VAI UMA CAIPIRINHA AÍ ?
Sempre que estou lendo sobre a Crise Financeira Econômica Global, acabo por achar notícias diversas que ora explica a mesma, ora demonstram que está fadada ao caos, ou como esta que hoje publicarei.
Mas o mais interessante da postagem de hoje, está no nascimento de um movimento anticapitalista, que surgue na França.
Leia, e boas posições...
"O pior passeia pelo planeta. Não há lugar intocado pela crise. Leste Europeu quebra devagar e ameaça o "Oeste", escreve Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo pulicado no jornal Folha de S. Paulo, 18-02-2009. Segundo ele, "há cadáveres e zumbis bancários na sala de estar da finança mundial, e ninguém ainda sabe como remover os corpos ou fazer exorcismos. Alguns dos maiores bancos americanos e europeus estão quebrados. Enquanto não se der jeito nisso, não se começa a dar cabo da crise. Mas ainda não há plano para o conserto da finança americana, o plano britânico chegou a um impasse (não sabem se estatizam mais), o alemão mal foi esboçado"
Eis o artigo.
Quando a Islândia quebrou, a história circulou o mundo sob um tom de galhofa sinistra mesclado com a graça exótica da ilha gelada e vulcânica da cantora Björk. Mas a estrambótica falência da Disneylândia do liberalismo abilolado não machucou ninguém além dos poucos islandeses e de alguns ingleses que lá arriscavam dinheiro.
O afundamento dos "tigres bálticos" (Estônia, Letônia e Lituânia) e a iminente quebra da Irlanda, à beira de ir ao FMI, também pareciam acontecimentos periféricos. Serviam mais para suscitar a "Schadenfreude" dos inimigos do "neoliberalismo", que se divertiam com a desgraça do hiperliberal "tigre celta".
Ontem, um alerta das desacreditadas agências de classificação de risco sobre o Leste Europeu foi o piparote que levou os mercados do mundo ao chão. Mas o peteleco do risco do Leste Europeu é tão forte assim? Houve algo a mais no ar além de um raio no céu azul da Romênia?
A bem da verdade, o céu de Romênia e cia. nublou faz tempo. Mas quem liga para essas "economias de transição"? Suecos, belgas, austríacos, italianos, mas também franceses e alemães, têm interesses por lá ou são donos de alguns dos maiores bancos da região. Os ex-comunistas convertidos ao capitalismo a crédito se endividaram demais, têm déficits externos gigantes, suas exportações caem e suas moedas derretem com a fuga de capitais: ensaiam um repeteco da crise asiática de 1997-98.
A Moody's e a Standard & Poor's avisaram ontem que podem rebaixar a nota de bancos do "Oeste" europeu que têm subsidiárias no Leste. As duas agências não costumam dar notas muito certeiras em período de bonança, mas durante epidemias de peste financeira sabem como "declarar óbitos", quando não ajudam a dar cabo do doente. O risco de mais perdas e mortes bancárias levou os investidores a fugir do risco. Venderam ações, ativos de empresas e países mais periclitantes e compraram títulos do Tesouro americano, que subiram bem ontem. Venderam euros também.
Há mais, claro. A Rússia torra suas reservas, mas não consegue impedir a derrocada do rublo. Ontem teve de fechar sua Bolsa de novo, pois as ações batiam a cabeça no chão. A derrocada do PIB e das exportações do Japão e Alemanha não foi uma notícia que ficou apenas no calendário dos indicadores econômicos. Foi um alerta de coisa feia adiante.
De resto, há cadáveres e zumbis bancários na sala de estar da finança mundial, e ninguém ainda sabe como remover os corpos ou fazer exorcismos. Alguns dos maiores bancos americanos e europeus estão quebrados. Enquanto não se der jeito nisso, não se começa a dar cabo da crise. Mas ainda não há plano para o conserto da finança americana, o plano britânico chegou a um impasse (não sabem se estatizam mais), o alemão mal foi esboçado.
Enquanto isso, os custos do socorro de instituições financeiras e bancos, o já incorrido e o estimado, são tão grandes que até o "risco-país" de EUA, Alemanha e Japão (zero antes da crise) sobem "a níveis imagináveis", como observava Armínio Fraga em palestra ontem no Instituto FHC. Isto é, o rombo de crédito privado, mal e mal tapado pelos governos, está tornando a dívida desses países centrais mais suspeita.
Eis o artigo.
Quando a Islândia quebrou, a história circulou o mundo sob um tom de galhofa sinistra mesclado com a graça exótica da ilha gelada e vulcânica da cantora Björk. Mas a estrambótica falência da Disneylândia do liberalismo abilolado não machucou ninguém além dos poucos islandeses e de alguns ingleses que lá arriscavam dinheiro.
O afundamento dos "tigres bálticos" (Estônia, Letônia e Lituânia) e a iminente quebra da Irlanda, à beira de ir ao FMI, também pareciam acontecimentos periféricos. Serviam mais para suscitar a "Schadenfreude" dos inimigos do "neoliberalismo", que se divertiam com a desgraça do hiperliberal "tigre celta".
Ontem, um alerta das desacreditadas agências de classificação de risco sobre o Leste Europeu foi o piparote que levou os mercados do mundo ao chão. Mas o peteleco do risco do Leste Europeu é tão forte assim? Houve algo a mais no ar além de um raio no céu azul da Romênia?
A bem da verdade, o céu de Romênia e cia. nublou faz tempo. Mas quem liga para essas "economias de transição"? Suecos, belgas, austríacos, italianos, mas também franceses e alemães, têm interesses por lá ou são donos de alguns dos maiores bancos da região. Os ex-comunistas convertidos ao capitalismo a crédito se endividaram demais, têm déficits externos gigantes, suas exportações caem e suas moedas derretem com a fuga de capitais: ensaiam um repeteco da crise asiática de 1997-98.
A Moody's e a Standard & Poor's avisaram ontem que podem rebaixar a nota de bancos do "Oeste" europeu que têm subsidiárias no Leste. As duas agências não costumam dar notas muito certeiras em período de bonança, mas durante epidemias de peste financeira sabem como "declarar óbitos", quando não ajudam a dar cabo do doente. O risco de mais perdas e mortes bancárias levou os investidores a fugir do risco. Venderam ações, ativos de empresas e países mais periclitantes e compraram títulos do Tesouro americano, que subiram bem ontem. Venderam euros também.
Há mais, claro. A Rússia torra suas reservas, mas não consegue impedir a derrocada do rublo. Ontem teve de fechar sua Bolsa de novo, pois as ações batiam a cabeça no chão. A derrocada do PIB e das exportações do Japão e Alemanha não foi uma notícia que ficou apenas no calendário dos indicadores econômicos. Foi um alerta de coisa feia adiante.
De resto, há cadáveres e zumbis bancários na sala de estar da finança mundial, e ninguém ainda sabe como remover os corpos ou fazer exorcismos. Alguns dos maiores bancos americanos e europeus estão quebrados. Enquanto não se der jeito nisso, não se começa a dar cabo da crise. Mas ainda não há plano para o conserto da finança americana, o plano britânico chegou a um impasse (não sabem se estatizam mais), o alemão mal foi esboçado.
Enquanto isso, os custos do socorro de instituições financeiras e bancos, o já incorrido e o estimado, são tão grandes que até o "risco-país" de EUA, Alemanha e Japão (zero antes da crise) sobem "a níveis imagináveis", como observava Armínio Fraga em palestra ontem no Instituto FHC. Isto é, o rombo de crédito privado, mal e mal tapado pelos governos, está tornando a dívida desses países centrais mais suspeita.
Nasce, na Franca, o Novo Partido Anticapitalista
Novo partido reúne maioria da Liga Comunista Revolucionária (LCR), que aprovou sua própria dissolução para criar nova organização, além de militantes comunistas, socialistas e ecologistas. Segundo um dos principais líderes do NPA, as referências programáticas do novo partido são a ruptura com o capitalismo e a independência total em relação ao Partido Socialista francês. "Esquerda da esquerda" francesa acredita que já tem 15% de votos.
A reportagem é de Louis Weber, membro da Attac/Franca e secretário de redação da revista de sociologia Savoir/Agir e publicada pela Agência Carta Maior, 17-02-2009.
O Novo Partido Anticapitalista (NPA) teve seu congresso fundador com a presença de Olivier Besancenot entre 5 e 8 de fevereiro de 2009. Na véspera, a Liga Comunista Revolucionária (LCR) tinha votado sua dissolução, com 87% de votos, depois de quarenta anos de existência.
Mas não se trata de uma simples mudança de nome. O NPA não aderirá, por exemplo, à Quarta Internacional (trotskista). O partido pretende se enraizar especialmente dentre os jovens para quem a "base de adesão são aqueles a quem Sarkozy chama de "ralé" e que reconhecem Besancenot como a única personalidade de esquerda de verdade", como explica Alain Krivine, o líder histórico da LCR. A partir de agora, o NPA conta com 9000 adesões, quer dizer, três vezes mais que a LCR, que chegava a ter pouco mais de 3000 membros.
Para continuar a alargar sua base, o NPA quer "seguir o melhor das tradições do movimento dos trabalhadores, sejam elas trotskistas, socialistas, comunistas, libertárias, guevaristas, ou envolvidas na ecologia radical", como o afirma Olivier Besancenot. A referência identitária será portanto menos uma doutrina política que a "ruptura com o capitalismo" e a "independência total do Partido Socialista".
Essa última questão esteve no centro das preocupações da minoria "Unir", da LCR, que votou contra a sua dissolução, e para quem esta é a única maneira de expressar sua oposição à criação do NPA nas condições fixadas pela direção. Essa questão está também no centro das discussões das forças políticas que, no contexto francês, constituem a esquerda da esquerda, quer dizer, recusam qualquer acomodação com o liberalismo dominante na França e na Europa. De que isso se trata?
A esquerda da esquerda está longe de ser uma quantidade negligenciável no plano eleitoral: uma pesquisa recente acaba de mostrar que se ela apresentasse listas unidas nas próximas eleições para o Parlamento Europeu (em junho de 2009), podia esperar, mesmo antes de fazer campanha, algo como 15% dos votos. O Partido Comunista e o novo Partido de Esquerda fundado por Jean-Luc Mélenchon, que deixou o Partido Socialista na ocasião do recente congresso do partido em novembro de 2008, de agora em diante já decidiram constituir uma frente de esquerda para essas eleições.
A maioria dos grupos e coletivos que foram criados na batalha de 2005 para rejeitar o projeto do tratado constitucional europeu estão prontos a se juntar a essa Frente, cuja campanha será baseada na recusa absoluta da Europa liberal atual e na demanda por uma reorientação radical da construção européia. Mas as discussões com o NPA ainda não alcançaram e receiam um pouco a volta do cenário desastroso das eleições presidenciais de 2007, com pouco menos de seis candidatos reivindicando o antiliberalismo. Nenhum dentre eles obteve mais do que 4% dos votos.
Qual a dificuldade, agora? A nascente frente de esquerda não tem a intenção de fazer qualquer acordo com o Partido Socialista para as eleições européias. Mas "a independência total do Partido Socialista" defendida pelo NPA queria dizer que o Partido Comunista, por exemplo, renuncia às alianças que lhe permitem participar, com os socialistas e outros, da gestão da quase totalidade das regiões francesas e de numerosas prefeituras.
Esse tipo de aliança é recusada por diversas razões, mas notadamente porque o NPA não concebe suas ações políticas sem buscar exercer as responsabilidades políticas. O que nao é concebível, no contexto francês, sem aliança com os socialistas, que é o que o NPA recusa neste momento. Pureza revolucionária e recusa de pôr as "mãos na graxa" da gestão? Trata-se de se beneficiar da notável popularidade de Olivier Besancenot e de assim legitimar o NPA no plano político? Pretexto para se apresentar apenas às eleições européias, levando em conta as vantagens simbólicas e materiais que um mandato parlamentar europeu viabiliza? Posição de negociação com os outros componentes da esquerda da esquerda, antes de um acordo ou de uma posição de princípio durável? O futuro permitirá a resposta a essas questões.
Novo partido reúne maioria da Liga Comunista Revolucionária (LCR), que aprovou sua própria dissolução para criar nova organização, além de militantes comunistas, socialistas e ecologistas. Segundo um dos principais líderes do NPA, as referências programáticas do novo partido são a ruptura com o capitalismo e a independência total em relação ao Partido Socialista francês. "Esquerda da esquerda" francesa acredita que já tem 15% de votos.
A reportagem é de Louis Weber, membro da Attac/Franca e secretário de redação da revista de sociologia Savoir/Agir e publicada pela Agência Carta Maior, 17-02-2009.
O Novo Partido Anticapitalista (NPA) teve seu congresso fundador com a presença de Olivier Besancenot entre 5 e 8 de fevereiro de 2009. Na véspera, a Liga Comunista Revolucionária (LCR) tinha votado sua dissolução, com 87% de votos, depois de quarenta anos de existência.
Mas não se trata de uma simples mudança de nome. O NPA não aderirá, por exemplo, à Quarta Internacional (trotskista). O partido pretende se enraizar especialmente dentre os jovens para quem a "base de adesão são aqueles a quem Sarkozy chama de "ralé" e que reconhecem Besancenot como a única personalidade de esquerda de verdade", como explica Alain Krivine, o líder histórico da LCR. A partir de agora, o NPA conta com 9000 adesões, quer dizer, três vezes mais que a LCR, que chegava a ter pouco mais de 3000 membros.
Para continuar a alargar sua base, o NPA quer "seguir o melhor das tradições do movimento dos trabalhadores, sejam elas trotskistas, socialistas, comunistas, libertárias, guevaristas, ou envolvidas na ecologia radical", como o afirma Olivier Besancenot. A referência identitária será portanto menos uma doutrina política que a "ruptura com o capitalismo" e a "independência total do Partido Socialista".
Essa última questão esteve no centro das preocupações da minoria "Unir", da LCR, que votou contra a sua dissolução, e para quem esta é a única maneira de expressar sua oposição à criação do NPA nas condições fixadas pela direção. Essa questão está também no centro das discussões das forças políticas que, no contexto francês, constituem a esquerda da esquerda, quer dizer, recusam qualquer acomodação com o liberalismo dominante na França e na Europa. De que isso se trata?
A esquerda da esquerda está longe de ser uma quantidade negligenciável no plano eleitoral: uma pesquisa recente acaba de mostrar que se ela apresentasse listas unidas nas próximas eleições para o Parlamento Europeu (em junho de 2009), podia esperar, mesmo antes de fazer campanha, algo como 15% dos votos. O Partido Comunista e o novo Partido de Esquerda fundado por Jean-Luc Mélenchon, que deixou o Partido Socialista na ocasião do recente congresso do partido em novembro de 2008, de agora em diante já decidiram constituir uma frente de esquerda para essas eleições.
A maioria dos grupos e coletivos que foram criados na batalha de 2005 para rejeitar o projeto do tratado constitucional europeu estão prontos a se juntar a essa Frente, cuja campanha será baseada na recusa absoluta da Europa liberal atual e na demanda por uma reorientação radical da construção européia. Mas as discussões com o NPA ainda não alcançaram e receiam um pouco a volta do cenário desastroso das eleições presidenciais de 2007, com pouco menos de seis candidatos reivindicando o antiliberalismo. Nenhum dentre eles obteve mais do que 4% dos votos.
Qual a dificuldade, agora? A nascente frente de esquerda não tem a intenção de fazer qualquer acordo com o Partido Socialista para as eleições européias. Mas "a independência total do Partido Socialista" defendida pelo NPA queria dizer que o Partido Comunista, por exemplo, renuncia às alianças que lhe permitem participar, com os socialistas e outros, da gestão da quase totalidade das regiões francesas e de numerosas prefeituras.
Esse tipo de aliança é recusada por diversas razões, mas notadamente porque o NPA não concebe suas ações políticas sem buscar exercer as responsabilidades políticas. O que nao é concebível, no contexto francês, sem aliança com os socialistas, que é o que o NPA recusa neste momento. Pureza revolucionária e recusa de pôr as "mãos na graxa" da gestão? Trata-se de se beneficiar da notável popularidade de Olivier Besancenot e de assim legitimar o NPA no plano político? Pretexto para se apresentar apenas às eleições européias, levando em conta as vantagens simbólicas e materiais que um mandato parlamentar europeu viabiliza? Posição de negociação com os outros componentes da esquerda da esquerda, antes de um acordo ou de uma posição de princípio durável? O futuro permitirá a resposta a essas questões.
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