quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

AGORA SIM : ÁRTICO E ANTÁRTIDA ESTÃO DERRETENDO !

SEMPRE CONVERSO COM MEUS ALUNOS E DIGO A ELES, QUE O AQUECIMENTO GLOBAL É UMA REALIDADE, NÃO MAIS FICÇÃO CIENTÍFICA, MAS FATO QUE ESTÁ DEIXANDO NOSSO PLANETA EM TURBULÊNCIA CLIMÁTICA GLOBAL.
VEJA A NOTÍCIA ABAIXO:

Ano Polar confirma degelo no Ártico e na Antártida. Agora é oficial: o Ártico e a Antártida estão esquentando mais rápido do que se imaginava e seus mantos de gelo, especialmente o da Groenlândia, estão derretendo sob influência do aquecimento global. As conclusões são do maior esforço de pesquisa já feito sobre as regiões polares, que envolveu mais de 10 mil cientistas de 60 países, incluindo o Brasil.

A reportagem é do jornal Folha de S.Paulo, 26-02-2009.
Um relatório preliminar divulgado ontem em Genebra, que encerrou esse esforço de pesquisa, o 4º Ano Polar Internacional, afirma que "parece certo agora que tanto o manto de gelo da Groenlândia quanto o da Antártida estão perdendo massa e portanto aumentando o nível do mar, e que a taxa de perda de gelo na Groenlândia está crescendo".
O degelo acelerado dos polos é uma das maiores incertezas nos modelos do aquecimento global. Se derretidos, o oeste da Antártida e a Groenlândia elevariam o nível do mar em vários metros, o que seria desastroso para a humanidade.
No entanto, como o comportamento das geleiras antárticas e árticas é muito complexo, até agora tem sido impossível estimar a contribuição total do degelo polar para o nível do mar no futuro (no leste da Antártida, por exemplo, o gelo parece estar aumentando).
Essa questão ficou sem resposta no último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), o comitê de climatologistas da ONU, que previu uma elevação de "modestos" 59 cm no nível global dos oceanos até o fim deste século.
Responder se os polos estão ou não perdendo gelo era um dos principais objetivos do Ano Polar Internacional, que começou em 2007 e termina em março. Num esforço de cooperação internacional sem precedentes e com US$ 1,5 bilhão de financiamento, cientistas usaram técnicas como medições por satélite de mudanças na elevação e nos campos gravitacionais dos mantos de gelo.
O resultado não é a última palavra sobre o assunto, mas as pesquisas feitas durante o Ano Polar indicam um balanço de massa negativo, ou seja, mais gelo é perdido do que o que se acumula por precipitação de neve. "Acho que os especialistas discordariam de um cenário de derretimento repentino, instantâneo ou catastrófico", disse à Folha David Carlson, coordenador científico do Ano Polar Internacional.
"Mas acredito que eles dirão que observam uma aceleração do degelo, de forma que poderíamos observar efeitos substantivos no nível do mar em várias décadas ou um século, em vez de vários séculos." Dados obtidos por navios oceanográficos na Antártida, boias equipadas com termômetros e até mesmo elefantes-marinhos com instrumentos amarrados na cabeça mostram que o oceano Austral está esquentando mais depressa que o restante dos oceanos do planeta.
Segundo o relatório divulgado ontem, há sinais de que o aquecimento global está afetando a Antártida de maneiras "insuspeitada". Ian Allison, um dos coordenadores do Ano Polar Internacional, disse que a primeira região a sentir o efeito das mudanças na Antártida será a América do Sul.

A ESTATIZAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO : OPÇÃO À CRISE !

ESTATIZAR O SISTEMA FINANCEIRO, PARECE SER UMA ALTERNATIVA PARA A CRISE FINANCEIRA GLOBAL: O PROBLEMA, É QUEM VAI PAGAR A CONTA DE TUDO ISSO ?

Crise legitima comando do Estado sobre sistema financeiro

“Tanto o governo FHC quanto o de Lula fizeram acordo com os bancos”, afirma Fernando Ferrari, presidente da Associação Keynesiana Brasileira. “É dos bancos, não da sociedade o controle do BC”, diz ele. “Ao mesmo tempo, criou-se uma burocracia monetarista impermeável às exigências do desenvolvimento” emenda o economista gaúcho em conversa com Carta Maior, 25-02-2009,


Refundar a governança econômica para além da ruína financeira global - é disso que se trata hoje - requer marcos históricos distintos dos cercamentos ideológico que até agora delimitavam as tímidas diferenças entre projetos de desenvolvimento. O elo comum entre eles, assim como entre 29 e 2009, segundo o economista Fernando Ferrari, presidente da Associação Keynesiana Brasileira, era a subordinação política à agenda da auto-regulação dos mercados. Seu fracasso coloca na ordem do dia o comando permanente do Estado sobre o sistema financeiro.

Eis o diálogo.
Talvez o elo mais importante entre a crise atual e a de 29 esteja no seu DNA político, não no leque de dinâmicas e desdobramentos específicos a cada época. Ao contrário de trazer algum conforto, esse diagnóstico pode ser tão devastador para os oráculos do Estado mínimo – e para governantes que mal ou bem ainda se movem nos limites dessa ideologia - quanto a derrocada financeira em marcha.
Um a um, todos os principais ícones financeiros erguidos pelo livre mercado americano e europeu no pós-guerra tombam ou balançam perigosamente. Como um imenso João-bobo, eles já não conseguem mais ancorar a ordem mundial, tampouco oferecer um horizonte de previsibilidade ao cálculo econômico, sequer esboçar uma esperança de futuro à sociedade.
Citigroup, Bank of America, Loyds Bank, Morgan. Uma vistosa coleção de grifes e logos em aço escovado, como manda o "bom gosto" dos money center banks – conjunto de grandes instituições que formam (?) o comando mundial das finanças e dos mercados - vai derretendo com rapidez que desconcerta. E desconcerta porque é a ideologia das classes dominantes que derrete bruscamente. Seu esfarelamento põe a nu a fraude de um liberalismo colegial repetido à exaustão por vulgarizadores na mídia nas últimas décadas.
”Quando foi que imaginamos que estaríamos um dia discutindo a estatização de bancos - americanos?” A pontuação perplexa ilustrou o estado de espírito da presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, em recente entrevista à TV de seu país. A mesma perplexidade explica por que Obama pedala eufemismos no ar, enquanto a insolvência bancária clama por um plano de estatização amplo e reordenador de toda a economia. O capital próprio de grandes instituições que o Tesouro ainda tenta preservar é inferior ao prejuízo que carregam com ativos podres. Um contador rude diria que elas valem menos do que devem; para ser mais exato: não valem nada. Os símbolos, porém, em muitos casos valem tanto quanto a força que representam na sociedade. A estatização de alguns money center banks consagraria a maior derrota ideológica do capitalismo no pós-guerra. É disso que Obama foge, como o diabo da cruz.
O elo comum a 29 e 2009 é a precedência de um ciclo político de hegemonia do livre mercado.
“A matriz comum às duas maiores crises do capitalismo – a de 29 e a atual - converge para o mesmo arrimo ideológico; nos dois casos o colapso foi antecedido de ciclos de confiança irrestrita na capacidade de auto-regulação dos mercados, com rejeição absoluta ao papel do Estado na construção da economia e da sociedade”.
A radiografia vem de um observador privilegiado do impasse financeiro, o economista gaúcho Fernando Ferrari; além de professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ferrari ocupa a presidência da Associação Keynesiana Brasileira, criada em abril do ano passado.
Antes do Carnaval – é preciso registrar o calendário quando os dias alcançam a densidade de anos - Ferrari conversou por telefone com Carta Maior.
Ao destacar o ventre único da ideologia liberal entre os dois acontecimentos, o economista keynesiano não oferece um diagnóstico acadêmico descomprometido de iniciativas urgentes. Ao contrário, o que ele aponta é o núcleo duro de uma inércia conservadora que, no seu entender, figura como principal obstáculo para um enfrentamento à altura da crise. Estados, governantes e partidos (mesmo os progressistas) que não vencerem esse Rubicão correm o risco de assumir uma atitude reflexa diante do colapso financeiro, encarcerando-se na mesma prisão conceitual que o gerou.
Refundar a governança econômica para além da hegemonia financista – é disso que se trata - requer marcos regulatórios que transcendem as salvaguardas de natureza ‘técnica’ dentro das quais Bush, Paulson e Bernank tentaram inicialmente equacionar o problema. Excedem, igualmente, o horizonte das perplexidades e hesitações ideológicas com as quase se debatem agora Obama, Merkel e Gordon Borwn, apenas para citar governantes ricos. E, afinal, extrapolem os mourões de um cercamento ideológico subitamente envelhecido que delimitava o ambiente convexo das tímidas diferenças entre projetos de desenvolvimento até agora.
Keynes prescrevia um regime duro de repressão estatal sobre o capital financeiro.
O fato é que diagnósticos e respostas formulados hoje vão condicionar os projetos em disputa no Brasil de 2010.
É nesse horizonte que a Associação Keynesiana Brasileira, presidida por Ferrari, adquire a relevância de um contraponto teórico e político ao crepúsculo de um arcabouço que trincou irremediavelmente. Keynes, é bom que se diga, não era um bolchevique. Tampouco o keynesianismo deve ser confundido com um socialismo acanhado. Mas o ecumênico professor de Cambridge, que fez fortuna no mercado e formava com a bailarina russa Lydia Lopokova um casal improvável, exceto para os que compartilhavam com eles a convivência no iconoclasta grupo de Bloomsbury, da Inglaterra dos anos 20 e 30, também não personificava o servidor obsequioso do capital.
Do ponto de vista filosófico, Keynes figurava como uma personalidade híbrida permeável às ambigüidades de seu tempo. Dois mundos cruzaram o mesmo espaço histórico no momento em que ele construía seu arcabouço de referências intelectuais: a velha ordem colonial em derretimento e o capitalismo monopolista em ascensão, com seu corolário financeiro hegemônico. Sem nunca ter sido um marxista, adepto dos valores liberais clássicos, Keynes identificou na fricção descontrolada entre essas massas de forças econômicas algo que mais uma vez se escancara nos dias de hoje: a impossível convivência entre valores compartilhados da civilização e a lei da selva do capitalismo ‘auto-regulável’, especialmente na sua esfera financeira.
É nesse sentido que a obra de Keynes ainda tem algo a dizer ao medo e aos impasses atuais. O autor de Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda prescrevia para o capital financeiro um regime duro de repressão estatal. Um requisito, no seu entender, para proteger os cidadãos, entre outros riscos, daquele associado ao que denominava como “obsessão mórbida pela liquidez”.
Nada do que façam ou já fizeram terá tanto impacto quanto as respostas dos governantes à crise.
A turbulência dos últimos meses ensina mais sobre a economia e o capitalismo do que bibliotecas inteiras da gororoba monetarista vendida pelos jornais nos últimos 30 anos. Nisso ela se presta como um show-room das barbáries permitidas em nome do livre mercado. A preferência mórbida pela liquidez, que desloca recursos econômicos da esfera produtiva para a especulação, é uma delas. Na ‘bonança’ recente, fundos hedge fixavam em 25% ao ano o retorno do capital parasitário induzindo assim a uma espiral de adesões urbi e orbe em diferentes versões ( downsinzing, reengenharia produtiva; privatizações; corte na ‘gastança social’; extinção de direitos trabalhistas; demonização da esquerda e dos sindicatos etc etc etc)
Na reversão pânica do ciclo o mundo sufoca enquanto a auto-regulação expele golfadas de descontrole e demissões em massa. Substituir imperativamente os pólos desse pêndulo é um requisito para seccionar os canais de transmissão que originam e realimentam a dinâmica da entropia.
Essa é a tarefa mais importante dos governantes nesse momento, na opinião do economista Fernando Ferrari.
Nada do que façam ou já fizeram terá tanto impacto quanto as respostas que derem a esse desafio. A depender do que venham a decidir passarão para a História como estadistas – caso de Roosevelt, nos anos 30; ou como poeira da humanidade, caso de seu antecessor, Herbert Hoover que manteve fidelidade ao livre mercado quando este se dissolvia arrastando para o fundo toda sociedade.
Se o pânico continuar a dividir o comando da economia com a inércia, predominará a espiral declinante descrita com propriedade por um insuspeito ex-ministro da ditadura: “as fábricas não produzem, os consumidores não compram, os bancos não emprestam. É a deriva.
Há nuances porém que escapam por entre a neblina de um aparente consenso em torno da crise. A natureza e o calendário da intervenção estatal sobre o sistema financeiro é uma delas. “Há o keynesianismo cínico”, adverte Ferrari em relação aos que hoje abrem reuniões de fundos especulativos com o mantra: somos todos keynesianos. “E há um diagnóstico e uma prescrição abrangentes que inclui o controle do sistema financeiro pelo Estado. Esse é o keynesiansimo que nunca vai ao ar nas TVs, nem frequenta as manchetes dos jornais”, diz ele,
A principal diferença é que o primeiro avalia o colapso atual como um tropeço fora da curva na longa marcha para liberação dos mercados e do capital. “Na base do pensamento de Keynes”, contrapõe Ferrari, “está a idéia de que o capitalismo é intrinsecamente instável; ele conduz a crises periódicas devastadoras, razão pela qual é imprescindível a coordenação pública da economia. Esse deve ser um traço permanente da sociedade; não uma bóia para as horas de aperto”.
Brasil tem a segunda maior representação do mundo em congressos keynesianos.
A crença de que os economistas neoliberais compõem a força-tarefa mais credenciada para conduzir o crescimento, ademais de formarem a filiação majoritária na vida acadêmica, é outra fraude midiática posta em xeque pela crise, segundo Ferrari.
“Pegue o Jornal Nacional”, desafia o presidente da Associação Keynesiana Brasileira. “Quando é que entrevistaram um economista que não fosse, de fato, adepto da supremacia dos mercados desregulados? ”, argüi para responder em seguida. “Vendeu-se e ainda se vende a versão de um consenso que não condiz com os interesses da sociedade, nem com o que se passa na academia”.
Segundo Ferrari, nos congressos keynesianos bianuais, por exemplo, realizados nos EUA, a segunda maior delegação do mundo, depois da anfitriã, é a dos economistas brasileiros. “Não se trata de uma referência numérica; nossas pesquisas e nossos teóricos são reconhecidos pela qualidade e a relevância política do que produzem”, defende.
A hegemonia ortodoxa alimentada pela mídia tem na máquina do Estado outra pata de apoio de garras afiadas.
O caso mais ilustrativo, de acordo com Ferrari, é o bunker estratégico e conceitual instalado no BC de Henrique Meirelles. “Como é que o país chegou a essa aberração autista”, observa, “de submeter a produção a uma taxa de juro que agrava a crise e contraria tudo o que se busca no resto do mundo?”
A maior evidência desse paradoxo pode ser pinçada em números fornecidos pelos próprios boletins do BC. Hoje, bancos e fundos de investimentos têm mais de R$ 340 bilhões aplicados em operações de curtíssimo prazo. São recursos ariscos, movidos pela lógica rentista, que poderiam assumir a forma de créditos de longo curso para gerar infra-estrutura, ampliar a oferta e multiplicar empregos.
O próprio Banco Central, porém, se oferece como válvula de escape a esse entesouramento especulativo. Antes da crise, o BC retirava da economia cerca de R$ 30 bilhões por dia vendendo títulos do Tesouro; hoje são R$ 100 bilhões por dia. Dinheiro remunerado a 12,75% sem ‘produzir um só botão”, como afirma o Presidente Lula, o que diz mais sobre a resistência para baixar a Selic do que toda a tinta ortodoxa gasta em defesa ‘das metas de inflação’.
Concurso para vagas no BC exige mestrado em usinas do pensamento neoliberal
“Isso acontece, em primeiro lugar, porque tanto o governo FHC quanto o de Lula fizeram acordo com os bancos”, dispara Ferrari. “É dos bancos, não da sociedade o controle do BC”, continua atirando. “Ao mesmo tempo, criou-se uma burocracia monetarista impermeável às exigências do desenvolvimento” emenda o economista gaúcho que não hesita em dar o caminho das pedras ortodoxas.
“Essa impermeabilidade é garantida por editais”, denuncia. “Os concursos para preenchimento de vagas no BC brasileiro exigem - pelo menos não tenho notícia de que isso tenha mudado - título de mestrado nos EUA. E não em quaisquer centro. O BC só aceita egressos das usinas de reprodução do pensamento neoliberal sediadas em Chicago, Princeton e Pensilvânia”, denuncia para alfinetar em seguida: “Não deixa de ser curioso que a mídia faça tanto escândalo quando o Ipea esboça critérios distintos em seus concursos; ela sempre guardou silêncio obsequioso diante da indução política imposta pelo BC”.
Embora critique de forma dura a política econômica do governo Lula, Ferrari distingue dois momentos num processo evolutivo: “antes e depois de Palocci, quando houve uma guinada”. Ao mesmo tempo, o presidente da Associação Keynesiana Brasileira lança um desafio e assume um compromisso público: “Darei o braço a torcer definitivamente quando o governo tiver a coragem de romper com a política de superávits primários. Essa esterilização de recursos, ao lado das taxas de juros, sabota a capacidade de resposta diante da crise”

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

CONSEQUÊNCIAS DA CRISE ECONÔMICA : AUMENTO DO ESCAMBO !

Esta é para voce perceber o que anda acontecendo no mundo e no Brasil, a respeito da Crise Econômica Mundial.
O velho e conhecido escambo ganhou forma comercial no Brasil há pouco tempo, mas vem recebendo fôlego extra com a crise financeira mundial. Empresas de diferentes setores e tamanhos procuram o mercado de trocas para aliviar sua capacidade ociosa e preservar caixa - palavras de ordem em tempos de escassez de capital. Segundo grupos que atuam nesse mercado, as transações por permutas devem crescer 30% este ano.

A reportagem é de Marianna Aragão e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 24-02-2009.

Criada há seis anos, a empresa especializada em trocas multilaterais Permute percebeu aumento na demanda de companhias a partir de novembro. Só em janeiro, 35 empresas aderiram à rede de negociações formada por 600 membros. Clientes antigos também intensificaram o ritmo de transações, que devem crescer 30% este ano, para R$ 11,7 milhões. "A preocupação dos empresários com o fluxo de caixa aumentou", diz a diretora Nádia Nunes.
Na Tradaq, filial da americana BarterTrust que chegou há oito anos ao País, o número de novos clientes dobrou nos últimos três meses ante o mesmo período do ano anterior. Para o diretor-comercial, Marco Del Giudice, o movimento ocorre porque as empresas querem - ou precisam - substituir despesas em dinheiro. "Muitas veem na troca a chance para desovar estoques ou diminuir capacidade ociosa." Com uma rede de cerca de 800 empresas, a Tradaq estima que movimentará R$ 30 milhões este ano, 30% a mais que em 2008.
No sistema de permutas, um hotel que tem baixo índice de ocupação pode "vender" diárias, exemplifica Del Giudice. Em troca, recebe créditos em uma moeda alternativa, com os quais pode comprar qualquer produto ou serviço disponibilizado por outras empresas da rede. "Quanto maior o número de companhias na rede, maior a liquidez." As intermediadoras ficam com uma comissão, que varia de 4% a 10% do valor do negócio. Algumas também cobram taxa anual da associada.
A rede de lojas de pisos e revestimentos Recesa, usuária do sistema há quase um ano, dobrou o número de trocas nos últimos meses. Segundo o diretor-comercial, Fábio Nishi, a medida foi uma maneira de se desfazer do estoque, que aumentou com a crise. "Consegui vender linhas de produtos que já dávamos como perdidas." Segundo ele, a quantidade de empresas dispostas a trocar mercadorias também cresceu, ampliando o leque de possíveis negócios.
A fabricante de bebidas GlobalBev, dona das marcas Flying Horse e Marathon, faz parte da rede de três empresas especializadas em permutas. "Antes, fazíamos permuta direta com nossos parceiros, mas os clubes ampliaram os negócios", diz a gerente Luciana Bruzzi. Há quatro anos neste mercado, a companhia movimentou R$ 1 milhão em trocas em 2008, valor que deve dobrar este ano.
Segundo Luciana, o sistema permite aumentar a margem de lucro nos produtos. Como a venda é feita a preço de mercado, a empresa absorve o ganho de uma das cadeias da indústria. "Pulamos um intermediário", explica Luciana. Além disso, as trocas acabam dando publicidade à companhia. "Nossos produtos aparecem em festas e eventos corporativos", observa.
Segundo a International Reciprocal Trade Association (IRTA), entidade sem fins lucrativos que promove a permuta no mundo, só nos Estados Unidos as trocas comerciais movimentam US$ 10 bilhões ao ano. Não há dados precisos sobre o setor no Brasil, onde atuam três grandes gerenciadoras de troca.
Uma delas, a Prorede, projeta crescimento de 50% para este ano. Em 2008, a empresa teve expansão de 25%. "Não atribuímos o crescimento maior à crise, mas ao fato de nosso negócio ser resistente a ela", diz o diretor Márcio Lerner.
Segundo ele, dezembro e janeiro foram os melhores meses da história da companhia, fundada em 2004. "Os empresários estão mais acessíveis e interessados em testar novas alternativas de negócio", comenta.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A "DITABRANDA" DO BRASIL: QUE HISTÓRIA É ESSA ?

Tem gente que gosta de escrever coisas que se parecem com a sensação de que não conhecemos a história: Houve o Holocausto, O Nazismo existiu, A DITADURA foi um período da história do Brasil, para ser esquecido, ou, melhor, para ser revisto, e fazer justiça...


Estas imagens acima e abaixo, retratam o que o Brasil nunca mais quer ver, e saber, mas que deve ficar em nossas mentes, afinal, devemos ser cidadãos de nossa história, se não cometeremos alguns deslizes infelizes...
Dizer que a Ditadura foi "Ditabranda", foi demais....
Em editorial publicado na última terça-feira (17/02), sobre a vitória do presidente venezuelano em referendo, a Folha de S. Paulo classificou o regime militar brasileiro - entre 1964 e 1985 - como uma “ditabranda”. De acordo com o jornal, esses governos autoritários “partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”.
A reportagem é de Sérgio Matsuura e publicada pelo portal Comunique-se, 19-02-2009.
O posicionamento do jornal foi duramente criticado pelo presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azêdo, que o considerou “lamentável”. Em sua opinião, a Folha, num só parágrafo, alinha uma série de “equívocos de caráter político e histórico”.
“Ao dizer que é uma ‘ditabranda’, o jornal esquece, por certo, das mortes ocorridas durante a ditadura. Esquece dos milhares que tiveram seus direitos políticos cassados, que tiveram que se exilar, sem contar os torturados nas masmorras da ditadura. É lamentável que se proceda a uma revisão histórica dessa natureza. O que era negativo passa a ser positivo, dando absolvição àqueles que violaram os direitos constitucionais e cometeram crimes, como o assassinato do jornalista Vladimir Herzog nos porões do Doi-Codi”, diz Azêdo.
O presidente da ABI lembra também que o direito ao habeas-corpus foi suspenso durante o regime militar: “Dizer que houve acesso à Justiça é uma falsidade de caráter histórico que deveria causar vergonha à Folha de S. Paulo”, diz.
O jornalista Milton Coelho da Graça, preso quatro vezes durante o período militar, também tece duras críticas ao editorial da Folha. Ele afirma que a empresa foi “subserviente à ditadura”, principalmente com a Folha da Tarde.
“Os jornalistas fazem muito bem ao não ficarem lembrando o passado dos jornais que se entregaram ao regime. A Folha comete um erro ao reabrir um debate que a ela não é útil. É bom saber que o jornal chama a ditadura de ‘ditabranda’. Será que a Argentina também foi ‘ditabranda’? Qual o limite para passar de ditadura para ‘ditabranda’?”, questiona.
Em resposta a uma carta de leitor publicada nesta quinta-feira, a Folha explica que na “comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional”.
Procurados, o diretor de redação da Folha, Otávio Frias Filho, e o ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva, não retornaram aos nossos telefonemas até o fechamento desta matéria.
E MAIS,....
Maria Vitória de Mesquita Benevides, professora da Faculdade de Educação da USP, e Fábio Konder Comparato, professor universitário aposentado e advogado, reagem ao editorial do jornal Folha de São Paulo que chamou a ditadura millitar brasileira de "ditabranda".
Maria Vitória Benevides, escreve, em carta enviada ao jornal e publicada hoje, no Painel do Leitor, 20-02-2009:"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda'? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala - que horror!"
Fábio Konder Comparato, escreve:
"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana."
E a redação do jornal Folha de S. Paulo, 20-02-2009, publica a seguinte nota:"Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa."

E VOCÊ, O QUE ACHA DE TUDO ISSO ?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O PIOR ESTÁ POR VIR ! ? O QUE PENSAR E FALAR ?

Ontem, expus análises de que o PIOR JÁ PASSOU, referente a Crise Econômica Mundial, hoje eu trago aqueles que acreditam que o PIOR ESTÁ POR VIR.
E aí, o que pensar e falar sobre ?

Pense, e exponha suas opiniões...

Diferentemente do que dizem empresários e governo, os economistas não acreditam que o pior da crise passou. Em encontro do Conselho de Planejamento Estratégico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), ontem, em São Paulo, Paulo Rabello de Castro (RC Consultores), Paulo Francini (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Carlos Thadeu de Freitas Gomes (ex-diretor do Banco Central) e Francisco da Silva Coelho (Ordem dos Economistas do Brasil) foram unânimes: o País ainda está longe do fundo do poço.
A reportagem é de Paula Pacheco e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-02-2009.
Um dos pontos nevrálgicos, acreditam, é o crédito. "O pior está só começando, o crédito precisa reaparecer. Sem ele, haverá inadimplência, sem liquidez, as empresas vão parar de pagar", alertou Francini.
O grupo defendeu que o BC acabe com o excesso de reservas bancárias, que reduz a oferta de crédito, por meio da redução gradual do compulsório sobre os depósitos à vista. "Esta é a oportunidade para que o BC faça uma reforma, libere os compulsórios e crie medidas de competição no setor bancário", sugeriu Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio.
Segundo André Rebelo, diretor da Fiesp, os dados oficiais do desemprego no Brasil mostram que a inadimplência, que até agora parece não preocupar, pode disparar. "O número de vagas fechadas no mercado de trabalho de novembro até agora deve chegar a cerca de 800 mil. O ritmo está muito rápido e logo vai bater na renda."
Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo,também está preocupado com a inadimplência. "Há defasagem na captação da inadimplência, que só deve aparecer nos próximos meses."

"Fácil imaginar como a economia brasileira estaria débil e à deriva se a trajetória privatista e de inserção externa subordinada aos interesses dos países ricos dos anos 90 não tivesse sido interrompida", escreve Marcio Pochmann, em artigo publicado no jornal Valor, 19-02-2009. Segundo ele, "percebe-se que o Estado reaparece como elemento central do enfrentamento à turbulência mundial, embora ainda desfalcado da perspectiva transformadora de oportunidades e desafios do Século XXI". Para ele, "o novo Estado precisa ser construído. Ele deve ser o meio necessário para o desenvolvimento do padrão civilizatório contemporâneo em conformidade com as favoráveis possibilidades do Século XXI".
Márcio Pochmann é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas.
Eis o artigo.
A crise mundial torna mais evidente o conjunto de equívocos que resulta da recente experiência neoliberal. Os países que mais longe avançaram o princípio da autorregulação das forças de mercado e da desregulamentação do Estado encontram-se entre os mais frágeis e vulneráveis no contexto atual de turbulências e incertezas globais.

Fácil imaginar como a economia brasileira estaria débil e à deriva se a trajetória privatista e de inserção externa subordinada aos interesses dos países ricos dos anos 90 não tivesse sido interrompida. Sem bancos públicos (BB, CEF, BNB e BNDES) e empresas estatais, como Petrobras e Eletrobrás, por exemplo, o Brasil não teria a mínima condição de responder imediata e positivamente à crise do crédito e do investimento privado. Países que se desfizeram de bancos e empresas públicas, como o caso argentino, convivem hoje com maiores dificuldades para enfrentar afirmativamente a crise. No Brasil, a fase da privatização implicou reduzir a participação dos bancos públicos de mais de 50% para quase um terço da disponibilidade total do crédito doméstico, enquanto a transferência para o setor privado de empresas estatais respondeu por 15% do PIB e pela destruição de mais de 500 mil postos de trabalho. Em valor, o processo de privatização brasileiro somente conseguiu ser inferior à experiência soviética, com parte significativa do setor produtivo estatal sendo capturado pelo capital estrangeiro.
Da mesma forma, a opção política pela diversificação comercial permite ao Brasil o reposicionamento no mundo com soberania, bem diferente das economias com exportações concentradas em poucos países, como parece indicar o México, com mais de 80% do comércio externo só com os EUA. A recessão nos países ricos contamina mais facilmente aquelas nações dependentes de suas trocas externas.
Para o Brasil, o peso dos países ricos no comércio externo encontra-se pouco acima de 40%, quando nos anos 90 era de mais de 67% do total. Estas constatações sobre o país em relação a outras nações descrevem resumidamente uma situação melhor, porém ainda insuficiente para indicar a necessária construção de novo caminho a ser percorrido. Isso porque se tem presente que o neoliberalismo cometeu o seu haraquiri, não tendo sido superado - até o momento - pelo estabelecimento de projeto econômico e social alternativo. As respostas à crise do capital globalizado podem até ser transformadas numa etapa de desenvolvimento do novo padrão civilizatório, mas ainda estão distante disso.
De maneira geral, percebe-se que o Estado reaparece como elemento central do enfrentamento à turbulência mundial, embora ainda desfalcado da perspectiva transformadora de oportunidades e desafios do Século XXI. A reprodução dos tradicionais traços do padrão de Estado dos últimos 100 anos indica tão-somente o aprofundamento da organização por funções setoriais (caixinhas), cada vez mais ineficientes, quando não concorrentes entre si e à margem do potencial das forças do mercado. Adiciona-se a isso o acúmulo das variadas ondas de "choques de gestão" internalizadas pela administração do Estado, que produziram tanto a regressão da capacidade e sistematicidade de grande parte das políticas como o esvaziamento da própria função pública. Por um lado, o corte do funcionalismo e de sua remuneração procedido pela internalização de métodos privados acirrou a competição na função pública e fortaleceu a autonomização setorializada e não convergente das políticas adotadas pelo conjunto do governo. Como na lógica privada, o todo deu lugar a partes, trazendo consigo a prevalência da visão e ação de curto-prazismo no interior da função pública.
O planejamento e o compromisso de longo prazo foram substituídos por uma sucessão irracional de programas e projetos pilotos que, alterados constantemente pelas autoridades de plantão, fizeram com que o Estado fosse abandonando o sentido estruturador do padrão civilizatório fora da emergência do curtíssimo prazo. Por outro lado, a estabilidade da esfera pública foi sendo contaminada pela lógica da eventualidade, amplamente acolhida pelo curso da terceirização das funções e da contratação de mão-de-obra. Assim, o Estado foi-se comprometendo com repasses crescentes de recursos a instituições - algumas nem sempre decentes (fundações, ONG's e cooperativas) - portadoras de flexibilidade para o exercício dos desvios da função pública. Assim, orçamentos e licitações tornaram-se, muitas vezes, o espaço privilegiado para manifestação da força dos interesses privados, negociatas e maior corrupção. Em síntese, a emergência da corrosão do caráter da função pública, posto que o tradicional funcionário de Estado, demarcado pelo profissionalismo e meritocracia, passou a dar lugar - em algumas vezes - ao comissionado e ao corpo estranho dos terceirizados.

O novo Estado precisa ser construído. Ele deve ser o meio necessário para o desenvolvimento do padrão civilizatório contemporâneo em conformidade com as favoráveis possibilidades do Século XXI. A sociedade pós-industrial, com ganhos espetaculares de produtividade imaterial e expectativa da vida ao redor dos 100 anos de idade, abre inédita e superior perspectiva civilizatória: educação para a vida toda, ingresso no mercado de trabalho depois de 25 anos, trabalho menos dependente da sobrevivência e mais associado à utilidade e criatividade sócio-coletiva. Para além das exigências do Século XX, que conformaram tanto o Novo Estado Industrial (J. Kenneth Galbraith) como o Bem-Estar Social (K. Gunnar Myrdal), encontra-se em curso novos e complexos desafios que exigem profunda reforma estatal.
Três grandes eixos estruturadores do novo Estado precisam ser perseguidos com clareza e efetividade. O primeiro diz respeito à constituição de novas institucionalidades na relação do Estado com o mercado. Alavancada pela experiência neoliberal, o mercado enfraqueceu as bases de promoção da competição, cada vez mais sufocadas pelo predomínio da monopolização expresso pelos vícios privados das grandes corporações transnacionais.
O esvaziamento da competição precisa ser rapidamente combatido com novas instituições portadoras de futuro, capazes de garantir a continuidade da inovação por meio da concorrência combinada com a cooperação entre empreendedores e da maior regulação das grandes corporações empresariais. O segundo grande eixo estruturador do novo Estado deve resultar da revolução na propriedade que impulsione uma relação mais transparente, democrática e justa com toda a sociedade. Neste caso, a ampliação do fundo público se faz necessária para sustentar o padrão civilizatório do Século XXI, a partir da tributação sobre o excedente adicional gerado por novas fontes de riqueza, que por serem intangíveis escapam crescentemente das anacrônicas bases arrecadatórias vigentes há mais de 200 anos.
Por fim, o terceiro eixo reside na profunda transformação do padrão de gestão pública. Políticas cada vez mais matriciais e intersetoriais pressupõem a organização do Estado em torno do enfrentamento de problemas estruturais e conjunturais. Noutras palavras, a meritocracia e o profissionalismo para conduzir ações públicas articuladas para lidar com problemas estruturais e políticas governamentais descentralizadas e compartilhadas com a sociedade e mercado para enfrentar diversos e específicos problemas conjunturais. Urge fazer do Estado do futuro o experimentalismo do presente. Muito mais do que anunciar as dificuldades da crise global, cabe ressaltar as oportunidades que dela derivam como a realização de uma profunda reforma do Estado que viabilize o alcance das condições pós-crise para sustentação do novo desenvolvimento ambiental, econômico e social.

A crise econômica parece marcar uma ruptura ideológica: tanto à direita como à esquerda, sente-se que o vento está para mudar. Um ciclo histórico estaria para se fechar, este do triunfo liberal. O campo dos possíveis parece se abrir. Mas para ir para onde?
O livro La Nouvelle Raison du monde. Essai sur la société néolibérale [A nova razão do mundo. Ensaio sobre a sociedade neoliberal] (La Découverte, 2009), de Pierre Dardot e Christian Laval, chama a atenção. Uma resenha foi feita por Serge Audier e publicada no jornal francês Le Monde, 13-02-2009.
A tradução é do Cepat.
Eis a resenha.
Uns parecem pensar que o parêntese “ultraliberal” se fecha e que o modelo econômico e social dos “Trinta Gloriosos” pode ser reativado; outros julgam que um novo tipo de sociedade está para ser inventado e que revolucionaria a nossa relação com o trabalho e a natureza; outros ainda, como o presidente Sarkozy, declaram que o “laisser-faire”, “acabou”, e que é preciso refundar o capitalismo. E que o Estado marcaria seu retorno.
Para compreender este debate, o livro de Christian Laval e Pierre Dardot sobre a “sociedade neoliberal” oferece algumas chaves de análise. Esta soma de pesquisas resgata a história das ideias, a filosofia e a sociologia, e se abre com esta advertência: “Nós não acabamos com o neoliberalismo”, e proclamar o fim do “laisser-faire” não significa o enterro do modelo neoliberal.
A tese pode parecer paradoxal, mas ela fica mais clara quando se elucida a verdadeira natureza do neoliberalismo. Recorrendo ao filósofo Michel Foucault, os autores afirmam que “o neoliberalismo pode ser definido como o conjunto de discursos, práticas, dispositivos, que determinam um novo governo dos homens segundo o princípio universal da concorrência”. Ora, acrescentam eles, realizar esse programa supõe um “Estado forte”, regras, e não o “laisser-faire”.
Para justificar esta tese, os autores voltam no tempo. Foi em 1938, no Colóquio Walter Lippmann – em referência ao grande jornalista norte-americano –, que se afirma o “neoliberalismo”. Economistas como Friedrich Hayek, Wilhelm Röpke ou Jacques Rueff, estariam de acordo, apesar de suas divergências, sobre um modelo neoliberal que quer romper mais ou menos com o “laisser-faire”. Assim, o neoliberalismo teria sido um projeto de reconstrução do liberalismo que concede às regras e à intervenção estatal um papel fundamental. O contexto tem muito a ver com isso: a Grande Depressão suscitou uma imensa crise do liberalismo. Os neoliberais não acreditam mais na auto-regulação espontânea do mercado.
Segundo Dardot e Laval, o neoliberalismo é um intervencionismo, mas de um gênero particular. Se se trata de “refundar o liberalismo contra a ideologia naturalista do laisser-faire”, é para fazer funcionar melhor o mercado: “Quando os próprios neoliberais admitem a necessidade de uma intervenção do Estado e rejeitam a pura passividade governamental, eles se opõem a toda ação que virá entravar o jogo da concorrência entre interesses privados”. A doutrina combinaria assim a reabilitação da intervenção pública e uma concepção de mercado centrada na concorrência.
Este seria o motor das políticas neoliberais, que transforma a organização das empresas, o papel dos Estados e a vida dos indivíduos, constrangidos a se comportarem como “empresas”. Sem dúvida, esse neoliberalismo varia segundo as concepções austríaca, americana e alemã. Mas o livro defende que o neoliberalismo constitui o quadro tanto do modelo anglo-americano como do modelo econômico europeu. Marcado pelo neoliberalismo alemão – o “ordo-liberalismo” –, a União Europeia seria, na sua essência, de orientação neoliberal.
Lógica da concorrência
Do Tratado de Roma até o Tratado Constitucional europeu, uma mesma lógica da concorrência estaria em ação. Aqui, os autores se aproximam do presidente de honra da Attac, Bernard Cassen, que defende que “é em torno do verme liberal que foi imaginado o fruto europeu”. Do mesmo modo, as alternâncias políticas não mudariam nada. Pior, desde Mitterrand até a “esquerda neoliberal” de Blair, os governos de esquerda teriam promovido, abertamente ou não, o neoliberalismo.
Compreendemos porque, segundo os autores, o neoliberalismo se torna a grande “razão do mundo”. Examinando a literatura do “management” e do “capital humano”, o livro afirma que “a estratégia neoliberal consistiu e consiste sempre em orientar sistematicamente a conduta dos indivíduos como se estivessem sempre e em todas as partes engajados em relações de transação e de concorrência no mercado”. As normas de ação pública são transformadas: ao preço de uma burocratização crescente, a auditoria, o controle e as incitações esvaziam o sentido dos diferentes ofícios, “desde os pesquisadores até os policiais, passando pelos enfermeiros e os carteiros”.
Este importante livro ajuda a decifrar algumas evoluções. Sua sistematicidade impressiona: sob a autoridade de Foucault, avança temas fortes e um modelo global de interpretação. Mas esta qualidade tem, às vezes, ao contrário, uma certa parcialidade na leitura dos textos e na análise sociológica e política. Pode-se lamentar o fato de que a interpretação de Foucault, que suscita um entusiasmo internacional, seja prolongada sem um verdadeiro balanço crítico. Além disso, o livro não perscruta muito os limites e as resistências que o neoliberalismo enfrenta.
Enfim, poderia explorar mais um tratado do neoliberalismo contemporâneo: seu caráter vertiginosamente desigual. A este respeito, o livro não permite medir a distância entre as ideias de alguns inspiradores do neoliberalismo e a realidade que se impôs. O próprio Walter Lippmann, que apelava ainda em 1937 ao seu amigo Keynes, julgava que era preciso acabar com as grandes heranças, e que as taxas sobre as heranças, assim como um imposto progressivo, deveriam atingir as grandes fortunas. Ele defendia, citando Aristóteles, que as grandes desigualdades também eram um problema político. O neoliberalismo “realmente existente” não terá seguido exatamente suas preconizações...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O PIOR JÁ PASSOU ? NASCE O MOVIMENTO ANTICAPITALISTA !

VAI UMA CAIPIRINHA AÍ ?
Sempre que estou lendo sobre a Crise Financeira Econômica Global, acabo por achar notícias diversas que ora explica a mesma, ora demonstram que está fadada ao caos, ou como esta que hoje publicarei.

Mas o mais interessante da postagem de hoje, está no nascimento de um movimento anticapitalista, que surgue na França.

Leia, e boas posições...


"O pior passeia pelo planeta. Não há lugar intocado pela crise. Leste Europeu quebra devagar e ameaça o "Oeste", escreve Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo pulicado no jornal Folha de S. Paulo, 18-02-2009. Segundo ele, "há cadáveres e zumbis bancários na sala de estar da finança mundial, e ninguém ainda sabe como remover os corpos ou fazer exorcismos. Alguns dos maiores bancos americanos e europeus estão quebrados. Enquanto não se der jeito nisso, não se começa a dar cabo da crise. Mas ainda não há plano para o conserto da finança americana, o plano britânico chegou a um impasse (não sabem se estatizam mais), o alemão mal foi esboçado"
Eis o artigo.
Quando a Islândia quebrou, a história circulou o mundo sob um tom de galhofa sinistra mesclado com a graça exótica da ilha gelada e vulcânica da cantora Björk. Mas a estrambótica falência da Disneylândia do liberalismo abilolado não machucou ninguém além dos poucos islandeses e de alguns ingleses que lá arriscavam dinheiro.
O afundamento dos "tigres bálticos" (Estônia, Letônia e Lituânia) e a iminente quebra da Irlanda, à beira de ir ao FMI, também pareciam acontecimentos periféricos. Serviam mais para suscitar a "Schadenfreude" dos inimigos do "neoliberalismo", que se divertiam com a desgraça do hiperliberal "tigre celta".
Ontem, um alerta das desacreditadas agências de classificação de risco sobre o Leste Europeu foi o piparote que levou os mercados do mundo ao chão. Mas o peteleco do risco do Leste Europeu é tão forte assim? Houve algo a mais no ar além de um raio no céu azul da Romênia?
A bem da verdade, o céu de Romênia e cia. nublou faz tempo. Mas quem liga para essas "economias de transição"? Suecos, belgas, austríacos, italianos, mas também franceses e alemães, têm interesses por lá ou são donos de alguns dos maiores bancos da região. Os ex-comunistas convertidos ao capitalismo a crédito se endividaram demais, têm déficits externos gigantes, suas exportações caem e suas moedas derretem com a fuga de capitais: ensaiam um repeteco da crise asiática de 1997-98.
A Moody's e a Standard & Poor's avisaram ontem que podem rebaixar a nota de bancos do "Oeste" europeu que têm subsidiárias no Leste. As duas agências não costumam dar notas muito certeiras em período de bonança, mas durante epidemias de peste financeira sabem como "declarar óbitos", quando não ajudam a dar cabo do doente. O risco de mais perdas e mortes bancárias levou os investidores a fugir do risco. Venderam ações, ativos de empresas e países mais periclitantes e compraram títulos do Tesouro americano, que subiram bem ontem. Venderam euros também.
Há mais, claro. A Rússia torra suas reservas, mas não consegue impedir a derrocada do rublo. Ontem teve de fechar sua Bolsa de novo, pois as ações batiam a cabeça no chão. A derrocada do PIB e das exportações do Japão e Alemanha não foi uma notícia que ficou apenas no calendário dos indicadores econômicos. Foi um alerta de coisa feia adiante.
De resto, há cadáveres e zumbis bancários na sala de estar da finança mundial, e ninguém ainda sabe como remover os corpos ou fazer exorcismos. Alguns dos maiores bancos americanos e europeus estão quebrados. Enquanto não se der jeito nisso, não se começa a dar cabo da crise. Mas ainda não há plano para o conserto da finança americana, o plano britânico chegou a um impasse (não sabem se estatizam mais), o alemão mal foi esboçado.
Enquanto isso, os custos do socorro de instituições financeiras e bancos, o já incorrido e o estimado, são tão grandes que até o "risco-país" de EUA, Alemanha e Japão (zero antes da crise) sobem "a níveis imagináveis", como observava Armínio Fraga em palestra ontem no Instituto FHC. Isto é, o rombo de crédito privado, mal e mal tapado pelos governos, está tornando a dívida desses países centrais mais suspeita.


Nasce, na Franca, o Novo Partido Anticapitalista
Novo partido reúne maioria da Liga Comunista Revolucionária (LCR), que aprovou sua própria dissolução para criar nova organização, além de militantes comunistas, socialistas e ecologistas. Segundo um dos principais líderes do NPA, as referências programáticas do novo partido são a ruptura com o capitalismo e a independência total em relação ao Partido Socialista francês. "Esquerda da esquerda" francesa acredita que já tem 15% de votos.
A reportagem é de Louis Weber, membro da Attac/Franca e secretário de redação da revista de sociologia Savoir/Agir e publicada pela Agência Carta Maior, 17-02-2009.
O Novo Partido Anticapitalista (NPA) teve seu congresso fundador com a presença de Olivier Besancenot entre 5 e 8 de fevereiro de 2009. Na véspera, a Liga Comunista Revolucionária (LCR) tinha votado sua dissolução, com 87% de votos, depois de quarenta anos de existência.
Mas não se trata de uma simples mudança de nome. O NPA não aderirá, por exemplo, à Quarta Internacional (trotskista). O partido pretende se enraizar especialmente dentre os jovens para quem a "base de adesão são aqueles a quem Sarkozy chama de "ralé" e que reconhecem Besancenot como a única personalidade de esquerda de verdade", como explica Alain Krivine, o líder histórico da LCR. A partir de agora, o NPA conta com 9000 adesões, quer dizer, três vezes mais que a LCR, que chegava a ter pouco mais de 3000 membros.
Para continuar a alargar sua base, o NPA quer "seguir o melhor das tradições do movimento dos trabalhadores, sejam elas trotskistas, socialistas, comunistas, libertárias, guevaristas, ou envolvidas na ecologia radical", como o afirma Olivier Besancenot. A referência identitária será portanto menos uma doutrina política que a "ruptura com o capitalismo" e a "independência total do Partido Socialista".
Essa última questão esteve no centro das preocupações da minoria "Unir", da LCR, que votou contra a sua dissolução, e para quem esta é a única maneira de expressar sua oposição à criação do NPA nas condições fixadas pela direção. Essa questão está também no centro das discussões das forças políticas que, no contexto francês, constituem a esquerda da esquerda, quer dizer, recusam qualquer acomodação com o liberalismo dominante na França e na Europa. De que isso se trata?
A esquerda da esquerda está longe de ser uma quantidade negligenciável no plano eleitoral: uma pesquisa recente acaba de mostrar que se ela apresentasse listas unidas nas próximas eleições para o Parlamento Europeu (em junho de 2009), podia esperar, mesmo antes de fazer campanha, algo como 15% dos votos. O Partido Comunista e o novo Partido de Esquerda fundado por Jean-Luc Mélenchon, que deixou o Partido Socialista na ocasião do recente congresso do partido em novembro de 2008, de agora em diante já decidiram constituir uma frente de esquerda para essas eleições.
A maioria dos grupos e coletivos que foram criados na batalha de 2005 para rejeitar o projeto do tratado constitucional europeu estão prontos a se juntar a essa Frente, cuja campanha será baseada na recusa absoluta da Europa liberal atual e na demanda por uma reorientação radical da construção européia. Mas as discussões com o NPA ainda não alcançaram e receiam um pouco a volta do cenário desastroso das eleições presidenciais de 2007, com pouco menos de seis candidatos reivindicando o antiliberalismo. Nenhum dentre eles obteve mais do que 4% dos votos.
Qual a dificuldade, agora? A nascente frente de esquerda não tem a intenção de fazer qualquer acordo com o Partido Socialista para as eleições européias. Mas "a independência total do Partido Socialista" defendida pelo NPA queria dizer que o Partido Comunista, por exemplo, renuncia às alianças que lhe permitem participar, com os socialistas e outros, da gestão da quase totalidade das regiões francesas e de numerosas prefeituras.
Esse tipo de aliança é recusada por diversas razões, mas notadamente porque o NPA não concebe suas ações políticas sem buscar exercer as responsabilidades políticas. O que nao é concebível, no contexto francês, sem aliança com os socialistas, que é o que o NPA recusa neste momento. Pureza revolucionária e recusa de pôr as "mãos na graxa" da gestão? Trata-se de se beneficiar da notável popularidade de Olivier Besancenot e de assim legitimar o NPA no plano político? Pretexto para se apresentar apenas às eleições européias, levando em conta as vantagens simbólicas e materiais que um mandato parlamentar europeu viabiliza? Posição de negociação com os outros componentes da esquerda da esquerda, antes de um acordo ou de uma posição de princípio durável? O futuro permitirá a resposta a essas questões.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

2009 ! ANO ATÍPICO !

Pelo menos duas grandes crises assustam as previsões para o decorrer deste ano - e, possivelmente, dos próximos também. Uma delas, já bastante difundida e prontamente socorrida pelos governos, diz respeito ao estado de incertezas que recobre a economia global.
A outra, a crise climática e ambiental, ainda parece, no entanto, coisa de um futuro distante - embora já esteja ocorrendo agora, e isso é posicionamento de muitos ambientalistas, ONG e até o urbanista Mike Davis.

A reportagem e a entrevista e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 15-02-2009.
Professor na Universidade da Califórnia, Davis lembra que "o clima está mudando mais rápido do que a capacidade de adaptação de plantas e animais". Cita como exemplos as nevascas que vêm atingindo a Inglaterra nas últimas semanas ou as alterações climáticas no sudoeste dos EUA, no norte do México e no leste da região banhada pelo mar Mediterrâneo, locais que têm se tornado mais secos e quentes.
Crítico das implicações ambientais do capitalismo, Davis é autor de obras como "Planeta Favela" (Boitempo) e "Cidades Mortas" (Record). Para ele, "a mudança climática ainda não assumiu um papel central na geração de um colapso econômico, embora tal conjuntura seja obviamente previsível". Ele aponta, por exemplo, que o aumento no preço dos grãos, em 2008, foi resultado, em parte, dos desastres climáticos dos últimos dez anos. Na entrevista abaixo, Davis defende que "as mudanças para salvar o planeta devem envolver a redistribução do poder econômico e a redefinição dos padrões de consumo em níveis sociais e globais".

Eis a entrevista.

Qual é a relação entre as mudanças climáticas das últimas décadas e a atual crise econômica?

Os desastres climáticos da última década quase destruíram a indústria global de seguradoras e contribuíram para a perigosa e recente inflação nos preços de grãos. Mas a mudança climática ainda não assumiu um papel central na geração de um colapso econômico, embora tal conjuntura seja previsível. Por outro lado, graças à crise e à campanha de Barack Obama, o "keynesianismo verde" emergiu como uma ideia poderosa que poderia reagrupar o movimento ambiental e os sindicatos em torno do investimento público no emprego, gerando investimentos públicos em infra-estrutura verde. Corporações lobistas, naturalmente, aceitam o slogan de que uma infra-estrutura verde está tão distante quanto a possibilidade de transformar uma política para indústrias de alta tecnologia e riscos capitalistas. Entretanto a simples introdução da ideia no discurso público é um progresso e oferece uma nova ligação entre verdes e trabalho.

O sr. acredita que o governo Obama irá tratar com mais responsabilidade que o governo George W. Bush os impactos da crise ambiental e climática?

Sim, e Obama não somente cooperará com a União Europeia e outros países que assinaram o Protocolo de Kyoto [tratado internacional que prevê a redução na emissão de gases poluentes na atmosfera], mas provavelmente abrirá um novo canal para negociações climáticas com os chineses. Contudo, é uma outra questão prever se as negociações produzirão resultados sérios. Os países europeus que tomaram a direção das negociações sobre o clima estão agora divididos internamente e indecisos, logo há expectativas fantasiosas - como sobre a economia e a capacidade de Obama de se tornar líder mundial. Mesmo nos EUA prometeu mais do que poderia, pois sua agenda de trabalho será moldada pelo Congresso. Além disso, ele comprometeu seu próprio programa ambiental ao demonstrar entusiasmo pelo "carvão limpo". Pois os carros elétricos terão pouco impacto na redução do aquecimento global se a eletricidade continuar a ser produzida com carvão.

Diante da crise ambiental, que novo clima está a caminho?

Estamos vivendo em uma nova Terra. No próximo século, o sistema climático global será governado por níveis de acumulação de gases sem precedentes nos últimos 3 milhões de anos. A maior retenção da energia solar conduzirá a mais eventos climáticos extremos; contudo, e mais importante, reorganizará padrões de chuvas regionais e temperaturas, com grandes implicações para a agricultura irrigada e a qualidade da água consumida nas cidades. O papel de massas polares marítimas, produtividade agrícola, poluição urbana etc. complicará enormemente a constituição de climas futuros. Mas duas tendências estão claras: o aquecimento acelerado das altas latitudes do hemisfério Norte, com o consequente derretimento do gelo marinho, e a dramática expansão de regiões semiáridas nas latitudes médias. De acordo com os estudos de ponta de Richard Seager e sua equipe no Lamont-Doherty (laboratório da Terra da Universidade Columbia, nos EUA), as condições climáticas no sudoeste americano, no norte do México e, possivelmente, no leste do Mediterrâneo já estão mudando, com estações mais quentes e mais secas. Em muitos casos, o clima está mudando mais rápido do que a capacidade de adaptação de plantas e animais, provocando, desse modo, a extinção de espécies e simplificações ecológicas. É mais fácil, claro, visualizar os rápidos processos e as singularidades catastróficas - gigantescos furacões, secas épicas etc.- do que ver os aspectos mais lentos, porém ainda mais poderosos, da mudança do clima -diminuição gradual da produção agrícola, desertificação crescente etc.
A nevasca que caiu no Reino Unido no início deste mês foi a pior dos últimos 18 anos no país, paralisando aeroportos, o sistema de transportes e acarretando enormes prejuízos econômicos. As metrópoles serão os espaços que mais sofrerão com as mudanças climáticas?
Bem, clima atípico é clima. Os indícios científicos ligados ao aquecimento global não são visíveis apenas em algum caso particular. Por essa razão, um observador prudente hesitaria em atribuir a nevasca em Londres e mesmo o furacão Katrina [que destruiu a cidade de Nova Orleans, no sul dos EUA, em 2005] a uma mudança climática antropogênica. Por outro lado, a incidência de colapso dos sistemas urbanos por eventos climáticos extremos tem aumentado. Serão necessários trilhões de dólares para adaptar as cidades, mesmo as ricas, ao clima novo e "normal" que está chegando.
Na sua opinião, os programas de combate ao aquecimento global têm sido eficientes?
Não, falharam até em relação a expectativas modestas. Kyoto teve impacto insignificante, e as emissões de gases de 2000 a 2007 aumentaram mais rapidamente do que era previsto nos piores cenários. E há um otimismo público pequeno, em meio à crise econômica mundial, de que a conferência do clima de Copenhague [na Dinamarca, onde se discutirá, em dezembro, um acordo substituto para o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012], produzirá uma continuação séria de Kyoto. Alguns países europeus, incluindo Alemanha e Itália, estão indo agressivamente atrás de carvão -o combustível fóssil mais sujo e mais barato. Precisamos de uma estratégia mundial para a adaptação ao aquecimento global, assim como a redução nas emissões de gases de efeito estufa. Mas, graças ao fracasso dos países ricos em reduzir as emissões, a maioria dos impactos ruins cairá sobre países mais pobres, com menos meios para adaptar seus sistemas agrícolas, recursos hídricos e ambientes construídos. Por isso é que devemos lutar para ganhar o reconhecimento da "dívida ecológica" que o Norte tem com o Sul: somente grandes transferências de renda podem permitir que os países mais pobres invistam em adaptações significativas (colheitas novas e irrigação de gotejamento, conservação da água urbana, energia solar etc.)

A defesa do ambiente exige a atuação conjunta de mudanças individuais de atitude e políticas públicas que alterem hábitos coletivos de consumo. Como implementar de maneira eficaz tais processos?

Promover uma ética verde em nível individual é importante, e nós deveríamos ser responsáveis pelos nossos impactos ecológicos. Não tenho nenhuma simpatia por ecologistas que querem salvar a Terra reduzindo a população humana a níveis pré-industriais, mas entendo a confusão sobre como traçar o círculo da sustentabilidade com a urgência do fim da pobreza.
Como todos sabemos, diversas Terras adicionais seriam exigidas para permitir que toda a humanidade viva em uma casa suburbana com um estilo de vida norte-americano, com dois carros e um gramado.
Minha própria solução abstrata para esse enigma, que será o assunto de meu próximo livro, é substituir, tanto quanto possível, o consumo público pelo privado. Acredito que a pedra angular da cidade do baixo-carvão, mais do que qualquer desenho verde ou tecnologia em particular, é a prioridade dada à afluência pública sobre a riqueza privada.
A maioria das cidades contemporâneas, em países ricos ou pobres, contém capacidades ambientais potenciais inerentes aos densos assentamentos humanos. O gênio ecológico da cidade permanece um poder vasto, quase sempre escondido.
Mas não há nenhuma deficiência planetária da sua "capacidade de carga" se nós estamos dispostos a fazer do espaço público democrático o motor da igualdade sustentável.
A afluência pública - representada por grandes parques urbanos, por museus livres, por bibliotecas e possibilidades infinitas para a interação humana - representa uma rota alternativa para um rico padrão de vida personificado em uma carnavalesca sociabilidade.
O Brasil, apesar de suas gigantescas desigualdades, tem sido um laboratório avançado para as experiências que unem democracia popular, economia verde e espaço público.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A DOUTRINA DO CHOQUE !

Existem aquelas questões que discutimos seja em sala de aula, seja nos corredores, nos pátios e nas esquinas, nos botecos e saunas, churrascos e igrejas, grupos de discussão e acalorados encontros de amigos e amigas, em geral, em tudo quanto é canto, que a CRISE ESTÁ AÍ, a nos assolar, nos atingir, nos deixar loucos...
O que escrever sobre ? Ontem mesmo discutí com uma turma sobre isso : Escrever o que, informar-se sobre o que ?

Então, em respeito a você que lê este blog, estou trazendo na íntegra, um fragmento de um livro, que entrevista Naomi Klein ( musa da antiglobalização, que vendeu mais de um milhão de exemplares em todo o mundo com Sem Logo (Rio de Janeiro: Record, 2002), chama a atenção dos homens.

Seu livro busca – A doutrina do choque, que está sendo lançado em espanhol e ainda não tem tradução para o português – como o capitalismo emprega a violência e o terror contra o indivíduo e a sociedade.

Naomi Klein esteve em Buenos Aires para palestras e também para gravações do documentário sobre o livro, junto com Avi Lewis e Michael Winterbottom. Segue a íntegra da entrevista concedida a Silvana Friera e que está publicada no Página/12, 25-04-2008. A tradução é do Cepat.


Quando chegou, no sábado passado, a densa nuvem de fumaça que cobria a cidade impediu que o avião aterrissasse imediatamente em Ezeiza. “Prefiro a outra Argentina, naquela em que havia fogo por conta da política, e não esta, que me sufoca com tanta fumaça”, brinca a jornalista canadense, que hoje apresenta na Feira o seu último livro, La doctrina del shock [A doutrina do choque] (Paidós), que bem poderia ser definido como “a história oficial do livre mercado”. Neste trabalho de pesquisa de mais de 600 páginas, Klein demonstra como o capitalismo emprega constantemente a violência e o terror contra o indivíduo e a sociedade.
Neta de um sindicalista da empresa Disney e filha de um casal formado por uma artista feminista e um objetor da guerra do Vietnã que fugiu para o Canadá, entusiasta seguidora de Eduardo Galeano, John Berger e Susan Sontag, Klein não veio sozinha à Argentina. Além do seu marido, Avi Lewis, com quem realizou o documentário La Toma, sobre os operários da Bruckman e Zanon, está acompanhada do cineasta britânico Michael Winterbottom, com quem filmará o documentário sobre
A doutrina do choque em Buenos Aires, onde encontrou a matéria-prima para seu último livro.
“Aqui tomei as lições da história simplesmente caminhando e falando com amigos pelas ruas. Foi o período em que mais aprendi em pouco tempo, foi uma experiência muito intensa, porque mudaram a forma como via o mundo”, lembra a jornalista na entrevista com Página/12. Esses amigos – Marta Dillon, Claudia Acuña, Silvia Delfino e Sergio Ciancaglini, entre outros – lhe contaram das sangrentas raízes do projeto da Escola de Chicago, comandada por
Milton Friedman, “o homem da liberdade”, segundo The Wall Street, e compartilharam suas próprias lembranças e tragédias pessoais com Klein.
Grande guru do movimento pelo capitalismo de livre mercado, Friedman foi o responsável pela criação do “roteiro da economia global, contemporânea e hipermóvel em que vivemos”, diz Klein. Durante mais de três décadas, o economista de Chicago e seus poderosos seguidores esperaram que se produzisse uma
crise de primeira ordem ou um estado de choque para vender a quem oferecer o melhor preço os pedaços da rede estatal aos agentes privados. “Algumas pessoas armazenam latas e água para em caso de algum desastre ou terremotos; os discípulos de Friedman armazenam um monte de idéias de livre mercado”, ironiza a autora. Friedman aprendeu a importância de aproveitar uma crise ou estado de choque em grande escala durante a década de setenta, quando foi assessor do ditador chileno Augusto Pinochet.
Se as privatizações, a desregulamentação e os cortes no gasto social costumavam ser impopulares entre nós, “mas com o estabelecimento de acordos assinados e uma parafernália, oficial, ao menos se sustentava o pretexto do consentimento mútuo entre os governos que negociavam, assim como uma ilusão de consenso entre os supostos especialistas”, agora, o próprio programa ideológico “é imposto mediante as piores condições coercitivas possíveis: a ocupação militar de uma potência estrangeira depois de uma invasão ou imediatamente depois de uma catástrofe natural de grande magnitude”.
Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, “já não tinham que perguntar ao resto do mundo se desejavam a versão norte-americana do ‘livre mercado e da democracia’; podiam impô-la mediante o poder militar e sua doutrina do choque e comoção”, afirma Klein. “A administração Bush aproveitou a oportunidade gerada pelo medo aos ataques para lançar a guerra contra o terror, mas também para garantir o desenvolvimento de uma indústria exclusivamente dedicada aos lucros, um novo setor em crescimento que insuflou renovadas forças na fragilizada economia norte-americana”.
Mesmo que Friedman tenha declarado que sua proposta era libertar o mercado das garras do Estado, Klein adverte que as elites políticas e empresariais simplesmente se fusionaram, “trocando favores para garantir seu direito de se apropriar, desde os campos petrolíferos da Rússia, passando pelas terras coletivas chinesas, até os contratos de reconstrução outorgados para o Iraque”.
A jornalista canadense repassa, nesta exaustiva
pesquisa, como no Chile, Iraque, África do Sul, Argentina e China a tortura foi o sócio silencioso da cruzada pela liberdade de mercado global.
Por que não é comum que se relacione, como você o faz no livro, o neoliberalismo com a violência e as torturas?
Creio que por muitas razões, mas a principal delas é que a história é contada pelos vencedores e, como toda história de vencedores, é narrada de uma maneira “muito limpa” e triunfante. Se pensamos no Chile, tínhamos os Chicago Boys, que eram financiados pela Fundação Ford. Quando eram questionados pelas violações aos direitos humanos perpetradas por Pinochet, eles diziam que eram técnicos, que não tinham a nada a ver com essa situação. O principal patrocinador dos grupos de direitos humanos no Chile também era a Fundação Ford, e estes grupos diziam que só lhes interessava que se respeitasse a lei, que não lhes interessava nem a política nem a economia. A Fundação Ford tratava de garantir que a política e a economia nunca se entrelaçassem. O neoliberalismo e a tortura não se relacionavam graças à tirania da especialização; advogados por um lado e economistas pelo outro e que só se ocupavam de suas respectivas disciplinas. Mas, quando lemos Rodolfo Walsh ou Eduardo Galeano, nos encontramos com uma análise completa e integral da situação.
O material do livro, sobretudo a parte em que recorda os experimentos de choques elétricos em pacientes psiquiátricos financiados pela CIA na década de 50, resulta bastante desesperançador. Encontra alternativas?
Entendo porque o material do livro é um tanto deprimente quando é lido, inclusive eu mesma me deprimi um pouco em alguns momentos (risos). Mas o livro expressa um ato prometedor. Justamente a partir da minha experiência na Argentina me dei conta da importância da memória histórica para poder resistir e de alguma maneira vejo o livro como uma contribuição para a memória coletiva. Há uma luz de esperança porque quando o neoliberalismo falha surge um novo espírito que nos revela uma alternativa. Uma das coisas que me faz ter esperanças é que vejo uma mudança política nos Estados Unidos; cada vez observo como mais pessoas estão resistindo e se levantando contra o corporativismo. E isto é muito novo, porque durante muito tempo só se falava de Bush e de sua incompetência.
O contexto eleitoral norte-americano está vinculado a esta mudança que percebe?
Na realidade, a única coisa que a situação eleitoral faz é nos empurrar para trás. De alguma maneira, os movimentos antiglobalização, os protestos de Seattle, que surgiram no final dos anos 90, marcaram uma mudança na hora de falar do neoliberalismo e do corporativismo. A era Bush e a era do 11-S com a guerra do terror eclipsaram todas as outras questões políticas, o que gerou uma grande perda de consciência da situação. Mas depois se viveu uma espécie de ricochete contra Bush, não tanto contra a sua agenda política ou econômica, mas mais em relação à sua pessoa.
Mas, por sorte, estamos uma vez mais enfocados na própria mecânica do poder. Há dois milhões de pessoas que estão perdendo seus lares enquanto o governo está preocupado em resgatar Wall Street. Se alguém prestar atenção em quem está financiando as campanhas de Hillary Clinton e Obama, verá que são o Citibank e o JP Morgan. É a primeira vez em 14 anos que os democratas obtêm mais dinheiro dos fabricantes de armas que os republicanos. Hillary Clinton obteve mais financiamentos das companhias de defesa que John McCain. Nem Clinton nem Obama estão aproveitando este grande momento de radicalização que se está vivendo na sociedade, nenhum tem planos concretos para a retirada do Iraque. Ao contrário, querem manter a zona verde, que de alguma maneira é uma ocupação. Obama disse, na semana passada, que o povo norte-americano era amargo, que não tinha muito senso de humor, e na realidade tem razão, porque as pessoas estão cansadas e furiosas.
No livro se percebe uma importante defesa de Keynes. Uma alternativa seria recuperar a figura de um Estado mais forte que regule a economia?
Não vejo o livro só como defesa do keynesianismo. Creio que é importante entender que o keynesianismo era uma conciliação: o New Deal só foi possível graças a um massivo movimento dos socialistas e dos sindicatos, mas não foi suficiente, não foi mais além. Não me parece que proponha que a alternativa seja voltar ao keynesianismo. Sou favorável à descentralização, ao cooperativismo; não estou dizendo que voltar ao modelo keynesiano seja a grande solução.
Você assinala que os autênticos inimigos da teoria de Friedman não eram os marxistas, mas os keynesianos norte-americanos, os social-democratas europeus e os desenvolvimentistas, como eram chamados no Terceiro Mundo. Quais seriam hoje os inimigos do neoliberalismo?
O socialismo democrático sempre foi o maior perigo para o neoliberalismo. A atração que a democracia produz com a combinação de uma rede de contenção social sempre foi “a grande ameaça”. Depois que Allende fora eleito, Kissinger disse a Nixon que temia que o modelo chileno se propagasse pelo mundo afora. Creio que as táticas de ontem e de hoje são as mesmas, por exemplo, a forma como se demoniza Hugo Chávez e Evo Morales. A melhor coisa que aconteceu a Chávez foi ter perdido o referendo porque agora é muito mais difícil apresentá-lo como autoritário, uma vez que aceitou e respeitou o resultado.
Quando vemos que com a única figura com quem não se pode tratar no Iraque é com Al Sadr, começamos a compreender claramente qual é a ameaça do Iraque. Al Sadr é um nacionalista fundamentalista, os outros líderes são tão fundamentalistas quanto ele em questões de religião, mas a diferença é que Al Sadr quer ter o controle da economia do Iraque. Enfrentamos a mesma luta e a mesma batalha que tivemos nos últimos 30 anos e as mesmas ameaças. As figuras que não têm respeito pela democracia são um dom para os neoliberais.

E AÍ, VAI ENCARAR ?

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AJUDOU A ENTENDER UM POUCO MAIS DA CRISE DO CAPITALISMO ATUAL ?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL, E A CRISE DA GLOBALIZAÇÃO !

Que Globalização é esta que tem tirado de uma grande maioria do planeta, o progresso, o desenvolvimento, a riqueza ?
Que Globalização é esta que está levando, aos banqueiros, o socorro de estados, enquanto, os pobres e miseráveis sofrem a míngua, a carência de assistência, e de atenção (financeira) ?

O fracasso do fundamentalismo de mercado amplia as tentações autoritárias e xenófobas — mas também abre novas oportunidades. Distribuição de renda, nova geopolítica internacional e regulação pública das finanças e reinvenção da democracia estão na agenda. Só será possível avançar propondo alternativas.



Por Gustave Massiah
O Fórum Social Mundial (FSM) de Belém abre um novo ciclo do movimento altermundialista. O FSM acontecerá na Amazônia, no coração da questão ecológica planetária, e deverá colocar a grande questão sobre as contradições entre a crise ecológica e a crise social. Será marcado ainda pelo novo movimento social a favor da cidadania na América Latina, pela aliança dos povos indígenas, das mulheres, dos operários, dos camponeses e dos sem-terra, da economia social e solidária.
Esse movimento cívico construiu novas relações entre o social e o político que desembocaram nos novos regimes e renovaram a compreensão do imperativo democrático.
Ele modificou a evolução do continente, mostrando a importância das grandes regiões na globalização e diante da crise de hegemonia dos Estados Unidos. O movimento altermundialista deverá também responder à nova situação mundial nascida da crise escancarada da fase neoliberal da globalização capitalista.
O movimento altermundialista em seus diferentes significados é portador de uma nova esperança nascida da recusa da fatalidade. É esse o sentido da afirmação “um outro mundo é possível”. Não vivemos nem “o fim da História” nem “o choque de civilizações”.
Ao longo dos fóruns, uma orientação estratégica se consolidou: a do acesso aos direitos fundamentais para todos. Trata-se da construção de uma alternativa à lógica dominante, ao ajustamento de todas as sociedades ao mercado mundial
A estratégia desse movimento se organiza em torno da convergência dos movimentos sociais e pela cidadania que enfatizam a solidariedade, as liberdades e a paz.
No espaço do FSM, eles comparam suas lutas, práticas, reflexões e propostas. E constroem também uma nova cultura política, fundada na diversidade, nas atividades autogeridas, na partilha, na “horizontalidade” em vez da hierarquia.
Ao longo dos fóruns, uma orientação estratégica se consolidou: a do acesso aos direitos fundamentais para todos. Trata-se da construção de uma alternativa à lógica dominante, ao ajustamento de todas as sociedades ao mercado mundial por meio da regulação pelo mercado mundial de capitais.
À evidência imposta, que presume que a única forma aceitável de organização de uma sociedade é a regulação pelo mercado, podemos opor a proposta de organizar as sociedades e o mundo a partir do acesso para todos aos direitos fundamentais. Essa orientação comum ganha sentido com a convergência dos movimentos e se traduz por uma nova cultura da transformação que se lê na evolução de cada um dos movimentos.
Os debates em curso no movimento enfatizam a questão estratégica. Ela põe em relevo o problema do poder, que remete ao debate sobre o Estado, e atravessa a questão dos partidos e do modelo de transformação social, assim como dos caminhos do desenvolvimento.
O movimento altermundialista não se resume aos Fóruns Sociais, mas o processo dos fóruns ocupa de fato uma posição especial.
O movimento altermundialista não deixa de expandir e de se aprofundar. Com a expansão geográfica, social, temática, viu sua força aumentar consideravelmente em menos de dez anos. No entanto, nada está ganho, mesmo que a crise em muitos aspectos confirme várias de suas análises e justifique seu chamado à resistência.
Do ponto de vista ideológico, a crise do neoliberalismo está fortemente ligada ao aumento da força do altermundialismo, que evidenciou as contradições internas ao sistema. Mas vários cenários são possíveis a médio prazo
O movimento altermundialista é histórico e prolonga e renova os três movimentos históricos precedentes: o da descolonização – o altermundialismo modificou em profundidade as representações norte-sul em proveito de um projeto mundial comum; o das lutas operárias – desse ponto de vista, está comprometido com a mudança rumo a um movimento social e pela cidadania mundial; e o das lutas pela democracia a partir dos anos 1960-1970 – é um movimento pela renovação do imperativo democrático após a implosão dos Estados soviéticos em 1989 e as regressões representadas pelas ideologias e doutrinas de segurança/militaristas/disciplinares/paranóicas. A descolonização, as lutas sociais, o imperativo democrático e as liberdades constituem a cultura de referência histórica do movimento altermundialista.
O movimento altermundialista se vê diante da crise da globalização capitalista em sua fase neoliberal. Essa crise não é uma surpresa para o movimento; ela estava prevista e era anunciada há muito tempo.
Três grandes questões determinam a evolução da situação em escala mundial e marcam os diferentes níveis de transformação social (mundial, por região, nacional e local): a crise ecológica mundial, que se tornou patente, a crise do neoliberalismo e a crise geopolítica com o fim da hegemonia dos Estados Unidos.
A crise de hegemonia norte-americana aprofunda-se rapidamente. A evolução das grandes regiões se diferencia: as respostas de cada uma à crise de hegemonia norte-americana são muito diferentes. A luta contra a pretensa guerra entre civilizações e contra a tão real guerra sem-fim constitui uma das prioridades do movimento altermundialista.
A fase neoliberal parece ofegante. A nova crise financeira é particularmente grave. Não é a primeira crise financeira deste período (outras ocorreram no México, Brasil, Argentina etc.) nem é suficiente para sozinha caracterizar o esgotamento do neoliberalismo.
A consequência das diferentes crises é mais singular. A crise financeira aumenta as incertezas a respeito dos rearranjos monetários. A crise imobiliária nos Estados Unidos revela o papel que o superendividamento exerce, bem como suas limitações como motor do crescimento. A crise energética e a climática revelam os limites do ecossistema planetário. A crise alimentar, de gravidade excepcional, pode pôr em xeque os equilíbrios mais fundamentais.
O aprofundamento das desigualdades e das discriminações, em cada sociedade e entre os países, atinge um nível crítico e repercute na intensificação dos conflitos e das guerras e na crise de valores.
Os riscos de guerra são também uma saída clássica para as grandes crises. Não esqueçamos que o mundo já está em guerra e que cerca de 1 bilhão de pessoas vivem em regiões em guerra. Os conflitos são permanentes e a desestabilização é sistemática
As instituições responsáveis pela regulação do sistema econômico internacional (FMI, Banco Mundial, OMC) perderam a legitimidade. O G8 se reuniu para resolver os problemas do planeta. Mesmo remodelado como G20, com alguns países de peso a mais, não tem legitimidade para fazê-lo. Somente as Nações Unidas e sua Assembleia Geral, apesar de suas limitações, podem falar em nome de todos. O G20 não tem solução porque ele é o problema, na medida em que são esses países que têm a maior parte da responsabilidade pela crise atual. Para os povos e as sociedades, é hora de se fazer ouvir.
A incerteza pesa sobre o tempo e os horizontes da crise. É provável que um novo ciclo caracterize os 25 ou 40 próximos anos. A crise do neoliberalismo, do ponto de vista ideológico, está fortemente ligada ao aumento da força do altermundialismo, que evidenciou as contradições internas ao sistema. No entanto, a crise do neoliberalismo não significa seu desaparecimento irremediável. Além do mais, o movimento altermundialista não é único movimento antissistema. Outros movimentos de reintegração também podem contestar a corrente dominante. Vários cenários são possíveis a médio prazo, com numerosas variantes: um neoliberalismo reconfortado, uma dominante neoconservadora, uma variante neokeynesiana. Uma saída altermundialista é bem pouco provável a curto prazo, pois as condições políticas não foram ainda preenchidas; mas uma maior força do movimento altermundialista pesará sobre as escolhas possíveis.
É nos próximos cinco a dez anos que a nova racionalidade econômica se formalizará, assim como o neoliberalismo se impôs, a partir de tendências existentes, entre 1979 e 1985. Fica então a discussão sobre a sequência desse ciclo no futuro.
Immanuel Wallerstein trabalha com a hipótese de um retorno do ciclo secular, e mesmo multissecular, colocando para os próximos 30 ou 40 anos a questão histórica sobre a superação do capitalismo e criando assim uma nova perspectiva para o altermundialismo.
O ideograma chinês que representa a palavra “crise”, muito antigo e venerável, associa dois signos, contraditórios como é de esperar de toda boa dialética: o dos perigos e o das oportunidades.
O primeiro perigo se relaciona à pobreza e permite entrever profundas contradições por vir. A saída da crise consiste em fazer com que os pobres e, sobretudo, os discriminados e os colonizados paguem por ela. Trata-se também de espremer as camadas intermediárias. E, caso isso não funcione, fazer com que certas classes ricas também paguem a conta.
Para que tais políticas sejam “aceitas”, será preciso muita repressão, muita criminalização dos movimentos sociais, punição da solidariedade, propagação da ideologia da segurança, instrumentalização do terrorismo, que explora o medo para espalhar mecanismos de segurança e de disciplina, muita agitação racista, islamofóbica e nacionalista, muita criação de bodes expiatórios, exploração de migrantes e de ciganos.
Para além dos perigos, quatro oportunidades foram abertas pela crise. Já é possível falar em nova regulação pública, redistribuição de riquezas, menor desequilíbrio entre Norte e Sul e reinvenção da democracia
Essa evolução fará com que certas regiões rumem para regimes autoritários e repressivos, e mesmo para fascismos e populismos de contornos fascistas. Os riscos de guerra são também uma saída clássica para as grandes crises. Não esqueçamos que o mundo já está em guerra e que cerca de 1 bilhão de pessoas vivem em regiões em guerra. Os conflitos são permanentes e a desestabilização é sistemática.
As formas de guerra mudaram com a militarização das sociedades, o apartheid global, a guerra dos fortes contra os fracos, a banalização da tortura.
Pode-se lutar contra esses perigos pela resistência, pelas alianças e pelas coalizões em favor das liberdades, da democracia e da paz.
Para além dos perigos, que são mais conhecidos, quatro oportunidades foram abertas pela crise.
1. A derrota ideológica do neoliberalismo favorece a ascensão em termos de força das políticas de regulação pública.
2. A redistribuição das riquezas traz novamente a possibilidade de retorno ao mercado interno, à estabilidade de salários e à garantia das rendas e da proteção social, a uma nova ampliação dos serviços públicos.
3. O reequilíbrio entre norte e sul abre uma nova fase da descolonização e uma nova geopolítica do mundo. E é acompanhado por uma nova urbanização e por ondas migratórias que são as novas formas de povoamento do planeta.
4. A crise do modelo político de representação torna incontornável a ampliação da democracia social e o reforço da democracia representativa pela democracia participativa.
Entre 30 e 50 países emergentes – dos quais os três mais dinâmicos são Brasil, Índia e China – trazem a potencialidade de defender em conjunto seus pontos de vista e interesses. Não se trata de um mundo multipolar, mas da possibilidade de um novo sistema geopolítico internacional. As consequências poderiam ser consideráveis, notadamente para os termos de troca internacional e para as características das migrações.
Existem duas condições para essa evolução, que não se realizará sem algumas confusões. A primeira é que os países emergentes sejam capazes de mudar seu modelo de crescimento privilegiando o mercado interno e o consumo das camadas populares e classes médias, em detrimento das exportações. Essa desconexão é possível. A segunda é que os países emergentes construam alianças com os países do sul.
A primeira fase da descolonização fracassou, em grande parte, quando os países produtores de petróleo, após o choque de 1977, permitiram a divisão entre os países do sul. Essa condição permitiu ao G7, apoiado pelo FMI e pelo Banco Mundial, impor os ajustes estruturais.
Uma experiência neokeynesiana poderia se traduzir em reabilitação dos sistemas de proteção social e estabilidade salarial. Os pisos salariais, progressivamente elevados, seriam motor do crescimento. Mas há duas condições para tanto
A redistribuição de riquezas, necessária em razão da lógica do neoliberalismo e de seus excessos, abre espaço para uma tentação neokeynesiana. Ela consolida a tendência a reabilitar o mercado interno em escala nacional e estimula a integração regional.
Essa tentação neokeynesiana poderia se traduzir em uma reabilitação dos sistemas de proteção social e de uma estabilidade salarial. Os pisos salariais e sua progressão reencontrariam seu papel como motor do crescimento, no lugar do superendividamento que a crise dos subprimes revelou. O acesso universal a direitos, do qual os Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio são um pálido sucedâneo, conquistaria de novo sua importância na agenda mundial. Existem duas condições para que se realize essa hipótese (que não deve ser confundida com a ideia de um simples retorno ao modelo keynesiano de antes do neoliberalismo).
A primeira é a necessidade de dar uma resposta aos limites ecológicos que tornam perigoso um prolongamento do produtivismo. A contradição entre o ecológico e o social tornou-se determinante, e sua superação é primordial. A segunda é a necessidade de uma regulação aberta em escala mundial, em comparação com a regulação nacional preconizada pelo sistema de Bretton Woods dos anos 1960.
O maior poder da regulação pública completará a derrota ideológica do neoliberalismo. O neoliberalismo permanece predominante, mas a ideologia neoliberal sofreu uma derrota lancinante, cuja recuperação será difícil. As nacionalizações ditas temporárias, até que se saia da crise, dificilmente poderão ser revertidas.
Os fundos soberanos já tinham aberto a via das intervenções inesperadas dos Estados em escala global. A análise e o questionamento das privatizações, até então pedidas sem qualquer sucesso, reservarão certamente algumas surpresas. A nova racionalidade dificilmente poderá continuar a submeter completamente a regulação aos mercados e a confundir o privado com os capitais e seus mercados.
Se o capitalismo não é eterno, a questão de sua superação pode ser atualizada. E poderíamos começar desde já a reivindicar e a construir um outro mundo possível
O retorno da regulação pública poderia tomar outro aspecto, distinto da estatização clássica, e combinar socialização e controle democrático. As diferentes formas de propriedade social e coletiva poderiam encontrar uma nova legitimidade. As nacionalizações poderiam adaptar-se à construção de novos blocos e comunidades regionais. A renovação dos modelos de poder e de representação deveria estar no centro das recomposições econômicas e sociais. É provável que a reconstrução do elo social encontre novas alternativas às formas jurídicas da democracia imposta de cima para baixo.
A democracia continuaria como uma referência, mas as determinantes poderiam mudar. Os sistemas institucionais e eleitorais dificilmente poderiam ser considerados como independentes das situações sociais.
As reivindicações poderiam dar maior relevo às liberdades individuais e coletivas e às respectivas garantias. O acesso aos direitos individuais e coletivos para todos poderia fundar uma democracia social sem a qual a democracia política perderia muito de seus atrativos.
As formas de articulação entre a democracia participativa e a democracia representativa, e sua ligação primordial com a democracia social, poderiam progredir e se diversificar.
Outros desdobramentos, já iniciados, deverão ganhar mais importância. As coletividades locais expandirão seu papel como poderes e instituições locais.
A aliança estratégica entre as coletividades locais e os movimentos associativos estará na base dos territórios e do reconhecimento da cidadania a migrantes.
Evidenciando o potencial trazido pelas resistências e pelas práticas atuais, o altermundialismo oferece uma perspectiva à saída da crise atual em seus diferentes aspectos.
Ele permite fundar, contra os conservadorismos autoritários e repressivos, coalizões pelas liberdades e pela democracia. Dá condições para o combate da possível aliança entre neoliberais e neokeynesianos, ao provocar as resistências e as reivindicações pela modernização social. Permite pressionar o neokeynesianismo até seus limites. E permite o esboço das alternativas que caracterizarão um outro mundo possível.
Mas é preciso ir além. Afinal, se o capitalismo não é eterno, a questão de sua superação pode ser atualizada. E poderíamos começar desde já a reivindicar e a construir um outro mundo possível.