domingo, 23 de novembro de 2008

OS PAÍSES POBRES SÃO AS ETERNAS VÍTIMAS DAS CRISES NOS PAÍSES RICOS !

Nesta semana um aluno me perguntou assim : "Professor, como ficarão os países pobres diante da Crise Econômica que assola os países desenvolvidos e já se espalha pelo mundo afora" ?
Minha resposta foi... " Olha, os países mais pobres sempre viveram em crises, e isso os torna sempre atrasados, pobres, esquecidos pela globalização... Acredito que quando a Crise Atual chegar a tais países, o que vai sobrar daquilo que já não existe ?

Onde estarão a dignidade, qualidade de vida, sorriso das crianças, saúde e educação de qualidade... ?

Nesta publicação de hoje eu vou neste caminho:

COMO ESTARÃO, OU FICARÃO OS PAÍSES POBRES DIANTE DA CRISE FINANCEIRA GLOBAL ?


O FMI, “deixando prosperar zonas de não-direito, os paraísos fiscais, e mundializando esta finança desregulada, criou as condições para uma crise global”. A opinião é de Jean Merckaert, coordenador da plataforma Dette & Déveleppement, que agrupa 27 organizações e sindicatos que lutam por uma solução ampla, justa e sustentável para o problema da dívida dos países em desenvolvimento.

Segue o artigo de Merckaert publicado no jornal francês Le Monde, 18-11-2008. A tradução é do Cepat.
Nos últimos trinta anos, os países pobres sofreram frontalmente as conseqüências de uma corrida desenfreada por lucros que fez a finança mundial perder a cabeça. Na hora de reformar o sistema financeiro mundial, eles sequer são convidados para sentar à mesa de negociações. A crônica do drama é esclarecedora.

Ato I, o endividamento.

Nos anos 1970, em busca de saída para a sua liquidez, os banqueiros ocidentais endividaram massivamente os países do Sul a taxas (flutuantes) que desafiavam qualquer concorrência. Os Estados pisaram no seu calcanhar, dando crédito a ditaduras ferozes como nas Filipinas, no Congo (ex-Zaire) ou na Argentina, em troca de seu alívio ao bloco do Oeste.


Ato II, a crise da dívida.

Em questão, para além de motivos geopolíticos, o estrondoso aumento das taxas de juro, seguida de uma decisão do Tesouro norte-americano, e da queda das rendas de exportação com a diminuição dos preços agrícolas.


Ato III, o ajuste estrutural.

A partir dos anos 1980, os ministros das Finanças do G-7 exigem dos países pobres que sacrifiquem as despesas com saúde, educação ou emprego para pagar a dívida.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), desocupado depois da saída do sistema de câmbio fixa, é encarregado de impor as privatizações em liquidação, a liberalização comercial e financeira e a retirada do Estado. Para o máximo de lucro para os investidores estrangeiros. A abertura dos mercados coloca em perigo as culturas agrícolas, maior fonte de renda da população rural, e mata na casca as indústrias nascentes. Uma minoria monopoliza as rendas minerais e pretroleiras. Os lucros colossais realizados no Sul fogem para os paraísos fiscais.
Os países em desenvolvimento ainda consagram cada ano 456 bilhões de dólares para o pagamento de sua dívida. A fraude fiscal custa a esses países 300 bilhões a 500 bilhões de dólares por ano. Diante disso, cerca de 100 bilhões de dólares anuais de ajuda para o desenvolvimento e magros abrandamentos da dívida consentidos nos últimos dez anos (88 bilhões de dólares) servem de caução a esta sangria massiva de riquezas do Sul. Milhares de vezes nós pedimos ao G-8 que a finança mundial fosse melhor regulada e distribuída. E milhares de vezes nos deparamos com um muro.
E de repente a loucura da finança mundializada ameaça as nossas Bolsas e os nossos empregos, e os nossos governos se apressam para convocar, a portas fechadas, os vinte países mais ricos à frente do capitalismo para preservá-lo sem questioná-lo. Os países pobres, “aqueles que mais sofrerão com a crise (e) que são os menos responsáveis por ela”, segundo palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, terão que esperar.


Zonas de não-direito

Assim como nós, o objetivo fixado pela União Européia para a reunião de Washington deve deixá-los atônitos. Como a União Européia pode querer confiar, sem contrapartida, o papel de polícia financeira do planeta a uma instituição, o FMI, que deixou à mingua os países endividados, e esqueceu sua missão primeira, a estabilidade financeira internacional? Apesar de sua sede na capital dos Estados Unidos, o FMI mostrou-se incapaz de antecipar a crise dos subprimes – e a quebra da Islândia. Deixando prosperar zonas de não-direito, os paraísos fiscais, e mundializando esta finança desregulada, criou as condições para uma crise global. Não é sua desastrosa gestão das crises na Argentina, na Rússia e no Sul-Leste asiático, na virada do século, que vai dourar novamente o seu brasão.


O FMI está doente.

Doente do dogma neoliberal no qual se formaram 99% de seus economistas. Doente da suspeição suscitada por seu pedigree na maioria dos países do Sul. Doente também do poder em seu seio dos países do G-8, que o FMI renunciou a controlar, em particular os Estados Unidos que dispõem de um direito de veto no Conselho de Administração.
Por mais louvável que seja, a ambição européia de uma retomada multilateral da finança mundial será em vão se a empreitada for confiada a essa instituição. A não ser num tratamento de choque. A crise só encontrará seguimento sustentável se a nova regulação internacional for ao mesmo tempo mais eficaz - a serviço de uma repartição mais justa das riquezas -, e mais legítima - associando estreitamente os países pobres. Bem mais que o G-20, a reunião da ONU sobre o financiamento do desenvolvimento, que acontecerá no fim do mês em Doha, será a ocasião ideal para empreender esta exigente empreitada.

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