TEM GENTE QUE DIZ SIM, OUTROS NÃO !
Em Atlanta
Nos últimos dias, você ouviu - muito - como a atual crise financeira é a pior desde a Grande Depressão.Pode ser. Muito menos claro é se ela se transformará em algo de fato parecido com a Depressão, quando em três anos a economia encolheu quase pela metade e o desemprego chegou a 24%.As atuais medições econômicas ainda são muito mais animadoras que isso. Também há outras diferenças tranqüilizadoras.
Nos últimos dias, você ouviu - muito - como a atual crise financeira é a pior desde a Grande Depressão.Pode ser. Muito menos claro é se ela se transformará em algo de fato parecido com a Depressão, quando em três anos a economia encolheu quase pela metade e o desemprego chegou a 24%.As atuais medições econômicas ainda são muito mais animadoras que isso. Também há outras diferenças tranqüilizadoras.
Quando a Depressão começou, o país virtualmente não contava com uma rede de segurança para os necessitados e nenhuma regulação para os bancos. As autoridades do governo na época relutaram em resgatar os agentes do mercado em apuros.
Mas para alguns historiadores, o enredo atual exibe temas familiares."É um processo muito semelhante ao da Grande Depressão, porque o que você tem são pessoas não gastando dinheiro suficiente", disse o historiador Bryant Simon, da Universidade Temple, diretor de estudos americanos.Consumidores altamente endividados e bancos com problemas são tóxicos para uma economia movida pelo consumo, ele disse."Não é tão severo quanto daquela vez", disse Simon. "Mas se os bancos não emprestarem dinheiro, não é possível recolocar a economia em movimento, já que as pessoas não gastarão dinheiro suficiente."Os Estados Unidos têm enfrentado recessões periódicas e dolorosas durante sua história.
Mas a Grande Depressão foi tão ampla e profunda que provocou ação dramática para mudar as regras do mercado.Algumas dessas mudanças - como a garantia aos depósitos - tornam outra Depressão muito menos provável, concordam muitos especialistas.O atual arrocho de crédito pode testar a teoria.
O falecido economista Hyman Minsky disse que os sistemas capitalistas tendem a "se alavancarem constantemente com mais dívida", notou o ex-economista do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Tim Yeager, que foi um dos alunos de Minsky e agora é professor de finanças na Universidade de Arkansas."O crédito fica mais fraco, os empréstimos ficam cada vez piores e o risco cresce", disse Yeager. "É como um esquema de Ponzi."Ele ouve ecos nas manchetes financeiras atuais."Esta é uma boa explicação para o que aconteceu desta vez. É uma boa explicação para o que aconteceu na Grande Depressão."Na memória popular, o crash do mercado de ações em 1929 provocou a Depressão, apesar de muitos especialistas dizerem que o crash foi mais um sintoma do que a causa.
Novamente nas últimas semanas, o mercado tem oscilado de forma tensa."Isso é o que todos estão vendo agora e é onde as semelhanças terminam no momento", disse Tom Smith, professor de finanças da Escola de Negócios Goizueta da Universidade Emory.Mas apesar das semelhanças, o mercado de ações está longe de reproduzir o colapso da Grande Depressão.
O Dow, o índice das ações das grandes empresas, perdeu cerca de 40% em um ano.
Em outubro de 1929, as ações perderam 40% em um mês e perderiam quase 90% em três anos.Os bancos eram um foco na época assim como agora, mas por motivos diferentes, disse Smith."Nos anos 30 foi um fracasso do sistema bancário. O que tivemos desta vez foi um fracasso das práticas bancárias."Estas práticas incluíram a criação de papéis inovadores que visavam diluir o risco de empréstimos ruins. Em vez disso, eles espalharam o veneno financeiro ao redor do mundo quando o mercado imobiliário estagnou, já que muitos dos papéis eram apoiados por hipotecas.Outra diferença: durante a Depressão, a maioria dos empréstimos vinha de bancos comunitários pequenos, virtualmente não regulados. O governo não garantia os depósitos e os bancos podiam investi-los da forma que quisessem.
Assim que os Estados Unidos foram apanhados pela recessão econômica mundial, milhões de americanos viram suas rendas caírem. A aprovação da tarifa Smoot-Hawley exacerbou o problema ao reduzir o comércio. Muitos - especialmente na América rural - não conseguiam pagar suas dívidas.
A necessidade de obter dinheiro se acelerou até uma corrida frenética aos bancos, que não dispunham de dinheiro suficiente à mão para atender todos os depositantes ao mesmo tempo.Durante os primeiros 10 meses de 1930, 744 bancos faliram, disse Roger Cominsky, um sócio sediado em Buffalo da firma Hiscock & Barclay's Financial Institutions & Lending. Ao final da década, 9 mil tinham falido - quase um entre três.Em comparação, os bancos comunitários do século 21 são relativamente fortes. Mas eles têm uma participação nacional menor na concessão de empréstimos. Em vez deles, a economia depende de um punhado de grandes bancos e outras instituições financeiras.Ambas as crises ocorreram após "bolhas" econômicas que inflaram a riqueza de muitos americanos, pelo menos no papel.
Nos anos 20 foram as ações, e nesta década os imóveis.Em ambos os casos a propriedade foi impulsionada pelo crédito fácil, termos e regras fáceis que visavam encorajar os compradores a irem além de sua capacidade de pagar.Com as ações, era uma "margem" - os investidores precisavam apenas de uma fração do preço para realizar a compra. Um corretor emitia uma "call" (opção de compra) que exigia que o comprador apresentasse mais dinheiro, mas isso era fácil se os preços subissem. Com os imóveis residenciais, foi uma combinação de política pública que encorajava o crédito fácil, juntamente com práticas de empréstimo e investimento que alimentaram a farra.
Os consumidores usavam refinanciamento ou empréstimos tendo o imóvel como garantia para financiar outras grandes compras.
Tanto nas ações quanto nos imóveis, o jogo podia continuar enquanto os preços continuassem subindo.Durante os primeiros anos da Depressão, cerca de 40% dos empréstimos bancários eram garantidos com ações, disse Brian Olasov, diretor administrativo da McKenna Long & Aldridge, que presta consultoria a bancos e já realizou pesquisa extensa sobre crises bancárias."Agora, cerca de seis décimos dos portfólios dos bancos são relacionados a imóveis."Apesar das semelhanças, a maioria dos especialistas não acha que a crise de 2008 levará a uma repetição plena da Depressão.Mas Yeager, o ex-economista do Fed, disse que o pior ainda pode estar por vir."Há uma grande tempestade se formando."
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