O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, destacou a importância dos Brics no cenário global e os chamou de New Kids on the Block, em referência ao grupo musical americano que fez sucesso nos anos 80 e 90. Segundo ele, o uso de moeda comum para o comércio e a criação de um banco de fomento estão na pauta do grupo.
A entrevista é de Vivian Oswald e publicada pelo jornal O Globo, 17-06-2009.
Eis a entrevista.
Pode-se falar na institucionalização dos Brics?
Assinar um tratado e dizer que vai formar grupo não é imediato. Mas haverá reuniões periódicas. Na busca de respostas à crise, os Brics podem dar uma grande contribuição. Uma opção é o comércio em moeda comum, como fazemos com a Argentina. Quando (o presidente russo Dmitri) Medvedev se encontrou com o presidente Lula em novembro, o comércio da Rússia com o Brasil caiu brutalmente por razões externas. Os ministros dos quatro países podem tratar deste assunto nos próximos encontros.
A ideia da criação de um banco de fomento continua na pauta?
Podemos desenvolver um banco de fomento entre os quarto países. Evidentemente, outras coisas mais urgentes tomaram a frente na agenda. Mas os Brics podem, sim, ter um papel importante nesta área. Vê-se pelo aporte de U$ 10 bilhões que o Brasil fez no FMI, outros US$ 10 bilhões da Rússia, US$ 50 bilhões da China. Isso só confirma que eles podem atuar juntos.
Os Brics tendem a tomar lugar de outros grupos?
Os Brics são importantes mas não vieram para substituir outras alianças especiais que já temos constituídas, como o Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), a aproximação dos países latino-americanos, a parceria estratégica que temos com a União Europeia ou as excelentes relações com os EUA. São relevantes pelo seu peso na economia mundial. São os New Kids on the Block.
Qual o papel do G-8?
O G-8 (que reúne os sete países mais ricos do mundo e a Rússia) não tem mais sentido como diretório para tratar os destinos do mundo, nem econômico nem político. Se decidirem algo e os Brics não estiverem com eles, terá valor reduzido. O G-20 (grupo com as 20 maiores economias do mundo) vai existir como a formação mais importante. O mundo está mudando. E não dá para ter sete países ditando as regras. Os quatro países são muito diferentes.
Especialistas dizem que China pode não assumir compromissos profundos para preservar, por exemplo, seu relacionamento com os EUA?
A China está destinada a ser a maior economia do mundo. Mas o fato de se tornar a maior economia do mundo não vai acontecer como foi com os EUA. A China tem carências energéticas e alimentares. A relação dela com os Brics ou países como o Brasil vai ter que ser muito importante. Prova do interesses dos chineses pelo Brasil é o empréstimo para a Petrobras. Querem também abrir um banco de desenvolvimento no Brasil. A relação entre a China e os EUA é boa. As reservas internacionais chinesas ajudam a sustentar o Tesouro americano. Não acho que vá haver desengajamento por parte dos chineses nas decisões dos Brics.
A entrevista é de Vivian Oswald e publicada pelo jornal O Globo, 17-06-2009.
Eis a entrevista.
Pode-se falar na institucionalização dos Brics?
Assinar um tratado e dizer que vai formar grupo não é imediato. Mas haverá reuniões periódicas. Na busca de respostas à crise, os Brics podem dar uma grande contribuição. Uma opção é o comércio em moeda comum, como fazemos com a Argentina. Quando (o presidente russo Dmitri) Medvedev se encontrou com o presidente Lula em novembro, o comércio da Rússia com o Brasil caiu brutalmente por razões externas. Os ministros dos quatro países podem tratar deste assunto nos próximos encontros.
A ideia da criação de um banco de fomento continua na pauta?
Podemos desenvolver um banco de fomento entre os quarto países. Evidentemente, outras coisas mais urgentes tomaram a frente na agenda. Mas os Brics podem, sim, ter um papel importante nesta área. Vê-se pelo aporte de U$ 10 bilhões que o Brasil fez no FMI, outros US$ 10 bilhões da Rússia, US$ 50 bilhões da China. Isso só confirma que eles podem atuar juntos.
Os Brics tendem a tomar lugar de outros grupos?
Os Brics são importantes mas não vieram para substituir outras alianças especiais que já temos constituídas, como o Ibas (Índia, Brasil e África do Sul), a aproximação dos países latino-americanos, a parceria estratégica que temos com a União Europeia ou as excelentes relações com os EUA. São relevantes pelo seu peso na economia mundial. São os New Kids on the Block.
Qual o papel do G-8?
O G-8 (que reúne os sete países mais ricos do mundo e a Rússia) não tem mais sentido como diretório para tratar os destinos do mundo, nem econômico nem político. Se decidirem algo e os Brics não estiverem com eles, terá valor reduzido. O G-20 (grupo com as 20 maiores economias do mundo) vai existir como a formação mais importante. O mundo está mudando. E não dá para ter sete países ditando as regras. Os quatro países são muito diferentes.
Especialistas dizem que China pode não assumir compromissos profundos para preservar, por exemplo, seu relacionamento com os EUA?
A China está destinada a ser a maior economia do mundo. Mas o fato de se tornar a maior economia do mundo não vai acontecer como foi com os EUA. A China tem carências energéticas e alimentares. A relação dela com os Brics ou países como o Brasil vai ter que ser muito importante. Prova do interesses dos chineses pelo Brasil é o empréstimo para a Petrobras. Querem também abrir um banco de desenvolvimento no Brasil. A relação entre a China e os EUA é boa. As reservas internacionais chinesas ajudam a sustentar o Tesouro americano. Não acho que vá haver desengajamento por parte dos chineses nas decisões dos Brics.
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