terça-feira, 12 de agosto de 2008

O IMPÉRIO DA CINDIA !

O mapa que caracteriza a CÍNDIA, iniciais de China e Índia, países vencedores da Rodada de Doha !

O insucesso da Organização Mundial do Comércio - OMC - demonstra que o império de “Cindia” é uma potência econômica que não tem nenhuma razão de deixar que os países do Ocidente lhe imponham leis.


Porque o mundo não é um mercado único. O artigo é de Jean-Paul Fitoussi, economista francês, em artigo publicado no jornal La Repubblca, 05-08-2008.



Eis o artigo.



Não houve um acordo em Genebra porque não existiam as condições políticas para encontrá-lo: a negociação chegou às últimas batidas no pior momento possível, ou seja, precisamente quando os países se dão conta que sua principal tarefa é a de defender os próprios interesses estratégicos. E isto ainda mais que no passado, visto que estão em jogo a agricultura e os recursos naturais. A OMC é chamada a regular a globalização de um mundo povoado por Estados-nação, cuja missão essencial é a de proteger sua população. Quando tudo vai bem, não há necessidade de uma proteção forte e explícita. Quando, ao invés, as coisas vão menos bem como hoje – e, sobretudo vão menos bem naquilo que se refere aos recursos estratégicos que tocam a independência alimentar ou energética – a função protetora dos Estados se torna prioritária. E isto torna mais difícil um acordo de livre comércio que, por definição, restringe esta função protetora.
Os ocidentais estão satisfeitos porque não se tocam as denominações de origem e não abrem ainda mais as fronteiras, e os países do Sul podem manter as atuais barreiras alfandegárias.
Quanto aos países pobres, tinham algo a ganhar graças à abertura dos mercados ocidentais aos seus produtos, mas as perdas não são consideráveis, porque estes países estão envolvidos em sistemas de ajudas regionais ou bilaterais, como aquele entre a Europa e a África. Em linha de princípio, todos perdem porque o livre comércio deveria permitir um crescimento mais elevado, mas trata-se de uma vantagem puramente teórica: o protecionismo não reduziu o crescimento chinês. Realizar integralmente as vantagens teóricas do livre comércio não é possível, já eu o mundo não é um mercado único, mas a soma de tantos mercados quantos são os países.
O insucesso da OMC demonstra que a China e a Índia são potências econômicas que não têm nenhuma razão para deixar impor as leis dos países do norte. E que o livre comércio só é aceito enquanto não há interesses nacionais muito fortes a defender. No fundo, por trás de uma palavra igual para todos se distingue uma variedade de significados. O livre comércio caldeado pelo Ocidente não é o desejado pela China e pela Índia. É normal: o mundo funciona assim e sempre funcionou assim. Não existe o mistério de uma transcendência econômica que faria passar o interesse geral do mundo à frente dos interesses das nações.
Talvez não se trate somente de uma pausa num processo irreversível, porque a ruptura se produziu no momento em que se toma conhecimento que a mundialização tem muitos efeitos perversos: as crises financeiras se propagam velozmente e hoje todos pensam em regular diversamente o mundo das trocas, sem ingenuidade nos confrontos do livre mercado. O mundo assimilou o eletrochoque da crise financeira e entendeu que a mundialização não produziu aqueles efeitos benéficos que tinham sido prometidos às populações. O processo de globalização foi bruscamente freado: pode se tratar de uma pausa ou de uma nova partida em direção a outra mundialização. Sobre a qual, no entanto, ainda não se refletiu, porque somos prisioneiros da velha mundialização, da qual ainda não se entendeu bem o que significa e que conseqüências tenha. De resto, há tempo eu havia advertido que o emergir da China e da Índia teria um impacto importante sobre o Wto, porque sua concepção da abertura dos mercados é bem diversa da nossa.
Cada um tira o cobertor do seu lado, baste pensar nas relações entre mundialização e concorrência. Olhemos para nossa casa: malgrado a adoção de princípio da Comissão européia à livre concorrência, no final se decidiu subvencionar os pescadores, uma medida anti-concorrencial “por excelência”. Mas, isso ocorreu porque entramos numa nova fase, na qual é decisiva a arbitragem política entre o grau de concorrência e o grau de proteção dos indivíduos e dos profissionais. Este pequeno exemplo demonstra o que sucede em nível mundial: devem ser feitas arbitragens por toda parte, não só no Norte.


As dificuldades nascem também porque se utiliza um vocabulário errôneo. Fala-se com freqüência de regulação, tradução de um termo inglês (regulation), enquanto em francês ou em italiano se diria regulamentação Quero dizer que a mundialização depende em parte do político: a regulamentação é política, a regulação parece técnica. Hoje entramos num mundo muito mais político com respeito ao passado, porque as questões que se colocam são essencialmente políticas, por se tratar de questões de soberania.

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