O governo Obama destina 600 milhões de dólares contra os clandestinos mexicanos. Mas os republicanos impedem contra o projetos, dedicados a regularizar quem já está no país.
A reportagem é de Federico Rampini, publicada no jornal La Repubblica, 14-08-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mil e quinhentos policiais e militares enfileirados para o reforço na fronteira com o México. O uso, pela primeira vez, dos "drones", os mesmos aviões sem piloto usados para caçar Osama bin Laden ou telecomandar os bombardeios contra o Talibã. Seiscentos milhões de dólares de financiamentos.
São esses os meios excepcionais colocados em campo pela lei anticlandestinos que Barack Obama assinou nesta sexta-feira. O presidente tomou a medida com uma cerimônia silenciosa: a ministra do Interior, Janet Napolitano, de pé ao lado da sua mesa, só os fotógrafos oficiais permitidos, nenhuma pergunta e resposta com a imprensa. Um perfil discreto, para evitar instrumentalizações e polêmicas.
Essa lei é o mínimo denominador comum, muito tênue, entre a direita e a esquerda. O Congresso a aprovou na quinta-feira com um consenso bipartidário. Logo depois da votação, Obama divulgou esta declaração: "Assegurar a nossa fronteira meridional é uma prioridade. Eis porque a minha Administração dedicou meios sem precedentes à luta contra as grandes organizações criminosas transnacionais que traficam drogas, armas, dinheiro sujo e gerem o transporte de imigrantes clandestinos através da fronteira. Essas medidas permitem-nos continuar trabalhando com o Congresso para se chegar a uma reforma partilhada das normas sobre a imigração".
Esse é o último objetivo que, na realidade, continua muito distante. Deslocando mais tropas e tecnologias anticrime à fronteira Sul, Obama demonstra não ser um presidente "mole" na ordem pública. Não pode haver tolerância com quem não respeita a lei norte-americana.
Mas na atmosfera política atual, o presidente não se ilude de encontrar o consenso bipartidário na outra parte do seu objetivo: mudar as regras, construir um percurso de regularização, dar uma esperança de cidadania aos 11 milhões de clandestinos que já estão hoje no território dos EUA. Pelo contrário, o confronto político sobre esses temas se polarizou. Houve o passo à frente dado pelo Arizona, governada pelos republicanos, que tentou impor sozinha um endurecimento da lei contra os imigrantes. A lei do Arizona foi rejeitada por uma corte federal, mas neste domingo irão chegar ao Estado os seguidores do Tea Party para um encontro nacional que visa relançar a cruzada.
Paralelamente, a direita abriu uma outra fronte. É a campanha para revogar a 14ª emenda da Constituição: a que, desde 1868, garante a cidadania a qualquer pessoa que nasça em território norte-americano, independentemente do status dos seus pais, da sua nacionalidade e de como entraram no país.
Para os que querem revogar a emenda, esse princípio tornou-se um cavalo de Troia: alimenta o fenômeno do "turismo dos nascimento", as mães que atravessam a fronteira ilegalmente para fazer seu parto nos EUA. Quatro milhões de crianças são cidadãos norte-americanos nascidos de imigrantes clandestinos. Chamam-lhes de "crianças-âncora", porque graças a eles os pais podem esperar por uma futura regularização por meio do procedimento do reunião familiar. Quatro milhões de crianças aos quais a direita gostaria de tirar a cidadania.
Obama e o partido democrático estão convictos de que a campanha contra a 14ª emenda é um erro estratégico para os republicamos, que acabará afastando completamente da direita os votos da minoria hispânica, cujo peso demográfico continua crescendo. Mas, imediatamente, a campanha contra os clandestinos pode compactar e fortalecer o eleitorado da direita em alguns Estados fronteiriços. E se os republicanos conquistarem a maioria na Câmara em novembro, Obama poderá dar adeus à sua "verdadeira" reforma imigratória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário