Enquanto os países desenvolvidos ainda sofrem para se reerguer após a crise financeira internacional de 2008/2009, a China não tirou o pé do acelerador e deve crescer mais de 9% este ano, previu ontem Yi Gang, vicepresidente do Banco do Povo (o banco central chinês). Yi surpreendeu analistas ao garantir, ainda, que seu país já é hoje a segunda maior economia mundial, superando o Japão, marca que só se previa ser comemorada pelos chineses no fim deste ano.
— A China já é agora, de fato, a segunda maior economia do mundo — disse Yi ontem sem, no entanto, detalhar cifras ou explicar como chegou a essa conclusão.
A reportagem é de Wagner Gomes e publicada pelo jornal O Globo, 31-07-2010.
No primeiro semestre, a China cresceu 11,1% em relação ao mesmo período de 2009. O Japão não divulgou ainda o resultado de seu Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no primeiro semestre, mas, na previsão de analistas, a afirmação de Yi será confirmada.
Afinal, o Japão amarga baixíssimas taxas de crescimento desde a década de 90 e, este ano, pelas previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), deve avançar só 2,4%.
Liderança pode ser alcançada em 2025
O PIB chinês, que somou US$ 2,55 trilhões no primeiro semestre de 2010, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, deve fechar o ano em US$ 5,365 trilhões, pelas previsões do FMI. O PIB americano, maior do mundo, chegará ao fim deste ano em quase o triplo disso: US$ 14,8 trilhões.
O japonês ficará na terceira posição, com US$ 5,273 trilhões. Neste ranking, o Brasil aparece em oitavo lugar, com um PIB previsto de US$ 1,91 trilhão no fim do ano.
E, depois de ultrapassar a França em 2005, a Alemanha em 2007 e o Japão agora, a China caminha para tirar a liderança dos EUA entre as maiores economias mundiais por volta de 2025, segundo projeções de organismos internacionais, como Banco Mundial, e de instituições do mercado, como Goldman Sachs.
Desde 1978, quando realizou reformas econômicas e começou seu processo de abertura, a China vem registrando uma expansão média anual acima de 9,5%, destacou Yi ontem, alertando, porém, para as restrições ambientais que o país enfrenta.
Charles Tang, presidente da Câmara Brasil-China de Comércio, destaca que a prioridade da China é crescer economicamente e a qualquer custo. Um dos problemas é a desigualdade social e a falta de compromisso ambiental.
O coordenador da Global Academy, da Fundação Getulio Vargas (FGV), Yan Duzert, lembra que o Japão perdeu competitividade nos últimos anos. Enquanto a China apresenta maior dinamismo econômico, população jovem, mão de obra barata e potencial para exportação, o Japão tem uma população envelhecida, que sofreu intensamente os efeitos da crise econômica.
— A China tem sido nos últimos 20 anos um acelerador do crescimento. Conseguiu se tornar produtiva, uma fábrica do mundo, enquanto o Japão não se adaptou a uma sociedade rápida e moderna — diz Duzert.
Para Duzert, o grande desafio chinês para será o desenvolvimento humano. Ele lembra que apenas 10% da população têm educação em nível superior, contra 80% no Japão e 50% nos EUA. Isso significa que o país precisa investir em educação, saúde e meio ambiente.
— Não devemos avaliar o desenvolvimento de um país apenas pelo que ele produz, mas pela qualidade de vida da população — afirma.
Para Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), um dos maiores problemas é que o nível de renda chinês ainda é muito baixo.
Apesar de o crescimento recente ter tirado milhões de chineses da pobreza, a renda per capita anual do país é de US$ 3.677, muito inferior à de Japão (US$ 39.731) e EUA (US$ 46.380).
— A China tem um modelo voltado para a exportação que traz incertezas sobre o crescimento sustentável.
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