terça-feira, 10 de março de 2009

TENSÃO PRÉ-SAL E PRÉ-OBAMA !

Os governos de Brasil e EUA estão mantendo contatos informais com o objetivo de fechar um futuro acordo comercial que aumente o fluxo de petróleo e derivados do Brasil para o vizinho do Norte, revelou ontem reportagem do “El País”. Segundo o jornal espanhol, o governo de Barack Obama já deixou clara sua intenção de aumentar consideravelmente as importações de petróleo brasileiro, com o objetivo de diminuir a dependência energética dos EUA em relação à Venezuela.
A reportagem é de Mônica Tavares e Eliane Oliveira e publicada pelo jornal O Globo, 10-03-2009.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que o Brasil tem interesse em ampliar os embarques de petróleo para o mercado americano.
Segundo o “El País”, o tema estaria na pauta de discussões entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama, que se encontram em Washington no próximo sábado, mas a informação foi desmentida pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim.
— O mundo inteiro quer comprar o nosso petróleo. Temos excesso de petróleo pesado. E Tupi e os poços (novos) vão produzir petróleo leve — disse Lobão, referindo-se à descoberta de campos de pré-sal.
Sobre a possibilidade de investimentos americanos no pré-sal, Lobão afirmou:
— Queremos investidores no pré-sal, venham de onde vierem. Se o acordo for concretizado, a consequência mais direta seria o deslocamento da Venezuela do mercado energético americano, o qual consome entre 40% e 70% da produção petrolífera venezuelana.
Do total das importações americanas de petróleo, 11% provêm da Venezuela. Tudo dependerá da quantidade de petróleo que a Petrobras conseguirá produzir nos próximos anos dos poços do pré-sal.
Amorim sugere que EUA comprem o etanol brasileiro
Em Brasília, a prioridade do governo é garantir o abastecimento interno, deixando de depender de importações de petróleo. Uma vez que essa meta seja alcançada, a Petrobras vai disputar os mercados mundiais de petróleo e seus derivados. Por sua proximidade geográfica e a fluidez do diálogo político que já estabeleceu com seu novo presidente, os EUA se convertem em um grande comprador potencial do petróleo brasileiro.
Amorim aproveitou a oportunidade para defender o etanol brasileiro:
— Se os EUA têm necessidade diversificar sua matriz energética, que comprem o etanol e eliminem as barreiras às importações do produto. Essa fonte de energia tem efeitos positivos sobre o meio ambiente.Ontem, o secretário de Agricultura, Tom Vilsack, disse que os EUA devem agir com rapidez para elevar a taxa de 10% de mistura de etanol à gasolina em dois ou três pontos percentuais.
Grupos agrícolas e de comercialização de etanol disseram que a proporção pode ser elevada para 15% ou 20% sem prejudicar os motores dos carros.

Se Obama vier com esse papinho de multiplicar as compras de petróleo brasileiro para reduzir a dependência venezuelana, Lula já tem uma resposta pronta: Negativo. Ou, como Celso Amorim diz, não em "diplomatês", mas em bom e claro português: "Querem comprar mais? Então comprem mais etanol. E sem sobretaxa!".
O comentário é de Eliane Cantanhêde, jornalista, e publicado no jornal Folha de S. Paulo, 10-03-2009.
A jornalista escreve:
"Essa reação, meio extemporânea, foi por causa de uma reportagem do jornal espanhol "El Pais", com o título "Obama quer o petróleo de Lula". E para quê? Para diminuir a dependência que os EUA têm do petróleo da Venezuela, sem falar de outros países nada amistosos. Até onde se saiba, o tema petróleo não está previsto no encontro Obama-Lula, no sábado. Aliás, nem foi colocado na reunião preparatória entre Amorim e a secretária de Estado, Hillary Clinton. Ao contrário, a intenção é aprofundar as conversas que vão de vento em popa desde o governo Bush sobre cooperação em biocombustíveis.
O governo brasileiro acha que o tema é chique e pega bem. Já falar em aumentar a venda de petróleo brasileiro para os EUA tem uma série de inconvenientes, e a reportagem do "El País" trouxe esse novo e explosivo, da redução da dependência norte-americana do petróleo da Venezuela e de Hugo Chávez. O Brasil correu a desmentir, por vários motivos.
Três deles:
1) a Venezuela é aliada preferencial e já está bastante atingida pela queda da demanda e do preço do petróleo no mercado internacional;
2) Lula vai a Obama como presidente do Brasil e como enviado informal da América do Sul para abrir portas, não para fechar;
3) apesar de as vendas de petróleo já estarem naturalmente aumentando, não é realista falar em aumentar mais nesta fase pré-pré-sal. O etanol é um vistoso e simpático pássaro na mão; o petróleo do pré-sal é um caro, incerto e não sabido pássaro voando. Entre ele e a Venezuela, Venezuela, claro!

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