segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO: A REALIDADE ! 1ª PARTE

O mapa acima se refere ao Rio São Francisco, e caracterizado o projeto de transposição das águas deste rio de "integração regional", Velho Chico, ou de grande importância para a região Nordeste do Brasil .
O Tema da TRANSPOSIÇÃO é polêmico, e com isso, inicio aquí uma série e publicações a respeito do mesmo.


A transposição do Rio São Francisco está afetando fortemente a vida econômica e social das pequenas cidades que ficam próximas às obras. A especulação imobiliária é uma realidade enfrentada por todos aqueles que, por causa do trabalho, foram obrigados a se mudar para a região.


A reportagem é de Ribamar Oliveira e Wilson Pedrosa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 11-08-2008.

“Uma casa de quatro quartos aqui em Cabrobó está sendo alugada por R$ 1.500”, informa a engenheira Márcia Gondim, da empresa Sondotécnica. “Antes das obras, ela era alugada por R$ 500.” Cabrobó tem cerca de 29 mil habitantes e está a 535 quilômetros do Recife. “Aqui, os aluguéis foram muito inflacionados”, confirma o secretário de Infra-Estrutura Urbana e Habitação, Paulo Teógens de Oliveira. Por causa desse fluxo contínuo de “estrangeiros”, os três hotéis de Cabrobó vivem lotados.
Na região não há mais manifestações contrárias à transposição e as máquinas do Exército trabalham em ritmo acelerado, para abrir os dois canais que vão levar água do São Francisco para as bacias hidrográficas do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Paraíba e do agreste de Pernambuco. Depois de nove meses de trabalho, os dois batalhões de engenharia e construção que estão na área já concluíram cerca de um terço das obras a cargo do Exército.
Como Cabrobó, Salgueiro também vive um boom no mercado imobiliário. “Aqui, o aluguel de uma casa de três quartos está na faixa de R$ 700”, conta a coordenadora do Programa Básico Ambiental (PBA), Elianeiva Odísio. Salgueiro fica a 64 quilômetros de Cabrobó e abriga o escritório do Ministério da Integração Nacional que coordena o projeto de transposição.
O que impulsiona a especulação é a chegada de engenheiros, técnicos e demais trabalhadores especializados para trabalhar no projeto. Muitos chegam com suas famílias para residir em Cabrobó, Salgueiro ou Floresta, onde ficarão por até três anos. Outros moram nessas cidades durante os dias úteis e passam o fim de semana no Recife, em Petrolina ou Juazeiro.
A especulação imobiliária será intensificada nos próximos meses com a chegada dos funcionários das empresas privadas que ganharam os lotes para a construção de canais, estações de bombeamento, aquedutos, túneis e outras obras da transposição.
Não é só o mercado imobiliário que sente os reflexos das obras de transposição. As pessoas que alugam as casas também contratam trabalhadores que passam a ter carteira assinada, uma realidade que não era comum na região antes da chegada dos “estrangeiros”. Quem está chegando às cidades não contrata trabalhadores por menos de um salário mínimo, o que também ajuda a elevar os salários locais.
A oferta de emprego não pára de crescer em Cabrobó, segundo Teógens. “Antes das obras, a falta de emprego era o nosso grande problema”, recorda. “O problema, agora, passou a ser encontrar mão-de-obra qualificada.”




Recebemos e publicamos o artigo de Adauto Medeiros, Engenheiro civil e empresário, sobre a transposição do Rio São Francisco.

Eis o artigo.


Se o Brasil fosse dirigido por gente séria estaria comemorando a vitória sobre a seca e a famosa frase de Dom Pedro II já não teria o menor sentido.
A maioria dos nordestinos pensa que de lá para cá não foi feito nada, mas prefiro falar apenas do nosso estado.
Em 1982, construímos a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, com 2,4 bilhões de m3; em 1990/92 começou o baixo Assú com 6.000 hectares e ainda não terminamos.
Em 1992 foram construídas as adutoras de Garibaldi, em 2003 fizemos as barragens de Umari e Santa Cruz com 900 milhões de m3. Hoje não temos grandes gargantas para fazer barragem a não ser a Oiticica que está parada há 10 anos. Esta, uma barragem de 500 milhões de m3, serviria para gerar energia como para manter o nível da Armando Ribeiro Gonçalves.
Temos hoje a nossa disposição 13,9 bilhões, sem contar mais 1 bilhão de Caremis/Mãe d´agua no Rio Piranha que vem da Paraíba. Agora vejamos o outro lado: o Rio São Francisco tem uma vazão de 1.860 m³ para o consumo das cidades ribeirinhas e 70% das cidades de Sergipe e Belo Horizonte e mais a irrigação dos plantios as margens do Rio, especialmente Petrolina e Juazeiro. A população ribeirinha chega a 8 milhões de habitantes e sendo o projeto de 26 m³ chegará para nós apenas 2,2 milhões de m³ o que é insignificante em relação à água que temos.
Talvez as pessoas que são favoráveis à transposição não saibam que para recalcar 1 m3³ de água no projeto, é preciso ter 3 m3³ de água para fornecer energia para recalcar a água. E para o projeto todo, teremos de ter 7 mil km de túneis, que como podem ver é uma verdadeira indústria da seca onde os grandes beneficiários são as empreiteiras, as fábricas de cimento que por falar nisso estão instalando duas no RN.
Projeto de 10 anos é uma festa para os políticos, pois precisam de lobby para liberar o dinheiro todos os anos. E para ter uma idéia o canal terá 25m de largura por 7,0 metros de altura. O orçamento de 6,6 bilhões é o início do projeto, mas com os desdobramentos é impossível quantificar aonde isso vai. Isto mostra que não temos um projeto para o Nordeste e especialmente para o Rio Grande Norte, uma vez que precisamos construir o aeroporto de São Gonçalo, aliás até hoje não entendo porque não é em Parnamirim, pois além de ter o encontro de duas BRs, as rodovias para chegar lá já estão juntas e feitas, e em São Gonçalo não temos como chegar lá e para fazê-lo será muito caro. É incrível mais uma vez vermos que os empreiteiros dão as cartas.
Também precisamos de uma refinaria que foi para Pernambuco. Precisamos de um porto, precisamos construir uma siderúrgica, precisamos divulgar o destino de Natal no exterior para manter esta superestrutura turística criada pela iniciativa privada para atender milhões de profissionais que estão desempregados, precisamos de estradas vicinais e estaduais, em suma, precisamos de tudo, muito especialmente de esgotamento sanitário para que a cidade possa crescer verticalmente e não proibir edificações por falta de esgoto. Este é o estado galhofa que não trata nem mesmo o nitrato, e no caso do Rio Potengi que recebe esgoto in natura, fica fácil colocar a culpa nos camarões, mas aqui é sempre assim.
E assim, enquanto não vem nada, novas mentiras são colocadas na mídia para enganar o povo do Nordeste. Portanto, pelo que eu relatei não temos falta de água, pelo contrário temos muita, o que nos falta é bom senso. Não temos um projeto para as galerias pluviais de Natal e nem para transporte coletivo. Todos que vão ao exterior sabem que o metrô é a solução, mas infelizmente nem mesmo um estudo preliminar não existe. Brevemente os dominantes precisarão de helicóptero para livrar-se do trânsito. E enquanto não fazem as obras prioritárias vamos enganando a sede de justiça com 2,2 m3 por segundo. É bom lembrar que para a água que vem do São Francisco para encher Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte, precisará de 3 anos para enchê-lo. Não é uma brincadeira isso? Esse não é um país sério.

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