domingo, 30 de novembro de 2008

ENCERRANDO O MÊS DE NOVEMBRO COM AS 10 CHARGES MAIS ATUAIS !

Sempre me disseram que as IMAGENS FALAM POR SÍ, e isso me motivou a buscar nas mesmas entender os fatos ao meu redor !
Então, motivado por isso, estou ENCERRANDO as publicações do Mês de Novembro, com as 10 MAIS MAIS, ou seja, os DEZ FATOS mais marcantes de NOVEMBRO, em forma de CHARGES !
JULGUE-OS E DECIDA QUAL É O MAIS MARCANTE !

IMAGEM 01: AS CHUVAS DE NOVEMBRO !

IMAGEM 02: A QUESTÃO DAS COTAS !

IMAGEM 03: A CRISE ECONÔMICA, E O SOCORRO DA CAIXA A PETROBRÁS !



IMAGEM 04: A EQUIPE DO PRESIDENTE ELEITO DOS EUA,
BARACK HUSSEIN OBAMA !


IMAGEM 05 : A DENGUE !

IMAGEM 06: A VIAGEM DE LULA
AO PAPA BENTO XVI !

IMAGEM 07: AS AÇÕES DO GOVERNO,
DIANTE DA CRISE ECONÔMICA !

IMAGEM 08: A REUNIÃ DO G-20 !



IMAGEM 09 : OS EUA ELEGEM UM PRESIDENTE NEGRO !
IMAGEM 10: A RELAÇÃO PIB E PAC.

sábado, 29 de novembro de 2008

A ÍNDIA VIVE O SEU " 11 DE SETEMBRO" EM NOVEMBRO DE 2008 !

MUMBAI (Reuters) - O choque deu lugar ao luto e à raiva no sábado, enquanto a Índia lida com o que os jornais locais estão chamando de o seu "11 de setembro", com manifestantes acusando o Paquistão de estar por trás dos ataques que mataram pelo menos 195 pessoas.
Soldados de elite e equipes de resgate trabalhavam nos escombros após a onda de violência que durou três dias, quando cerca de 50 manifestantes se reuniram nas proximidades do Taj Mahal Palace Hotel ainda em chamas.
"Nossos soldados vieram e o Paquistão fugiu", gritavam, erguendo os punhos ao alto.
A Índia culpou "elementos" do rival nuclear Paquistão pelos ataques, e há evidências de que os militantes islâmicos podem ter planejado a ofensiva no país vizinho.
Para os parentes das vítimas, a realidade dos ataques foi exposta no necrotério do Hospital JJ em Mumbai.
"Há três dias, ouvimos diferentes informações sobre minha irmã. Finalmente, hoje quando a vi, seu rosto havia sido destruído", disse um parente da jornalista Sabina Saikia, que foi morta dentro do hotel Taj Mahal.
Uma mensagem de texto circulou por Mumbai pedindo que as pessoas vistam roupas da cor preta no sábado. Muitos acenderam velas em cidades pelo país como um sinal de condolências.
Leia mais
Em outros lugares da Índia, milhares guardaram luto pela morte de 20 policiais e soldados nos combates com os militantes que transformaram a capital econômica e do entretenimento da Índia em uma zona de guerra, com ataques coordenados em vários pontos da cidade.
Imagens da TV mostraram caixões cobertos com bandeiras e coroas de flores sendo carregados em procissões coloridas. Bandas militares vestidas em uniformes vermelhos e pretos tocaram e fizeram salvas de tiros de homenagens durante as cerimônias funerais dos soldados mortos, que estão sendo considerados mártires.
Jornais chamaram os ataques de Mumbai de o "11 de setembro indiano" em referência aos ataques de 11 de setembro de 2001, que mataram aproximadamente 3.000 pessoas nos Estados Unidos.
Os políticos não deram trégua, com votações marcadas para Nova Délhi no sábado.
O partido Hindu nacionalista Bharatiya Janata (BJP), principal partido de oposição, fez anúncios de primeira página acusando a coalizão governista do Congresso de fracassar na defesa do país.
"Ataques terroristas brutais à vontade. Governo fraco. De má vontade e incapaz. Combata o terrorismo - Vote BJP", disse um anúncio, mostrando uma mancha vermelho sangue em um fundo preto.
O Partido do Congresso, criticado pelo BJP sobre a segurança nacional nas últimas semanas, respondeu: "20 dias de campanha falsa não podem substituir 10 anos de desenvolvimento. É a sua decisão".

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A INTERNACIONALIZAÇÃO DA AMAZÔNIA JÁ ESTÁ ACONTECENDO !

A “internacionalização” da Amazônia já ocorre, uma vez que grande parte das mais importantes atividades econômicas no Estado está voltada para interesses externos - a exportação de madeira, soja e carne para países que não querem arcar com os custos socioambientais dessas atividades (que são pesados); a exportação de ferro-gusa e alumínio, que têm altíssimo custo ambiental e energético (em grande parte subsidiado e transferido para a conta de toda a sociedade brasileira); a Zona Franca para empresas de outros países; o comércio de minérios.
A análise é do jornalista Washington Novaes em artigo intitulado 'A visão da sociedade e o futuro amazônicono' jornal O Estado de S.Paulo, 28-11-2008.
Eis o artigo.
Por onde se caminhará na Amazônia para evitar que o bioma chegue ao desmatamento em 50% de sua área e perca a capacidade de se regenerar, como advertiu o cientista Gilvan Sampaio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, e Herton Escobar relatou neste jornal (21/11)? Vários fóruns em Manaus discutiram esse tema nas últimas semanas. E um sumário das discussões permitiria enfatizar muitos pontos:
O Brasil não tem estratégia para a Amazônia. Não há recursos para implantar o cadastro fundiário (só 4% das terras são registradas), monitorar o território, fiscalizá-lo e impedir o desmatamento ilegal: o Ministério do Meio Ambiente só tem cerca de 0,5% do Orçamento federal.
Não há “transversalidade” na política federal, cada Ministério cuida de seus interesses específicos - enquanto isso, já há ali mais de 70 milhões de cabeças de gado e cerca de 20% do bioma foi desmatado para a expansão agropecuária e extração ilegal de madeira (mais de 150 mil km2 só de 2000 para cá).
“Reserva legal” em cada propriedade é apenas ficção. Os gastos federais no bioma não passam de 4,05% do total, enquanto a população amazônica supera 12% da população brasileira. A região continua a ser receptora de mão-de-obra desempregada em outras partes.
Continuam sem resposta as objeções de cientistas à lei que permite concessão de terras públicas para “manejo” por empresas (países que entraram por esse caminho perderam suas florestas).
Seria possível destacar muito mais pontos, mas não é necessário, o tema tem sido muito tratado. Talvez seja interessante salientar algumas discussões por outros ângulos, que ocorreram durante o recente Simpósio de Cultura e Natureza na Amazônia, parte do Festival Literário Internacional da Floresta, na parte que tratou especificamente de “desenvolvimento e natureza na Amazônia”.
Era inevitável que se falasse ali do tema da “ameaça de internacionalização da Amazônia”. Vários conferencistas lembraram, entretanto, que de certa forma essa “internacionalização” já ocorre, uma vez que grande parte das mais importantes atividades econômicas no Estado está voltada para interesses externos - a exportação de madeira, soja e carne para países que não querem arcar com os custos socioambientais dessas atividades (que são pesados); a exportação de ferro-gusa e alumínio, que têm altíssimo custo ambiental e energético (em grande parte subsidiado e transferido para a conta de toda a sociedade brasileira); a Zona Franca para empresas de outros países; o comércio de minérios - para só citar alguns.
Pode ser interessante, entretanto, colocar o foco sobre a questão da falta de uma “identidade amazônica” (decisiva durante séculos para a conservação da floresta), que dificulta a formulação de uma estratégia competente e necessária. Vale a pena começar, aí, por uma intervenção do sociólogo e poeta João de Jesus Paes Loureiro, autor de vários livros sobre a realidade cultural amazônica, para quem “o imaginário popular é uma visão de progresso social”, com sua “crença em vidas possíveis”.
“O caboclo”, diz ele, “é um viajante imóvel: busca conhecimento, significado, na profundidade, não na distância” - mas só é visto como pitoresco, folclorizante. E essa “lacuna de interpretação leva ao risco de perda desse tesouro da cultura amazônica”. De fato, como chegar a uma estratégia amazônica que não passe pela visão popular, social? O professor Narciso Lobo trafegou pela mesma senda: “Precisamos nos inventar mais uma vez.” Com a dificuldade trazida pelas visões tecnológicas, que “encobrem a realidade”.
Já o escritor Márcio Souza (Mad Maria e Galvez, Imperador do Acre, entre outros livros) enfatizou que “não construímos o relato do passado” - um passado muito rico, já que a Amazônia, antes dos muitos massacres pelos colonizadores que sofreu, era povoada por milhões de indivíduos, a começar pelos índios. “Se jogarmos uma agulha para o alto” - o escritor citou o historiador João Daniel, do século 17 - “ela cairá na cabeça de um índio.” Mas onde está o relato desse tempo, dessa vivência, de sua resistência à ocupação, dos caminhos pelos quais influenciou a possível identidade amazônica e a preservação da floresta? Como “aprender com essa cultura a não destruir o meio ambiente?” Sem essa cultura não haverá Amazônia, afirma o escritor. Só restará folclore, que é “o que resta da cultura popular depois que a polícia passa”.
Certamente por causa da ausência dessa cultura, continua-se a falar em “desbravar a floresta”, observou o ex-secretário de Meio Ambiente da Amazônia Virgílio Viana. E a conceder crédito público a quem desmata uma floresta que existe há pelo menos 1.500 anos, como lembrou o professor Niro Higuchi, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), ao tratar dos riscos que o desmatamento da Amazônia traz para a área do clima, se liberar o imenso volume de carbono seqüestrado pelas árvores.
Pode-se concluir com o raciocínio do professor Charles R. Clement, também do Inpa, em texto inédito: “Manter a floresta em pé e garantir crescimento sustentável é uma equação que nós, Homo sapiens agricola, não sabemos decifrar. Isso nunca foi necessário ao longo da expansão de nossa subespécie. Não evoluímos para isto. (...) Chegamos ao século XXI convencidos de que podemos tudo.” Mas, “se continuarmos a ser apenas modernos, não temos futuro. A solução não é ser pós-moderno. (...) O futuro da Amazônia e da nossa espécie depende de uma evolução sociocultural nova: a transformação de Homo sapiens agricola em Homo sapiens sustentabilis, em menos de uma década” (o tempo que a ciência nos dá para enfrentar as mudanças climáticas e o consumo insustentável).
É um desafio imenso, que não se resolverá na Amazônia sem incorporar a visão da sociedade, e não apenas a visão econômica e tecnológica.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

CAMPANHA ! SOLIDARIEDADE COM OS CATARINENSES !

Além de ser um blog de notícias, hoje inauguro uma parte de minhas publicações em que pediria a você leitor, reflexão sobre o que tens feito para ajudar os flagelados das chuvas em Santa Catarina ?!
Se perto de sua casa tiver alguém com uma campanha de ajuda humanitária, participe, dê sua contribuição....

É triste ver imagens de brasileiros sofrendo tanto, e ainda assim, muitos não se tocam !

Vamos ajudar.... faça a sua parte... eu já fiz a minha...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

CRISE CLIMÁTICA VAI GERAR MUDANÇAS NO NORDESTE !

As mudanças climáticas previstas para atingir o Brasil nas próximas décadas devem deixar áreas hoje já vulneráveis no Nordeste ainda mais pobres, com mais fome e com menos gente. Em linhas gerais, essa é a conclusão de um estudo, lançado hoje por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fiocruz, que buscou avaliar os impactos que o aquecimento global terá sobre as migrações e a saúde na região.
A reportagem é de Giovana Girardi e publicada no jornal O Estado de S.Paulo, 26-11-2008.
Os pesquisadores trabalharam com a premissa, apontada em agosto por estudo da Embrapa e da Unicamp, de que o aumento das temperaturas vai reduzir as áreas de baixo risco para a agricultura em todo o País, principalmente no Nordeste. A nova pesquisa detalhou essa perda agrícola e calculou os prejuízos econômicos e sociais que ela vai causar. Pelas contas, o aquecimento deve promover uma redução de 11,4% no PIB da região até 2050. Isso deve ser resultado da redução expressiva da área agricultável. Os Estados mais afetados, segundo o trabalho, deverão ser Ceará (-79,6% de terra apta), Piauí (-70,1%), Paraíba (-66,6%) e Pernambuco (-64,9%). Esses números valem para o pior cenário, que prevê aumento de 4°C na temperatura do Nordeste até 2070.
“Desde o início, tínhamos noção de que o impacto climático seria grande, mas os números foram maiores do que esperávamos”, afirmou o economista Ricardo Ruiz, da UFMG. “E, na minha opinião, esse impacto nos PIBs está subestimado porque só avaliamos os danos à agricultura, sem considerar geração de energia e oferta de água.”
A expectativa é que a dificuldade de cultivo, e o conseqüente prejuízo à segurança alimentar, acabem piorando as condições socioeconômicas daquelas populações e aumentem as migrações do sertão para o litoral e para outros Estados, em especial do Centro-Oeste e do centro-norte, mas também do Sudeste. Esta região - que nos últimos anos vem presenciando uma volta dos nordestinos que vieram nos anos 70 - deve receber novas ondas migratórias.
“Pela tendência da região, continuariam ocorrendo migrações nos próximos anos mesmo sem o choque climático. Mas o que vimos é que, com o aquecimento, elas serão mais significativas”, comenta Alisson Barbieri, da UFMG, um dos coordenadores do estudo. Ele trabalhou com a chamada taxa líquida de migração, que é a relação entre a quantidade de pessoas que migram e a população do município. Sem a elevação da temperatura, ela seria em média de - 0,29%, contra -0,39% com o aquecimento. Até 2040, o Nordeste deve perder 247 mil habitantes. Os principais pontos de partida devem ser as regiões metropolitanas do Recife (PE) e de João Pessoa (PB) e a capital Teresina (PI).
A locomoção de pessoas e o aumento das temperaturas e da aridez devem elevar também o Índice Geral de Vulnerabilidade, que mostra quão sensível é uma população a epidemias e à seca. No pior cenário de aquecimento, novamente Ceará e Pernambuco estarão entre os mais vulneráveis.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

AS CHUVAS EM SANTA CATARINA ! CATÁSTROFE PREVISTA ?

CHOVE CHUVA.... EU VOU PEDIR UMA PRECE A DEUS NOSSO SENHOR....

Mapa acima, prevendo CHUVAS INTENSAS na região Sul do brasil, em especial para SANTA CATARINA !
Imagens dos resultados das CHUVAS em SANTA CATARINA !



Imagens das CHUVAS em SANTA CATARINA !

Após três meses de água, durante os quais o sol só fez breves aparições, os moradores de Florianópolis voltaram a levar a sério um dito dos antigos nativos: "Quando chove na lua cheia de agosto, seguem-se sete meses de chuva".
O artigo é de José Geraldo Couto e publicado no jornal Folha de S.Paulo, 25-11-2008.
Formada por bairros separados uns dos outros por morros, lagoas, rios, matas e mangues, a capital catarinense se tornou um conjunto de ilhas dentro da ilha. Deslizamentos de terra, enchentes, estradas bloqueadas, aulas suspensas na rede pública: cada um fica no seu canto esperando que a terrível profecia não se cumpra.
Na Lagoa da Conceição, onde moro, a rotina mudou radicalmente. Ruas desertas, sem os habituais caminhantes matinais, sem ciclistas, sem os desocupados que matam tempo nos cafés, sem os pequenos congestionamentos rumo às praias da Joaquina, Mole e Campeche.
Os moradores do bairro, refiro-me ao "centrinho" da Lagoa, só saem de casa em pequenas corridas ao supermercado, à farmácia ou aos restaurantes a quilo quando a chuva amaina. Esgueiram-se sob marquises, chafurdam nas poças e, quando se encontram, só têm um assunto: a chuva, as goteiras, as quedas de energia, a roupa mofada.
Os turistas vão contrariados de um café a outro, olhando com desânimo para o céu carregado.Uma amiga, dona de agência de viagens, diz não agüentar mais as reclamações dos visitantes. Sem um órgão público de apoio, eles invadem a agência para reclamar. Um dinamarquês chegou a dizer, brandindo um guia: "Fui enganado. Aqui diz que a cidade é linda e cheia de opções".
Mas o desapontamento dos turistas é a face mais leve de um baixo-astral generalizado que domina a ilha de Santa Catarina, ao lado da preocupação com tragédias maiores, tais como as que acometem as cidades do vale do Itajaí.
As lembranças do dilúvio de 1983, do apagão de 2003 e do ciclone Catarina (2004) continuam vivas entre os moradores. Para muitos, a chuva atual é mais uma praga que a natureza manda de quando em quando para matizar a imagem paradisíaca deste privilegiado "pedacinho de terra perdido no mar", como canta o hino da cidade.


As mortes no litoral de Santa Catarina são uma tragédia anunciada e vão continuar a ocorrer se nada for feito rapidamente. O alerta é da geógrafa Maria Lúcia de Paula Herrmann, coordenadora do Núcleo de Estudos de Desastres Naturais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, 25-11-2008. Ela diz que o solo é "podre", fruto de uma alteração geológica de 4 milhões de anos, e que a ocupação precisa ser controlada.
Eis a entrevista.
O que está acontecendo em Santa Catarina?
Todas as nossas serras têm um material superficial bem permeável. Esse manto, quando está muito saturado e a água continua a penetrar no solo, fica uma espécie de lâmina d'água separando a rocha desse material. Aí desliza. Isso acentua-se muito porque as pessoas constroem nessas áreas.
Podemos dizer que o solo está "podre"?
A gente usa mais manto conluvial, material intemperizado. Saprolitizado é um termo popular, é rocha podre, que está bem alterada.
São áreas urbanizadas.
Esse é o problema. Essas áreas das encostas estão sendo muito ocupadas. A maioria das cidades dessa faixa litorânea está se expandido em direção às encostas. E as encostas estão sujeitas a isso: quando a água infiltra, satura e desliza.
Não tem como combater?
O escorregamento, mesmo que tivesse a vegetação, não tivesse a ocupação, estaria acontecendo, porque o solo vai saturar do mesmo jeito. Agora, não haveriam desabrigados, desalojados. São áreas que estão sem cuidado.
O poder público sabe disso tudo?
Se você acompanhar cada episódio de chuva intensa, os bairros sujeitos a deslizamentos são os mesmos e os pontos são praticamente os mesmos. Não é novidade. O que a gente nota é que há um certo descuido em fazer fiscalização e controle das encostas, de urbanização desordenada.
Toda vez que chover muito forte vai acontecer isso?
Acho que se continuar com esse tipo de ocupação, e as existentes ficarem sem nenhuma atenção, os números de desabrigados e mortos vão ser cada vez maiores.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A CRISE CHEGA "ÀS GIGANTES" DO SETOR AUTOMOTIVO - PARTE 3 : DETROIT CONTRA WALL STREET !

A crise financeira atropelou a indústria automobilística nos Estados Unidos - mas o grande motor do setor produtivo americano há muito tempo começou a falhar. É o que afirma o sociólogo Adalberto Moreira Cardoso, organizador, ao lado do colega Alex Covarrubias, de A Indústria Automobilística nas Américas - A Reconfiguração Estratégica e Social dos Atores Produtivos, lançado em 2006 pela Editora UFMG.
Doutor pela Universidade de São Paulo e professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Cardoso vê com preocupação o risco de falência das três gigantes de Detroit: Chrysler, Ford e General Motors (GM). Para ele, o grande erro das montadoras americanas foi avançar o sinal na produção de utilitários esportivos de alto luxo - os famosos SUVs (Sport Utility Vehicle), que faziam a cabeça do novo-riquismo perdulário da era da bolha financeira.
A entrevista foi realizada por Ivan Marsiglia e publicada no jornal O Estado de S.Paulo, 23-11-2008.
Essa semana o mundo assistiu à impressionante cena dos CEOs da Chrysler, da Ford e da GM passando o pires em busca de ajuda do governo para evitar sua falência.

O que está acontecendo com as supermontadoras de Detroit?
A indústria automobilística americana vai mal das pernas faz algum tempo. O que a crise fez foi aprofundar um problema que ela vinha enfrentando desde que os preços do petróleo dispararam. São várias as razões, mas em especial o fato de que, nos últimos 20 anos, essas montadoras investiram em modelos de automóveis cada vez mais caros.


O senhor está falando dos SUVs, os utilitários esportivos de alto luxo?
Exatamente. São automóveis 40, 50, até 100% mais caros que os convencionais. Utilizam mais aço, borracha, materiais de alto custo. E, por isso, são pesados, pedem motores possantes e consomem muita gasolina. São carros fabricados olhando para trás - para a época em que o petróleo era fonte abundante e barata. Essas montadoras basearam-se em premissas inteiramente equivocadas, do ponto de vista ecológico e de sua própria sobrevivência. Uma opção que decorreu justamente da enorme facilidade de crédito nos últimos anos. Qualquer pessoa era capaz de comprar uma casa e um automóvel do preço de uma casa. Aí o crédito secou, afetando a indústria automobilística dos EUA tanto quanto o mercado de imóveis.
Era uma estratégia insustentável...
Já há alguns anos, vivemos uma crise de superprodução de automóveis. Existe uma capacidade instalada no mundo superior à capacidade de consumo. Antes isso não aparecia porque o crédito barato permitia que as pessoas trocassem de carro todo ano. Aí veio a crise e o problema, que estava sendo empurrado com a barriga, revelou-se incontornável.
Já em 2005, com condições de crédito favoráveis para todos, o lucro da Toyota Motors ultrapassou os ganhos da GM, Ford e Chrysler juntas.


Em 2007, ela virou a maior empresa automobilística do mundo. Como se explica tal dianteira?
A Toyota é uma empresa muito particular. Ela fez uma opção global muito cedo, antes das outras. Se instalou na Europa, na Ásia, nos EUA e na América do Sul com um programa de expansão e investimento muito bem-sucedido em uma faixa de mercado. Apostou em veículos para a classe média e em alguns de altíssima qualidade. Fez picapes e utilitários de alto luxo como os da GM, só que muito mais baratos. É uma questão de eficiência. A Toyota é capaz de reduzir custos de produção via organização do trabalho, introdução de tecnologias e inovação no uso de materiais.


O fordismo, modelo de produção em massa idealizado por Henry Ford que revolucionou a indústria na primeira metade do século 20, foi superado pelo sistema Toyota?
A Ford adotou o modo Toyota, assim como todo o mundo. A indústria inteira incorporou o chamado lean manufacturing, que é uma forma de produção enxuta, comandada pelo consumo: você tem uma demanda na ponta, que produz resultados em cadeia para trás. A indústria produz de acordo com a demanda real dos clientes, sem estoques nem intermediários. O problema das americanas foi investir em um produto que se mostrou equivocado.


A indústria automobilística tem ocupado um lugar central no setor produtivo da economia. Essa mudança do fordismo para o toyotismo reflete alguma transformação mais profunda no capitalismo?
Não se pode falar em uma substituição do fordismo pelo toyotismo porque este último nunca alcançou a sistematicidade e a universalidade do primeiro. Toda a indústria automobilística até os anos 60 era fordista, com a possível exceção da Volvo, na Suécia. Hoje, o modelo Toyota foi generalizado, mas com adaptações, no que a literatura costuma chamar de “hibridização”. Nos anos 80, imaginava-se que haveria um processo de convergência total para os padrões Toyota. Não foi o que ocorreu, e é por isso que meu livro fala na “tese da convergência revisitada”: a receita Toyota foi incorporada segundo a cultura e as instituições locais. Não houve uma convergência para um padrão toyotista, mas um abandono do universalismo fordista.


Mas o toyotismo espalhou-se para outros setores da economia, não?
Ele é visível na concepção - que é uma idéia Toyota - de que uma montadora de automóveis deve montá-los, não fabricá-los. Qual o core da indústria do carro? O motor. Então, isso eu produzo. Tudo o mais, compro de fornecedores. Isso consolidou-se como a forma contemporânea de organização do capitalismo. E aí está o ponto onde eu queria chegar: o poder de contaminação da falência de uma GM hoje seria brutal.


Ou seja, as montadoras de Detroit não estão blefando quando falam em um colapso sem precedentes caso elas não sejam socorridas?
Se a GM quebrar, o que acho que eles não vão deixar, as conseqüências para capitalismo que conhecemos serão brutais. Não sou catastrofista, mas sem dúvida ocorreria uma enorme reação em cadeia. Há milhares de empresas operando em torno da GM. E, se você junta Ford e Chrysler, certamente pode afetar entre 10 e 15% de todo o capitalismo industrial. E aí podem ir junto as japonesas, as coreanas, tudo... Afeta setores para trás, como indústrias de plástico, vidro, fios, computadores, lâmpadas, circuitos. Outros adiante, na manutenção depois que o carro vai à rua. E até quando ele morre: há uma verdadeira indústria do desperdício nos EUA, metalúrgicas que vivem da reciclagem de veículos.


A gestão das montadoras americanas tem sido adequada?
Não sou especialista em gestão, mas essas grandes empresas são paquidermes, mastodontes com dificuldade de se mover. Para se ter uma idéia, nos anos 80 a GM entrou em crise. Teve que chamar um consultor de fora, o (engenheiro basco José Ignacio Lopez de) Arriortúa, para reestruturar a empresa de alto a baixo. Ele pôs 100 mil pessoas na rua. Não cortou na carne - tirou foi uma perna da companhia. Em cinco anos a GM era de novo a maior empresa automobilística do mundo.


O senhor acha que a crise de hoje na GM é semelhante à dos anos 80?
Os custos de produção ficaram, de novo, altos em relação à indústria do resto do mundo, mesmo com o dólar tão fraco. A diferença é que agora a GM tem um álibi para se ajoelhar diante do Tesouro americano: “Por que vocês podem dar US$ 700 bilhões para os bancos e nada para a economia real?” Vinte anos atrás, teria colocado um Arriortúa para reestruturar sua empresa. Hoje, encontra a possibilidade de sobreviver sem ter que cortar a perna.
O presidente do Comitê de Bancos do Senado, o democrata Christopher Dodd, afirmou que as montadoras ‘abordaram os desafios do século 21 com uma mente do século 20’. Seu colega, o democrata Jon Tester, disse que ‘se o modelo de negócios não for mudado, as montadoras vão falir não importa quanta assistência o governo proporcione’. Eles têm razão?
Total razão. As empresas estão se aproveitando do fato de que o governo americano está fragilizado diante da crise. O que está acontecendo nos EUA é uma corrida do capital pelo acesso ao fundo público. É evidente que o que está acontecendo é resultado de políticas equivocadas do banco central americano desde os anos 90. O Estado tem culpa, e muita culpa, sobre o que ocorreu. Mas é claro também que, enquanto estavam ganhando no mercado financeiro, os agentes econômicos jamais criticaram o banco central. Quando a coisa acaba... onde está o dinheiro? No Tesouro.


A estrutura do trabalho vai mudar depois da crise? Mais automação, menos empregos? Fala-se em renegociação de direitos trabalhistas...
As conseqüências para os trabalhadores serão as piores possíveis. No curto prazo, demissões em massa deverão se alastrar por vários países - e bater no Brasil, inclusive. A indústria automobilística tem por tradição nas crises aumentar a taxa de automação. E, quando as vendas voltam, os empregos não são repostos na mesma proporção em que foram perdidos.
E a queda do preço do petróleo? Pode ajudar as montadoras?
Isso é transitório. Não dá para imaginar que o petróleo vá se manter nesse patamar nos próximos cinco ou dez anos. Basta a economia mundial começar a andar que os preços subirão novamente. Se antes eles estavam irrealisticamente altos em US$ 140 (o barril), estão agora irrealisticamente baixos em US$ 50. Mas é claro que ajuda na queda da inflação e dos custos.
Vamos falar do Brasil.


De que maneira a crise das montadoras americanas vai afetar suas subsidiárias brasileiras?
A GM brasileira é das poucas rentáveis no mundo. E não só a GM: nossa indústria automobilística em geral é rentável. Mas a restrição de crédito no Brasil, que já está acontecendo, vai afetar a demanda por carro e logo a produção interna. Vínhamos exportando em torno de 30% da produção. Não vamos mais.


Como se explica o fato de que essas montadoras sejam mais eficientes aqui do que em Detroit?
As montadoras no Brasil adotaram uma divisão bem-sucedida: importam os veículos de alta gama, produzidos nos EUA ou na Europa, e produzem aqui os mais adequados a mercados emergentes - onde o consumo de massa se volta para automóveis mais baratos. Como nossa indústria é competitiva, conseguiu operar com preços compatíveis, e lucrou tanto no mercado interno quanto no externo.


E o que esperar dos próximos anos?
Sabe-se que o ano que vem será muito pior do que este e, possivelmente, 2010 será melhor que 2009. A economia vai travar, embora não devamos entrar em recessão. Mas a regra básica diz que, se há crise de confiança, o cidadão suspende o consumo de bens desse tipo. Já houve esse efeito imediato, de redução das vendas de carro neste mês e no anterior. O emprego ainda não foi afetado: em setembro tivemos a menor taxa de desemprego histórica, 7,3%. E, em breve, o 13º chega às mãos dos trabalhadores. O Natal deverá empurrar os efeitos da crise para o ano que vem.
Ao primeiro sinal de problemas, tanto o presidente Lula quanto o governador José Serra apressaram-se em oferecer ajuda às montadoras brasileiras. Eles estão certos?
Sim porque, como eu disse, elas são muito eficientes. Operam com custos adequados, são competitivas internacionalmente, desenvolvem tecnologia própria e sabem reduzir custos. Ajudá-las aqui faz ainda mais sentido do que nos EUA. Fora o fato de que a indústria automobilística no Brasil é responsável por 14% do PIB . É muita coisa.


Em um mundo onde o discurso da sustentabilidade ganha cada vez mais espaço, e com ele a ênfase no transporte coletivo, o senhor acha que a indústria automobilística terá seu espaço reduzido no futuro?
Não creio. A indústria tem uma capacidade incrível de se reestruturar. Virão o carro a hidrogênio, a hélio, a água... E o enriquecimento dos países periféricos vai gerar toda uma nova classe média sedenta pelo automóvel. Eles ficarão mais ecológicos, mas não serão substituídos pelo transporte coletivo.

domingo, 23 de novembro de 2008

OS PAÍSES POBRES SÃO AS ETERNAS VÍTIMAS DAS CRISES NOS PAÍSES RICOS !

Nesta semana um aluno me perguntou assim : "Professor, como ficarão os países pobres diante da Crise Econômica que assola os países desenvolvidos e já se espalha pelo mundo afora" ?
Minha resposta foi... " Olha, os países mais pobres sempre viveram em crises, e isso os torna sempre atrasados, pobres, esquecidos pela globalização... Acredito que quando a Crise Atual chegar a tais países, o que vai sobrar daquilo que já não existe ?

Onde estarão a dignidade, qualidade de vida, sorriso das crianças, saúde e educação de qualidade... ?

Nesta publicação de hoje eu vou neste caminho:

COMO ESTARÃO, OU FICARÃO OS PAÍSES POBRES DIANTE DA CRISE FINANCEIRA GLOBAL ?


O FMI, “deixando prosperar zonas de não-direito, os paraísos fiscais, e mundializando esta finança desregulada, criou as condições para uma crise global”. A opinião é de Jean Merckaert, coordenador da plataforma Dette & Déveleppement, que agrupa 27 organizações e sindicatos que lutam por uma solução ampla, justa e sustentável para o problema da dívida dos países em desenvolvimento.

Segue o artigo de Merckaert publicado no jornal francês Le Monde, 18-11-2008. A tradução é do Cepat.
Nos últimos trinta anos, os países pobres sofreram frontalmente as conseqüências de uma corrida desenfreada por lucros que fez a finança mundial perder a cabeça. Na hora de reformar o sistema financeiro mundial, eles sequer são convidados para sentar à mesa de negociações. A crônica do drama é esclarecedora.

Ato I, o endividamento.

Nos anos 1970, em busca de saída para a sua liquidez, os banqueiros ocidentais endividaram massivamente os países do Sul a taxas (flutuantes) que desafiavam qualquer concorrência. Os Estados pisaram no seu calcanhar, dando crédito a ditaduras ferozes como nas Filipinas, no Congo (ex-Zaire) ou na Argentina, em troca de seu alívio ao bloco do Oeste.


Ato II, a crise da dívida.

Em questão, para além de motivos geopolíticos, o estrondoso aumento das taxas de juro, seguida de uma decisão do Tesouro norte-americano, e da queda das rendas de exportação com a diminuição dos preços agrícolas.


Ato III, o ajuste estrutural.

A partir dos anos 1980, os ministros das Finanças do G-7 exigem dos países pobres que sacrifiquem as despesas com saúde, educação ou emprego para pagar a dívida.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), desocupado depois da saída do sistema de câmbio fixa, é encarregado de impor as privatizações em liquidação, a liberalização comercial e financeira e a retirada do Estado. Para o máximo de lucro para os investidores estrangeiros. A abertura dos mercados coloca em perigo as culturas agrícolas, maior fonte de renda da população rural, e mata na casca as indústrias nascentes. Uma minoria monopoliza as rendas minerais e pretroleiras. Os lucros colossais realizados no Sul fogem para os paraísos fiscais.
Os países em desenvolvimento ainda consagram cada ano 456 bilhões de dólares para o pagamento de sua dívida. A fraude fiscal custa a esses países 300 bilhões a 500 bilhões de dólares por ano. Diante disso, cerca de 100 bilhões de dólares anuais de ajuda para o desenvolvimento e magros abrandamentos da dívida consentidos nos últimos dez anos (88 bilhões de dólares) servem de caução a esta sangria massiva de riquezas do Sul. Milhares de vezes nós pedimos ao G-8 que a finança mundial fosse melhor regulada e distribuída. E milhares de vezes nos deparamos com um muro.
E de repente a loucura da finança mundializada ameaça as nossas Bolsas e os nossos empregos, e os nossos governos se apressam para convocar, a portas fechadas, os vinte países mais ricos à frente do capitalismo para preservá-lo sem questioná-lo. Os países pobres, “aqueles que mais sofrerão com a crise (e) que são os menos responsáveis por ela”, segundo palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, terão que esperar.


Zonas de não-direito

Assim como nós, o objetivo fixado pela União Européia para a reunião de Washington deve deixá-los atônitos. Como a União Européia pode querer confiar, sem contrapartida, o papel de polícia financeira do planeta a uma instituição, o FMI, que deixou à mingua os países endividados, e esqueceu sua missão primeira, a estabilidade financeira internacional? Apesar de sua sede na capital dos Estados Unidos, o FMI mostrou-se incapaz de antecipar a crise dos subprimes – e a quebra da Islândia. Deixando prosperar zonas de não-direito, os paraísos fiscais, e mundializando esta finança desregulada, criou as condições para uma crise global. Não é sua desastrosa gestão das crises na Argentina, na Rússia e no Sul-Leste asiático, na virada do século, que vai dourar novamente o seu brasão.


O FMI está doente.

Doente do dogma neoliberal no qual se formaram 99% de seus economistas. Doente da suspeição suscitada por seu pedigree na maioria dos países do Sul. Doente também do poder em seu seio dos países do G-8, que o FMI renunciou a controlar, em particular os Estados Unidos que dispõem de um direito de veto no Conselho de Administração.
Por mais louvável que seja, a ambição européia de uma retomada multilateral da finança mundial será em vão se a empreitada for confiada a essa instituição. A não ser num tratamento de choque. A crise só encontrará seguimento sustentável se a nova regulação internacional for ao mesmo tempo mais eficaz - a serviço de uma repartição mais justa das riquezas -, e mais legítima - associando estreitamente os países pobres. Bem mais que o G-20, a reunião da ONU sobre o financiamento do desenvolvimento, que acontecerá no fim do mês em Doha, será a ocasião ideal para empreender esta exigente empreitada.

sábado, 22 de novembro de 2008

A CRISE CHEGA "ÀS GIGANTES" DO SETOR AUTOMOTIVO - PARTE 2 : DETROIT CONTRA WALL STREET !

Os mercados financeiros seguem ladeira abaixo enquanto o pacote de resgate do Departamento do Tesouro é objeto de intensa disputa. A rebatinha não é apenas entre os gigantes financeiros. Um novo pretendente apareceu em cena: é o lobby automotivo. General Motors, Ford e Chrysler, os três grandes (3G) em Detroit, querem um pedaço do bolo.
A reportagem é de Alejandro Nadal e publicada no jornal mexicano La Jornada, 19-11-2008. A tradução é do Cepat.


Henry Paulson, secretário do Tesouro, manifestou nesta terça-feira a sua oposição ao uso de parte dos 700 bilhões de dólares do resgate financeiro já aprovado para tirar do buraco os três gigantes da indústria automobilística norte-americana. Paulson quer guardar todo o pacote para os seus colegas em Wall Street, argumentando que isso permitirá restaurar a liquidez nos mercados e permitir às corporações não financeiras superar a crise.
Os democratas (incluindo
Obama) pressionam para que Washington comprometa pelo menos 25 bilhões de dólares para resgatar Detroit. Argumentam que a precária situação dos 3G ameaça qualquer tentativa de recuperação. Os três gigantes tiveram fortes perdas devido aos altos preços dos combustíveis. Agora que os combustíveis baixaram de preço, caiu a demanda de automóveis devido à crise.
Mais de 1,6 milhão de empregos dependem do complexo industrial automobilístico. Centenas de indústrias fornecedoras estariam em dificuldades se algum dos 3G solicitar abrigo ao amparo da lei de falências. Muito grandes para deixá-los cair, mas Paulson responde que qualquer ajuda deve provir do pacote aprovado pelo Departamento de Energia destinado à reconversão para produzir veículos mais eficientes em consumo energético.
Outras vozes se levantam contra o resgate, com o argumento de que Detroit é o
único responsável por sua difícil situação. Há mais de 40 anos está dormindo no ponto e deixou de ser líder em inovações (a última inovação significativa introduzida por Detroit foi a transmissão automática em 1952). Além disso, como quase toda a produção norte-americana é para consumo doméstico, os 3G sempre deram as costas à produção de veículos mais eficientes em termos de consumo energético. Ou seja, Detroit o procurou e agora deve ajustar-se à disciplina do mercado. Esse raciocínio soa lógico, só que também se aplica ao resgate de Wall Street.
O vínculo entre o lobby automotivo e a crise financeira é anterior à disputa pelo pacote de resgate. O complexo industrial automotivo introduziu inovações básicas no sentido de
Schumpeter: como uma força capaz de organizar o sistema manufatureiro em torno de suas necessidades. Além disso, a tecnologia de produção em massa permitiu aceder a economias de escala inéditas e a uma espetacular redução de custos unitários. Isso possibilitou a introdução de uma norma salarial e níveis de consumo em massa naquilo que Gramsci chamou de fordismo. O autor de Cadernos do Cárcere admirava a capacidade produtiva da indústria automotiva norte-americana e se perguntava se não seria precursora de uma nova época histórica. O certo é que a produção em massa do fordismo implica uma forte rigidez devido aos altos níveis de integração vertical. E os concorrentes japoneses buscaram uma trajetória alternativa.
Desde os anos 1970, a Toyota e a Nissan introduziram novas máquinas-ferramenta para trabalhar uma maior gama de linhas de produção, em lotes menores e com custos unitários inferiores aos do fordismo. Havia nascido a manufatura flexível: enquanto os 3G demoravam quatro dias para trocar os troquéis e uma matriz para imprimir os componentes de um novo modelo, Tóquio fazia a mesma coisa em seis horas.
Detroit não pôde acompanhar a concorrência. A perda de terreno no mercado foi inexorável e buscaram todo o tipo de artimanhas para sobreviver. A Chrysler quase entrou em bancarrota sob Reagan e só o sacrifício dos trabalhadores sindicalizados lhe permitiu continuar viva. E quando a manufatura flexível foi descoberta em Detroit, veio acompanhada de um selvagem processo de subcontratação (outsourcing) que serviu para “disciplinar” o poderoso Sindicato de Trabalhadores da Indústria Automotiva (UAW).
Detroit não tinha outras armas para competir com os tenazes fabricantes estrangeiros e teve que recorrer ao achatamento do salário real. As implicações macroeconômicas são evidentes: desde os anos 1970, o endividamento das famílias nos Estados Unidos foi o mecanismo utilizado para manter um nível de vida que de outro modo teria declinado de maneira notável. Esse endividamento é precisamente um dos componentes centrais do desequilíbrio macroeconômico estrutural da economia norte-americana e da crise financeira.
Os Estados Unidos parecem ter abandonado as manufaturas a favor das finanças. Agora que os 3G gritam, é preciso lembrar o ditado de Marx: para o capital, a produção é um mal necessário. O que o capitalista quer são lucros. Gostaria de evitar os riscos da produção (operários, etc.). Na especulação, pode encontrar a galinha dos ovos de ouro. Detroit descobriu isto e agora reclama seu pedaço do resgate. Obama o dará, mas com condições.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

G 20 E O NOVO CONSENSO DE WASHINGTON CHEGANDO !

O resultado da reunião do G-20 em Washington em 15 de novembro de 2008 é indecente. A declaração aprovada pelos governos é um modelo do gênero “reafirmamos os princípios do neoliberalismo". Nem um único dogma que presidiu a financeirização da economia global e que levou à crise foi contestado. A afirmação é da ATTAC sobre o encontro do G-20 em nota postada em seu sítio, 18-11-2008.
A tradução é do Cepat.
Eis o comunicado.
Ao mesmo tempo em que a livre e absoluta circulação de capitais, as inovações financeiras e a falta de freios dos derivativos são amplamente reconhecidas como fatores de instabilidade permanente, o G20 quer encorajar "o desenvolvimento do comércio de produtos e serviços financeiros” e assegurar que as instituições financeiras possam “administrar volumes crescentes de produtos derivativos”.
Abusando do termo “regulação” a cada página, o G20 não afirma nenhuma medida verdadeiramente efetiva contra os paraísos fiscais e não diz uma palavra sobre o sigilo bancário, bem ao contrário do que muitos chefes de Estado e Governo vinham afirmando desejar.
Caindo em contradição, o G20 afirma a necessidade de evitar a recessão, ao mesmo tempo em que apela para a “manutenção de um quadro político que conduza a sustentabilidade fiscal”, ou seja, aconselha o rigor fiscal.
Não é espantoso que o balanço de trinta anos de políticas neoliberais não tenha sido afastado definitivamente do horizonte? O aumento considerável desigualdade, a diminuição dos ganhos dos trabalhadores, bem como a implementação de programas de ajuste estrutural no Sul, é totalmente ignorada pelo G20. Porém, o programa chamado "valor acionista", corolário da deterioração da condição salarial, é causa de profundo entusiasmo.
Nos anos 1980 e 1990, as políticas neoliberais foram canonizadas sob o nome "Consenso de Washington". Hoje podemos dizer que está em curso um novo consenso de Washington, reformulado para dar a aparência de novidade, mas que não passa de uma simples cópia dos preceitos que levou o mundo à beira da catástrofe. Anistiar as dívidas dos bancos não representa qualquer problema para os defensores do capitalismo, enquanto a dívida dos países do Sul ainda está para se tornar uma prioridade.
A União Européia já manifestou a sua voz original, neste concerto. Em uníssono a outras grandes potências, que se engajam obstinadamente nas reformas estruturais no mercado de trabalho, o Conselho de Ministros das Finanças (Ecofin), em 7 de outubro, anunciou reformas que portam as sementes do agravamento da situação de muitos, preparando assim as condições para uma nova crise antes mesmo que essa seja interrompida. A "refundação do capitalismo", cara ao presidente francês, que é também o presidente da UE, não passa de uma “roupagem” que faz avançar para um novo caos social.
Após o belo espetáculo protagonizado por banqueiros e especuladores, criadores da crise, os principais governantes presentes no G20 reafirmaram a sua fé cega nos benefícios do mercado rei e as virtudes da busca de rentabilidade a todo o custo. O preço a ser pago será o da impossibilidade de redução da pobreza e da desigualdade e da incapacidade de colocar a sociedade numa trajetória de desenvolvimento um caminho que respeite o meio ambiente.
Junto ao todo o movimento altermundialização, a Attac propõe incluir os cidadãos no centro dos processos de tomada de decisão. Enquanto o G20 definiu um novo encontro para abril de 2009, a Attac se engaja nas mobilizações sociais para exigir o fim do neoliberalismo, exigindo a tributação geral das operações financeiras, colocando o setor financeiro sob controle público e por uma nova partilha da riqueza produzida. Isso é possível e indispensável que aconteça o quanto antes.
Attac França, Montreuil, 18 de novembro de 2008.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

CRISE FINANCEIRA E AS PROJEÇÕES PARA 2009 !

Segundo José Luis Oreiro, podemos esperar um 2009 crítico em relação à economia mundial, em especial à brasileira. Ele analisa, nesta entrevista concedida por telefone à IHU On-Line, as conseqüências da crise financeira mundial para o Brasil e indica soluções para que o país possa superar os problemas em decorrência desse problema econômico de forma mais amena.

José Luis Oreiro é graduado em Ciências Econômicas, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com mestrado em Economia pela PUC-Rio e doutorado em Economia da Indústria e da Tecnologia da UFRJ. Atualmente, é professor da Universidade de Brasília. Organizou Agenda Brasil: políticas econômicas para o crescimento com estabilidade de preços (São Paulo: Monole, 2003) e Sistema financeiro: uma análise do setor bancário brasileiro (Rio de Janeiro: Campus, 2007).

O senhor fala, no artigo “Não é o momento para pseudo-ortodoxias”, que o problema não é de liquidez, mas sim de receio de conceder crédito e não obter retorno. Nesse momento de crise financeira, o que a sociedade deve fazer?


José Luis Oreiro – Na verdade, não há muito o que a sociedade possa fazer. O fundamental a ser feito é por parte do governo. Nesse momento em que há uma crise de confiança, em que os bancos não estão concedendo empréstimos, cabe ao governo utilizar os instrumentos de direcionamento de crédito para, de maneira compulsória, obrigar os bancos a voltar a ofertar crédito. Ele pode fazer isso de diversas maneiras, como, por exemplo, atrelando a liberação de depósitos compulsórios, que estão no Banco Central, à concessão de crédito para capital de giro, para financiamento de exportações etc.


Que tipo de instrumentos de direcionamento de crédito o governo pode utilizar?


José Luis Oreiro – Na verdade, quem tem os instrumentos é o Conselho Monetário Nacional, que também tem a prerrogativa legal de direcionar uma parte do crédito dos bancos para setores específicos de atividade produtiva. Então, por exemplo, uma parte dos depósitos de poupança, por lei, isso estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, precisa ser direcionada para o financiamento da construção habitacional. Então, por exemplo, no caso dos compulsórios, nada impede que o Banco Central atrele a liberação do compulsório à realização de empréstimos para certos setores da economia brasileira. Temos observado que os bancos comerciais pegaram os depósitos que foram liberados pelo Banco Central e voltaram a emprestar esse mesmo dinheiro para o Banco Central. Aplicaram o dinheiro liberado dos depósitos compulsórios no próprio Banco Central só que ganhando com isso a taxa de juros Selic . Houve claramente um erro na condução da política. O Conselho Monetário poderia, então, ter liberado os depósitos compulsórios, mas com uma condicionalidade: o dinheiro liberado deveria ser obrigatoriamente utilizado para o crédito. O Banco Central deu muita liberdade para os bancos comerciais fazerem o que bem entendessem com o depósito compulsório liberado. Ele também poderia ter exigido contrapartidas em termos aplicação desses recursos, mas não fez.


Em sua opinião, os bancos e os governos estão agindo da maneira certa?


José Luis Oreiro – Os bancos estão agindo com a lógica microeconômica. Num momento de crise de confiança, o que a racionalidade econômica indica é que os agentes fiquem com ativos líquidos . Então, os bancos estão cortando créditos simplesmente porque eles querem ficar com liquidez e porque não têm confiança no futuro da economia e na capacidade dos tomadores de empréstimos de devolver o dinheiro com o respectivo pagamento de juros. Então, do ponto de vista da lógica microeconômica, eles estão corretos. Só que essa lógica gera um problema macroeconômico, ou seja, na medida em que todo mundo quer ficar líquido, ninguém empresta, as empresas ficam sem capital de giro, o nível de produção reduz, aumentam as demissões. Isso tudo acaba gerando uma nova queda no nível de atividade econômica e faz com que mais agentes fiquem inadimplentes com o setor bancário, que reforça ainda mais a queda de crédito, numa espécie de espiral depressiva. O problema é que vivemos numa situação em que os agentes econômicos estão buscando aquilo que é melhor para eles do ponto de vista microeconômico, e isso gera um resultado macroeconômico, o que é ruim para todo mundo. Cabe ao governo resolver a falha de coordenação e ele tem instrumentos para fazer isso, sendo que um deles é a política de direcionamento de crédito.


O que é a política de direcionamento de crédito?


José Luis Oreiro – É uma política pela qual o Banco Central ou autoridade monetária competente estabelece diretrizes para os bancos comerciais emprestarem seus recursos. .


O Banco Central está liberando dinheiro para que o crédito não seja restringido nessa fase. Que garantias o governo deveria exigir com essa atuação para conter a crise?


José Luis Oreiro – O que o governo deve exigir é o condicionamento da liberação dos compulsórios à concessão de créditos por parte dos bancos. As medidas, nesse sentido, ainda vêm sendo muito tênues por parte do governo. O Banco Central, então, tem muito espaço para fazer uma política de direcionamento de crédito por intermédio de redução do compulsório. Agora, lógico que a redução do compulsório implicaria obrigatoriamente, também, numa redução da taxa de juros. Então, para que de fato você possa destravar o crédito usando o compulsório como instrumento, o Conselho de Política Monetária deveria reduzir significativamente a taxa de juros.


Que conseqüências a liberação dos 15 bilhões de reais trará para o país a curto e longo prazo?


José Luis Oreiro – É muito pouco dinheiro. Isso é insuficiente para resolver o problema do destravamento de crédito. Nós estamos falando de cifras de centenas de bilhões de reais; 15 bilhões não resolve nem 10%. É muito pouco dinheiro mesmo. O governo precisa agir de uma maneira muito mais enérgica para realmente destravar o crédito.


Com a oscilação do dólar, que outras conseqüências podemos prever para a economia brasileira?


José Luis Oreiro – A meu ver, existem tem dois tipos de problemas que iremos enfrentar em função dessa crise: um de curto prazo e outro de médio prazo. O de curto prazo é o seguinte: se o problema do crédito não for resolvido, haverá, ainda este ano, uma forte desaceleração do nível de atividade, ou seja, a produção industrial irá despencar. Há alguns setores em que aparentemente isso já está acontecendo. A situação do travamento de crédito é grave e precisa ser enfrentada com agilidade por parte do governo. Supondo que o governo consiga resolver esse problema de tal maneira que em janeiro de 2009 os financiamentos voltem às condições normais, teremos um segundo problema a médio prazo, o qual está relacionado ao déficit em conta corrente

Em 2009, haverá uma redução bastante significativa do comércio mundial em função da recessão nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Em função disso, o preço das commodities no mercado irá despencar, e o Brasil sofrerá com a queda das exportações tanto em valor quanto em quantidade. Se formos bem-sucedidos e mantivermos a economia crescendo entre 3,5% e 4%, espera-se que seja possível manter esse panorama; as importações continuarão crescendo a uma baixa razoável. Então, haverá um cenário em 2009 de exportações despencando e importações aumentando. Como conseqüência, teremos uma situação do agravamento do déficit em conta corrente, o que pode chegar, no fim de 2009, a algo como 4% do PIB. Este é um valor muito perigoso, ainda mais quando o cenário internacional no ano que vem será de aversão global ao risco, e será muito difícil para países emergentes como o Brasil conseguir financiamento externo. Então, o cenário possível para 2009 é um agravamento do déficit em conta corrente, que será financiado obrigatoriamente com perda de reservas internacionais. Ora, se começarmos a perder reservas, estaremos numa situação como a de 1998, com a crise na Rússia . A saída em massa de capitais é ainda mais perigosa, porque aí o dólar passa a valer cerca de três reais. Esse cenário que estou colocando é um cenário da provável crise cambial de 2009, que produziria uma desvalorização muito forte na taxa de câmbio com efeitos devastadores sobre investimento, sobre inflação, sobre taxa de juros etc. Ao contrário do que disse o ministro Guido Mantega ontem (referindo-se ao dia 06-11), na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, eu acredito que o pior ainda está por vir. Nós podemos ter uma crise cambial muito séria em 2009 e eu acredito que o governo deveria ter um plano B para enfrentar essa crise.


Como deveria ser esse plano B?

José Luis Oreiro – Esse plano B é ter já na gaveta um plano de proibição de saídas de capitais do Brasil. Ou seja, ter especificado o que será feito no caso de uma crise cambial, e ter planejado uma situação de proibição temporária de saída de capitais.

Que medidas precisam ser tomadas de imediato para conter o risco de recessão, o qual o senhor prevê com a “evaporização do crédito”?

José Luis Oreiro – Precisamos, na próxima reunião do Copom, fazer uma redução significativa da taxa de juros, de pelo menos1%, e a redução dos compulsórios em mais cem bilhões de reais, condicionando a concessão de crédito por parte dos bancos. Ou seja, os bancos só poderiam resgatar o compulsório no Banco Central caso concedam crédito para financiamento de exportação e para o financiamento de capital de giro. Porque o que aconteceu até agora é que o Banco Central liberou o compulsório, mas não o condicionou a operações de direcionamento de crédito. Então, os grandes bancos utilizaram esse compulsório e reimprestaram o dinheiro que antes estava no compulsório rendendo juro zero para o próprio Banco Central no overnight , rendendo a taxa de 13,75%, ou seja, um excelente negócio para os bancos grandes.

E como o senhor vê, nesse momento, a fusão do Itaú e Unibanco?

José Luis Oreiro – A fusão do Itaú e do Unibanco, na verdade, vem de uma concepção que existe há muito tempo no Banco Central: a de que em momentos de risco sistêmico se precisa lidar com esse risco, aumentando o grau de concentração do setor bancário. Então, certamente essa foi uma fusão que foi de certa forma induzida pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda. Então, o objetivo é criar um mega banco para usá-lo para comprar bancos pequenos e médios. O índice de Basiléia [12] do Itaú Unibanco está em torno de 15,6%, sendo que o mínimo é de 11%. Significa que o potencial de alavancagem da holding Itaú Unibanco é muito grande, assim como o potencial para comprar bancos pequenos.

Em sua opinião, quem deve ser o ator da regulação dos mercados?

José Luis Oreiro – O governo, com certeza. O Banco Central do Brasil precisa se entender com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – Cade, no sentido de estabelecer um forte sistema financeiro, inclusive no sentido de estabelecer limites para tarifas. Isso porque o setor bancário que vai emergir dessa crise financeira aqui no Brasil será muito mais concentrado. E a concentração, via de regra, acaba se traduzindo em termos de aumento de tarifas, ou seja, aumento do custo do capital para economia brasileira nesse contexto. Cabe ao governo fazer a regulação dos bancos no sentido de impedir que eles exerçam o seu poder de mercado.

Há alguma instituição ou país que sai ganhando com essa crise?

José Luis Oreiro – É muito difícil, porque você terá uma desaceleração global do nível de atividade econômica. Com isso, todos os países serão afetados.

Reportagem elaborada pelo IHU ON LINE

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O MUNDO PÓS REUNIÃO DO G 20 !

"Países do G20 aceitam adotar mudanças para preservar a presente ordem. Mas quem era café com leite ainda o é", escreve Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 18-11-2008. Segundo ele, "reuniões como as do G20 são programadas para que todo mundo siga o script. Não houve nem era para haver novidade".
Eis o artigo.
"Saiu a regulação", disse Lula na saída da reunião do G20, talvez se referindo ao vago compromisso de "supervisão" sobre bancos inscrito na carta de intenções do G20, que se reuniu sábado, em Washington. Obviamente não "saiu regulação" alguma, nem Lula tem idéia do que seja o assunto. Lula acha que houve "um consenso para cuidar melhor" das finanças mundiais. Não houve. Antes da reunião do G20 já havia era consenso a respeito de não interferir na soberania nacional. Logo, o consenso, prévio, era de não fazer nada sobre "as finanças do mundo". Houve apenas um empurrão no sentido de estabelecer "consultas" sobre loucuras financeiras, que detonaram a crise no mundo rico. De resto, reuniões como as do G20 são programadas para que todo mundo siga o script. Não houve nem era para haver novidade.
Lula acha que a reunião foi "histórica". "Não é mais o G8 que manda", disse ontem no rádio. Bem, em reuniões do G7/G8 os países em geral concordam em não tomar decisões e se mandam recados, sem grande efeito prático desde o final dos anos 80. Ou mostram os dentes quando contrariados. Para não ser café com leite nesses "Gs" é preciso ter dentes: dinheiro e/ou canhão nuclear.
Enfim, nem fóruns talhados para a tomada de decisões, como a Rodada Doha, da OMC, as tomam. Mesmo ali, onde a periferia tem mais força, se tomam decisões que afetem as políticas industriais e comerciais de EUA, União Européia e China.
O G20 não tratou de uma "nova arquitetura financeira mundial" (não existe nem uma velha). De mais relevante, todos concordaram em "cooperar" para adotar mudanças que preservem a presente ordem.
Reforçou-se a idéia de supervisão sobre bancos transnacionais. Trata-se de limitar a alavancagem dos bancos e reduzi-la em períodos de expansão de crédito, para que não estimular bolhas. Ou de obrigar bancos a explicar o papelório maluco que detêm. Mas quem será a polícia "supervisora"? A Alemanha não concordou em coisa similar nem na União Européia -o controle europeu que aceitam é o do BC Europeu, que é o BC alemão travestido. Intrigante é que, caso as medidas relativas a bancos fossem adotadas agora, a crise de crédito pioraria (em suma, pedem mais reservas nos bancos).
Querem ainda mexer nos derivativos. Algo já está sendo feito, mas longe da "jurisdição transnacional".Não se trata mais do que levar parte do mercado (como o de derivativos de crédito) para ambientes regulados. Querem melhorar a contabilidade de ativos financeiros (e sobre isso há muita polêmica) e controlar o salário de banqueiros. Ok, mas isso não muda "arquitetura", no máximo redecora aquela sala desenxabida.
Concordou-se em "evitar o protecionismo". Isso já está na OMC e não é respeitado. Manifestou-se a intenção vaga de aumentar o crédito emergencial para países em colapso.
A conversa sobre mais coordenação macroeconômica em geral não foi além daquilo que já se dá na prática.
Talvez Doha seja retomada, mas não houve compromisso de abrir mão de posições que a emperram.
Sim, algo mudou. A reunião do G20 foi o reconhecimento diplomático de que há países fortes fora do "Norte Rico". Mas fica mais como um cartão-postal da história real.

"Esse tal de capitalismo é tão forte, mas tão forte, que consegue ouvir juras e cantos de amor mesmo no meio de uma baita crise", escreve Clóvis Rossi, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 18-11-2008.
Eis o artigo.
Diz o documento do G20, composto excepcionalmente no sábado pelos 22 países mais importantes para a economia mundial: "Nosso trabalho será guiado por uma crença compartilhada de que os princípios de mercado, abertura comercial e de regimes de investimento e mercados financeiros eficazmente regulados estimulam o dinamismo, a inovação e o espírito empreendedor, essenciais para o crescimento econômico, o emprego e a redução da pobreza".
As escolas liberais seriam provavelmente incapazes de afeto maior. O livre mercado até reduz a pobreza, quem diria, hein? Nem é novidade, no entanto, que tenha sido dito, pela simples e boa razão que não há, entre os líderes do G20, qualquer um que se oponha ao capitalismo.
Afinal de contas, Cuba, Coréia do Norte e Venezuela não são membros do grupo.
De todo modo, para efeitos políticos internos, vale notar que um dos líderes que assina a ode ao capitalismo acima reproduzida chama-se Luiz Inácio Lula da Silva (para não falar em Cristina Fernández de Kirchner, da Argentina, e em Hu Jintao, da China, que deixo para os colunistas de seus países).
A conversão radical de Lula ao liberalismo puro e duro tampouco é nova - desde que assumiu, faz seis anos, casou-se sem pudores com os "princípios de mercado".
Mas há ainda petistas -inclusive a candidata "in pectore" de Lula para 2010, a ministra Dilma Rousseff - que continuam falando em socialismo e que acham o governo de esquerda. A assinatura de Lula no texto do G20 transforma em fraude ideológica insistir nessa tolice.

"Depois da conversão da China ao capitalismo mais desenfreado por inspiração de Deng Xiao Ping, em 1978, e da dissolução da União Soviética, em 1989, não existe mais paradigma de organização econômica concreta que não seja alguma forma de "capitalismo". Todas elas baseiam-se no respeito à propriedade privada, na organização da produção em empresas, no trabalho assalariado e no funcionamento da economia através de mercados regulados institucionalmente.


O que os diferencia são os vários sistemas de proteção social", escreve Antonio Delfim Netto, ex-ministro dos governos militares e conselheiro do presidente Lula, em artigo publicado no jornal Valor, 18-11-2008.
Segundo ele, "o mundo vive uma revolução em que as relações entre as empresas, os assalariados e o Estado estão se alterando fortemente. As empresas tendem a estender suas atividades fora do seu espaço geográfico para utilizar as vantagens da "mundialização produtiva". A dispersão geográfica da produção e a busca da maior eficiência econômica (maximização de resultados) impõem restrições às relações emprego-salário, muito maiores do que antes, e diminuem o poder das organizações sindicais. Por outro lado, a liberdade de escolha da localização geográfica impõe restrições ao poder do Estado de tributar, pois as empresas podem escolher onde a tributação do capital é menor".
E continua:
"A liberalização do comércio internacional e do movimento de capitais (um duvidoso contrabando ideológico, que atribui a este as mesmas virtudes do livre movimento das mercadorias), aumentaram dramaticamente o poder do sistema financeiro internacional. Apoiado no mais importante desenvolvimento tecnológico que estamos vivendo (a tecnologia da informação) e na infinita inteligência dos operadores financeiros para descobrirem e operarem "derivativos" de toda natureza, a liberdade de movimento de capitais está sempre disponível para desestabilizar as economias despreparadas. Agora mesmo vivemos mais uma das "crises" do capitalismo provocada pela desregulação exagerada do sistema financeiro".
"Essa evolução da economia mundial terminou - escreve o economista - com a viabilidade econômica e política dos Estados autárquicos. Se quiserem o desenvolvimento econômico e social dentro de um regime de plena liberdade individual e respeito ao estado de direito, não resta às nações outra alternativa que não uma das formas com que o capitalismo se apresenta. O que controla o tipo de capitalismo e define o grau de eficiência produtiva e de equidade que a sociedade deseja é a sua organização política. Podemos distinguir, pelo menos, quatro tipos de "capitalismos":
1) O anglo-saxão dos países de língua inglesa, onde os mercados são mais flexíveis (inclusive o do trabalho) e onde o sucesso econômico é mais visível, mas a assistência social é menor;
2) O germano-nórdico (Alemanha, Suécia, Dinamarca, Finlândia), que tem maior assistência social, mas tende a adaptar-se ao anterior;
3) O corporativo japonês, onde o sistema tradicional de suporte ao trabalho adapta-se a alguns aspectos do capitalismo anglo-saxão;
e, finalmente
4) O estatal (França e Itália), onde sindicatos e Estado se desentendem abertamente e a ineficiência é visível e crescente. Aqui também a proposta de reforma é aproximá-lo do anglo-saxão".
E conclui:
"Os três últimos tipos de capitalismo acima mencionados tentam reformas para convergir para o paradigma anglo-saxão, com adaptações locais e graus diversos de assistência social. Mas o sucesso do movimento depende dos processos políticos, como demonstram as recentes eleições no mundo desenvolvido, onde os cidadãos revelam suas diferentes "preferências" entre o crescimento econômico e suas formas de viver".

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

RESULTADOS DA REUNIÃO DO G 20 : UM MONUMENTO À BANALIDADE !

Resultados da Reunião do G 20 !
Fechadas as janelas anteriores de oportunidade, e tendo a crise financeira contagiado, provavelmente de forma irreversível, a economia real, cabem duas indagações: em que estágio estamos? Foi a reunião do G20 neste último fim de semana uma intervenção significativa para interromper ou atenuar esse processo? A resposta parece ser não.
A análise é de Fernando J. Cardim de Carvalho, professor Titular do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e publicada pela Agência Carta Maior, 16-11-2008.
Eis o artigo.Como todo processo social, crises econômicas são fenômenos complexos, para cujo perfil contribuem tanto necessidades quanto contingências. Necessidades, porque o capitalismo é um sistema ordenado, onde diferentes grupos sociais exercem papéis específicos, e regras e instituições limitam as escolhas de cada um de nós. Alem disso, as oportunidades abertas e possibilidades oferecidas a cada momento são limitadas pelas heranças do passado, sob a forma de perfis determinados do estoque de capital, habilidades da força de trabalho, obrigações contratuais pré-existentes, etc. Mas também contingências são importantes, porque toda decisão econômica é orientada por expectativas a respeito de seus resultados no futuro.
Todos sabemos, porém, que o futuro é desconhecido. Se existe um livro do destino, nós não temos acesso a ele, e, portanto, ele seria irrelevante de qualquer forma. Eventos imprevistos (e imprevisíveis) podem ocorrer e mudar completamente o futuro real, distanciando-o do esperado. O futuro é incerto em um sentido fundamental e inacessível aos instrumentos usualmente utilizados de previsão estatística. Toda projeção estatística pressupõe que o futuro repetirá de alguma forma o passado. No entanto, como observou Keynes, “o inevitável nunca acontece. É o inesperado sempre.” Entre as contingências mais importantes a determinar o futuro, está a política econômica dos governos.
A maior dificuldade que se encontra ao analisar um fenômeno social, é exatamente a complexidade da interação entre necessidade e contingência na determinação da evolução de um determinado processo. Assim, teria sido possível, talvez, impedir o acúmulo de tensões que levaram à crise financeira, não tivesse sido a regulação financeira tão enfraquecida pela liberalização financeira dos anos 1980. Ou, a crise poderia ter sido contida, por exemplo, no início deste ano, tivessem as autoridades americanas percebido seu potencial de transformação em uma crise sistêmica e tivessem definido uma estratégia de combate, ao invés de socorrer instituições financeiras caso a caso (deixando de fora, naturalmente o Lehman Brothers, o que parece hoje ter sido um grave equívoco).

Fechadas as janelas anteriores de oportunidade, tendo a crise evoluído para a dimensão que assumiu em meados deste ano, cabem duas indagações: em que estágio estamos? Foi a reunião do G20 neste último fim de semana uma intervenção significativa para interromper ou atenuar seu desenvolvimento?
Em resposta à primeira indagação, neste final de 2008, o pânico financeiro parece ter sido deixado para trás, graças à maciça intervenção dos bancos centrais dos países desenvolvidos em apoio às instituições financeiras. A queda livre a que assistimos nos preços de ativos, acompanhada das constantes notícias sobre falência ou compra de instituições financeiras, parece ter dado lugar a uma maior volatilidade do valor de ativos financeiros, em torno de níveis muito menores que aqueles anteriores à eclosão da crise. A Bolsa de Nova York, em particular, passou do mergulho no abismo, para uma montanha russa absolutamente vertiginosa. Essa é boa notícia.
A má notícia é que a crise financeira contagiou, provavelmente irreversivelmente, a economia “real”. A demanda dos consumidores americanos desabou, e a sua confiança no futuro esvaiu-se, criando a expectativa de que a demanda continue a declinar aceleradamente, por causa do desaparecimento do crédito. Com o contágio do consumo, entra em operação o multiplicador keynesiano, segundo o qual, a queda do consumo de alguns leva ao desaparecimento do emprego de outros, que são forçados a reduzir o seu próprio consumo, reduzindo a demanda ainda mais, e assim por diante. O aumento do desemprego nos Estados Unidos já é também uma realidade. Um colapso do consumo, naturalmente, leva ao colapso também o investimento privado: porque aumentar a capacidade produtiva se nem a existente consegue ser ocupada?
Assim, a crise ultrapassa a fronteira do sistema financeiro, contagiando a economia real nos Estados Unidos. É apenas questão de tempo para que seus impactos sejam sentidos na economia “real” do resto do mundo, inclusive nós.
Isto nos leva à segunda indagação: a reunião dos presidentes do G 20 neste último fim de semana em Washington deve nos encher de esperança com relação à mobilização adequada dos governos para combater a crise? Infelizmente, a resposta parece ser um não. A reunião foi um monumento à banalidade, uma festa de despedida para um presidente que deixará poucas saudades e um palco para líderes que precisam dar a impressão de que estão fazendo algo pelas economias de seus países e do mundo todo. Primeiro, porque o Presidente Bush já não fala pela maior economia do mundo. Segundo, porque é duvidoso que o G 20, uma seleção relativamente arbitrária de países, aumentada por alguns “penetras”, como a Espanha e por entidades ectoplásmicas como a União Européia em adição aos países europeus, seja o fórum apropriado para este tipo de discussão de alternativas para uma crise de natureza mundial. Terceiro, porque ela começa pelo fim, pela reunião de presidentes e primeiros ministros que ninguém acredita estarem capacitados a entender por si mesmos o que está acontecendo e identificar as políticas adequadas para a solução da crise. A conferência de Bretton Woods, por exemplo, exigiu três anos de preparação e reuniu experts, não políticos. Políticos tiveram sua vez, naturalmente, nas discussões de ratificação do acordo, que levaram mais dois anos. O que saiu desta reunião? Um longo comunicado sobre coisa alguma.
Não há razão, no entanto, para uma postura excessivamente pessimista. Seria mais do que ingênuo esperar realmente alguma coisa dessa reunião alem da aparência de ação. A ação relevante está sendo preparada em outro lugar, na equipe do Presidente-eleito Obama. Se este tivesse convidado líderes para um encontro deste tipo, aí sim deveríamos estar temerosos. Que ele tenha se recusado sequer a mandar representantes pessoais ao convescote é, em si, razão para otimismo.

A promessa de maior liberalização dos mercados foi uma das surpresas da reunião do G-20 deste fim de semana. Na avaliação de especialistas - muitos dos quais se mostravam céticos em relação à possibilidade do encontro apontar caminhos para conter os efeitos da crise -, os resultados da cúpula de líderes mundiais foram “além do esperado”.
A reportagem é de Marianna Aragão e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 17-11-2008.
Segundo o economista e professor da Unicamp, Luiz Gonzaga Belluzzo, o compromisso de redução das barreiras comerciais mostrou a disposição dos países do G-20 em tratar não somente as medidas diretamente ligadas à crise, mas também as questões que interferem na economia real. “A rejeição ao protecionismo foi muito bem colocada”, avalia Belluzzo.
“Como há uma grande divisão de interesses e pontos de vista entre os países participantes, o simples fato de eles tocarem nessa questão foi positivo”, diz o professor. Ele acredita, porém, que a retomada de Doha ainda demorará a trazer resultados para os países. “Ela vai continuar lenta, não deve ser concluída no próximo ano.”
Para o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, o documento final da cúpula foi “surpreendentemente forte.” A preocupação com a retomada de Doha, segundo ele, foi um dos pontos altos do texto. “Os principais países do mundo mostraram que não querem cair num protecionismo exacerbado, como em outras épocas de crise”, afirmou.
De acordo com o economista, a reunião também mostrou a preocupação dos países em aperfeiçoar suas políticas fiscais para enfrentar a crise financeira mundial. “O papel da política monetária foi amenizado”, diz Almeida.
Segundo ele, na maioria dos países, os esforços da política monetária para minimizar os efeitos da crise, como a redução das taxas de juros, chegaram ao limite. Com isso, a solução para estimular a economia estaria nas medidas fiscais. Esse, porém, não é o caso do Brasil. “Por aqui, a política monetária pode ser muito importante e necessária para ativar a economia.”
A necessidade de maior regulação dos mercados também foi outro ponto convergente entre os países. “Agora, resta saber a natureza e a intensidade dessa regulamentação”, observa Belluzzo.

Apesar de ter se mantido estrategicamente distante da reunião do G20 no fim de semana em Washington, o presidente eleito Barack Obama ficou satisfeito com as ações indicadas no comunicado final. Um dos itens da carta de intenções dos líderes, porém, foi encarado como potencialmente limitador para seus planos no primeiro ano de governo.
A reportagem é de Sérgio Dávila e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-11-2008.
É o item 13 do comunicado, que anuncia moratória de 12 meses em medidas protecionistas pelos países signatários. Se levado ao pé da letra, o compromisso pode inviabilizar o desejo de Obama de salvar a indústria automobilística local com dinheiro do governo, o que ele diz ser uma das prioridades do país. O presidente eleito reforçou essa opinião ontem.
Em entrevista ao programa "60 Minutes" que foi ao ar na noite de ontem na TV dos EUA, ao ser indagado sobre a ajuda a Detroit, Obama disse: "A indústria automobilística ter um colapso seria um desastre neste tipo de ambiente" de crise. "Então, acredito que temos de dar assistência a essa indústria."
Os republicanos em geral se opõem à ajuda. Ontem, o senador Richard Shelby chamou a indústria, que sofre com a queda nas vendas, a falta de crédito no mercado e a concorrência de estrangeiras mais eficientes, de "dinossauro". No sábado, o presidente George W. Bush havia dito que "um dos perigos durante uma crise dessas é que as pessoas vão começar a implantar políticas protecionistas".
Livre comércio
Mas não só. Obama fez campanha prometendo revisar acordos de livre comércio, entre eles o Nafta, o tratado dos EUA com o México e o Canadá, tão logo assuma o poder. Segundo sua proposta oficial, o presidente eleito acredita que "o Nafta e seu potencial foram exagerados para o povo americano" e diz que trabalhará "com os líderes do Canadá e do México para consertá-lo de maneira que beneficie os trabalhadores americanos."
Além disso, o democrata quer acabar com o incentivo fiscal dado a empresas que fechem suas operações nos EUA para abrir em outros países, privilegiar em contratos públicos companhias que dêem preferência a trabalhadores locais e implantar o chamado Ato do Empregador Patriota, que dá crédito fiscal a firmas que mantiverem ou aumentarem o número de empregos no país.
O item antiprotecionismo aprovado pelo G20 no sábado impede, entre outras coisas, que os países "levantem novas barreiras para investimento e comércio de bens e serviços, imponham novas restrições de exportação ou implementem medidas de estímulo de exportação contrárias às da Organização Mundial do Comércio".
Oficialmente, Obama elogiou a reunião como um todo. "O presidente eleito acredita que a cúpula é uma importante oportunidade para buscar uma resposta coordenada para a crise financeira global", disseram a ex-secretária de Estado Madeleine Albright e o ex-congressista Jim Leach em comunicado distribuído no sábado à noite. Os dois eram os enviados do comando obamista e se encontraram paralelamente com 15 dos 18 países participantes.
Segundo relatos de pessoas que participaram do encontro do G20 como assistentes dos líderes, a cláusula pró-livre comércio era ponto de honra do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e encontrou amplo apoio do norte-americano George W. Bush e de economias emergentes como o Brasil. O mais refratário a ela era o francês Nicolas Sarkozy.
Alguns analistas viram a inclusão do item como potencial armadilha deixada pela administração Bush para a que entra. "Acho que [o acordo do G20] põe Obama e a nova administração numa posição muito difícil", disse Steven Schrage, ex-membro do escritório de comércio exterior de Bush, hoje no Center for Strategic and International Studies.