Os oceanos são o sangue da Terra, e o plâncton, os glóbulos vermelhos. A presença destes organismos diminuiu mais de 40% desde 1950, especialmente devido à mudança climática, afirmam cientistas. “O filoplâncton é uma parte fundamental de nosso sistema de apoio à vida no planeta. Produz metade do oxigênio que respiramos absorve dióxido de carbono e mantém nossos peixes”, explicou Boris Worm, da Universidade de Dalhousie, do Canadá, e um dos mais destacados especialistas em oceanos.
A reportagem é de Stephen Leahy, da IPS, e publicada pela Agência Envolverde, 03-08-2010.
“Um oceano com menos fitoplâncton funcionará de forma diferente”, explicou Boris, coautor de um novo estudo sobre o tema, publicado na semana passada na revista científica Nature. “O plâncton é equivalente ao pasto, às arvores e a outras plantas na terra”, ilustrou o oceanógrafo Marlon Lewis, também coautor do informe. “É perturbador se dar conta de que perdemos metade das zonas verdes dos oceanos. Parece que a taxa de redução do plâncton está aumentando”, afirmou.
A mudança climática está aquecendo os oceanos à média de 0,2 grau centigrados por década. A água mais quente tem menos nutrientes e, por ser leve, tende a ficar perto da superfície, acima da mais fria. Esta estratificação do oceano é um problema para o plâncton, que precisa de luz e só sobrevive nos primeiros 100 a 200 metros de profundidade. O plâncton fica sem nutrientes para se alimentar, a menos que as águas mais profundas se misturem com as que estão na superfície.
Na última década, foi observado que a estratificação dos oceanos é um fenômeno que ocorre em áreas cada vez maiores. O fitoplâncton é um conjunto de pequenos organismos vegetais e animais, que vivem perto da superfície dos oceanos e são a base alimentar de muitos peixes. Provavelmente, é o grupo de organismos que mais trabalha no planeta, e não apenas se alimentam de quase tudo o que vive nos oceanos, como também absorvem e capturam CO² da atmosfera. Além disso, desprendem dimetil sulfureto, substância química que flutua na superfície do oceano e evapora para contribuir com a formação de nuvens. Sem o plâncton, a Terra seria um lugar muito diferente.
Os pesquisadores passaram três anos analisando e resumindo uma coleção sem precedentes de informação oceanográfica histórica e recente, incluindo quase meio milhão de medições da transparência da água nos últimos 120 anos. Antes, a informação sobre a situação do plâncton em nível planetário ia só até 1997, quando foram lançados satélites especiais. Boris, Marlon e seu colega Daniel Boyce concluíram que a maior parte da redução do fitoplâncton ocorreu em regiões polares e tropicais, e em oceanos abertos.
Também constataram uma relação direta entre as crescentes temperaturas da superfície e a diminuição do fitoplâncton na maior parte do planeta, sobretudo perto do Equador. “Nos perguntamos qual seria o impacto do aumento das temperaturas no oceano”, disse Boris à IPS em uma entrevista em Potsdam, na Alemanha. Além da redução do plâncton, foi observada uma queda no número de espécies em águas tropicais e um aumento nas águas temperadas. Como na terra, certas espécies marinhas são muito sensíveis à temperatura e vão para outro lugar se a região que habitam se torna muito quente.
Outra importante mudança verificada nos oceanos é o drástico aumento no número e no tamanho de áreas mortas, isto é, com muito pouco oxigênio para que haja vida. O lançamento de fertilizantes e esgotos contribuem com um grande crescimento do plâncton, que, no entanto, morre rapidamente e é consumido por bactérias que esgotam o oxigênio. O Golfo do México tem uma zona morta de 22 mil quilômetros quadrados a cada primavera devido à vazão do Rio Mississippi.
A estratificação marinha, quando a água mais quente fica acima da mais fria, rica em nutrientes, também cria zonas mortas e diminui o surgimento de plâncton, ressalta Boris. Essas áreas eram raras há 40 anos, mas agora somam várias centenas. Se não houver uma ação urgente, a mudança climática continuará esquentando os oceanos, aumentando a estratificação e produzindo mais e maiores zonas mortas, com um grande impacto na pesca, alerta um estudo, de 2009, na Nature Geoscience. Demorará milhares de anos para que os oceanos esfriem, por isso é imperativo acionar um freio de emergência para deter as emissões que provocam o aquecimento global, concluiu o estudo.
Os especialistas também alertaram sobre a crescente acidificação da água marinha por causa da liberação de CO². A cada dia, os oceanos absorvem 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono, o que inevitavelmente aumenta sua acidez e reduz a quantidade de carbonato de cálcio de que necessitam alguns tipos de plâncton e outras espécies para formarem suas carapaças e seus esqueletos. Não há discordância sobre esta química básica. O único debate gira em torno do grau e do tempo do impacto. Recente pesquisa no Ártico – já informada pela IPS – sugere que dentro de dez anos várias partes desse oceano serão extremamente ácidas para a sobrevivência da maioria das espécies.
Segundo Marlon, a acidificação é uma grande ameaça para algumas espécies de plâncton, mas afirmou que seu estudo não conseguiu especificar os impactos. A única forma de reduzir a acidificação dos oceanos é com reduções substanciais nas emissões de CO², concluíram especialistas como o australiano Ove Hoegh-Guldberg, diretor do Instituto sobre a Mudança Climática da australiana Universidade de Queensland. Ove é coautor da uma revisão de dezenas de estudos sobre o estado dos oceanos publicada na revista Science de 18 de junho. A pesquisa apresenta uma imagem perturbadora, e alerta para a iminência de uma “fundamental e irreversível transformação ecológica”, jamais vista em milhões de anos.
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