bilhão, parou pela força da pequena Physalaemus soaresi.
A reportagem é de Dimmi Amora e Ana Claudia Guimarães e publicada pelo jornal O Globo, 26-09-2009.
Trata-se de uma perereca rara e ameaçada de extinção, que não tem nome popular. Ou melhor, não tinha: os operários da obra já a apelidaram de Norminha, a personagem poligâmica da última novela da oito.
A soaresi vive numa área de 4,9 milhões de metros quadrados da Floresta Nacional Mário Xavier (Flonamax), em Seropédica, entre a Rodovia Presidente Dutra e a antiga Rio-São Paulo.
Desde sua identificação em 1965 naquela área, jamais foi localizada em outro lugar do planeta. O arco vai passar no meio da floresta — que perdeu a vegetação original —, ocupando 80 mil metros quadrados (1,6% do total).
Em fase de reprodução, bicho não pode ser removido
Esta semana, a Secretaria estadual de Obras, responsável pelo arco, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal, foi informada sobre a espécie pelos administradores da Flonamax e aceitaram interromper a obra.
Técnicos da secretaria estudavam retirar a perereca e adaptála a outro local. Mas um estudo mostrou que o animal está na fase de reprodução, num período chamado “canto nupcial”.
Essa fase vai até fevereiro. Era o prazo inicial para o encerramento das obras. Mas, de acordo com o vice-governador e secretário de Obras, Luiz Fernando Pezão, até agora apenas 6% do cronograma foi cumprido.
Desde o anúncio da construção do arco, em novembro de 2006, vários problemas o atrasaram:
— É preciso ter muita persistência. Mas estou confiante de que vamos concluí-lo até 2010.
Segundo Vicente Loureiro, subsecretário de Obras, as licenças ambientais foram dadas com várias restrições e compensações que vão custar pelo menos R$ 30 milhões. Mesmo após as licenças, os entraves persistiram. Foram encontrados 23 sítios arqueológicos e, em cada um deles, era necessário interromper a construção. Na Flonamax, já tinha havido um problema.
Após ser concedida a licença para cortar as árvores nos pontos por onde passará a pista, o trabalho foi paralisado. Isso porque a lei manda que seja medida a espessura de cada árvore.
As de até 15 centímetros de diâmetro são cortadas de uma forma; as maiores, de outro.
Para evitar que a obra continue interrompida, a secretaria proporá um isolamento, com placas de ferro, da área da obra.
Segundo Marcelo Marcelino, diretor de Conservação do Instituto Chico Mendes — órgão do governo federal responsável pela Flonamax —, os estudo vão chegar na semana que vem ao órgão, que decidirá a melhor forma de preservar a espécie:
— É uma espécie em extinção, listada desde 2003. Temos que garantir sua conservação.

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