Sempre que analiso a sociedade, seja no aspecto local, daquí onde moro, seja na esfera estadual, nacional ou global, sempre me preocupo em tornar possível em minhas falas, que acredito que tem algo acontecendo em nossas vidas que ultrapassa nossa mera capacidade de analisar por analisar os fatos como se eles estivessem tão distantes de nós, quando, na verdade, estão perto, ou fazendo parte de nossas vidas.
Por exemplo, sempre estudei, que a Crise de 1929, levou o Mundo a uma nova maneira de pensar e fazer as coisas... estamos diante de uma crise similar e já me sinto parte da história da humanidade, que sabe, diz que sabe, ou nada sabe, e não tá nem aí prá nada...
Vivemos em uma Sociedade Global,... que sorte, como Professor, Geógrafo e Sociólogo que sou, encontrar um texto que expõe esta e outras verdades sobre o mundo atual.
Em seu novo ensaio “Conditio Humana” o sociólogo alemão Ulrich Beck, aprofunda a tese de uma sociedade global exposta a ameaças impossíveis de bloquear. De ora em diante, nada do que acontece no mundo é um evento somente local. A substituição de cada etnia singular diz-nos respeito e devemos importar-nos com ela.
Do novo ensaio “Conditio humana. Il rischio nell’età globale” [Condição humana. O risco na idade global] (Laterza, 416 pp.), o jornal La Repubblica, 22-09-2008, antecipou uma parte de um capítulo: A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o texto.
Do novo ensaio “Conditio humana. Il rischio nell’età globale” [Condição humana. O risco na idade global] (Laterza, 416 pp.), o jornal La Repubblica, 22-09-2008, antecipou uma parte de um capítulo: A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o texto.
Vivemos numa sociedade mundial do risco, não só no sentido de que tudo se transforma em decisões cujas conseqüências se tornam imprevisíveis, ou no sentido das sociedades de gestão do risco, ou naquele das sociedades do discurso sobre o risco. Sociedade do risco significa, precisamente, uma constelação na qual a idéia que guia a modernidade, isto é, a idéia da controlabilidade dos efeitos colaterais e dos perigos produzidos pelas decisões tornou-se problemática, uma constelação na qual o novo saber serve para transformar os riscos imprevisíveis em riscos calculáveis, mas deste modo produz, por sua vez, novas imprevisibilidades, o que constringe a reflexão sobre os riscos. Através desta “reflexividade da incerteza”, a indeterminabilidade do risco no presente se torna, pela primeira vez, fundamental para toda a sociedade, de modo que devemos redefinir nossa concepção da sociedade e nossos conceitos sociológicos.
Ao mesmo tempo, a sociedade mundial do risco gera um “impulso cosmopolita”, por exemplo, no confronto histórico com o antigo cosmopolitismo (Stoa), com o jus cosmopoliticum do iluminismo (Kant) ou com os crimes contra a humanidade (Hannah Arendt, Karl Jaspers); os riscos globais colocam-nos em confronto com “o outro”, aparentemente excluído. Eles derrubam as fronteiras nacionais e mesclam o indígena com o estrangeiro (...).
Ambas as tendências: a reflexividade da incerteza e o impulso cosmopolita são reconduzíveis a uma meta-mudança complexiva da “sociedade” no século XXI:
a) Pondo-as em cena, as experiências e os conflitos do risco mundial compenetram e modificam os fundamentos da convivência e do agir em todos os âmbitos, em nível nacional e em nível global;
b) do risco mundial se pode deduzir a nova forma de relação com as questões abertas, o modo pelo qual o futuro é integrado no presente, que formas assumem as sociedades que efetuam a interiorização do risco, como se transformam as instituições existentes e que modelos organizacionais até agora desconhecidos são criados;
c) ora, de um lado, estão em primeiro plano os grandes riscos (indesejados), como a alteração climática; do outro, a antecipação das ameaças de novo tipo provenientes dos ataques terroristas (desejados) cria uma constante expectativa pública;
d) realiza-se uma mudança cultural geral. Nasce um novo modo de entender a natureza e sua relação com a sociedade, mas também de entender a nós e aos outros, a racionalidade social, a liberdade, a democracia e a legitimação - e até mesmo o indivíduo. (...)
O significado compreensivo do risco mundial tem conseqüências muito relevantes, já que se liga a ele todo um repertório de novas representações, temores, medos, esperanças, normas de comportamento e conflitos de fé. Estes medos têm um efeito colateral particularmente fatal: as pessoas e os grupos que se tornam (ou são feitas tornar-se) “pessoas em risco” ou “grupos em risco” são considerados como não-pessoas, cujos direitos fundamentais estão ameaçados. O risco separa, exclui, estigmatiza. Formam-se, assim, novos limites de percepção e de comunicação? Mas, ao mesmo tempo são também realizados esforços que ultrapassam os limites para resolver problemas submetidos, por primeira vez, a uma influência pública. Conseqüentemente, o colocar em cena o risco mundial dá lugar a uma produção e construção social da realidade. O risco se torna assim a causa e o meio de reconfiguração da sociedade.. E está estreitamente conexo com as novas formas de classificação, interpretação e organização de nossa vida cotidiana, com o novo modo de pôr em cena e de organizar, de viver e de configurar a sociedade em relação ao presente do futuro.
**
O salto da sociedade do risco à sociedade mundial pode ser esclarecido apelando a dois testemunhos: Max Weber e John Maynard Keynes, os clássicos da sociologia e da economia modernas. Em Max Weber a lógica do controle vence no moderno confronto com o risco, e vence de modo tão irreversível que o otimismo cultural (Kulturoptimismus) e o pessimismo cultural (Kulturpessimismus) são reconhecidos como dois lados da mesma dinâmica. Por força do desdobramento e da radicalização dos princípios basilares da modernidade, e, em particular pela radicalização da racionalidade científica e econômica, impende um regime despótico como conseqüência, de um lado, do desenvolvimento da democracia moderna e, do outro, do triunfo do capitalismo orientado ao lucro. Esperança e preocupação se condicionam reciprocamente: do momento em que as incertezas e os efeitos colaterais imprevistos e indesejados, produzidos pela racionalidade do risco, não cessam de ser enfrentados “otimisticamente”, graças a um incremento da racionalização e da lógica do mercado, a preocupação de Weber não considerava – diversamente de Comte e Durkheim – a falta de ordem e integração social. Ele não temia o “caos das incertezas” (como Comte). Ao contrário, ele via e afirmava que a síntese entre ciência, burocracia e capitalismo transforma o Moderno numa espécie de “prisão”. Esta ameaça não emerge como um fenômeno marginal, mas, como conseqüência lógica da racionalização exitosa do risco: se tudo vai bem, será sempre pior. A racionalidade instrumental despolitiza a política e mina a liberdade dos indivíduos.
Ao mesmo tempo, no modelo de Max Weber está contida uma idéia que explica porque o risco se torna um fenômeno global, embora ainda não explique porque isso dá lugar à sociedade mundial do risco. Segundo Weber, a globalização do risco não está ligada ao colonialismo ou ao imperialismo, Isto é, não é levada em frente com o fogo e com a espada. Ela procede antes ao longo da via da coação não coagida do melhor argumento. A marcha triunfal da racionalização baseia-se na promessa de benefício do risco e na delimitação, por sua vez racional, dos efeitos colaterais, das incertezas e dos perigos a isso coligados. É esta auto-aplicação do risco ao risco, finalizada pelo aperfeiçoamento do autocontrole, que globaliza o “universalismo”. A idéia de que precisamente o imprevisto, o indesejado, o incalculável, o inesperado, o incerto, tornados permanentes pelo risco, possa tornar-se a fonte de possibilidades e perigos não antecipáveis, que põem seriamente em questão a idéia-guia da racionalidade do controle, é uma idéia impensável no modelo weberiano. Ela está na base da minha teoria da sociedade mundial do risco. (...).
No inicio do século XXI vemos a sociedade moderna com olhos diversos – e este nascimento de um “olhar cosmopolita” faz parte do inesperado, do qual deriva uma sociedade mundial do risco ainda indeterminada. De ora em diante, nada do que acontece é somente um evento local. Todos os perigos essenciais se tornaram perigos mundiais, a situação de cada nação, de cada etnia, de cada religião, de cada classe, de cada indivíduo em particular é também o resultado e a origem da situação da humanidade. O ponto decisivo é que, de agora em diante, a principal tarefa é a preocupação pelo todo. Não se trata de uma opção, mas da própria condição. Ninguém jamais o previu, desejou ou escolheu, mas brotou das decisões, da soma de suas conseqüências, e se tornou conditio humana. Ninguém pode subtrair-se a ela. Perfila-se, assim, uma mudança da sociedade, da política e da história, que até agora permaneceu incompreendida e que já há algum tempo indico com o conceito de “sociedade mundial do risco”. O que agora conhecemos é apenas o início.
Ao mesmo tempo, a sociedade mundial do risco gera um “impulso cosmopolita”, por exemplo, no confronto histórico com o antigo cosmopolitismo (Stoa), com o jus cosmopoliticum do iluminismo (Kant) ou com os crimes contra a humanidade (Hannah Arendt, Karl Jaspers); os riscos globais colocam-nos em confronto com “o outro”, aparentemente excluído. Eles derrubam as fronteiras nacionais e mesclam o indígena com o estrangeiro (...).
Ambas as tendências: a reflexividade da incerteza e o impulso cosmopolita são reconduzíveis a uma meta-mudança complexiva da “sociedade” no século XXI:
a) Pondo-as em cena, as experiências e os conflitos do risco mundial compenetram e modificam os fundamentos da convivência e do agir em todos os âmbitos, em nível nacional e em nível global;
b) do risco mundial se pode deduzir a nova forma de relação com as questões abertas, o modo pelo qual o futuro é integrado no presente, que formas assumem as sociedades que efetuam a interiorização do risco, como se transformam as instituições existentes e que modelos organizacionais até agora desconhecidos são criados;
c) ora, de um lado, estão em primeiro plano os grandes riscos (indesejados), como a alteração climática; do outro, a antecipação das ameaças de novo tipo provenientes dos ataques terroristas (desejados) cria uma constante expectativa pública;
d) realiza-se uma mudança cultural geral. Nasce um novo modo de entender a natureza e sua relação com a sociedade, mas também de entender a nós e aos outros, a racionalidade social, a liberdade, a democracia e a legitimação - e até mesmo o indivíduo. (...)
O significado compreensivo do risco mundial tem conseqüências muito relevantes, já que se liga a ele todo um repertório de novas representações, temores, medos, esperanças, normas de comportamento e conflitos de fé. Estes medos têm um efeito colateral particularmente fatal: as pessoas e os grupos que se tornam (ou são feitas tornar-se) “pessoas em risco” ou “grupos em risco” são considerados como não-pessoas, cujos direitos fundamentais estão ameaçados. O risco separa, exclui, estigmatiza. Formam-se, assim, novos limites de percepção e de comunicação? Mas, ao mesmo tempo são também realizados esforços que ultrapassam os limites para resolver problemas submetidos, por primeira vez, a uma influência pública. Conseqüentemente, o colocar em cena o risco mundial dá lugar a uma produção e construção social da realidade. O risco se torna assim a causa e o meio de reconfiguração da sociedade.. E está estreitamente conexo com as novas formas de classificação, interpretação e organização de nossa vida cotidiana, com o novo modo de pôr em cena e de organizar, de viver e de configurar a sociedade em relação ao presente do futuro.
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O salto da sociedade do risco à sociedade mundial pode ser esclarecido apelando a dois testemunhos: Max Weber e John Maynard Keynes, os clássicos da sociologia e da economia modernas. Em Max Weber a lógica do controle vence no moderno confronto com o risco, e vence de modo tão irreversível que o otimismo cultural (Kulturoptimismus) e o pessimismo cultural (Kulturpessimismus) são reconhecidos como dois lados da mesma dinâmica. Por força do desdobramento e da radicalização dos princípios basilares da modernidade, e, em particular pela radicalização da racionalidade científica e econômica, impende um regime despótico como conseqüência, de um lado, do desenvolvimento da democracia moderna e, do outro, do triunfo do capitalismo orientado ao lucro. Esperança e preocupação se condicionam reciprocamente: do momento em que as incertezas e os efeitos colaterais imprevistos e indesejados, produzidos pela racionalidade do risco, não cessam de ser enfrentados “otimisticamente”, graças a um incremento da racionalização e da lógica do mercado, a preocupação de Weber não considerava – diversamente de Comte e Durkheim – a falta de ordem e integração social. Ele não temia o “caos das incertezas” (como Comte). Ao contrário, ele via e afirmava que a síntese entre ciência, burocracia e capitalismo transforma o Moderno numa espécie de “prisão”. Esta ameaça não emerge como um fenômeno marginal, mas, como conseqüência lógica da racionalização exitosa do risco: se tudo vai bem, será sempre pior. A racionalidade instrumental despolitiza a política e mina a liberdade dos indivíduos.
Ao mesmo tempo, no modelo de Max Weber está contida uma idéia que explica porque o risco se torna um fenômeno global, embora ainda não explique porque isso dá lugar à sociedade mundial do risco. Segundo Weber, a globalização do risco não está ligada ao colonialismo ou ao imperialismo, Isto é, não é levada em frente com o fogo e com a espada. Ela procede antes ao longo da via da coação não coagida do melhor argumento. A marcha triunfal da racionalização baseia-se na promessa de benefício do risco e na delimitação, por sua vez racional, dos efeitos colaterais, das incertezas e dos perigos a isso coligados. É esta auto-aplicação do risco ao risco, finalizada pelo aperfeiçoamento do autocontrole, que globaliza o “universalismo”. A idéia de que precisamente o imprevisto, o indesejado, o incalculável, o inesperado, o incerto, tornados permanentes pelo risco, possa tornar-se a fonte de possibilidades e perigos não antecipáveis, que põem seriamente em questão a idéia-guia da racionalidade do controle, é uma idéia impensável no modelo weberiano. Ela está na base da minha teoria da sociedade mundial do risco. (...).
No inicio do século XXI vemos a sociedade moderna com olhos diversos – e este nascimento de um “olhar cosmopolita” faz parte do inesperado, do qual deriva uma sociedade mundial do risco ainda indeterminada. De ora em diante, nada do que acontece é somente um evento local. Todos os perigos essenciais se tornaram perigos mundiais, a situação de cada nação, de cada etnia, de cada religião, de cada classe, de cada indivíduo em particular é também o resultado e a origem da situação da humanidade. O ponto decisivo é que, de agora em diante, a principal tarefa é a preocupação pelo todo. Não se trata de uma opção, mas da própria condição. Ninguém jamais o previu, desejou ou escolheu, mas brotou das decisões, da soma de suas conseqüências, e se tornou conditio humana. Ninguém pode subtrair-se a ela. Perfila-se, assim, uma mudança da sociedade, da política e da história, que até agora permaneceu incompreendida e que já há algum tempo indico com o conceito de “sociedade mundial do risco”. O que agora conhecemos é apenas o início.
Um comentário:
A verdade é que devermos pensar se a sociedade está ficando + moderna ou + burra. Pois com tantas informações e tecnoligias as pessoas se perdem e meio delas deixando seus valores de lado ficando um mundo de risco. E está cada vez + acumulativo o risco da população, uma sociedade q se deixa influenciar por midia e ñ tem opinião própria.
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