sábado, 27 de junho de 2009

NOSSA MÍDIA E SEU DIA A DIA !

TEM COISAS QUE ACONTECEM COM NOSSA MÍDIA QUE É PARA REGISTRAR... DEVEMOS APRENDER COM NOSSOS ERROS !

21/6, Opinião e Notícia. Em uma matéria sobre assunto médico, nossa manchete se referia à “tuba uterina” como “tuba interina”. O erro ficou no ar algumas horas até ser corrigido.
22/6, Globo, pág. 3 do segundo caderno. Falando de uma videoinstalação do artista inglês Peter Greenaway baseada no famoso quadro do pintor Veronese “As bodas em Caná”, o jornal confunde o local com outro, e diz: “As bodas de Canaã”. Na verdade são locais distintos, “Caná” é a cidade onde supostamente ocorreu o primeiro milagre de Jesus, transformar água em vinho. “Canaã” é o nome de toda a região que compreende o atual Israel e áreas adjacentes da Jordânia, Síria e Líbano. Agradecemos ao leitor que nos alertou para esse erro. Fomos ver no New York Times, que era a fonte original do Globo, e estava correto, “Caná”. O erro foi do tradutor brasileiro. Veja aqui.
23/6, Valor, capa do caderno Empresas. Uma das chamadas na esquerda da capa diz: “… vendem suas bijoux na Grécia e Japão”. Para nós “bijou” é jóia, “bijoux” é o plural, mas por que a palavra estrangeira? Fomos olhar lá dentro na página B5 e é jóia mesmo, fala em: “… colares, brincos…”. Então por que não falar em português? E pior, “bijou” em francês é masculino, devia ser “seus bijoux”. Como já dissemos antes, o Valor é o jornal que demonstra mais desrespeito pela nossa língua.
24/6, Portal Reuters. “Bachelet Critica Brasil por sugerir não viajar ao Chile por H1N1”. O título dá a entender que H1N1 é alguma espécie de meio de transporte. A intenção de ter um título breve acabou ferindo a informação.Veja aqui.
24/6, Valor, capa. A legenda de uma foto diz: “Especializada na fabricação de não-tecidos, a empresa…”. O que quer dizer “não-tecidos”? Fomos ler lá dentro e não está muito claro, mas parece que são panos, ou o que nós chamaríamos de tecidos, que não são tecidos a partir de fios trançados por uma máquina para criar o pano, mas sim fabricados artificialmente. Mas achamos que o jornal devia dar uma informação inteligível para o leitor, e não o que vem no press-release da empresa.
25/6, Portal Estadão e Opinião e Notícia. Falando de um caso de corrupção na FUNASA, Fundação Nacional de Saúde, o portal disse que FUNASA é a Fundação Nacional do Índio, que como todos sabem é FUNAI. Nosso site reproduziu o absurdo. A diferença é que nossa revisão pegou o erro e o corrigiu ainda na mesma manhã. O do Estadão está lá até hoje. Veja aqui.
1º./7, Revista Exame. Primeiramente é preciso explicar como no dia 27/6 estamos citando uma matéria de 1/7: a Exame mente na data de capa, mais que as outras revistas. O assinante recebe na quinta 25/6 uma revista com data de uma semana depois. A matéria das pág. 92 e 93 é sobre países ricos e com pouca terra agrícola comprando várias áreas de terra em países pobres mas com muita terra, principalmente na África, para se abastecer de alimentos. Em dado momento o texto diz que os compradores “… mais interessados são os países desérticos no norte da África e do Oriente Médio”. Mas o gráfico logo acima mostra que os maiores são, pela ordem, China, Coreia do Sul, Vietnã, Catar e Arábia Saudita. São três da Ásia, que a frase acima não menciona, e dois do Oriente Médio. Nenhum é do norte da África.
Títulos estapafúrdios
24/6, Veja, índice da pág. 9 e pág. 150. O índice nos remete à pág. 150 dizendo: “Hammerstein, ou a Obstinação, de H. M. Enzensberger”. Ao lado uma foto com a legenda: “Enzensberger, o maior poeta europeu”. Lá na matéria o título é: “O melhor cérebro da Europa”. O subtítulo diz: “Hans Magnus Enzensberger, poeta e ensaísta alemão, é um exemplo raro de intelectual que examina os fatos antes de opinar”. Achamos tudo errado. Quem é este jornalista para decretar quem é o maior poeta europeu? Será que ele conhece todos tão bem assim? E “o maior cérebro”? É tão difícil traduzir bem poesia, como é que esta pessoa pode opinar sobre os poetas dos mais de 20 países da Europa? E o cérebro? Como é se pode comparar o deste poeta alemão com o do físico Stephen Hawkins, por exemplo? E a frase “um exemplo raro de intelectual que examina os fatos antes de opinar”? Nós pensávamos que qualquer intelectual de respeito agia assim.
24/6, IstoÉ, pág. 28. “Obama é o ‘mais estiloso do mundo’”. A revista cita um site inglês que elegeu os homens com estilo mais elegante do mundo, e Obama ficou em primeiro lugar. Provavelmente em inglês escreveram “stylish”, mas essa tradução “estiloso” não existe.
25/6, Globo, capa do caderno economia. O assunto que ocupa a página inteira é a redução de IPI dos automóveis que causou grande aumento nas vendas, como previsto. A manchete é: “IPI de carro menor por até seis meses”. Mas o absurdo é o subtítulo óbvio: “Preços caíram com redução de imposto”. Todos sabíamos disso, não? Como diria Nelson Rodrigues, é o óbvio ululante.

A baixa taxa de natalidade no mundo rico

Nesta semana o O&N dá destaque a uma série especial sobre velhice publicada na última edição da revista britânica The Economist.
Cerca de 25% das mulheres alemãs na faixa dos 40 anos não têm filhos. A taxa de fertilidade no país (uma estimativa do número de filhos que uma mulher pode ter ao longo da vida) é de 1,3, a mesma que no Japão e na Itália.
A chanceler alemã Angela Merkel reconhece que seu país precisa adotar políticas para incentivar as mulheres a terem mais filhos. Isto já vem sendo feito, por exemplo, nos EUA, na Grã-Bretanha e na França, que já conseguiram reverter a queda da taxa de fertilidade em seus territórios. Mas esta não é uma tarefa fácil.
Nas últimas décadas a taxa de fertilidade caiu significativamente em todos os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 1960, a taxa média era de 3,2 filhos por mulher. Hoje, é de 1,6. Considera-se que o ideal seria de 2,1 (sem levar em conta alterações nas taxas de mortalidade e dos fluxos migratórios).
Mesmo nos países mais pobres as taxas de fertilidade vêm diminuindo acentuadamente. Até agora, este vem sendo o fator mais importante no envelhecimento das populações em todo o mundo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A REESTRUTURAÇÃO DO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL !

"no momento em que as autoridades econômicas mundiais implementam políticas econômicas keynesianas e acenam com a possibilidade de se arquitetar uma nova ordem do SMI e o pensamento convencional de fé na eficiência dos mercados livres e desregulados é seriamente questionado, o resgate das ideias de Keynes acerca de políticas fiscal e monetária ativas e da reestruturação do SMI são essenciais para um desfecho menos sombrio para a crise financeira internacional e, principalmente, para a prevenção, em um futuro próximo, de outras crises financeiras que, en passant, são intrínsecas à lógica operacional das economias monetárias", escrevem Fernando Ferrari Filho, professor titular da UFRGS, pesquisador do CNPq e presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), Luiz Fernando de Paula professor adjunto da UERJ, pesquisador do CNPq e vice-presidente da AKB, em artigo publicado no jornal Valor, 22-06-2009.
Eis o artigo.
A presente crise financeira internacional - diga-se de passagem, inicialmente restrita às instituições financeiras americanas que se envolveram com créditos hipotecários de alto risco (subprime) e posteriormente dinamizada globalmente, uma vez que grande parte dessas hipotecas foi securitizada e distribuída a investidores do mercado financeiro -, cujo desdobramento acabou afetando profundamente a atividade econômica tanto dos países desenvolvidos, em maior escala, quanto dos países emergentes, tem gerado um consenso acerca da necessidade de se reestruturar o sistema monetário internacional (SMI), condição imprescindível para que a economia mundial volte a experimentar períodos de estabilidade e de crescimento dos níveis de produto e emprego.
Indo nessa direção, em abril passado o presidente do Banco Popular da China e os países membros do G-20 apresentaram algumas propostas que visam reestruturar o SMI. O presidente do banco chinês sugeriu a substituição do dólar como moeda de conversibilidade internacional por uma moeda universal, soberana e independente das decisões dos bancos centrais nacionais. De outro lado, o G-20 propôs, além da criação de uma linha de crédito emergencial de cerca de US$ 1,1 trilhão para aumentar o volume de funding do Fundo Monetário Internacional e dos bancos de desenvolvimento multilaterais e para financiar o comércio mundial, marcos regulatórios para o sistema financeiro - principalmente dos hedge funds -, reforma das instituições financeiras e restrições aos paraísos fiscais, entre outras medidas.
As proposições acima nos remetem à proposta de Keynes apresentada na conferência de Bretton Woods, em 1944, qual seja, a criação de uma autoridade monetária internacional, International Clearing Union (ICU), emissora de uma moeda de reserva internacional (bancor) não passível de entesouramento e especulação por parte dos agentes econômicos e com o objetivo específico de lastrear as relações comerciais e financeiras do SMI. Para que essa moeda pudesse dinamizar as operações econômicas entre os países, a estabilidade do SMI, segundo Keynes, deveria ser assegurada pela adoção de regras cambiais fixas, porém ajustáveis, e pela implementação de controle dos fluxos de capitais de curto prazo, essencialmente especulativos.
Ciente de que em economias monetárias da produção a organização dos mercados financeiros enfrenta um dilema entre liquidez e investimento - eles estimulam o desenvolvimento da atividade econômica, mas ao mesmo tempo aumentam as possibilidades dos ganhos especulativos -, a ideia central de Keynes, com sua ICU, era tornar a liquidez internacional mais elástica para expandir a demanda efetiva mundial. Para tanto, o bancor, em conjunto com as sistemáticas de taxas de câmbio administradas e de cerceamento da capacidade desestabilizadora dos fluxos de capitais de curto prazo, sinalizaria a convenção estabilizadora das expectativas dos agentes econômicos, fundamental para, ao reduzir o grau de incerteza acerca do comportamento futuro dos preços dos ativos e/ou contratos, induzir as suas tomadas de decisão de gastos, sejam de consumo, sejam de investimento, expandindo, por conseguinte, a atividade econômica e o nível de emprego em nível mundial.
A ironia do mundo globalizado e alicerçado no "fundamentalismo" da lógica autorreguladora dos mercados é que a solução para a crise financeira internacional passe, em termos práticos, pela implementação, por parte das principais autoridades econômicas mundiais, de políticas fiscais e monetárias contracíclicas keynesianas, e ainda por uma proposição de reestruturação do SMI de algum modo similar à apresentada por Keynes quando da conferência de Bretton Woods.
Em relação à praticidade das políticas fiscais e monetárias contracíclicas, as autoridades econômicas das principais economias mundiais, cientes de que a crise atual está relacionada à ausência de atuação do Estado e de uma regulamentação adequada, têm atuado agressivamente para atenuar o recrudescimento da crise financeira internacional e sua propagação prolongada para o lado real da economia mundial.
Assim, as políticas econômicas que foram implementadas nos últimos meses pelos EUA, nos países da zona do euro, no Japão e na China mostram que a crise deve ser enfrentada por meio da atuação de um banco central como prestador de última instância e da adoção de políticas fiscais expansionistas. Em suma, as autoridades econômicas dos referidos países estão implementando medidas econômicas essencialmente keynesianas de expansão da demanda efetiva.
Em termos teóricos, as proposições apresentadas pelo Banco Popular da China e pelo G-20 merecem duas reflexões. Por um lado, as referidas instituições reconhecem, assim como Keynes o fazia na "Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda", que a liberalização e desregulamentação dos mercados financeiros pode levar "as atividades econômicas de um país a tornarem-se um subproduto das atividades de um cassino". Por outro, as propostas sinalizadas pelo Banco Popular da China e pelo G-20 convergem para a proposta que Keynes apresentou há mais de 60 anos: reestruturação do SMI para que ele possa manter a estabilidade dos preços, provimento da liquidez necessária para a economia mundial e regulação dos ciclos econômicos.
Concluindo, no momento em que as autoridades econômicas mundiais implementam políticas econômicas keynesianas e acenam com a possibilidade de se arquitetar uma nova ordem do SMI e o pensamento convencional de fé na eficiência dos mercados livres e desregulados é seriamente questionado, o resgate das ideias de Keynes acerca de políticas fiscal e monetária ativas e da reestruturação do SMI são essenciais para um desfecho menos sombrio para a crise financeira internacional e, principalmente, para a prevenção, em um futuro próximo, de outras crises financeiras que, en passant, são intrínsecas à lógica operacional das economias monetárias.

domingo, 21 de junho de 2009

SÍNDROME DE POLIANA !

"No encontro de Copenhague, chegou-se a falar em corte, até 2050, de 100% nas emissões dos países ricos. Na média global, essa "descarbonização", como chamam os cientistas, terá que chegar a 80% em meados do século. Para isso, países em desenvolvimento terão que reduzir as suas emissões entre 70% e 75%.", escreve Marina Silva, senadora - PT-AC e ex-ministra do Meio Ambiente, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 15-06-2009. Segundo ela, o Brasil " faz a sua lição de casa incompleta e sem a necessária persistência".
Eis o artigo.
Acumulam-se as evidências de que a ação humana está mudando o clima da Terra em velocidade maior do que se pensava, acelerando a transformação de todos os ecossistemas.
Foi o que me disse há alguns dias Carlos Nobre, respeitado especialista em climatologia, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro do IPCC, o Painel de Mudanças Climáticas da ONU. Ele falava do encontro de cientistas de todo o mundo em Copenhague, na Dinamarca, numa reunião preparatória para a Conferência do Clima (COP-15), que acontecerá lá mesmo, em dezembro deste ano.
Segundo Nobre, as previsões estão sendo, infelizmente, revistas para pior. O mundo terá que tomar medidas enérgicas para conter o aquecimento global, cuja face mais visível é o derretimento crescente da cobertura de gelo do Ártico, no Polo Norte. A tendência é que ela se derreta completamente. "Isso é muito sério, e terá reflexos no clima de todo o planeta e em toda a biologia marinha", disse ele. "Antes, a previsão era de que isso poderia acontecer no ano 2100. Agora já se pensa em algo como 2030 a 2050".
Que no fim do século XXI a Terra será mais quente não há mais dúvidas. A questão, alerta Nobre, é de quanto será essa alteração. Há uma previsão de aumento médio da temperatura entre 1,8C e 4,5C.
Acima de 2C já poderá ser catastrófico, mas muitos, numa atitude que poderíamos chamar de síndrome de Poliana, preferem pensar que o aumento será de apenas 1,8C e tudo terminará bem. No entanto, ninguém pode garantir que não chegará a 4,5C. A hora é de precaução, o que significa reduzir drasticamente as emissões de carbono.
No encontro de Copenhague, chegou-se a falar em corte, até 2050, de 100% nas emissões dos países ricos. Na média global, essa "descarbonização", como chamam os cientistas, terá que chegar a 80% em meados do século. Para isso, países em desenvolvimento terão que reduzir as suas emissões entre 70% e 75%.
Percentuais à parte, o Brasil não pode se eximir de fazer o seu papel.
Nesse quesito, Poliana precisa ser avisada de que nem tudo vai bem.
Hoje o país faz a sua lição de casa incompleta e sem a necessária persistência. Volta atrás em caminhos penosamente percorridos e abre o flanco a riscos enormes de aumentar desmatamentos - nossa maior fonte de emissão de gases do efeito estufa-, e o Estado não induz a uma cultura de sustentabilidade.
Acorde, Poliana! A situação é grave, e hoje em dia não basta o pensamento positivo. Ele ajuda muito, mas apenas quando somado à coerência e à ação.

''Brasil, Rússia, China e Índia são os New Kids on the Block''

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, destacou a importância dos Brics no cenário global e os chamou de New Kids on the Block, em referência ao grupo musical americano que fez sucesso nos anos 80 e 90. Segundo ele, o uso de moeda comum para o comércio e a criação de um banco de fomento estão na pauta do grupo.
A entrevista é de Vivian Oswald e publicada pelo jornal O Globo, 17-06-2009.
Eis a entrevista.
Pode-se falar na institucionalização dos Brics?
Assinar um tratado e dizer que vai formar grupo não é imediato. Mas haverá reuniões periódicas. Na busca de respostas à crise, os Brics podem dar uma grande contribuição. Uma opção é o comércio em moeda comum, como fazemos com a Argentina. Quando (o presidente russo Dmitri) Medvedev se encontrou com o presidente Lula em novembro, o comércio da Rússia com o Brasil caiu brutalmente por razões externas. Os ministros dos quatro países podem tratar deste assunto nos próximos encontros.
A ideia da criação de um banco de fomento continua na pauta?
Podemos desenvolver um banco de fomento entre os quarto países. Evidentemente, outras coisas mais urgentes tomaram a frente na agenda. Mas os Brics podem, sim, ter um papel importante nesta área. Vê-se pelo aporte de U$ 10 bilhões que o Brasil fez no FMI, outros US$ 10 bilhões da Rússia, US$ 50 bilhões da China. Isso só confirma que eles podem atuar juntos.
Os Brics tendem a tomar lugar de outros grupos?
Os Brics são importantes mas não vieram para substituir outras alianças especiais que já temos constituídas, como o Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), a aproximação dos países latino-americanos, a parceria estratégica que temos com a União Europeia ou as excelentes relações com os EUA. São relevantes pelo seu peso na economia mundial. São os New Kids on the Block.
Qual o papel do G-8?
O G-8 (que reúne os sete países mais ricos do mundo e a Rússia) não tem mais sentido como diretório para tratar os destinos do mundo, nem econômico nem político. Se decidirem algo e os Brics não estiverem com eles, terá valor reduzido. O G-20 (grupo com as 20 maiores economias do mundo) vai existir como a formação mais importante. O mundo está mudando. E não dá para ter sete países ditando as regras. Os quatro países são muito diferentes.
Especialistas dizem que China pode não assumir compromissos profundos para preservar, por exemplo, seu relacionamento com os EUA?
A China está destinada a ser a maior economia do mundo. Mas o fato de se tornar a maior economia do mundo não vai acontecer como foi com os EUA. A China tem carências energéticas e alimentares. A relação dela com os Brics ou países como o Brasil vai ter que ser muito importante. Prova do interesses dos chineses pelo Brasil é o empréstimo para a Petrobras. Querem também abrir um banco de desenvolvimento no Brasil. A relação entre a China e os EUA é boa. As reservas internacionais chinesas ajudam a sustentar o Tesouro americano. Não acho que vá haver desengajamento por parte dos chineses nas decisões dos Brics.

O novo patamar da mundialização: a noosfera

Outrora, a partir da geosfera surgiu a litosfera (rochas), depois a hidrosfera (água), em seguida a atmosfera (ar), posteriormente a biosfera (vida) e por fim a antroposfera (ser humano). Agora a história madurou para uma etapa mais avançada do processo evolucionário, a da noosfera. Noosfera como a palavra diz (nous em grego significa mente e inteligência) expressa a convergência de mentes e corações, originando uma unidade mais alta e mais complexa. É o começo de uma nova história, a história da Terra unida com a Humanidade.
A análise é do teólogo e escritor Leonardo Boff em artigo na Agência Carta Maior, 09-06-2009.

Eis o artigo.
A atual crise econômica está colocando a humanidade diante de uma terrível bifurcação: ou segue o G-20 que teima em revitalizar um moribundo – o modelo vigente do capitalismo globalizado – que provocou a atual crise mundial e que, a continuar, poderá levar a uma tragédia ecológica e humanitária ou então tenta um novo paradigma que coloca a Terra, a vida e a Humanidade no centro e a economia a seu serviço e então fará nascer um novo patamar de civilização que garantirá mais equidade e humanidade em todas as relações a começar pelas produtivas.
A sensação que temos, é que estamos seguindo um vôo cego e tudo poderá acontecer. De um ponto de vista reflexivo, duas interpretações básicas da crise se apresentam: ou se trata de estertores de um moribundo ou de dores de parto de um novo ser.
Alinho-me na segunda alternativa, a do parto. Recuso-me a aceitar que depois de alguns milhões de anos de evolução sobre este planeta, sejamos expulsos dele nas próximas gerações. Se olharmos para trás, para o processo antropogênico, constamos indubitavelmente que temos caminhado na direção de formas mais altas de complexidade e de ordens cada vez mais interdependentes. O cenário não seria de morte mas de crise que nos fará sofrer muito mas que nos purificará para um novo ensaio civilizatório.
Não se pode negar que a globalização, mesmo em sua atual idade de ferro, criou as condições materiais para todo o tipo de relações entre os povos. Surgiu de fato uma consciência planetária. É como se o cérebro começasse a crescer fora da caixa craniana e pelas novas tecnologias penetrasse mais profundamente nos mistérios da natureza.
O ser humano está hominizando toda a realidade planetária. Se a Amazônia permanece em pé ou é derrubada, se as espécies continuam ou são dizimadas, se os solos e o ar são mantidos puros ou poluídos depende de decisões humanas. Terra e Humanidade estão formando uma única entidade global. O sistema nervoso central é constituído pelos cérebros humanos cada vez mais em sinapse e tomados pelo sentimento de pertença e de responsabilidade coletiva. Buscamos centros multidimensionais de observação, de análise, de pensamento e de governança.
Outrora, a partir da geosfera surgiu a litosfera (rochas), depois a hidrosfera (água), em seguida a atmosfera (ar), posteriormente a biosfera (vida) e por fim a antroposfera (ser humano). Agora a história madurou para uma etapa mais avançada do processo evolucionário, a da noosfera. Noosfera como a palavra diz (nous em grego significa mente e inteligência) expressa a convergência de mentes e corações, originando uma unidade mais alta e mais complexa. É o começo de uma nova história, a história da Terra unida com a Humanidade (expressão consciente e inteligente da Terra).
A história avança através de tentativas, acertos e erros. Nos dias atuais estamos assistindo à fase nascente da noosfera, que não consegue ainda ganhar a hegemonia por causa da força de um tipo de globalização excludente e pouco cooperativa, agora vastamente fragilizada por causa da crise sistêmica.
Mas estamos convencidos de que para a esta nova etapa - a da noosfera – conspiram as forças do universo que estão sempre produzindo novas emergências. É em função desta convergência na diversidade que está marchando nossa galáxia e, quem sabe, o próprio universo. No planeta Terra, minúsculo ponto azul-branco, perdido numa galáxia irrisória, num sistema solar marginal (a 27 mil anos luz do centro da galáxia), cristalizou-se para nós a noosfera. Ela é ainda frágil mas carrega o novo sentido da evolução. E não se exclui a possibilidade de outros mundos paralelos.
A atual crise torna necessária uma saída salvadora e esta é noosfera. Então vigorará a comunhão de mentes e corações, dos seres humanos entre si, com a Terra, com o inteiro universo e com o Atrator de todas as coisas.

terça-feira, 16 de junho de 2009

LULA: "PAÍSES DO BRIC'S CHEGARAM A MAIORIDADE "

O jornal espanhol El País publicou nesta terça-feira um artigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no qual ele diz que os países do BRIC - que reúne Brasil, Rússia, Índia e China - chegaram à maioridade.
No artigo, Lula fala sobre o encontro desta terça em Ecaterimburgo, na Rússia - a primeira reunião de cúpula oficial dos BRICs - afirmando que ele representa um marco importante na relação desses países com o mundo.
"Vamos selar o compromisso de ajudar a oferecer respostas novas para velhos problemas e uma liderança audaz frente à inércia e à indecisão", escreveu o presidente.
Para Lula, o mundo hoje enfrenta desafios de grande complexidade, mas que necessitam de respostas urgentes. "Temos diante de nós ameaças que nos afetam a todos, mas para as quais alguns contribuíram enormemente, enquanto outros não são mais do que vítimas impotentes.
" O presidente conclama todos os países a assumir suas responsabilidades e pede mais voz para os países emergentes na economia internacional."Os países ricos estão dispostos a aceitar uma supervisão e controle supranacionais do sistema financeiro internacional a fim de evitar o risco de outra crise econômica mundial?", pergunta Lula, "estão dispostos a renunciar ao seu controle sobre as decisões do Banco Mundial e do FMI?".
"Estarão de acordo em cobrir os custos da adaptação tecnológica necessária para que as pessoas dos países em vias de desenvolvimento também se beneficiem do progresso científico sem causar danos ao meio ambiente mundial?" "Eliminarão os subsídios que tornam a agricultura moderna inviável em muitos países em vias de desenvolvimento e deixam os camponeses pobres a mercê dos especuladores de matérias primas e doadores generosos?" "Essas são as perguntas para as quais os países do BRIC querem resposta", afirma Lula no artigo para o El País.
O presidente lembra que os BRICs defendem uma reforma no sistema de votos e cotas em organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial para que os emergentes tenham mais voz e afirma que, na próxima cúpula do G 20, eles vão pressionar para uma nova tentativa de concluir a Rodada Doha de comércio mundial.
Segundo Lula "essas iniciativas demonstram que os BRICs são mais do que um agrupamento de grandes países unidos apenas pela dimensão de suas economias, a amplitude de seus recursos naturais e o desejo de projetar seus valores e interesses"."Nos últimos anos, nossas quatro economias se destacaram por experimentar um sólido crescimento.
O comércio entre nós aumentou 500% desde 2003.
Isso ajuda a explicar porque hoje geramos 65% do crescimento mundial, o que nos converte na principal esperança para uma rápida recuperação da recessão mundial." Segundo Lula, isso também faz com que haja cada vez mais esperança de que os BRICs possam exercer uma liderança responsável com o fim de ajudar a reconstruir um governo global e um crescimento sustentável para todos."Este é um desafio que estou seguro de que todos aceitaremos", diz Lula, lembrando que, ainda nos tempos do sindicalismo, ele aprendeu que "para ser eficiente, não basta ter razão nem ter a justiça a nosso lado.
Ninguém fala em nome dos pobres e vulneráveis se eles não se unem previamente entre si. Para falar com energia, para dialogar, mas de uma posição de firme convicção respaldada por nosso pelo político".

sábado, 13 de junho de 2009

O BRASIL E A RECESSÃO "TÉCNICA" ! O QUE PENSAR ? A MAROLINHA, AFINAL CHEGOU AQUÍ ?

O BRASIL ESTÁ FINALMENTE PASSANDO POR UMA RECESSÃO ' TÉCNICA ' !
O GOVERNO DO PRESIDENTE LULA COMEMORA, POIS ERA PARA SER MAIOR, SEGUNDO ANALISTAS, DISSE...
OUTROS DIZEM... É AGORA QUE O PAÍS VAI COMEÇAR A SE RECUPERAR...
RECESSÃO OU NÃO, SÓ SEI DE UMA COISA...
OS PREÇOS QUE PAGO NO QUITANDEIRO.. CONTINUAM SUBINDO...
NO SUPERMERCADOS... NEM SE FALA... CADA MÊS SOBEM MAIS...
NA PADARIA... PARECE QUE CADA DIA COMO MAIS CARO...
ISSO É RECESSÃO ? O QUE SERÁ?
VAMOS LER O QUE DIZEM POR AÍ... PESSOAS, GENTE QUE ENTENDE DO ASSUNTO SOBRE ISSO...
O Brasil não cresceu tanto como a China e a Índia no início de 2009, mas não chegou a registrar tombo semelhante ao verificado nas economias desenvolvidas no mesmo período.
A reportagem é de Andrea Vialli e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 10-06-2009.
Em comparação ao primeiro trimestre do ano passado, a queda de 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nos primeiros três meses de 2009 mostra um desempenho pior do que o registrado na China (+6,1%), Índia (+5,8%), Polônia (+1,9%), Austrália (+0,4%) e Noruega (-0,3%).
Entre os Brics, o resultado brasileiro só não foi pior que o da Rússia, cujo tombo foi de 9,5% no primeiro trimestre de 2009, em comparação ao mesmo período do ano passado. Os dados foram compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em relação ao último trimestre de 2008, a queda de 0,8% do PIB brasileiro só foi pior do que os resultados apurados na Polônia e Austrália (+0,4%), Coreia do Sul (+0,1%) e Noruega (-0,4%). O Brasil ficou empatado com a Suíça (-0,8%) e em melhor situação quando comparado a países como França (-1,2%), Estados Unidos (-1,5%), Alemanha (-3,8%) e Japão (-4,0%). Os dados referentes a China e Índia no quarto trimestre de 2008 não estão disponíveis.
"O Brasil está no meio do caminho. E isso não é necessariamente ruim", afirma o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. Segundo ele, o PIB brasileiro não pode ser comparado ao de países como China e Índia, que estão em outro estágio de desenvolvimento. "O Brasil já passou pela maioria das etapas que esses países estão passando, como a transição da economia rural para a urbana, a democratização, o controle da inflação", afirma Leite.
Em termos comparativos, a China chegou a sentir o baque da crise econômica de forma proporcional ao Brasil. "Até meados do ano passado, a China vinha crescendo 12% ao ano, e deve fechar 2009 com 7% de crescimento. O Brasil vinha a 5% e devemos chegar a zero. Não estamos em situação pior."
RAPIDEZ
No entanto, a China mostrou maior agilidade no enfrentamento da crise, o que sustentou parte do seu desempenho. "Em novembro, o país anunciou um pacote de quase US$ 600 bilhões em investimentos em infraestrutura. Além disso, eles baixaram os juros e tomaram medidas fiscais, o que trouxe reflexos imediatos", afirma Filipe Albert, economista da Tendências Consultoria. "Mas o Brasil está bem posicionado. O tombo esperado era de 2% nesse trimestre. Veio 0,8%."
Ex-ministro da Fazenda, o economista Delfim Netto afirma que é "irrelevante" o marco da recessão técnica, configurada pelos dois trimestres seguidos de contração. Para ele, o país sairá com facilidade do atual quadro, que poderia ter sido melhor se o BC tivesse instrumentos para garantir o financiamento às exportações e a rolagem da dívida privada.
A entrevista é de Toni Sciarretta e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 10-06-2009.
Eis a entrevista.
Essa discussão sobre a recessão técnica é relevante?
Essa discussão é completamente irrelevante. Como toda convenção, não significa mais do que isso: duas quedas continuadas e sucessivas do PIB. O importante é que tivemos uma queda generalizada. É uma situação que já passou, mas que foi bastante ruim.
Qual a sua avaliação?
É uma situação um pouco menos ruim do que se supunha. Os pessimistas esperavam 3%, e os otimistas, 1,5%. Acredito que no segundo trimestre tenha recuperado um pouquinho, mas você terá ainda notícias ruins.
Por que todos erraram?
Tudo isso é palpite. Ontem o mercado apostava em [PIB de] menos 3,5%. Leva à conclusão de que o mercado não sabe nada.
Qual a diferença em relação às recessões anteriores?
As grandes recessões que tivemos foram todas induzidas -aconteceu em 1981, 1982 e 1983. Induzidas porque você tinha um déficit externo que não era financiável. Aquela recessão produziu os resultados que dela se esperavam: o equilíbrio externo. Esta recessão é muito mais importada.
Certamente, [a recessão] foi muito maior do que precisava se o BC pudesse usar sua musculatura para dar conforto para o sistema bancário. O BC agiu sempre na direção certa, mas sempre lentamente. O agente público do BC não tem segurança jurídica para tomar a responsabilidade que ele precisava. Age com essa autonomia restrita.
O senhor está se referindo apenas aos juros?
Não é só juros. Era dar conforto, garantir que podíamos financiar os títulos [privados] que estavam vencendo, que podíamos acelerar as exportações.
Como sairemos da atual recessão?
Vamos supor que não tenhamos crescido no segundo trimestre em relação ao primeiro -que o PIB fique constante; no terceiro trimestre, que cresça 1%, e, no quarto trimestre, mais 1%. Quando chegar ao final do ano, já está com crescimento próximo do positivo.
De alguma forma, a política monetária terá algum efeito. Os investimentos do governo também estarão maturando. Quando estivermos nos aproximando do segundo semestre de 2010, vamos estar rodando entre 3,5% a 4%. Não é preciso um esforço gigantesco. Se isso acontecer, a eleição será com o Brasil a 3,8%, 4%, o que não é mau. Estamos fazendo o que pode ser feito no Brasil. Se comparar o esforço brasileiro com o chinês é uma piada. Eles têm muito mais recursos e outra estrutura.

O ex-ministro Rubens Ricupero avalia que os dados do 1º trimestre mostram que o País ainda pode crescer em 2009.
A entrevista é de Leandro Modé e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 10-06-2009.
Eis a entrevista.
Como vê o resultado do PIB?
Os números confirmam que os efeitos da crise no Brasil serão relativamente menores do que em outras economias. O dado mais importante foi o consumo - das famílias e do governo -, que ratificou a visão de que a demanda está salvando a economia brasileira. A impressão é de que o primeiro trimestre é um bom augúrio para o resto do ano, uma vez que nos próximos meses haverá um reforço ainda maior do consumo. Em meados do ano, começará a ser sentido o efeito do aumento do funcionalismo público, que se somará ao reajuste do salário mínimo e ao Bolsa-Família. É provável até que o PIB do ano não seja negativo, como a maior parte do mercado espera.
A expansão no 1º trimestre torna mais factível a projeção de crescimento do governo, de 1%?
Não sei se o PIB chegará a ser positivo, mas acho que nos aproximamos do zero com tendência para acima de zero. Minha impressão pessoal é de que vamos ter crescimento positivo.
A recessão técnica poderia ter sido evitada?
O importante não é que tenhamos sofrido o primeiro impacto, que afetou todos os países. Mas que ele tenha sido minorado pelas medidas de política econômica adotadas. Elas permitem que agora possamos sair rapidamente desses dois trimestres de queda.
A expansão fiscal promovida pelo governo para amortecer os efeitos da crise preocupa?
Não tenho preocupação com a expansão fiscal relacionada ao investimento, mas com o aumento dos gastos correntes.
O PIB do 1º trimestre influencia a decisão do Copom?
Não acho que altere a tendência de redução. O que se pode ver nesses números é que os cortes do juro estão começando a ter efeitos, mas não de maneira exagerada. Estamos ainda com capacidade ociosa, o que recomenda que se mantenha uma queda vigorosa dos juros. Eu preferia uma baixa de 1 ponto porcentual.
A crise pode piorar lá fora?
Acho pouco provável. A impressão é de que o fundo da crise já foi atingido e começamos a vislumbrar os primeiros sinais de estabilização e um começo, ainda tímido, de recuperação.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

BRASIL CREDOR DO FMI : QUE SIGNIFICA ISSO ? COMO ESTÁ O FMI ATUALMENTE ?

SERÁ QUE SEREMOS MELHORES DEPOIS DESTA NOTÍCIA ? QUAL É O SIGNIFICADO DISSO PARA A POPULAÇÃO DO BRASIL ?


ALGUÉM VAI SAIR GANHANDO NESTA HISTÓRIA TODA...

Brasil emprestará US$ 10 bilhões e passará a ser credor do FMI
Por meio de compra de bônus de dívida, pela primeira vez na história, País vai injetar recursos no Fundo
Fabio Graner, Renata Veríssimo e BRASÍLIA, ESTADÃO
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem um empréstimo de US$ 10 bilhões do Brasil para o Fundo Monetário Internacional (FMI). Será a primeira vez na história em que será realizada uma operação dessa natureza. Com o empréstimo, o Brasil passará à condição de credor do Fundo, que fará uma emissão de bônus (títulos de dívida) que serão adquiridos pelo País. O montante de US$ 10 bilhões será expresso nos papéis em Direitos Especiais de Saque (DES), a moeda com que trabalha o FMI.
Mantega explicou que o aporte será realizado assim que a diretoria do Fundo concluir a emissão do bônus, que será adquirido não só pelo Brasil mas também pela China (US$ 50 bilhões), pela Rússia (US$ 10 bilhões) e pela Índia, que ainda não anunciou o valor do aporte.
Ele destacou que, dessa forma, os Brics - como são chamados os quatro países emergentes - vão colaborar para recuperar os países mais atingidos pela crise. O dinheiro faz parte de um conjunto de US$ 500 bilhões que os cotistas do Fundo, incluindo países desenvolvidos, como EUA e Japão, vão aportar na instituição. Segundo o ministro, à medida que os países vão se recuperando, os recursos vão estimular a retomada do comércio internacional e fazer com que a economia mundial saia mais rapidamente da crise.
Ele explicou que a emissão do bônus é uma forma de aplicação financeira dos recursos das reservas internacionais brasileiras. A maior parte dessa reserva está aplicada em títulos do Tesouro americano. E o restante está alocado em outras aplicações "sólidas", como esta que será feita com o FMI. "A decisão de onde vão sair os recursos é do Banco Central, que é quem administra as reservas", disse Mantega destacando que o rendimento desses bônus do FMI ainda não está definido, mas não deve ser muito diferente dos cobrados nos títulos do Tesouro americano. "Não vamos esperar um grande rendimento porque senão o FMI teria de repassar esse custo para os países que tomarem dinheiro emprestado."O ministro disse ainda que esta não é uma ação para enfraquecer o dólar, mas representa um reconhecimento da importância de outros ativos nas transações internacionais. "Não nos interessa enfraquecer o dólar porque isso significa valorização do real, o que prejudica as exportações", disse Mantega. O objetivo, segundo ele, é fortalecer os Direitos Especiais de Saque do FMI.
O ministro lembrou que até poucos anos atrás, era o País que recorria à instituição. "O Brasil está encontrando condições de solidez para emprestar ao FMI. No passado, era o contrário", destacou. Ele salientou que o País hoje tem fluxo de capital positivo e reservas internacionais elevadas. Além dos US$ 10 bilhões anunciados ontem por Mantega, o Brasil já havia colocado à disposição do FMI, na reunião de abril do G-20 (as 20 economias mais ricas do mundo) cerca de US$ 4,5 bilhões. Esse dinheiro, no entanto, só será repassado caso a instituição considere necessário e não será feito por meio de aquisição de bônus. Mantega lembrou que esses recursos que estão sendo colocados agora na instituição não mudam a participação do Brasil no fundo, cujo processo de revisão está sendo previsto para ser concluído em janeiro de 2011. O Brasil quer maior participação nas cotas do FMI para ter mais influência nas decisões do organismo.
A NOVA FASE DO FMI
LE MONDE...
Chamavam-no de moribundo, injusto, até inútil. Até alguns meses atrás, antes da crise financeira, ele era vilipendiado pelos militantes antiglobalização, cruzados contra esse símbolo do liberalismo triunfante. Detestado pelos ultraliberais, que viam ali o resíduo de um dirigismo ultrapassado.

Mas a crise veio, e o Fundo Monetário Internacional (FMI) hoje é reconhecido, solicitado como nunca.Última prova dessa volta por cima, o Congresso dos EUA se prepara para votar, no início de junho, um orçamento de US$ 108 bilhões destinados a ele: é exatamente o inverso de 2008, quando o Fundo foi intimado pelo Tesouro americano a demitir 500 dos 2.800 funcionários para reduzir o déficit no qual ele se afundava.

Anteriormente, em 3 de abril, em Londres, os dirigentes do G20 haviam decidido dotar o FMI de US$ 750 bilhões de reservas suplementares para lhe permitir socorrer os países em risco por causa da crise.Alguns - e não somente no Partido Socialista francês - acreditam detectar nessa espetacular virada o dedo do especialista em "tendências" que é Dominique Strauss-Kahn, diretor-geral do FMI há 18 meses. Outros pensam que essa mudança de direção se deve aos ventos políticos mundiais que giraram 180o com a recessão mundial.

Em 1944, em Bretton Woods, New Hampshire (EUA), o FMI foi criado por 45 países como reação à crise dos anos 1930, quando o cada-um-por-si dos Estados foi devastador.

Ele recebeu como missão promover a cooperação monetária internacional, a estabilidade das mudanças e o crescimento harmonioso do comércio mundial. Instalado em Washington, ele vigia as tempestades e estabelece a cada ano uma auditoria sobre a situação de cada país. Quando a crise aparece, ele empresta dinheiro aos Estados em dificuldade para que eles possam defender sua moeda e restabelecer sua balança comercial.

Ao longo dos anos, o Fundo viu sua imagem de bombeiro herói virar uma caricatura de bicho-papão. Impregnados pelo "consenso de Washington" de inspiração anglo-saxã, seus dirigentes adquiriram o hábito de impor pressões aos países que pediam ajuda: os déficits foram suprimidos abruptamente, os serviços públicos privatizados, os programas de proteção social, revistos. "Esses países haviam pecado e deviam ser punidos", explica um veterano do FMI. "Era essa a mentalidade".O filme "Bamako"(2006), de Abderrahmane Sissako, levou às telas a exasperação dos africanos em relação a essa política conduzida nos anos 1990.

A Argentina, arruinada pela crise de 2001, assim como pelas remediações do FMI, o considera malévolo por natureza. E o esquentado presidente venezuelano Hugo Chávez lutou por muito tempo para criar um FMI sul-americano que funcionasse seguindo os princípios de sua revolução "bolivariana".

Essa reputação infeliz forçou os países emergentes a constituírem reservas, assim que o crescimento lhes permitiu liberar excedentes, para nunca mais terem de "passar pelas humilhações" do FMI - expressão costumeira para designar as pressões macroeconômicas que lhes eram impostas. Assim, por dezenas de bilhões de dólares, a Argentina, o Brasil ou a Indonésia pagaram suas dívidas antecipadamente, em 2006 e 2007.

Quando Dominique Strauss-Kahn assumiu sua direção, em 1º de dezembro de 2007, a instituição não tinha moral. Faltava dinheiro, missões, legitimidade. No início de 2008, o Fundo não tinha mais ninguém para salvar, portanto não tinha mais empréstimos para distribuir - US$ 14 bilhões de dívidas em 2006, contra 86 bilhões em 1998 - e não tinha mais receitas. O orçamento de funcionamento se encaminhava em 2007 para os US$ 110 milhões de perdas. Pior, os grandes países em desenvolvimento como a China, o Brasil, a Índia ou o México não suportavam mais o controle dos países desenvolvidos sobre o Fundo, sempre dirigido por um europeu, vigiado de perto pelo Tesouro americano e povoado de economistas saídos das mesmas universidades americanas e europeias. Os direitos de voto dos países ricos (EUA, Canadá, Austrália, Japão, Europa dos 27) eram amplamente majoritários.Então tudo mudou com a crise financeira - que o FMI não viu chegar.

A nova situação vai obrigar o governo americano a reinventar um intervencionismo sem precedentes. Trilhões de dólares são mobilizados para apagar o incêndio. O FMI cria coragem e exige dos Estados que têm os meios que dediquem pelo menos 2% de seu PIB para reanimar a demanda. Saem os orçamentos em equilíbrio, entram os déficits astronômicos e "provisórios"! A primazia do privado é esquecida: vivam as nacionalizações do setor automobilístico ou dos bancos e a compra com dinheiro público dos ativos podres que elas acumularam! O ultraliberalismo está na pior.
Strauss-Kahn vai aproveitar essa conjuntura caótica para modificar a percepção que as nações têm do Fundo. Mostrando-se abertamente pessimista desde a primavera de 2008, ele irrita Washington, Berlim e Paris, mas os fatos lhe dão razão: a recessão é mundial. Sua credibilidade aumenta. Ele acaba com as "sangrias" prescritas a torto e a direito pelos sabe-tudo. Se os países devem apertar os cintos, é inútil piorar o destino dos mais desfavorecidos.

O Fundo aceita que o déficit do Paquistão seja mais elevado do que o desejável para preservar um pouco da previdência social. Na Hungria, ele aconselha não associar os aposentados mais pobres aos sacrifícios.Melhor: no fim de 2008, por iniciativa da Indonésia e da Holanda, o FMI estabelece uma nova linha de crédito "modulável", sem imposições e destinada aos países em dificuldade que não tiveram culpa de nada. Em abril, o México obteve US$ 47 bilhões que ele não utilizará, mas que tranquilizam os mercados e fazem o peso voltar a subir. Agora, não é mais vergonhoso emprestar do Fundo.

A questão dos direitos especiais de saque (DES) confirma essa revolução. Inutilizados desde 1981, os DES são direitos concedidos aos países-membros de fazer empréstimos em dólares, euros, yenes ou libras proporcionalmente à sua contribuição. Em Londres, o G20 decidiu que os US$ 250 bilhões de DES seriam emitidos em breve.Os países africanos se beneficiarão, graças a esse mecanismo, de US$ 19 bilhões de dinheiro barato e sem imposições... o que desagrada tanto ao conselho de administração quanto à gerência do Fundo, que julgam, por exemplo, a República Democrática do Congo incapaz de administrar bem essa quantia. "São muitos aqueles que, entre nós, pensam que alguns países vão fazer qualquer coisa com esse dinheiro e fugir de nossa vigilância", explica um membro da diretoria. "Mas o diretor-geral optou por uma linha política que exclui uma tutela permanente, e como a casa é um pouco do tipo militar, todo mundo vai obedecer".
E o Fundo volta a empregar, para ser eficaz em tempos de crise.Strauss-Kahn aproveitou a vontade dos chineses de questionar a hegemonia do dólar para se tornar seu aliado objetivo. Os cerca de 40 bilhões de dólares que Pequim trará ao FMI para reforçar suas capacidades de intervenção deverão tomar a forma de uma subscrição de obrigações emitidas pelo Fundo... e concorrentes das obrigações do Tesouro americano.

Que atrevimento, Strauss-Kahn! Em 2 de abril, conta um colaborador do G20, "ele mobilizou os africanos para dissuadir Gordon Brown de dar aos países pobres a mais-valia de US$ 6 bilhões da próxima venda das 403 toneladas de ouro. Ele lhes convenceu que a medida era demagógica, pois o ouro seria vendido muito lentamente, e que a mesma soma poderia ser obtida mais rapidamente sob forma de empréstimos vantajosos"."Será que o FMI teria, afinal, uma alma?", se perguntava em 21 de abril o jornal comunista "L'Humanité". Será que o Fundo teria restabelecido sua imagem? Ainda não, responde Guido Mantega, o ministro brasileiro da Economia: "Ele se arrependeu de muitos de seus pecados originais, mas ele continua tendo de responder ao principal dentre eles, que é seu déficit democrático". As ONGs pensam da mesma forma. "Strauss-Kahn recolocou o FMI em funcionamento", comenta Sébastien Fourmy, porta-voz da Oxfam France-Agir Ici. "Mas isso não basta. É preciso aproveitar a crise para rever a arquitetura das instituições mundiais, para que o FMI não volte a dar as cartas em matéria de desenvolvimento.
Chega de remendos, vamos nos empenhar em reformas de verdade".Ainda há muito o que fazer, confirma Jean Pisani-Ferry, diretor do Bruegel, centro de pesquisa e debate sobre as políticas econômicas da Europa. "O FMI não teve sucesso em sua missão de vigilância multilateral", ele ressalta. "Se ele quiser ver seu papel reconhecido na questão, é preciso que ele elabore uma verdadeira doutrina, pois não será fácil para ele vigiar os grandes países, especialmente os Estados Unidos. Ele deve se aproveitar de sua fragilidade e da boa vontade do presidente Obama para estabelecer sua legitimidade".Na visão desse economista, o Fundo também deve resolver seu problema de legitimidade: "A reforma das quotas e dos votos que foi decidida em 2008 não é séria: a China continua a ter menos peso que a França, a Índia menos que a Itália, e o Brasil menos que a Bélgica!"

terça-feira, 9 de junho de 2009

SÓ RINDO MESMO...

DIZEM QUE A VIDA NÃO É MUITO ENGRAÇADA !
TALVEZ NÃO !
MAS UMA COISA EU SEMPRE DIGO: RIR FAZ UM BEM DANADO,
RIR DE NOSSAS PRÓPRIAS TOLICES,
E DAS DOS OUTROS É MAIS ENGRAÇADO AINDA...
VAMOS ENTÃO ... RIR..... HAHAHAHAHAHA...
DEVEMOS RECICLAR... AFINAL ESTA É A MODA DO MOMENTO...PODE ?

SABIA QUE EU JÁ TINHA PENSADO NISSO ?
QUANTOS POBRES VIAJARAM DE AVIÃO NOS ÚLTIMOS 500 ANOS ?
A POBREZA E A RIQUEZA CAMINHAM JUNTAS...
EU ACHO QUE SÓ O RAMBOS - DE I a V - PODERÃO SALVAR AS JORNALISTAS...
TALVEZ TAMBÉM... O HOMEM ARANHA 1 a 3 .. SUPERMAN - 1 a 4
CAPITÃO AMÉRICA... BATMAN E ROBIN...
QUEM MAIS PODERÁ AJUDAR BARACK OBAMA ?
QUE ESSE "SUPER HERÓI" APAREÇA LOGO...
E O MOTIVO TODO MUNDO JÁ CONHECE
QUE O DE CIMA SOBRE E O DE BAIXO DESCE...

domingo, 7 de junho de 2009

AS SEIS TECNOLOGIAS QUE MOLDAM NOSSO MUNDO !

OLHA AÍ... ESSA É BOA... COMO SÓ FALAMOS DE COISAS LIGADAS À CRISE... POR AÍ VAI... ENTÃO RESOLVÍ PUBLICAR COISAS MAIS PRÁTICAS..
A TECNOLOGIA EM NOSSO DIA A DIA !

Quais seriam hoje as tecnologias que moldam nosso mundo no ensino, na aprendizagem, na pesquisa e nas aplicações mais criativas? A resposta a essa questão é dada por um dos mais prestigiosos estudos internacionais, o Relatório Horizon (Horizon Report), que seleciona seis tecnologias: mobilidade, computação em nuvem (cloud computing), geo-tudo (geo-everything), internet pessoal, aplicações semânticas e objetos inteligentes.
A reportagem é de Ethevaldo Siqueira e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 07-06-2009.
Elaborado de forma inteiramente colaborativa entre as organizações The New Consortium e a EduCause Learning Iniciative, o Horizon Report 2009 é um dos documentos mais interessantes sobre o futuro. Meu primeiro contato com esse estudo ocorreu por intermédio de Jean Paul Jacob, professor e cientista brasileiro que leciona na Universidade de Berkeley, na Califórnia, e um dos integrantes do grupo de pesquisadores que elabora o relatório. O documento está acessível
aqui. É um bom exemplo de colaboração entre centenas de pesquisadores e cientistas.
As seis tecnologias foram consideradas tendências dominantes para os próximos cinco anos. A maior probabilidade é da que obteve pleno consenso ou quase unanimidade de que seu impacto ocorrerá ainda em 2009. O segundo nível estima sua máxima efetividade em três anos. E o terceiro, em quatro ou cinco anos. Algumas tecnologias já estão em pleno uso, como é o caso da mobilidade (celular) e da computação em nuvem (cloud computing).
Mobilidade
- Embora seja uma tecnologia bastante madura, o celular continua a evoluir rapidamente. Novas interfaces, capacidade de rodar aplicações de terceiros e a possibilidade de localização a qualquer instante são avanços recentes que tornaram o celular uma ferramenta versátil que pode ser facilmente adaptada a um conjunto de tarefas, incluindo ensino, produtividade e redes sociais. Os smartphones mais recentes tendem a assumir o papel e as funções de computadores portáteis, a começar do iPhone.
Computação em nuvem (cloud computing) é o uso da internet como recurso mundial de computação. O mundo dispõe cada dia mais da capacidade de armazenamento das "fazendas de dados" (data farms), que são aglomerados de servidores em rede, capazes de fornecer imenso poder de processamento e fácil acesso. Soluções simples e baratas para armazenamento remoto, aplicações multiusuários, hospedagem e computação com multiprocessamento - tudo isso trará nova visão e novos conceitos sobre computadores, software e arquivos.
Geo-tudo é a tradução livre proposta para a expressão Geo-Everything, que se refere aos dados e às incontáveis aplicações de localização de pessoas e dispositivos. Difíceis e complicadas no passado, essas aplicações se tornaram incrivelmente simples e fáceis nos últimos dois anos. Diversos dispositivos relativamente comuns podem hoje determinar e registrar com precisão sua própria localização (via GPS ou técnicas de triangulação de celular), salvar esses dados em mídia capturada (como fotografia) e transmiti-los via internet para um conjunto de usos.
Internet pessoal é parte de uma tendência resultante da ação de ferramentas que reúnem o fluxo de conteúdo em formas customizáveis e expandidas por um conjunto de widgets (interfaces gráficas) que administram o conteúdo online. A expressão internet pessoal foi cunhada para representar uma coleção de tecnologias usadas para configurar e gerenciar os modos que cada pessoa usa a internet.
Aplicações semânticas são ferramentas projetadas para usar o significado ou a semântica da informação na internet, para fazer conexões e prover respostas que, de outro modo, exigiriam longo tempo e grande esforço. A ideia que está por trás da web semântica é a de que, embora os dados online estejam disponíveis para a busca, seu significado não está. Os computadores são boas máquinas para nos dar o retorno de palavras-chave, mas muito ruins para entender o contexto no qual as palavras-chave são usadas. Diante da palavra turkey, o motor de busca pode nos dar respostas ligadas à ave (peru), a receitas de assados para o Natal, ou ao país (Turquia), sem fazer qualquer distinção entre os diferentes sentidos.
Objetos inteligentes são muitas vezes chamados de "internet das coisas" (internet of things). Objetos inteligentes abrangem um conjunto de tecnologias que podem conferir a objetos comuns a capacidade de reconhecer sua localização física e responder adequadamente ou conectar-se com outros objetos ou informação. Um objeto inteligente "sabe" alguma coisa sobre si mesmo - onde e como foi feito, para que é usado, onde deveria estar ou quem é o seu dono, por exemplo - e alguma coisa também sobre seu ambiente. Embora as tecnologias que a eles estão subjacentes - identificação por radiofrequência (RFID), cartões inteligentes (smartcards), código de barras, sensores de toque e de movimento - não sejam novas, estamos vendo hoje novas formas de sensores, identificadores e aplicações com muito mais funcionalidades.

A crise financeira: duração e impacto no Brasil e na AL

GRIPE SUÍNA, AVIÕES QUE CAÍRAM... MÍSSEIS NA CORÉIA DO NORTE, CHUVAS TORRENCIAIS NO NORTE E NORDESTE DO BRASIL,...
NOTÍCIAS VÃO E VEM, MAS NÃO PODEMOS DEIXAR DE LADO AQUELAS QUE MAIS NOS INTERESSAM: OS NOTICIÁRIOS ECONÔMICOS...

ENTÃO, LÁ VAI MAIS UMA :
As expectativas de crescimento médio do PIB para a America Latina tornaram-se negativas para 2009, embora no Brasil as estimativas do Governo ainda sejam ligeiramente positivas. A resistência da America Latina a esta crise parece ser bastante maior do que na crise da divida externa de 1982-83 quando todos os países estavam fortemente endividados e não resistiram ao fechamento do crédito internacional que ocorreu a partir dos choques simultâneos de petróleo e de juros em final de 1979. A maioria dos países da região tem hoje reservas internacionais importantes e os seus governos não se encontram endividados no exterior. A análise é de Maria da Conceição Tavares, economista, professora Emérita da UFRJ, professora Associada da Unicamp e publicada pela Carta Maior, 05-06-2009.
Eis o artigo.

I – As raízes da atual crise
A financeirização da riqueza passou a ser, deste a década de 1980, um padrão sistêmico globalizado em que a valorização e a concorrência no capitalismo operam sobre a dominância da lógica financeira. Esta lógica originou-se nos EUA e transferiu-se para Londres, no Euromercado na década de 70. Regressou à Nova York na década de 80 com a diplomacia do dólar forte e tornou-se a lógica da globalização financeira.
Ao alcançar Tóquio, no final da década de 80, acabou pondo em risco o capitalismo organizado japonês e o seu “produtivismo triunfante”, levando o Japão à maior crise do pós-guerra, na década de 90. Finalmente a lógica da financeirização está sendo posta em tela de juízo na atual crise mundial.
A aliança entre o grande capital financeiro globalizado e as políticas frouxas do FED durante à década de 90 levaram a economia americana a uma expansão do consumo e do investimento, com alto grau de endividamento do Estado, das famílias, das empresas e dos bancos, que se manteve muito além das expectativas da maioria dos seus próprios economistas, até às vésperas da crise atual (1).
As preocupações centrais de alguns macro-economistas eram com o déficit, o crescente do balanço de transações correntes e com o endividamento externo gigantesco do Estado americano, os quais, segundo eles, terminariam minando o dólar como moeda reserva, forçando a economia americana a um ajuste (monetário, fiscal e de balanço de pagamentos) muito mais grave que o praticado no início da década de 80.
O novo presidente do FED do governo Clinton, Alan Greenspan, um dos defensores e promotores do novo sistema, tinha muito claro o papel financeiro do dólar na economia mundial globalizada (2). O déficit de transações correntes não o preocupava, já que a absorção externa de recursos por parte da economia americana era funcional à sustentação do crescimento através do comércio internacional das economias mais abertas como algumas da América Latina e, sobretudo, dos países do Leste Asiático. Estes fortemente superavitários com o dólar, tinham de aceitá-lo como moeda reserva.
Greenspan pode ser acusado, porém, de ter feito vista grossa aos efeitos que a desregulamentação bancária radical e a política monetária e de supervisão frouxas, provocaram no funcionamento altamente especulativo das instituições financeiras dentro do próprio mercado americano (3).
A partir da segunda metade da década de 90 sucederam-se uma série de crises cambiais e financeiras em vários países periféricos, que deram lugar a uma fuga de capital para os EUA, onde a valorização dos ativos financeiros confirmava a supremacia indiscutível do mercado de capitais de Nova York. A explosão acionária de Wall Street levou a um ciclo de fusões e aquisições em que os grandes bancos americanos tornaram-se mega-instituições à escala mundial, superando de longe todos os seus antigosconcorrentes europeus e japoneses. Não havendo mais segmentação formal das instituições do mercado financeiro, os bancos americanos converteram-se em verdadeiros supermercados financeiros que operavam nos mercados futuros e em novos derivativos de crédito com a criação de instrumentos de securitização que permitiam a alavancagem desvairada do crédito no mercado financeiro interno. Foi assim, com créditos alavancados de curto prazo, que várias companhias americanas financiaram o investimento de longo prazo em áreas estratégicas como em energia e na nova economia da tecnologia de informação e de comunicações.
As primeiras ações a estourar em bolsa foram as das empresas da “nova economia”, a chamada crise das “.com”, seguida poucos anos depois pela crise do setor elétrico na qual o estrondo maior foi a falência da Enron. Como as ações dos bancos e das grandes empresas tradicionais se recuperavam rapidamente, estimulando o consumo através do “efeito riqueza”, Greenspan limitou-se a criticar a “euforia especulativa” e a reafirmar que o FED não podia controlar as operações financeiras “off the records” e “off shore”. Na verdade a maioria dos grandes movimentos especulativos de então não eram “off shore”, mas nos mercados financeiros internos desregulados, sobretudo em derivativos e “hedge funds”, a maioria dos quais operava “off the records”.
A multiplicação de derivativos especiais de crédito e a criação de fundos de securitização (hedge funds), sem base de sustentação e sem supervisão bancária deram lugar a um vasto “sistema financeiro sombra”. As instituições deste “sistema” operam nos mercados monetários como se bancos fossem (tomando a curto e emprestando a longo prazo) só que a um nível de alavancagem muito superior, sem possuírem seguro para os seus depositantes (investidores) nem, obviamente, qualquer emprestador de última instância que lhes garantisse liquidez em momentos de crise. Foi este sistema que entrou em colapso a partir da crise do “sub-prime”.
Apesar da crise do sub-prime, um derivativo especial do mercado de hipotecas, ter ocorrido já na gestão de Ben Bernanke, ela foi apenas o detonador de uma crise financeira mais geral que se vinha gestando lentamente, através de uma excessiva expansão da liquidez, do endividamento e de sucessivas bolhas de preços de ativos, processados pela desregulação e complexidade do novo sistema financeiro privado, montado no governo Clinton e continuado no governo Bush.
A elevada oferta de financiamento, a taxas de juros baixas, não impulsionaram apenas o endividamento geral do setor privado (empresas, bancos e famílias). As condições favoráveis e descontroladas de oferta de crédito levaram também vários Estados da União a financiarem seus déficits fiscais crescentes no mercado privado interno. Só quando a crise financeira geral eclodiu violentamente em setembro de 2008 com a quebra da Lehman Brothers, foi possível perceber a profundidade da crise fiscal de importantes estados americanos que estão a beira da insolvência (a Califórnia é apenas o caso mais notório).

II – As medidas do Governo Bush e a generalização da Crise Financeira.
A crise financeira começou a ficar visível, com o estouro do mercado de derivativos especiais de crédito hipotecário, os chamados sub-prime, em agosto de 2007, quando os fundos que consolidavam posições de alto risco em novos títulos no mercado secundário passaram a ser rejeitados no mercado monetário e atingiram violentamente as instituições do mercado hipotecário, em particular a Fannie Mae e Freddie Mac.
O FED tomou providências rápidas no que se refere à taxa básica de juros (que caiu de 5% para 0,5% em poucos meses) e criou programas gigantescos de liquidez para tentar evitar a generalização da crise. Entre eles podem-se destacar: U$ 600 bilhões para a compra de títulos visando apoiar os investidores dos “fundos do mercado monetário”; U$500 bilhões para a compra de títulos lastreados em hipotecas; U$100 bilhões em dívidas da Fannie Mae e da Fred Mac.
O Congresso aprovou, por iniciativa democrata, a Lei de Estimulo Econômico de fevereiro de 2008 cujas principais medidas foram de renúncia fiscal. De abril, quando começou a devolução de impostos, até dezembro de 2008, foram devolvidos milhões de cheques no valor total de U$96 bilhões. Foi também proposta renúncia fiscal para estimular os investimentos e a ampliação no valor das hipotecas com cobertura financeira semi-oficial. Logo em seguida, em julho de 2008, foi promulgada a Lei de Habitação e da Recuperação da Economia que prometida recapitalizar as instituições para-estatais (sobretudo as duas grandes Fannie Mae e Freddie Mac) que atendiam os financiamentos de habitação para as famílias de baixa e média renda. A Lei criou um órgão para regulá-las (FHFA) e autorizou o Tesouro a comprar seus ativos e assumir seus passivos.
Depois de setembro de 2008, quando ocorreu a quebra do Lehman Brothers, várias instituições financeiras internacionais ficaram à beira da falência e a crise financeira tornou-se global, produzindo um violento aperto de crédito (credit crunch) no mercado interbancário de todos os países relevantes, mesmo os que tinham um sistema bancário sólido. As quedas nas bolsas mundiais e nos preços dos imóveis liquidaram cerca de U$30 trilhões de riqueza financeira até o final do último trimestre de 2008.
Em outubro de 2008, o governo americano encaminhou ao Congresso, em regime de urgência, o TARP (Programa de Alívio de Passivos Problemáticos) cuja concepção original era justamente comprar os “ativos tóxicos” dos bancos para melhorar sua situação estrutural. Como a resistência foi enorme a essa medida - uma vez que o governo não tem instrumentos de intervenção legal nos bancos - o enfoque mudou substancialmente. Dos U$700 bilhões do TARP a metade ficou carimbada para injetar diretamente capital nos bancos através do programa de Compra de Capital (CPP), a outra metade não foi autorizada. Na verdade foi o FED que teve de encarregar-se de parte da tarefa de reciclar os “ativos tóxicos” através de programas de liquidez e de empréstimos de última instância aos bancos mais atingidos.
A decisão do governo de não socorrer o Lehman Brothers e a quebra da AIG, a maior seguradora dentro e fora do país, levou a economia americana à paralisia em Novembro. O governo americano teve de criar o subprograma para “entidades sistemicamente relevantes” para conceder um empréstimo de U$85 bilhões à AIG e injetar U$40 Bilhões de capital ainda em 2008 (em março de 2009 o Tesouro teve de intervir novamente injetando mais U$30 bilhões para impedir a falência da seguradora). Teve de auxiliar também o Citigroup e o Bank of America que entraram em dificuldades tremendas e socorrer as empresas automobilísticas.
A extensão e profundidade da crise financeira no núcleo central do sistema capitalista estendeu-se a toda a economia mundial a partir do último trimestre de 2008. Os grandes bancos europeus que também se tinham globalizado e alavancado de forma análoga aos americanos, sofreram de imediato os efeitos do aperto de crédito no mercado interbancário e seus governos tiveram de socorrê-los em algum casos mediante estatização explícita. Os mecanismos de retração do crédito e a recessão nos paísescentrais contaminaram o comércio internacional tanto em preços como em quantidades.
O comércio de matérias primas sofreu um baque profundo com a queda dos preços de commodities que vinham de um ciclo especulativo fortíssimo nos mercados futuros globais. Os preços do petróleo foram os que sofreram a queda mais violenta atingindo com força países como a Rússia e todos os países emergentes dependentes da exportação de petróleo e gás.
Verificou-se também uma queda no comércio de manufaturas que atingiu fortemente os países do Leste Asiático já com grande capacidade ociosa e mais dependentes do comércio para os EUA e para a Europa. A China teve uma forte desaceleração do crescimento, que rebateu através da queda das importações, nos tigres asiáticos e em particular no Japão. Este país, recém saído de uma depressão, teve a sua economia violentamente atingida pela crise global, entrando em recessão aberta numa velocidade superior à dos EUA e da Europa.
O crédito bancário internacional aos países periféricos, mais frágeis, colapsou, levando vários deles, sobretudo os do Leste Europeu e alguns da América Latina à uma crise de pagamentos e a pedir socorro ao FMI. O crédito dos bancos para o conjunto dos países emergentes segundo estimativas do Institute of International Finance caiu de U$ 410 bilhões em 2007 para U$ 106 bilhões em 2008 e deve ser fortemente negativo em2009.
As filiais mais lucrativas dos bancos nos países emergentes remeteram lucros aceleradamente para suas matrizes para ajudá-las na crise. Isso ocorreu tanto na Ásia quanto na América Latina, região onde até agora não se registraram crises bancárias e é forte a presença de filiais européias e americanas lucrativas. Da participação dos capitais internacionais a que se manteve melhor, embora com queda acentuada, foi a participação do Investimento Direto Estrangeiro nas filiais produtivas dos países emergente, sobretudo aqueles cujo mercado interno apresentam melhores perspectivas, como a China, a Índia e o Brasil.

III – As medidas anunciadas pelo novo governo democrata dos EUA
O novo Presidente Barack Obama, assumiu o governo com a economia americana numa situação crítica. Do ponto de vista estrutural pode dizer-se que: o seusistema financeiro está falido; os três entes federativos enfrentam uma crise fiscal sem precedentes; parte de sua infraestrutura encontra-se sucateada e a outra está obsoleta (sobretudo energia e telecomunicações); e, finalmente, o seu sistema de seguro de saúde não dá cobertura suficiente e adequada à população. Do ponto de vista “conjuntural” o desemprego é elevado e crescente e a recessão é aberta e tende a aprofundar-se.
Face a este diagnóstico, muito mais grave do que o imaginado durante a campanha, a equipe econômica propôs um combate à crise em todas as frentes: financeira, fiscal, investimento público em infraestrutura e políticas sociais ativas. A Lei de Recuperação e de Reinvestimento Americanos (ARRA) transitou no Congresso em tempo recorde, com o apoio de três senadores republicanos, e foi assinada pelo Presidente em 17 de fevereiro de 2009.
O pacote fiscal do governo Obama previu inicialmente gastos e renúncias fiscais da ordem de U$787 bilhões, muito superiores aos do pacote do governo Bush. Os principais componentes da Lei ARRA são os seguintes: U$288 bilhões em renúncia fiscal, U$144 bilhões de transferências para estados e municípios, U$111 bilhões para infraestrutura e ciência, U$81 bilhões para proteção aos segmentos sociais mais vulneráveis, U$59 bilhões para a Saúde, U$53 bilhões para a educação e treinamento demão de obra e apenas U$43 bilhões para energia (que era uma das metas estratégicas da campanha).
O item mais importante é o da Renúncia Fiscal que, ao contrário do governo Bush, tem restrições para os declarantes de faixas de renda mais elevadas. Assim os U$237 bilhões de renúncia fiscal para pessoas físicas beneficiam as pessoas de classe média, com crédito tributário aos contribuintes em 2009 e 2010, aumento do limite de isenção de imposto de renda, aumento do desconto por número de crianças e despesas escolares. Tratamento favorecido e também concedido para quem comprar o primeiro automóvel, aos que se utilizaram do seguro desemprego e às famílias de baixa renda com três filhos ou mais. Várias deduções são concedidas para estimular a eficiência energética das residências e para a compra de automóvel, para faixas de renda abaixo de U$250 mil. Os restantes U$51 bilhões são dedicados a renúncias fiscais para empresas, que vão de incentivos à produção de energia renovável, ao desconto de perdas correntes para compensar os lucros tributados nos últimos cinco anos, passando por beneficiar empresas contratadas pelo governo até anular as medidas do tesouro envolvendo aquisição, fusão de empresas financeiras que estejam tendo prejuízo (para entrar em efeito em 2012 por um horizonte de 10 anos).
Dos Programas Sociais, o mais importante é o da Saúde U$147,7 bilhões com uma multiplicidade de medidas. As maiores são as que cobrem o Medicaid (o programa para a população de baixa renda) os seguros de saúde dos desempregados, pesquisa e aperfeiçoamento tecnológico e construção do Instituto Nacional de Saúde. Seguem-se os setores de Educação (incluindo transferências) com cerca de U$91 bilhões e o de proteção social aos trabalhadores de baixa renda com U$82,5 bilhões. Aênfase do governo Obama nos desprotegidos cumpre as promessas de campanha do candidato e reverte completamente a visão republicana.
Como terceira prioridade aparecem os gastos em Infraestrutura com cerca de U$81 bilhões para Transportes e U$49,7 bilhões para Energia. Apesar destas prioridades básicas que elevam o déficit fiscal da União de uma estimativa de aumento de cerca de U$1 trilhão em 2008 para cerca de U$1,7 trilhão em 2009, tendendo a aumentar em 2010, o governo americano continua tratando do núcleo central da crise – o setor financeiro – e anunciou um Plano de Estabilidade Financeira (FSP) que prevê a criação de três instrumentos novos, com recursos gigantesco e novas funções.
O FSP consiste basicamente na criação de:
1) um fundo fiduciário (Financial Stability Trent) através do qual o governo pretende reforçar o capital dos bancos; com recursos adicionais ao U$350 bilhões do programa aprovado em 2008. Com estes recursos o governo está conduzindo um “Teste de Stress” nos vinte maiores bancos para medir a capacidade de resistência aos vários cenários da crise e o Tesouro aumentará a sua participação nos que estiverem mais vulneráveis (o programa está em curso, mas os resultados ainda não eram conhecidos em abril de 2009).
2) A criação de um fundo de participação público-privado no qual o banco devolverá os seus ativos podres (tóxicos). O problema deste Fundo é de como avaliar o valor “contábil” destes ativos que não tem preço de mercado. O governo espera atrair investidores privados para este Fundo, deixando que eles façam um leilão entre si do valor dos títulos “tóxicos” adquiridos, e entrando o Tesouro com uma participação acionária minoritária. Com isso esperam que o fundo atinja um patrimônio de U$500 bilhões a U$ 1 trilhão. Como era de se esperar este “Fundão” deu lugar a críticas severas, tanto no Congresso como na opinião pública, por ser considerado um movimento de alto risco e pouca transparência.
3) Finalmente deverá ser criado uma linha (facility) para comprar divida securitizada nova, boa, que permita aos bancos e outras instituições financeiras recompor sua liquidez e estabilizar o crédito emprestando para novos clientes.
Como o Plano de Estabilização Financeira não contempla o setor mais atingido pela crise – o setor imobiliário – o governo desenhou um pacote para apoiá-lo. O Plano de Apoio aos Mutuários e de Estabilização (HASP) prevê três linhas de ação:
a) Flexibilizar as regras para permitir o financiamento de contratos imobiliários, aproveitando as baixas taxas de juros em vigor. Com isso pretende beneficiar de quatro a cinco milhões de mutuários.
b) Inclui incentivos aos credores para aliviar a situação de três a quatro milhões de devedores em situação de inadimplência, evitando a retomada das moradias pelas financiadoras.
c) Amplia o papel das instituições paraestatais de fomento imobiliário (as Fannie Mae e Fred Mac) injetando mais U$100 bilhões em cada uma e permitindo-lhes ampliar suas carteiras hipotecárias.
Uma avaliação preliminar da “opinião pública” revela-se contrária às medidas financeiras que contemplam apenas os interesses de “Wall Street” e acham insuficientes os programas que beneficiam o “main street”, frente ao tamanho da crise que afeta um número alto e crescente de desempregados.
Dado que as autoridades monetárias não têm efetivo controle dos bancos, nem instrumentos jurídicos de intervenção (que ainda está em estudos no Congresso) entende-se a irritação de grande parte da opinião pública. Por outro lado destacados economistas (favoráveis aos democratas) consideram que o Programa de Resgate Financeiro sem instrumentos de regulação pode considerar-se apenas a versão ampliada e igualmente ineficiente dos programas do governo republicano. Entre eles conta-seeconomistas de renome como Paul Krugman, Joseph Stiglitz e outros. Por outro lado vários analistas e jornalistas especializados da imprensa inglesa como Martin Wolf continuam acreditando que o desequilíbrio fundamental entre a China e os EUA está na raiz da crise financeira americana e que enquanto ele não for atacado a crise não estará resolvida.

IV – O impacto da crise sobre a América Latina e em particular sobre o Brasil.
Começamos com uma citação síntese de José Juan Ruiz, economista da Divisão América do Banco Santander:
“Graduados en infinidad de crisis, los países latinoamericanos cuentan hoy con una banca saneada y una política económica fortalecida. El mayor obstáculo es el poco margen que ofrece la política fiscal en la región. El mayor riesgo, un fuerte ajuste en los tipos de cambio (4).”
Um ano depois de instalada a crise financeira das hipotecas sub-prime nos EUA, no verão de 2007, o continente latino-americano continuava crescendo 4% em média e o Brasil 5,8% nos três primeiros trimestres de 2008, enquanto se assistia a problemas crescentes de liquidez e queda de crescimento nos países do G7. A maior dúvida dos principais bancos centrais e do FMI era a respeito das crescentes tensões inflacionárias com a forte elevação nos preços do petróleo e principalmente nos alimentos. A resposta dos principais bancos centrais – Brasil, México, Chile, Colômbia e Peru – foi endurecer a política monetária, subindo a taxa de juros sob fortes aplausos dos mercados. O Brasil e o Peru ganharam então a outorga do grau de investimento concedido pelas “rating companies” globais.
Entre dezembro de 2007 e junho de 2008, a taxa de câmbio média apreciou-se, os mercados de valores entraram em ebulição e o valor das empresas cotizadas em bolsa aumentaram o equivalente a U$247 bilhões, alcançado U$2,4 bilhões, cerca de 85% do PIB regional. Estes acontecimentos, em tempos de crise financeira global, eram fatos inéditos na região que pareciam confirmar a tese do “desacoplamento” dos países emergentes em geral e da América Latina, em particular.
A quebra da Lehman Brothers, em setembro de 2008, mudou radicalmente as expectativas dos principais agentes do mercado internacional sobre a profundidade da crise. O contágio foi imediato a todos os mercados, sobretudo os de crédito e de capitais, que atingiu mais fortemente os países emergentes mais endividados e, de uma modo geral, afetou violentamente o comércio exterior de todos os exportadores decommodities que é o caso geral da América Latina, grande exportador de matérias primas cujos preços despencaram em 50%.
O choque financeiro foi de tal força que o indicador de risco do EMBI latinoamericano aumentou 438 pontos básicos, voltando a níveis absolutos que não se viam desde os anos da crise argentina. Em 12 de dezembro o Equador anunciou o repudio da sua divida externa. A Argentina e a Venezuela estão com riscos altíssimos, equivalentes a níveis de default, e o México para evitar uma crise de pagamentos solicitou U$40 bilhões ao FMI em começo de abril de 2009. O mesmo acaba de ocorrer com a Colômbia. Os mercados de capitais continuam fechados. A única exceção relevante do meu conhecimento foi o credito internacional obtido pela Petrobras que continua uma empresa de risco soberano.
As expectativas de crescimento médio do PIB para a America Latina tornaram-se negativas para 2009, embora no Brasil as estimativas do Governo ainda sejam ligeiramente positivas. A resistência da America Latina a esta crise parece ser bastante maior do que na crise da divida externa de 1982-83 quando todos os países estavam fortemente endividados e não resistiram ao fechamento do crédito internacional queocorreu a partir dos choques simultâneos de petróleo e de juros em final de 1979. A maioria dos países da região tem hoje reservas internacionais importantes e os seus governos não se encontram endividados no exterior.
No caso do Brasil, as reservas de quase U$200 bilhões tem permitido inclusive financiar as exportações e rolar parte dadivida externa do setor privado nacional. Quase todos os países tendem também a adotar políticas anticíclicas praticadas nos demais países, desenvolvidos e emergentes, basicamente as políticas monetárias, creditícias e fiscais internas, desta vez recomendado pelo próprio FMI.
O Brasil está entre os países que se encontra em melhor situação na America Latina, dadas as elevadas taxas de juros que vinha praticando e a maior carga tributária de toda região, o que lhe permite maiores incentivos pelos meios tradicionais. O superávit primário de 3,8% acaba de ser reduzido, em particular no que toca ao investimento em infraestrutura, sobretudo em energia (elétrica e petróleo). A dívida interna é a mais baixa das ultimas décadas e deve continuar baixa se as taxas de juros continuarem caindo acentuadamente durante o ano, dadas as expectativas favoráveis de inflação e câmbio.
Essa deve ser também a opinião do mercado financeiro internacional, pois desde março voltaram a entrar capitais de portfólio e aumentou o saldo liquido na conta de capitais do balanço de pagamento. O Brasil possui um sistema financeiro hígido, com altos lucros e que representa cerca de 2/3 dos negócios de toda a região. Além de fortes bancos privados nacionais e estrangeiros, conta com três bancos públicos (um comercial e dois de fomento). Os três maiores bancos brasileiros (dois privados e um publico) encontram-se hoje entre os vinte maiores do mundo e estão em condições de reciclar as dividas dos seus maiores clientes. Espera-se também que os bancos públicos possam expandir o credito às pequenas e médias empresas e que a queda dos spreads bancários e a ajuda aos bancos menores volte a restabelecer o crédito para o mercado interno.
Finalmente o Brasil é auto-suficiente em energia e alimentos e possui programas sociais compensatórios para cerca de dez milhões de famílias. Tem o mercado interno mais forte da America latina e seu coeficiente de dependência do comercio exterior encontra-se entre os menores do mundo.Apesar destas condições favoráveis, o Brasil, a igual que os demais países da América Latina, não ficou imune à crise que se manifestou por uma forte retração da produção industrial no último trimestre de 2008, em particular nos setores exportadores e que se manteve até o final do primeiro trimestre de 2009. A arrecadação fiscal caiu também fortemente atingindo União, Estados e Municípios. Os primeiros indícios de recuperação econômica começaram apenas em abril deste ano, mas é difícil estimar ataxa de crescimento para 2009 e 2010.

V – A Gravidade e a Duração da Crise Mundial
A Crise global que se originou no sistema financeiro norte-americano continua agravando-se e é impossível que se resolva enquanto o governo dos EUA não tiver os instrumentos de poder para fazer frente à “oligarquia de Wall Street”. A expressão “oligarquia financeira” não é mais apenas um slogan de esquerda e já foi utilizada recentemente pelo professor do MIT Simon Johnson, ex-economista chefe do FMI para expressar a conivência entre instituições poderosas que se recusam a admitir perdas e um governo cúmplice sob domínio de “cambistas”. O Prof. Johnson argumenta que o peso do setor financeiro, ao não aceitar demonstrar a sua inadimplência, está evitando a solução da crise.
A visão de que não existe nenhuma instituição suficientemente grande e complexa que não possa ir à falência, é uma versão neoliberal extrema de que todas as soluções devem ser buscadas pelo “livre” funcionamento do mercado. A visão oposta é da estatização bancária para salvar os bancos da própria crise. A solução adotada pelo governo Bush, de deixar o Lehman Brotters ir à falência, provocou porém uma reversão violenta de “expectativas” no mercado, ameaçando levar as demais grandes instituições financeiras à falência. A situação de pânico reverteu rapidamente a política neoliberal, passando o FED a despejar centenas de bilhões de dólares nos caixas dos bancos. Como o aumento brutal da liquidez primária não se revelou a solução para um buraco que parece sem fundo, passou-se a propor a compra de “ativos tóxicos”, além de realizar sucessivas capitalizações ad hoc das principais instituições financeiras americanas.
O sentimento de que o Estado americano está servindo à elite de Wall Street, tem levado a “main street”, violentamente atingido pelo desemprego, a protestar com veemência contra a política financeira do governo, que também tem sido francamente criticado à esquerda e à direita pelos formadores de opinião. A situação, entretanto continua se agravando mesmo depois de empossado o novo governo democrata.
Enquanto uma proposta consensual de intervenção legal do governo para reestruturar e regular o sistema financeiro não for alcançada no Congresso, a situação americana se aproxima cada vez mais da “doença japonesa”. O Japão levou cerca de dez anos para sair da crise bancária do começo da década de 90, pressionado entre a possibilidade de falência dos grandes bancos e o repúdio popular ao resgate que, lá também, montou a trilhões de dólares.
Enquanto a situação financeira dos EUA não se resolve as perspectivas dos demais países desenvolvidos do G7 vão-se deteriorando. As projeções da OECD de fim de março para o ano de 2009 contemplam o aumento da recessão aberta, com uma queda de cerda de 4% para as economias americana e da União Européia e de 6,6% para a economia japonesa. A Organização Mundial do Comércio por sua vez prevê uma redução do volume do comércio internacional de 9% para 2009 (independente de queocorra com a deflação de preços).
A situação fiscal também é preocupante nos EUA e na União Européia. O déficit previsto pelo FMI para 2009 seria de 12% e 10% dos respectivos PIBs. No caso americano com os programas adicionais de incentivo fiscais e financeiros do governo Obama o déficit pode alcançar cerca de 17% na execução fiscal de 2009. Apesar destes déficits monumentais, o FMI continua recomendando programas fiscais anticíclicos que exigiriam uma expansão fiscal global programada de U$5 trilhões para obter um impacto positivo estimado em 4% do PIB mundial, até o final de 2010.
A ânsia de obter resultados convergentes e positivos até o fim de 2010 deu à reunião de Londres do G20 um caráter histórico de boa vontade política das lideranças fundamentais do mundo desenvolvido e dos países emergentes. Evidentemente o caráter simbólico desta aliança não é desprezível para melhorar as expectativas dos principais agentes político-econômicos da economia mundial. Os acordos, em princípio sobre políticas anticíclicas e algumas poucas promessas de medidas de regulação com vistas à estabilização dos sistemas financeiros globalizados (regulação dos fundos hedge e controle dos paraísos fiscais com o fim do sigilo bancário) encontram, no entanto, dificuldades práticas não triviais. No que diz respeito às políticas anticíclicas, o problema está na assimetria, tanto das situações fiscais como da capacidade de financiamento externo aos devedores por parte dos grandes países credores.
Paradoxalmente a situação continua mais favorável nas relações devedor-credor dos EUA e da China, apesar de que a assimetria entre a situação dos dois países é considerada por muitos analistas como o cerne do desequilíbrio da economia mundial, quando não a raiz última da atual crise (5).
Não quero entrar a fundo nesta discussão, mas convém lembrar rapidamente o caráter contraditório da relação EUA-China (6). Até a recente crise ela era considerada de mútuo benefício direto por ambos os países e por quase todos os que se beneficiavam indiretamente do seu crescimento mais rápido a partir da década de 90 (em particular os continentes americano e asiático).
O “matrimônio” de mútua conveniência parece ter acabado quando o comércio acoplado ao forte investimento direto das filiais americanas desacelerou bruscamente e não existe outro credor no mundo com reservas suficientes para financiar a atual situação deficitária do governo dos EUA. A alternativa do Tesouro americano seria financiar o gigantesco déficit fiscal através das emissões do FED sem fundamento em reservas internacionais disponíveis. Esta situação, que levaria certamente a uma forte depreciação do dólar, não parece ser desejada por nenhum dos países detentores de reservas em dólar.
A decisão do G20 de triplicar os recursos do FMI de U$250 bilhões para U$750 bilhões com contribuições dos países dispostos a fazê-lo e a expansão das emissões de Direitos Especiais de Saque, não resolve evidentemente o dilema do financiamento externo entre os EUA e a China. O FMI só pode socorrer alguns países periféricos que enfrentam crises de pagamentos de suas dívidas (como os países da Europa Oriental, da Colômbia, do México e do Caribe).
Assim não foi por acaso que às vésperas da reunião do G20, o presidente do Banco Central da China declarou seu descontentamento com o privilégio de “senhoriagem” dos EUA de ter o dólar simultaneamente como a mais importante moeda reserva da economia mundial e ao mesmo tempo de “livre emissão” do seu Banco Central. Obviamente sua proposta de substituí-lo por direitos especiais de saque do FMI não tem qualquer viabilidade, tanto pela oposição dos EUA quanto pelo montante irrisório de recursos disponíveis em DES frente ao volume em dólares das reservas internacionais. Essa contradição ficou manifesta na reunião do G20 quando a própria China se dispôs a contribuir para o FMI com uma quantia mínima em proporção às suas reservas em dólar.
Por sua vez a declaração de Obama de que o mundo vai ter que se acostumar a viver sem o “excesso de consumo” é igualmente paradoxal. Salvo se, além de ironizar a China que teria também de se “ajustar”, ele estivesse ignorando o impacto, não apenas de curto prazo, mas também de longo, que uma queda acentuada do consumo americano teria sobre a sua própria economia. Enfim ameaças ou ironias à parte é indiscutível que essa crise pode se converter em depressão duradoura quanto mais forte for o tipo e a duração do ajuste das duas economias mais importantes do planeta.
Quando ainda se falava em “desacoplagem” dos países emergentes da crise, o comportamento de países como a China e o impacto de suas relações internacionais no Leste Asiático era uma das grandes esperanças. A desaceleração industrial e do comércio exterior da China atingiu, porém fortemente os países do Leste da Ásia, de modo que a recessão aberta atingiu até agora todos os países da economia mundial com exceção da China e da Índia.
A discussão mais recente entre os macroeconomistas anglo-saxões centra-se em estimar a profundidade desta crise quando comparada com a de 1930. Paul Krugman usa um gráfico da evolução da produção industrial dos EUA para demonstrar que a atual recessão é bem menor que a de 1929 (7). Eichengreen e O’Rourke apresentam resultados diferentes em um trabalho ainda progresso (8). Segundo eles, como as quedas na produção são muito maiores na Europa, Japão, outros países asiáticos e na América Latina, se fizermos a comparação dos índices de produção industrial mundial nos dois casos, as conclusões são muito diferentes do que tomando apenas os EUA. Nos últimos nove meses da atual crise a recessão seria tão aguda quanto nos primeiros nove meses depois da Crise de 29 e a queda no valor global das ações seria ainda maior.
Como a liquidez atual é imensa, com taxas de juros reais praticamente nulas e políticas anticíclicas generalizadas (ao contrário do ocorrido na crise de 30), as possíveis implicações de uma análise deste tipo seriam extremamente pessimistas. O que mais me preocupa, porém não é este tipo de exercício, mas o fato de que nem a crise bancária americana, nem a crise de crédito global se encontram perto de solução e que o efeito de contágio da crise de 30 era menor que o da atual crise, dada a situação deglobalização financeira e as profundas assimetrias na economia mundial.
É esse tipo de comparação estrutural, que piora o meu pessimismo sobre a atual crise. Em contrapartida estou relativamente otimista por não estar à vista “como solução” uma nova guerra mundial. Em relação ao Brasil não posso deixar de estar também moderadamente otimista, tendo em vista o seu baixo grau de inserção na globalização financeira, a sua pequena dívida de origem fiscal e a proporção tão alta entre o mercado interno e o mercado de comércio exterior. Tudo isso dá ao país um maior grau de autonomia e torna os seus governantes altamente responsáveis pelo destino de nossa recuperação.

Notas:
(1) Na verdade o período de crescimento e a duração do dólar flutuante como reitor do sistema financeiro global ultrapassou de muito o período “virtuoso” do regime de taxas fixas de Bretton Woods queterminou em 1973. A tal ponto foi achado funcional o “dólar flexível” e a globalização financeira, que o novo regime foi apelidado por alguns de “II Bretton Woods”.
(2) Ver M. C. Tavares e L. E. Melin, “A Reafirmação da Hegemonia Americana”, in Poder e Dinheiro – uma economia política da globalização, Vozes, Petrópolis, 1997.
(3) Desta parte, A. Greenspan, fez recentemente autocrítica, respondendo ao coro de vozes acusatórias.
(4) Ver artigo “Latinoamerica 2009: el privilegio de ser como todos”, in Política Exterior, nº 128. Marzo/Abril 2009.
(5) Ver Stephen Roach, “Como evitar a depressão enquanto cai o consumo”, Valor Econômico, 16/04/2009.
(6) Ver M. C. Tavares e L. G. Belluzzo, A mundialização do capital e a expansão do poder americano. in: Fiori, J. L. (org) O poder americano. Petrópolis: Vozes, 2004.
(7) Ver Krugman, P., “The Great Recession versus The great Depression” (20/03/2009) -http://krugman.blogs.nytimes.com/2009/03/20/the-great-recession-versus-the-great-depression/
(8) Ver "A Tale of Two Depressions", com um resumo em http://www.voxeu.org/