quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

EM TEMPO DE CRISE: ALTERNATIVAS : PARTE 02

Hoje, continuaremos a pensar sobre as soluções propostas para a CRISE ECONÔMICA INTERNACIONAL.


“As crises financeiras internacionais dependem dos bens naturais, e o Brasil tem um território excelente nesse sentido”, considera Bautista Vidal. Para o físico, o sol é a única fonte energética capaz de gerar outras energias renováveis e sanar os problemas ambientais do Planeta.

Ele “ainda vai durar 11 bilhões de anos”, adverte. Além dessa fonte quase inacabável, aponta, o país “tem a maior produção de água doce do Planeta, que é fundamental para transformar a energia eletromagnética do sol em energia renovável: álcool, óleos vegetais etc.”. Com esses recursos e considerando o período de crise no mundo, o Brasil poderia se beneficiar com a situação, mas o Estado “está se comportando de maneira omissa, sem fazer valer as suas vantagens comparativas”, afirma.

Na entrevista que segue, concedida por telefone à IHU On-Line, Bautista Vidal lamenta a má utilização dos recursos naturais brasileiros e alerta: “Se os países destroem as suas potencialidades energéticas, estão destruindo as riquezas e os bens naturais. A ecologia é dada pela natureza e precisa ser preservada. Se não preservarem, os países vão perder os bens naturais que lhes permitem ter vantagens comparativas”.
Há anos, o ex-professor da UnB (Universidade de Brasília) vem anunciando o fim da era do petróleo, mas, com a descoberta das novas reservas de pré-sal encontradas recentemente, ele argumenta que o país também pode lucrar com a energia suja. “O Brasil pode exportar petróleo e com isso angariar recursos para beneficiar-se de outras maneiras. Acredito que o Brasil está numa condição excepcional, porque tem uma grande reserva de petróleo que pode trazer lucro para a economia, além de possuir uma fonte renovável de energia”, assegura.
José Walter Bautista Vidal é engenheiro, formado em Santiago de Compostela, pós-graduado em Física, pela Universidade de Stanford (EUA). Atuou como secretário de Estado de Ciências e Tecnologia, secretário de Tecnologia Industrial, e foi o principal implementador do Programa Nacional de Álcool. Entre seus livros, citamos Poder dos trópicos – Meditações sobre a alienação energética na cultura brasileira (Casa Amarela: São Paulo, 1998) e Brasil, civilização suicida (Nação do Sol: Brasília, 2000).
José Walter Bautista Vidal: “Ecologia é a base dos patrimônios”
Por: Graziela Wolfart e Patricia Fachin , 09/12/2008
IHU On-Line - Que relações o senhor estabelece entre a crise financeira internacional e a crise ambiental em nosso Planeta?
José Walter Bautista Vidal – A crise financeira é fruto de facilidades. Instituições concederam empréstimos a pessoas que não tinham condições de pagar, o que abalou bastante a economia americana, e os bancos não conseguiram saldar as dívidas. Começou, assim, um processo de propagação de efeitos terríveis que atingiram, entre outras coisas, o custo dos produtos e os juros, que novamente aumentaram. Tudo isso gerou conseqüências generalizadas muito negativas, e atingiu, sem dúvida alguma, um dos setores mais importantes: o de alimentos, ao qual o Brasil tem uma condição excepcional devido o clima e a água. Mas, embora o país tenha muitas vantagens em relação aos recursos naturais, não dispõe de instrumentos para acionar sua potencialidade energética.
O Brasil poderia se favorecer com essa situação de crise, mas não está conseguindo, embora tenha condições climáticas excepcionais devido à grande abundância de sol, de água, e por possuir um território continental com capacidade de manter um esquema de produção de energias renováveis. O país está se comportando de maneira omissa, sem fazer valer as suas vantagens comparativas. Enquanto isso, outros países o fazem de maneira exagerada: estão comprando as nossas terras e usinas de álcool. Tudo isso representa perda de soberania, de independência, de autonomia. Então, a situação não está boa, e as conseqüências para o Brasil podem ser mais graves do que já são devido às iniciativas de controle. O Estado está deixando o estrangeiro tomar conta de tudo que é nosso.

IHU On-Line - Qual o erro estratégico do governo que o senhor apontaria, nesse sentido?
José Walter Bautista Vidal – O governo se omite, não age e não cria instrumentos. Getúlio Vargas, quando era presidente da República, criou várias instituições estatais: a Petrobras, a Eletrobrás, o BNDS, a Vale do Rio Doce. Esse governo não cria nada que favoreça as condições brasileiras. Para transformar uma potencialidade em realidade, são necessários instrumentos de ação, os quais o país não tem. O Brasil está passando uma fase muito ruim, de dependência se comparada à época de Getúlio, onde estudos eram realizados, e o país tomava posições de acordo com as suas vantagens comparativas.
IHU On-Line - Como o senhor percebe a importância que o Brasil está dando para as reservas de pré-sal encontradas recentemente? Investir nesse tipo de energia no atual momento é contundente para o país?
José Walter Bautista Vidal – Pode parecer equivocado investir em energias como o petróleo, mas o fato de tê-las, só favorece o Brasil. A descoberta do pré-sal não significa que vamos retornar a era do petróleo, até porque esse período já está ultrapassado, mas o país pode exportar essa energia suja e se beneficiar com ela. De qualquer modo, precisamos continuar utilizando as energias limpas como o sol, que ainda vai durar 11 bilhões de anos. Além disso, o Brasil tem a maior proporção de água doce do planeta, que é fundamental para transformar a energia eletromagnética do sol em energia renovável: álcool, óleos vegetais etc.
IHU On-Line - Que benefícios o pré-sal pode trazer e como o país pode investir no petróleo?
José Walter Bautista Vidal – Todo mundo precisa do petróleo. O Brasil não precisa, porque existem outras fontes de energias renováveis. Com a descoberta dessas novas reservas de pré-sal, o país pode exportar petróleo e com isso angariar recursos para beneficiar-se de outras maneiras. Acredito que o Brasil está numa condição excepcional, porque tem uma grande reserva de petróleo que pode trazer lucro para a economia, além de possuir uma fonte renovável de energia. Nenhum país tem condições ecológicas iguais às que tem o Brasil. Nesse sentido, o país pode abastecer outros países que não têm reservas de petróleo, como é o caso do Japão, da China, da Alemanha. Nós precisamos aproveitar isso, mas, também, de instituições que preparem as pessoas para defender os nossos interesses. O Brasil não está tomando a iniciativa de assumir a sua posição, de comprometer-se com a sua vocação nacional.

IHU On-Line - O senhor diz que estamos nos aproximamos do fim da era do petróleo. Então, como entender tamanha euforia em torno do pré-sal, por exemplo?
José Walter Bautista Vidal – Essa não é uma euforia definitiva, porque o petróleo é uma forma deteriorada de energia.
IHU On-Line - Que energias o senhor considera compatíveis com a nova revolução cultural e tecnológica que está se configurando em nossa sociedade?
José Walter Bautista Vidal – As revoluções dependem da natureza, e a melhor é a brasileira. O Brasil tem condições de resolver seus problemas energéticos e transformar a potencialidade energética em recursos, poder e comando. Ninguém chega perto do Brasil nessas condições.
IHU On-Line - O que deveria fazer parte de uma mudança radical na postura dos indivíduos em nossa sociedade, com relação ao consumo dos bens não renováveis?
José Walter Bautista Vidal – É fundamental entender o processo renovável, conhecer a condição brasileira de único país tropical capaz de produzir energias renováveis, e compreender que o Brasil pode ser uma grande potência.
IHU On-Line - É possível evitar uma catástrofe climática sem romper radicalmente com os métodos e a lógica econômica que reinam há séculos?
José Walter Bautista Vidal – A supervalorização do dinheiro emitido sem lastro ainda é um grave problema. Por enquanto, o dólar é a única moeda que compra petróleo. Saddam Hussein resolveu comprar petróleo com euro, e o mataram. Esse poderio militar das nações hegemônicas é um fator negativo para os nossos interesses.
IHU On-Line - Muitos economistas estão falando em desaceleração da economia. É correto dizer que o decrescimento será indispensável para a nossa sobrevivência?
José Walter Bautista Vidal – As crises financeiras internacionais dependem dos bens naturais, e o Brasil tem um território excelente nesse sentido. A desaceleração econômica é fruto da carência dos países hegemônicos que não têm energia, sol, água.
Pequenas e médias produtoras de álcool representam uma potencialidade muito grande, entretanto não são utilizadas. As grandes empresas dominam o mundo, fazem valer as suas credenciais e nós perdemos o jogo enquanto eles ganham espaço e domínio.
IHU On-Line – É possível, a partir dessas crises, pensar num novo modelo de sociedade, de civilização?
José Walter Bautista Vidal – Claro, basta adotar aquilo que é abundante no país. Por exemplo, temos muita energia e precisamos utilizá-la. Ela é um bem extraordinário que nos permite arrecadar recursos, fazer grandes investimentos e se transformar numa potencia energética. Isso significa que podemos ampliar as nossas ações em todas as áreas econômicas, o que gera uma nação poderosa. Não estamos caminhando nessa direção, lamentavelmente, pela ausência do Estado brasileiro.
IHU On-Line - Que sociedade o senhor vislumbra?
José Walter Bautista Vidal – Uma sociedade em que os bens naturais, que servem para ajudar os países, sejam beneficiados e que o povo conheça as vantagens comparativas do Brasil em relação a outras nações. Isso exige instrumentos adequados. Por exemplo, na área das energias renováveis, não existe nenhuma instituição poderosa como tem em relação ao petróleo, a Petrobras.
IHU On-Line - A crise ecológica pode prejudicar ainda mais a crise financeira?
José Walter Bautista Vidal – Pode, porque a ecologia é a base dos patrimônios. Se os países destroem as suas potencialidades energéticas, estão destruindo as riquezas e os bens naturais. A ecologia é dada pela natureza e precisa ser preservada. Se não preservarem, os países irão perder os bens naturais que lhes permitem ter vantagens comparativas. O Brasil precisa defender uma posição mais analítica, conhecer os seus problemas e o seu povo precisa ser instruído dessa realidade. A população não sabe das vantagens competitivas do país e se comporta como se nós fossemos um país sem condições vantajosas.

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