quinta-feira, 10 de julho de 2008

OPORTUNIDADES PERDIDAS NA REUNIÃO DO G-8 E G-5 !

A reunião dos líderes das maiores economias do mundo no Japão foi uma oportunidade desperdiçada de abrir espaço para ações conjuntas que combatam os principais problemas globais de curto prazo - alta do petróleo, disparada dos preços dos alimentos e redução das emissões de carbono. Como era esperado, mas não fatal, o G-8, que reúne os países ricos mais a Rússia, e o G-5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul) insistiram ora em lugares comuns, ora em velhas posições irredutíveis. Segue o Editorial do jornal Valor, 10-07-2008.
Foi uma das primeiras vezes em que os dois blocos participaram de uma negociação em que o poder de fato dos países ricos já não é absoluto ou claramente determinante em nenhuma das questões levantadas. O petróleo está atingindo as alturas porque há consumo demais, puxado pela China, os asiáticos e a Índia. É mais que óbvio que a especulação joga uma pequena parte na fogueira das cotações e que ela seria impotente ou de curta duração caso investidores não estivessem apostando em tendências que se baseiam em condições reais de oferta e demanda. Dessa forma, é interessada, defensiva e simplória a posição do G-5 em atribuir aos países ricos a responsabilidade por conter uma suposta interferência decisiva de especuladores no mercado das commodities. A posição do G-8 foi igualmente decepcionante e seguiu a linha acaciana: para combater a elevação das cotações do petróleo é preciso aumentar a produção e o refino.
Os três assuntos que polarizaram as discussões estão inter-relacionados. O Banco Mundial elaborou um estudo questionável mostrando que foram as tentativas de escapar dos altos preços do petróleo - com o avanço dos biocombustíveis - que causaram a devastadora alta dos alimentos. O estudo trouxe mais barulho que luz. Os países em desenvolvimento fizeram os pedidos habituais de ajuda do G-8 às nações mais pobres e aumento de linhas de crédito para os agricultores pobres da África. Tanto o G-8 (caso dos EUA) como o G-5 (caso do Brasil) tem adversários de biocombustíveis e países produtores.
Posições precipitadas pró e contra os combustíveis alternativos esconderam o fato real de que estoques muito baixo de alimentos, catástrofes climáticas sucessivas em países importantes como a Austrália e aumento significativo da demanda mundial elevariam os preços dos alimentos de qualquer forma. Se a esses fatores se acrescentasse a duplicação em um ano do preço do petróleo e o deslocamento de terras para produção do etanol de milho nos EUA, é óbvio que o custo da alimentação dispararia. Mas as crescentes suspeitas de substituição de culturas e degradação ambiental por parte dos biocombustíveis os colocaram quase como o principal vilão da alta dos alimentos. Por isso, foi significativa a posição do Parlamento europeu, divulgada durante a reunião do G-8, de que a União Européia deve rever para baixo a meta de substituir 10% dos combustíveis fósseis por alternativos até 2020.
Ainda que envolta no mais espesso pessimismo, a posição do G-8 sobre o combate ao aquecimento global evoluiu. Os EUA aceitaram se comprometer com metas de redução das emissões de CO2 - 50% até 2050 - desde que todos os países cooperem para isso. É certo que George Bush fez isso no fim de seu apagado mandato, que não foram fixadas metas intermediárias para os cortes, sem as quais eles viram mera intenção, e que não se definiu sequer o ponto de partida para mensurar as emissões (a partir de que ano). Ainda assim, os EUA deixam relutantemente seu unilateralismo e aceitam em princípio envolver-se em esforços conjuntos globais para conter as emissões.
Os países em desenvolvimento, porém, foram com um pacote pronto para responsabilizar os países ricos pelo problema e não aceitar qualquer meta para si. Declarações de membros do governo chinês de que se os EUA se comprometessem com metas a China faria o mesmo se esvaneceram com a posição oficial do G-5. O combate ao aquecimento global não será eficaz sem a participação do maior poluidor do mundo até ontem, os EUA. Mas também não avançará sem compromissos dos maiores poluidores de hoje, como China e Índia, que se mostraram irredutíveis sobre o assunto nas reuniões.

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