Balanços positivos não impedem queda das ações de 'gigantes' nacionais
Empresas brasileiras 'encolheram' 40% este ano em valor de mercado.Mesmo com lucro recorde da Vale, setor de mineração já perdeu 50%.
Laura Naime Do G1, em São Paulo
Quando uma empresa vai bem, diz a lógica do mercado que suas ações apontem valorização – afinal, empresas que dão lucro valem mais. Mas a crise financeira internacional mudou esse cenário: empresas com balanços saudáveis sofrem fortes perdas no mercado financeiro.Nas duas últimas semanas, grandes empresas brasileiras, entre elas a "gigante" Vale do Rio Doce, divulgaram balanços que traziam lucros recordes no terceiro trimestre do ano. O mês de outubro, no entanto, terminou com perdas históricas para as companhias de capital aberto. Nos primeiros nove meses do ano, o valor de mercado de 332 empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) "encolheu" R$ 876 bilhões (até 30 de outubro), segundo levantamento da consultoria Economatica – uma redução de mais de 40% em relação ao final de 2007.
"É uma questão de expectativa. O investidor compra a ação pensando não só no rendimento que ela vai ter agora, mas sim no que vai acontecer nos próximos meses. E há muita incerteza com relação ao que vai acontecer", explica Francisco Pessoa, da LCA Consultores. Segundo Celso Boin Junior, chefe da área de análise da Link Investimentos, o atual momento da economia "descola" os dados passados das perspectivas para o futuro.
"A lógica do mercado é ver se o resultado saiu como se esperava ou não. Acontece que hoje a expectativa não tem nada a ver com o passado. Uma empresa pode ter um lucro fantástico, mas, se a expectativa para o futuro é ruim, a ação vai cair."
E o futuro, apontam os especialistas, é incerto. "Há no mercado uma dúvida com relação a qual é o piso da bolsa. Há um risco de comprar ações e elas voltarem a cair, ou de ficar uma grande volatilidade. Num momento de incerteza, as pessoas saem (da bolsa). Tem um pouco de medo com o que está acontecendo agora", conclui o analista da LCA.
Empresas brasileiras 'encolheram' 40% este ano em valor de mercado.Mesmo com lucro recorde da Vale, setor de mineração já perdeu 50%.
Laura Naime Do G1, em São Paulo
Quando uma empresa vai bem, diz a lógica do mercado que suas ações apontem valorização – afinal, empresas que dão lucro valem mais. Mas a crise financeira internacional mudou esse cenário: empresas com balanços saudáveis sofrem fortes perdas no mercado financeiro.Nas duas últimas semanas, grandes empresas brasileiras, entre elas a "gigante" Vale do Rio Doce, divulgaram balanços que traziam lucros recordes no terceiro trimestre do ano. O mês de outubro, no entanto, terminou com perdas históricas para as companhias de capital aberto. Nos primeiros nove meses do ano, o valor de mercado de 332 empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) "encolheu" R$ 876 bilhões (até 30 de outubro), segundo levantamento da consultoria Economatica – uma redução de mais de 40% em relação ao final de 2007.
"É uma questão de expectativa. O investidor compra a ação pensando não só no rendimento que ela vai ter agora, mas sim no que vai acontecer nos próximos meses. E há muita incerteza com relação ao que vai acontecer", explica Francisco Pessoa, da LCA Consultores. Segundo Celso Boin Junior, chefe da área de análise da Link Investimentos, o atual momento da economia "descola" os dados passados das perspectivas para o futuro.
"A lógica do mercado é ver se o resultado saiu como se esperava ou não. Acontece que hoje a expectativa não tem nada a ver com o passado. Uma empresa pode ter um lucro fantástico, mas, se a expectativa para o futuro é ruim, a ação vai cair."
E o futuro, apontam os especialistas, é incerto. "Há no mercado uma dúvida com relação a qual é o piso da bolsa. Há um risco de comprar ações e elas voltarem a cair, ou de ficar uma grande volatilidade. Num momento de incerteza, as pessoas saem (da bolsa). Tem um pouco de medo com o que está acontecendo agora", conclui o analista da LCA.
Na última semana, grandes bancos privados divulgaram resultados bastante positivos. O maior deles, o Bradesco, registrou lucro de R$ 1,91 bilhão no terceiro trimestre – o terceiro maior da história para o período entre bancos de capital aberto brasileiros. Já o lucro do Itaú ficou em R$ 1,8 bilhão. Isso não impediu que as duas instituições ficassem menores na bolsa: ambas perderam mais de 30% de seu valor de mercado. "No caso dos bancos, houve a questão dos boatos. No meio da crise, ficou muito fácil espalhar boatos e correu muita informação de que havia bancos em dificuldades. Mas os balanços são a hora da verdade nesse ponto. Já é possível ter uma idéia mais clara do que aconteceu", explica Frederico Turolla, professor de economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).As perdas no setor de mineração e siderurgia foram ainda mais expressivas: de janeiro a outubro, as empresas do grupo com ações negociadas em bolsa ficaram quase 50% menores – somado, o valor de mercado das companhias passou de R$ 284 bilhões, em dezembro de 2007, para R$ 142,68 milhões, em 30 de outubro último.
Entretanto, a maior das brasileiras do setor, a Vale do Rio Doce, divulgou lucro de R$ 12,4 bilhões no terceiro trimestre - resultado que superou em 166,9% os R$ 4,659 bilhões de igual período de 2007. "Mesmo em empresas boas como a Vale, você a tem expectativa de que com o mundo crescendo menos, o preço do minério de ferro vá cair no ano que vem, o que deve prejudicar o resultado", diz Pessoa. "Nessas questões de commodities, que não se sabe qual é o piso." Boin, da Link, aponta a dificuldade em precificar as ações das empresas em uma situação como a atual: "A mudança de cenário foi tão rápida e tão forte que os parâmetros que a gente tinha para fazer contas sumiram. Tem gente que acha que o preço das commodities vai subir, tem gente que acha que vai cair mais. Por isso é muito difícil responder essa pergunta no furacão da crise."
Saída de estrangeiros
Em parte descolado dos fundamentos do mercado, o movimento dos estrangeiros na bolsa também afeta de forma incisiva o valor das ações. Pressionados por perdas lá fora, esses investidores têm retirado maciçamente seus recursos do Brasil (em outubro, até o dia 29, US$ 6,1 bilhões haviam deixado o país pela conta financeira). "Independente do que ele (investidor) acha da empresa, precisa mesmo vender. São momentos em que o fluxo se sobrepõe à análise fundamentalista. Ele vende tanto as ações das empresas que gosta quanto das que não gosta. Aí você vê uma regra geral de venda desconectada do fundamento", aponta Boin. Para o economista Turolla, no entanto, a rápida desvalorização das ações trouxe um ajuste necessário ao mercado. "As ações estavam valorizadas demais para o valor real da empresa e a crise trouxe esse ajuste. Então no curto prazo o preço da ação foge dos fundamentos. Mas analisando no prazo de um, dois trimestres, você começa a ter valores bem mais reais", aponta
Entretanto, a maior das brasileiras do setor, a Vale do Rio Doce, divulgou lucro de R$ 12,4 bilhões no terceiro trimestre - resultado que superou em 166,9% os R$ 4,659 bilhões de igual período de 2007. "Mesmo em empresas boas como a Vale, você a tem expectativa de que com o mundo crescendo menos, o preço do minério de ferro vá cair no ano que vem, o que deve prejudicar o resultado", diz Pessoa. "Nessas questões de commodities, que não se sabe qual é o piso." Boin, da Link, aponta a dificuldade em precificar as ações das empresas em uma situação como a atual: "A mudança de cenário foi tão rápida e tão forte que os parâmetros que a gente tinha para fazer contas sumiram. Tem gente que acha que o preço das commodities vai subir, tem gente que acha que vai cair mais. Por isso é muito difícil responder essa pergunta no furacão da crise."
Saída de estrangeiros
Em parte descolado dos fundamentos do mercado, o movimento dos estrangeiros na bolsa também afeta de forma incisiva o valor das ações. Pressionados por perdas lá fora, esses investidores têm retirado maciçamente seus recursos do Brasil (em outubro, até o dia 29, US$ 6,1 bilhões haviam deixado o país pela conta financeira). "Independente do que ele (investidor) acha da empresa, precisa mesmo vender. São momentos em que o fluxo se sobrepõe à análise fundamentalista. Ele vende tanto as ações das empresas que gosta quanto das que não gosta. Aí você vê uma regra geral de venda desconectada do fundamento", aponta Boin. Para o economista Turolla, no entanto, a rápida desvalorização das ações trouxe um ajuste necessário ao mercado. "As ações estavam valorizadas demais para o valor real da empresa e a crise trouxe esse ajuste. Então no curto prazo o preço da ação foge dos fundamentos. Mas analisando no prazo de um, dois trimestres, você começa a ter valores bem mais reais", aponta
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