quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O CASO BOLIVIANO PARTE 1 : ALGO ACONTECE NESTE PAÍS ANDINO !

O mapa acima se refere à Bolívia, país Latino Americano que está passando por uma experiência nacionalista separatista. Leia a reportagem abaixo dos principais jornais do dia de hoje.

O presidente Evo Morales salvará facilmente o seu mandato no referendo revogatório de domingo, revela pesquisa coordenada pelo Ibope que o Estado teve acesso. O “sim” a Evo no poder deverá alcançar 56%, contra apenas 35% que prometem votar pelo “não”. Para que Evo perca a presidência, é preciso que pelo menos 53,7% dos votos (votação que o elegeu em dezembro de 2005) mais 1 sejam pelo “não”. A pesquisa apurou, no entanto, que a aprovação do governo Evo no momento é menor - 52%. A reportagem é de Carlos Marchi e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 06-08-2008.
Segundo o Ibope, quatro governadores têm seus mandatos ameaçados. Três são da oposição: Manfred Reyes, de Cochabamba - praticamente derrotado, com 64% de “não” -, José Luís Paredes, de La Paz (52% de “não”), e Mario Cossío, de Tarija (52% de “não”). O único governista é Alberto Aguilar, de Oruro (47% de “não”). A Corte Nacional Eleitoral decidiu que os governadores regionais perderão o mandato se tiverem 50% mais 1 voto pelo “não”, qualquer que tenha sido o porcentual obtido em suas eleições.
Se Evo deverá sair vitorioso e ainda saborear a derrota de oponentes, as maiores lideranças da oposição terão vitórias mais consagradoras que a dele. O governador Ruben Costas, de Santa Cruz, líder maior da oposição, tem contra si apenas 25% de “não”, aponta a pesquisa; Ernesto Suárez, de Beni, e Leopoldo Fernandez, de Pando, têm 22% e 29% de “não”.
A pesquisa aponta que a Bolívia segue dividida: a aprovação do governo é de 52% e a desaprovação, de 39%, mas esses números nacionais escondem profundas diferenças regionais. O governo Evo é aprovado por 76% em La Paz e Potosí, 71% em Oruro e 62% em Cochabamba; mas é desaprovado por 69% em Santa Cruz, 68% em Tarija, 60% no Beni e 51% em Pando. A paixão convoca os eleitores: 81% dos bolivianos dizem ter decidido o seu voto no referendo e apenas 13% admitem indecisão.
Entre os mais pobres, Evo é aprovado por 68%; entre os mais ricos, é desaprovado por 70%. As classes intermediárias se dividem: 47% aprovam e 44% desaprovam. De uma forma geral, as mudanças prometidas por Evo - e apenas parcialmente concretizadas até aqui - dividem ainda mais a população, diz a pesquisa Ibope: 48% acham que as mudanças são positivas, 27% pensam que as mudanças são negativas e 19% afirmam que “nada está mudando, tudo segue igual”.
Os que aprovam a continuidade de Evo listaram três razões principais para expressar a razão do seu voto: “Evo é um homem honesto”, “Evo é um homem trabalhador” e “Evo representa a mudança”. Já os que querem votar contra sugeriram três outras razões, bem diferentes: “Evo não está preparado para governar”, “Evo só pensa nos indígenas do oeste” e “Evo é um ressentido”.


Não é a primeira vez que protestos de grupos oposicionistas impedem o presidente boliviano, Evo Morales, de fazer atos políticos nas regiões hoje governadas pelos oposicionistas. A reportagem é de Flávia Marreiro e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 06-08-2008.
Se analistas, dentro e fora da Bolívia, concordam que são baixíssimas as chances da atual crise política provocar uma desagregação territorial propriamente dita, os protestos como os de ontem, que impediram Morales e presidentes aliados de chegarem a Tarija, no sul, são mostras de que o poder do Estado central já não pode se impor em todo o país.
"Uma das características do Estado Nacional é o controle do território. Quando um presidente não pode aterrissar numa cidade, não pode receber visitas internacionais, é um claro sinal do questionamento de seu poder, uma prova da desinstitucionalização e da desagregação social da Bolívia", diz o analista Manuel Gonzalo Chávez, professor da Universidade Católica Boliviana.
Mas o analista também critica os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Cristina Kirchner (Argentina) por agendarem a visita. "É sinal também de pouco cuidado e má leitura dos vizinhos sobre a situação. Não é o mais sensato marcar um evento público, que fatalmente seria usado politicamente, num lugar conflagrado."
Para Gonzalo Chávez, "há grupos fora do controle nos dois lados". De um lado, camponeses aliados a Morales. De outro, os comitês cívicos, que reúnem a elite econômica e política nas regiões e rivalizam em poder até com os governadores da oposição em Santa Cruz, Pando, Tarija e Beni.

É também forte o poder de mobilização do comitê cívico da cidade de Sucre, no centro.

Sede da Constituinte, a cidade se levantou contra Morales porque os governistas não quiseram discutir a inclusão de Sucre como "capital plena" da Bolívia na Carta. Em confrontos em novembro passado, três pessoas morreram. No fim de maio, o presidente teve de cancelar, na última hora, uma visita à cidade, e seus partidários foram agredidos. Hoje não irá à cerimônia pela independência, celebrada em Sucre. Os moradores exigem que ele peça "desculpas" pelas mortes de 2007.


O analista boliviano Carlos Toranzo, coordenador de projetos da fundação Friedrich Ebert na Bolívia, disse que acredita que o referendo do próximo domingo provocará mais divisão e conflitos políticos e sociais em seu país. A entrevista é de Janaína Figueiredo e publicada pelo jornal O Globo, 06-08-2008.
Eis a entrevista.

Os incidentes podem impedir a realização do referendo?
Até agora parece que não. O caos em Tarija foi provocado para negar o acesso de Morales a uma região que defende sua autonomia. Seus opositores consideravam essa visita inadmissível e inoportuna. As manifestações em La Paz não são suficientes. Em Oruro estão protestando por uma lei de previdência e são aliados do governo, que querem aproveitar o momento para fazer suas demandas. A greve de fome em Santa Cruz é por um tributo sobre os hidrocarbonetos.Mas claro que tudo isso afeta o processo eleitoral.
O governo continua forte na disputa pelo referendo?
O governo é forte e tem o respaldo da Corte Nacional Eleitoral (CNE), que confirmou o referendo.
Existem divergências sobre como deve ser interpretado o resultado?
É um problema muito grave. Segundo a lei, que favorece o governo, uma autoridade que foi eleita com 32% dos votos precisa obter 68% para ser ratificada, ou seja, a diferença para chegar a 100. Já a CNE fez um interpretação diferente e disse que são necessários 50% mais um dos votos, para ser ratificado. Vamos ter um cenário muito caótico, porque o governo vai defender um mecanismo de cálculo e a CNE outro. Teremos governadores com sério risco de perder seus mandatos.
O país ficará mais dividido...
Teremos mais divisão, brigas sociais e políticas. O referendo vai empurrar os problemas do país com a barriga. Temos um governo centralista que não respeita o avanço das autonomias. Mas as regiões não podem vencer o governo, nem o governo às regiões.

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