domingo, 20 de setembro de 2009

A CORRIDA ARMAMENTISTA NA AMÉRICA DO SUL...

DEPOIS DO BRASIL... AGORA É A VEZ DA VENEZUELA...
O recente anúncio do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, da compra de dez sistemas de mísseis russos deverá tumultuar a reunião de chanceleres e ministros de Defesa da União de Nações Sul-americanas (Unasul), que começa hoje no Equador. No encontro prévio de vice-ministros, ontem, a iniciativa de Chávez foi interpretada como o início de uma "corrida armamentista" na região. No entanto, ao contrário da expectativa de Caracas, reforçou-se a posição da Colômbia de que não apenas seu acordo com os EUA deve estar sobre a mesa de debates da Unasul.
A reportagem é de Denise Chrispim Marin e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 15-09-2009.
"Para consolidar uma visão de confiança entre os países da América do Sul, não se pode mirar um único acordo, mas todos que, teoricamente, possam violar a soberania territorial dos vizinhos", afirmou a chefe da delegação da Colômbia, Clemencia Forero, ao ser questionada sobre o impacto do pacto Venezuela-Rússia. "Nós também não conhecemos esse acordo."
Na semana passada, praticamente às vésperas do encontro de ministros da Unasul, Chávez anunciou a compra de pelo menos dez unidades do sistema de defesa aérea S-300, da Rússia. Trata-se de um equipamento municiado por 300 mísseis capazes de atingir alvos a 27 mil metros de altitude e a 300 quilômetros de distância. A escolha do equipamento foi assinalada como uma resposta direta da Venezuela à ampliação da presença americana na Colômbia.
Recomendado pelos presidentes sul-americanos, que haviam se reunido em Bariloche no fim de agosto para tratar do tema, o encontro de ontem se deu sob um consenso verbal de que todos os acordos militares com países de fora da América do Sul devem ser objeto de debate pela Unasul. Até mesmo a Venezuela concordou com a iniciativa.
"Vamos colocar as cartas sobre a mesa", afirmou o embaixador da Venezuela na Colômbia, Gustavo Márquez. "O senhor tem um acordo com a Rússia? Está bem, ponha sobre a mesa. O senhor tem um com os EUA? Ponha sobre a mesa."
O desafio de hoje será dar um passo a mais no processo de distensão na América do Sul. Com exceção da Colômbia, todos os países da região não têm dúvidas de que as sete bases colombianas estarão sob gestão de militares americanos e poderão ser usadas, em tese, em missões contra vizinhos em nome do combate ao tráfico de armas e de drogas. Tampouco há dúvidas de que as instalações podem se tornar uma ponte para o transporte aéreo de tropas e armas para outras regiões, como a África. A exigência de garantias de que esses movimentos não se darão continua como principal ponto dessas negociações.
Duas das propostas debatidas ontem - a criação de um código de conduta para a compra de armas, apresentada pelo Equador, e o compromisso de que forças estrangeiras presentes em um país não avançarão no território de seus vizinhos, da Argentina - preveem a adoção de mecanismos de verificação e inspeção ainda não detalhados.
Segundo o vice-ministro da Defesa da Argentina, Alfredo Forti, a verificação seria o principal elemento de garantia a ser oferecido pelos Estados. Desconfortável com a proposta equatoriana, a colombiana Forero afirmou que a criação do código de conduta deveria ser o resultado de um processo de negociação, não o seu começo. "Confiança se constrói, não se impõe."
Sensíveis, essas propostas devem ser destrinchadas hoje pelos ministros. Os representantes devem ainda se debruçar sobre a proposta do Peru de harmonizar indicadores de gastos militares. A medida permitiria a países ter uma noção mais clara dos dispêndios regionais. O Brasil sugeriu a adoção de uma norma que obrigue os sócios da Unasul a notificar todos os seus acordos na área de Defesa com países de fora da região e a divulgar seus gastos militares e as compras de armamentos.

O Departamento de Estado americano expressou preocupação sobre a compra de armas anunciada pela Venezuela, alegando que o incremento do arsenal bélico do país representa um grave desafio à estabilidade na América Latina.
A reportagem é da BBC Brasil, 14-09-2009.
No domingo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou que a Rússia concordou em emprestar mais de US$ 2 bilhões para a Venezuela para a compra de armas. O crédito será usado para compra de 92 tanques e um sistema de lançamento de foguetes S-300 da Rússia.
Segundo um porta-voz do Departamento de Estado, Ian Kelly, as compras de armas efetivadas pela Venezuela e a intenção de compra manifestada pelo país superam todos os outros países na América do Sul. Kelly disse ainda que o governo venezuelano deve ser transparente sobre suas intenções e expressou preocupação sobre a possível transferência de armas para o que chamou de organizações “irregulares” ou “ilegais”.
"Exigimos que a Venezuela seja transparente em suas compras, e muito clara em relação ao objetivo dessas compras. E também queremos que estabeleçam procedimentos e salvaguardas muito claras para que essas armas não sejam desviadas para nenhuma organização irregular ou ilegal", afirmou.
Tensão
O acordo para compra de armas entre Venezuela e Rússia foi assinado em meio a tensões entre a Venezuela e a Colômbia, depois que o governo colombiano anunciou um acordo com os Eatados Unidos para a utilização de bases militares em seu território. A Colômbia afirma que as forças americanas vão ajudar na guerra contra drogas e guerrilhas esquerdistas, e não vão desestabilizar a região.
Chávez sugeriu que a decisão colombiana é uma ameaça à segurança venezuelana e que a compra de armas dificultará um eventual ataque ao seu país. "Com estes foguetes, ficará muito difícil para que eles [os Estados Unidos] venham e nos bombardeiem. Se isso acontecer, eles deveriam saber que nós vamos instalar em breve estes sistemas", disse.
"A Venezuela não tem planos para invadir ninguém ou atacar ninguém. Estas armas são necessárias para a nossa defesa nacional.
O Brasil também está modernizando suas Forças Armadas e deve fechar em breve um acordo de compra de jatos com a França. A licitação ainda não acabou e o governo deve aprofundar a negociação com outros dois países – Suécia e Estados Unidos. Os anúncios dos países latino-americanos contribuem para um aumento do temor de uma corrida armamentista na região.
Os EUA já expressaram preocupação sobre o aumento das tensões na região e a crescente influência da Rússia, Irã e China na América Latina.

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