A Cúpula da América Latina e Caribe (CALC), que terminou ontem, na Costa do Sauípe, na Bahia, representa o mais novo passo dos 31 países da região para afastar-se da órbita de influência dos Estados Unidos.
A reportagem é de Alexei Barrionuevo, publicada no jornal The New York Times e reproduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-12-2008.
O evento reúne quase todos os dirigentes da América Latina e do Caribe, mas excluiu tanto os EUA quanto a Europa, e evidencia, mais uma vez, a liderança indiscutível do Brasil na América Latina.
Apesar de toda a popularidade do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, aliado dos EUA, o Brasil não conseguiu impedir os líderes de celebrar a inclusão do presidente cubano, Raúl Castro, nesse encontro. Lula também não pôde impedir que os outros presidentes aproveitassem a ocasião para atacar os Estados Unidos e a Europa por seu papel na crise econômica global, que também afeta a região.
Os Estados Unidos tornaram-se o saco de pancadas nessa cúpula. Raúl Castro não foi o único a responsabilizar os Estados Unidos e o que chamou de seu modelo “neoliberal” pela crise do crédito, que está está comprometendo muitas outras economias.
“Em meio a uma crise global sem precedentes, nossos países estão descobrindo que não são parte do problema”, disse o presidente Lula. “Eles podem e devem ser parte da solução.”
Para os analistas, a data do encontro, quatro meses antes da próxima Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, foi significativa. Esse encontro, que foi realizado pela primeira vez em Miami, em 1994, a pedido do então presidente Bill Clinton, incluirá os Estados Unidos e o Canadá, mas não Cuba.
O presidente Lula empenhou-se para deixar a Cúpula das Américas em segundo plano, enviando até aviões da Força Aérea do Brasil para garantir a presença de presidentes de países mais pobres da América Central e do Caribe. O presidente Alan García, do Peru, e Álvaro Uribe, da Colômbia, aliado incondicional dos Estados Unidos, foram os únicos chefes de Estado ausentes da reunião.
INFLUÊNCIA
“Não há dúvida que se trata de uma exclusão, de excluir os Estados Unidos”, disse Peter Hakim, presidente do grupo de pesquisa política Diálogo Interamericano, com sede em Washington. “O Brasil está demonstrando um enorme poder de influência.”
Com a ascensão da China como principal destino exportador e a recente visita do presidente russo, Dmitri Medvedev, para cortejar os líderes latino-americanos, já são mais freqüentes os sinais de que os Estados Unidos se tornam um protagonista cada vez mais distante nos assuntos da região, disse Riordan Roett, diretor do programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade John Hopkins.
“Os Estados Unidos não são mais, e jamais serão novamente, o maior interlocutor dos países da região”, disse Hopkins.
Um a um, os presidentes saudaram a inclusão de Cuba, demonstrando sua frustração com as tentativas americanas de excluir Cuba de deliberações similares no âmbito do hemisfério sul, segundo Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Interamericano.
Muitos dos líderes presentes, incluindo o presidente Lula, pediram o fim do embargo americano a Cuba. “Este é mais um passo para garantir que Cuba ocupe seu lugar de direito na região e em todo o mundo”, disse Bruce Golding, primeiro-ministro da Jamaica.
Mas, mesmo com os líderes latino-americanos falando de seu poder coletivo e de sua unidade crescente, as tensões regionais ficaram evidentes.
DESUNIÃO
O atrito entre Equador e Brasil é um exemplo, com a expulsão pelo presidente equatoriano, Rafael Correa, de executivos da construtora brasileira Odebrecht e com o questionamento do empréstimo feito pelo poderoso Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financia projetos de obras públicas na América Latina.
Essas disputas, contudo, podem ter mais a ver com o perfil de potência regional do Brasil à medida que suas empresas multinacionais competem de modo mais agressivo por negócios além das fronteiras brasileiras.
Apesar disso, o presidente Lula tem sido um especialista em apaziguar as tensões pela diplomacia, enquanto que a diplomacia de Washington tem se tornado ineficaz em boa parte da região.
“Lula é um líder que pratica a política do abraço forte, achando que todos os problemas podem resolvidos com um gesto caloroso”, disse Larry Birns, diretor do grupo de pesquisa do Council of Hemispheric Affairs, com sede em Washington.
A reportagem é de Alexei Barrionuevo, publicada no jornal The New York Times e reproduzida pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-12-2008.
O evento reúne quase todos os dirigentes da América Latina e do Caribe, mas excluiu tanto os EUA quanto a Europa, e evidencia, mais uma vez, a liderança indiscutível do Brasil na América Latina.
Apesar de toda a popularidade do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, aliado dos EUA, o Brasil não conseguiu impedir os líderes de celebrar a inclusão do presidente cubano, Raúl Castro, nesse encontro. Lula também não pôde impedir que os outros presidentes aproveitassem a ocasião para atacar os Estados Unidos e a Europa por seu papel na crise econômica global, que também afeta a região.
Os Estados Unidos tornaram-se o saco de pancadas nessa cúpula. Raúl Castro não foi o único a responsabilizar os Estados Unidos e o que chamou de seu modelo “neoliberal” pela crise do crédito, que está está comprometendo muitas outras economias.
“Em meio a uma crise global sem precedentes, nossos países estão descobrindo que não são parte do problema”, disse o presidente Lula. “Eles podem e devem ser parte da solução.”
Para os analistas, a data do encontro, quatro meses antes da próxima Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, foi significativa. Esse encontro, que foi realizado pela primeira vez em Miami, em 1994, a pedido do então presidente Bill Clinton, incluirá os Estados Unidos e o Canadá, mas não Cuba.
O presidente Lula empenhou-se para deixar a Cúpula das Américas em segundo plano, enviando até aviões da Força Aérea do Brasil para garantir a presença de presidentes de países mais pobres da América Central e do Caribe. O presidente Alan García, do Peru, e Álvaro Uribe, da Colômbia, aliado incondicional dos Estados Unidos, foram os únicos chefes de Estado ausentes da reunião.
INFLUÊNCIA
“Não há dúvida que se trata de uma exclusão, de excluir os Estados Unidos”, disse Peter Hakim, presidente do grupo de pesquisa política Diálogo Interamericano, com sede em Washington. “O Brasil está demonstrando um enorme poder de influência.”
Com a ascensão da China como principal destino exportador e a recente visita do presidente russo, Dmitri Medvedev, para cortejar os líderes latino-americanos, já são mais freqüentes os sinais de que os Estados Unidos se tornam um protagonista cada vez mais distante nos assuntos da região, disse Riordan Roett, diretor do programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade John Hopkins.
“Os Estados Unidos não são mais, e jamais serão novamente, o maior interlocutor dos países da região”, disse Hopkins.
Um a um, os presidentes saudaram a inclusão de Cuba, demonstrando sua frustração com as tentativas americanas de excluir Cuba de deliberações similares no âmbito do hemisfério sul, segundo Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Interamericano.
Muitos dos líderes presentes, incluindo o presidente Lula, pediram o fim do embargo americano a Cuba. “Este é mais um passo para garantir que Cuba ocupe seu lugar de direito na região e em todo o mundo”, disse Bruce Golding, primeiro-ministro da Jamaica.
Mas, mesmo com os líderes latino-americanos falando de seu poder coletivo e de sua unidade crescente, as tensões regionais ficaram evidentes.
DESUNIÃO
O atrito entre Equador e Brasil é um exemplo, com a expulsão pelo presidente equatoriano, Rafael Correa, de executivos da construtora brasileira Odebrecht e com o questionamento do empréstimo feito pelo poderoso Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financia projetos de obras públicas na América Latina.
Essas disputas, contudo, podem ter mais a ver com o perfil de potência regional do Brasil à medida que suas empresas multinacionais competem de modo mais agressivo por negócios além das fronteiras brasileiras.
Apesar disso, o presidente Lula tem sido um especialista em apaziguar as tensões pela diplomacia, enquanto que a diplomacia de Washington tem se tornado ineficaz em boa parte da região.
“Lula é um líder que pratica a política do abraço forte, achando que todos os problemas podem resolvidos com um gesto caloroso”, disse Larry Birns, diretor do grupo de pesquisa do Council of Hemispheric Affairs, com sede em Washington.
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