sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

CRISE AFETARÁ DESENVOLVIMENTO HUMANO !

O abalo causado pela crise financeira global deverá afetar o ranking do IDH, alerta o coordenador do relatório de Desenvolvimento Humano no Brasil, o economista Flávio Comim.
Ciente de que a turbulência elevará o desemprego e a pobreza e afetará os rendimentos, ele observa que países cujos avanços têm sido puxados sobretudo pelo aumento da renda per capita ficarão mais vulneráveis à crise. Entre eles, poderão estar peso-pesados como Islândia — líder do ranking e que sofreu um colapso com a crise global —, EUA, China e Índia. O impacto só será captado nos próximos relatórios, por causa da defasagem de dois anos das estatísticas analisadas.
A reportagem é de Demétrio Weber, Bruno Rosa e Letícia Lins e publicada pelo jornal O Globo, 19-12-2008.
O Brasil, na avaliação de Comim, estaria mais blindado a essas oscilações. Isso porque, elogiou, o crescimento brasileiro no ranking, apesar de lento, ocorreu nas três áreas avaliadas — educação, saúde e renda — e de forma sistemática.
O relatório de Desenvolvimento Humano divulgado ontem analisa dados de 2006, portanto anteriores à crise econômica mundial. O impacto da desaceleração só será captado nos próximos anos. O estudo a ser feito ao longo de 2009, que terá como tema a migração, usará informações de 2007 e deverá mostrar ainda pequenos impactos — a crise começou no ano passado, nos EUA.
Estagnação pode afetar programas sociais Segundo Comim, as nações ricas que surfaram na onda da bolha imobiliária, consumindo mais do que podiam com base numa falsa valorização dos imóveis, sofrerão efeitos negativos.
É o caso de EUA, que perdeu três posições no atual ranking, Reino Unido, França e Espanha. Já países que lucraram com o petróleo nos últimos anos correm o risco de queda no IDH.
— É uma questão complexa saber se a crise vai travar programas sociais pela via da estagnação econômica — disse o coordenador.
Outra indicação de quem pode ser afetado é a lista saída da atualização do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto dos bens e serviços produzidos num país) per capita feita pelo Banco Mundial (Bird). As nações que mais oscilaram dependem muito dos ganhos de renda. A China foi atingida em cheio, com perda superior a 30%. Para 70 países, a revisão implicou queda acima de 5% no PIB per capita. Para outros 60, aumento.
Comim disse que o crescimento harmonioso nos diferentes indicadores do IDH é uma boa vacina contra os efeitos negativos da crise.
— Tem muita coisa a ser feita, mas o grau de consistência e harmonia das dimensões do IDH brasileiro é relevante em épocas com grandes flutuações — disse.
Para economistas, o IDH do Brasil pode ficar abaixo de 0,800 — o que o coloca no grupo de nações de médio desenvolvimento.
Para Geraldo Biasoto, professor da Unicamp, a queda na cotação do petróleo vai afetar a renda. Já Milko Matijascic, pesquisador do Ipea, diz que o Brasil ainda pode perder posições no ranking em 2008 e 2009.
Apesar dos números positivos no país, a pobreza ainda persiste. É o que se observa, por exemplo, em Recife, onde reside Severino Lucena, de 42 anos. Ele é analfabeto, desempregado e vive de biscate em um casebre.
— Quando chove, a casa é invadida pelas águas da lagoa — lamenta Severino.

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