quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O MUNDO RASPA O FUNDO DO TACHO !

O que vai sobrar para o mundo, depois desta crise ? Ninguém sabe, pois os abacaxis, e os pepinos estão sendo descascados pelos governos do mundo inteiro para salvar suas economias e o planeta.
Sobrou a melancia. ! ? O que fazer com o que sobrou ? raspar todo o resto, ou comer sem medo do que sobrou ?
E se o que sobrar for uma MELANCIA ? Como comê-la, sem molhar o chão, sem comer o caroço, sem não parar de comer ?
Será que vai sobrar para todos do planeta, ou só alguns, como sempre, serão os privilegiados a comerem, SOZINHOS, a melancia inteira, e só deixar a casca, ou o resto para o planeta inteiro ?
IMBECILIDADE ?
ESTOU FICANDO DOIDO ?
ESTOU FICANDO ESTRESSADO ?
ESTOU VIAJANDO NA MAIONESE ?
ESTOU NUMA DEPRÊ ?
ESTOU PARA LÁ DE BAGDÁ ? (AH ! COITADO ) !
Seja lá como me julgar, já não aguento mais ficar o tempo todo, selecionando notícias sobre esta crise inventada pelos ricos de planeta, e que agora vai atingir a todos nós, pobres mortais !
Não sou investidor em bolsa de valores, mas gosto demais de uma melancia !
Por favor, deixe um pedaço para mim ! e para todos os que gostam ou não de comer melancia, e para aqueles que não tem este prazer, ou nunca tiveram coisa semelhante em seus pratos !
COMEDORES DE MELANCIA DO MUNDO INTEIRO: UNI-VOS A MIM !
Agora, vamos ler mais uma notícia sobre o tema... CRISE ECONÔMICA, FINANCEIRA, DOS EUA, DA EUROPA, DO BRASIL, DO MUNDO !
AINDA BEM, QUE NÃO É UMA CRISE NA PRODUÇÃO DE MELANCIA !
VÁ NA FÉ,
INTÉ !
Mesmo depois de trilhões de socorro a bancos e empresas, governos do mundo inteiro continuam a raspar o fundo do tacho a fim de evitar mais desastre.
O comentário é de Vinicius Torres Freire e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 30-10-2008.


Queimam a casa no inverno a fim de colocar lenha na fogueira, pois o risco é de hipotermia econômica. Além do problema do congelamento de crédito, agora o rumor geral é sobre o risco de deflação, coisa bastante feia, que decorre do congelamento de gastos, mas que, porém, pode acabar aumentando o peso de dívidas, realimentando as crises de agora.
A taxa de juros nos EUA pode ir a zero. Ontem, a meta da taxa "básica" dos EUA foi a 1%. A taxa básica de fato está abaixo disso faz tempo, e a taxa real caiu abaixo de zero há meses.
Ontem, o FMI criou um cheque especial para países bem comportados e que estejam "enfrentando problemas temporários de liquidez". O Fed, o BC dos EUA, abriu ontem o cofre até para países mais periféricos, mas bem comportados, como Brasil, México, Cingapura e Coréia.
A China cortou os juros pela terceira vez em seis semanas. O Japão deve cortar sua taxa quase inexistente para 0,25% amanhã. O BC europeu e o da Inglaterra devem talhar as suas na semana que vem.
O Congresso dos EUA discute um novo pacote fiscal para novembro. O morto vivo governo Bush elabora um pacote para salvar os americanos que estão para perder as casas. O governo "soi disant" liberal da França (liberal-mercantilista) vai adotar políticas dos socialistas para estimular a economia e até para criar empregos (vai subsidiá-los!).
O de fato liberal governo do Reino Unido (dito trabalhista) pretende rever a lei de responsabilidade fiscal lá deles e vai estourar limites de endividamento a fim de estimular a economia. Etc., etc., etc.
Em meio ao desespero geral, viu-se outro exemplo de que uma epidemia de bom senso assola o Banco Central do Brasil faz uns dois anos.
O BC deixou os juros onde estavam.
Não quer dizer que não vejam risco de inflação ou que queiram "estimular a economia". O problema é que não se enxerga nada adiante, dados o fog do inverno econômico e as tormentas da volatilidade.
Parar para pensar era a melhor atitude. O BC, recorde-se, já não havia dado sinais de histeria com o risco de aumento de inflação em 2007.
Esperou sinais mais concretos para agir. Pouco? Lembrem-se do início do governo Lula, quando o BC elevou os juros de 26% para 26,5%, gorjeta e salamaleque para o mercado, medida na prática irrelevante e, no fim das contas, uma das mais ridículas da história do "central banking".
E daí? Bem, está difícil de dar sentido ao jorro de medidas. Para ficar no nosso quintal, as últimas notícias mudam bastante o que vinha se dizendo sobre câmbio (inclusive nesta coluna). O Fed ofertou US$ 30 bilhões ao BC brasileiro. As novas linhas de crédito para outros emergentes aliviam muitas tensões e riscos de quebras. Isso pode mudar o panorama da crise das moedas, no curto prazo. Mas a liquidação de dívidas, a desalavancagem, a seca de crédito, o aumento do risco dos emergentes, a redução do comércio mundial e a provável redução do investimento externo no Brasil devem manter a pressão sobre o câmbio e devem cortar o crescimento pela metade em 2009. O resto é nuvem.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

GOVERNOS JÁ GASTARAM 11% DO PIB GLOBAL PARA SALVAR BANCOS !

Olha só o que ele quer que acreditemos sobre a crise ! Temos de uma vez por todas, acabar com o império do capital, que não produz nada pelo social ! e o mundo está perdendo a luta contra os bancos, que SANGRAM ! Leia abaixo sobre isso !

Os governos já gastaram mais de 11% do Produto Interno Bruto (PIB) global para dar liquidez e salvar os bancos desde abril, o equivalente a mais de quatro vezes o tamanho da economia brasileira. Mas a crise fará com que os bancos em todo o mundo acumulem perdas equivalentes a dois “Brasis”, cerca de US$ 2,8 trilhões. E o próximo capítulo da turbulência mundial pode ser justamente a contaminação dos mercados emergentes, o que ampliaria as perdas dos bancos nos países ricos.


A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 29-10-2008.

A avaliação é do Banco da Inglaterra, o BC britânico, que vê a instabilidade das últimas semanas como a pior da história. O banco ainda teme pela saúde das economias emergentes, que não conseguiram evitar a crise criada nos países ricos.
Numa nova etapa da turbulência, a instabilidade nos emergentes - que acreditavam estar imunes - pode alimentar ainda mais os prejuízos no sistema. Segundo os ingleses, o volume do prejuízo deve ser duas vezes maior do que calculava há cerca de um mês o Fundo Monetário Internacional (FMI). O pior, segundo a análise dos britânicos, é que a crise ainda não chegou ao fim e mais prejuízos podem ocorrer, mesmo com a ajuda dos governos.
Segundo os cálculos, as perdas equivalem a 5% do PIB mundial. O maior prejuízo ficará com os americanos: US$ 1,57 trilhão apenas nos bancos, o dobro do que se imaginava. Na zona do euro, serão 784,6 bilhões. Só no Reino Unido, os bancos perderão quase US$ 300 bilhões, contra uma previsão inicial de US$ 130 bilhões.
“O sistema bancário global enfrentou seu episódio de maior instabilidade desde o início da Primeira Guerra Mundial”, disse o relatório mensal do BC britânico. O vice-presidente do banco, John Gieve, foi além e afirmou que é a “pior crise de que se tem lembrança”.
Para Gieve, a turbulência pode continuar, mesmo com mais de US$ 6,8 trilhões injetados no sistema pelos governos desde abril. Só os pacotes dos governos para salvar seus bancos e economias nas últimas semanas somaram US$ 4 trilhões. Em perdas de valores das ações nos mercados globais, a queda já equivale a US$ 27 trilhões desde o início do ano.
A comparação com outras crises é inevitável. Para solucionar os problemas de mudanças climáticas, o mundo precisaria investir entre 1% e 2% do PIB. Para acabar com a fome, apenas metade do que foi dado aos bancos ingleses, US$ 30 bilhões. Para lutar contra a aids, apenas US$ 10 bilhões por ano.
Para o BC inglês, porém, os riscos ainda prevalecem no sistema e bancos de todo o mundo terão de ajustar seus balanços e modelos de financiamento. “O crescimento dos empréstimos levará tempo para se recuperar”, diz o relatório.
“A instabilidade no sistema financeiro global nas últimas semanas foi a mais severa de que se tem memória. Com uma desaceleração econômica mundial a caminho, o sistema financeiro continua ameaçado”, disse Gieve, que destaca o papel dos governos. Para o BC inglês, novos mecanismos de controle de riscos são necessários.
Dos US$ 6,8 trilhões usados, US$ 600 bilhões serão destinados a recapitalizar os bancos, além de outros US$ 600 bilhões para comprar ações tóxicas. Já as garantias para os correntistas custarão US$ 3 trilhões, e mais US$ 1,1 trilhão para dar liquidez entre os bancos e nacionalizações.
Ainda assim, isso é apenas parte do que o BC inglês estima que existam de ações podres dos bancos, num total de US$ 14,5 trilhões. “Os riscos continuam.”
EMERGENTES
Uma nova etapa da crise poderia ser a contaminação dos países emergentes, que já dão sinais de fraqueza. A queda nas bolsas de vários mercados, como Brasil, Argentina, Rússia e Índia são exemplos de que essas economias não estão isoladas do problema. “Há sinais crescentes de stress em muitas economias emergentes”, disse o BC inglês no relatório.
Para os europeus, um dos riscos agora é de que os bancos que estão expostos aos mercados emergentes voltem a perder com a volatilidade nessas economias. “Desenvolvimentos negativos nas economias emergentes poderia adicionar um novo problema ao sistema financeiro”, diz o relatório. “Grandes bancos em economias desenvolvidas, por exemplo, com operações internacionais podem ficar expostos a uma significativa perda de créditos”, acrescentou.
Líderes de vários países, inclusive o Brasil, passaram semanas acusando os países ricos pelos problemas. Mas agora os ricos temem que a instabilidade nos emergentes faça a crise se prolongar. Hedge funds e outras entidades são as que ofereceriam maior risco.


União Européia convoca ‘cúpula’ das montadoras. Na pauta, a crise

Férias coletivas forçadas, retração nas vendas e ameaça de demissões forçaram a União Européia (UE) a convocar reunião de lideranças do setor. A reportagem é de Andreas Main, e publicada no sítio Deutsche Welle, 28-10-2008.


Entre os efeitos de curto prazo da crise no mercado automotivo se vislumbra a retração no consumo que já está freando a produção. Especialistas advertem também para os efeitos entre as fornecedoras. Ferdinand Dudenhöffer, perito no setor, disse ao jornal Bild que a crise financeira poderá custar até 50 mil postos de trabalho entre os fabricantes de componentes para automóveis. Ele sugere um programa de crédito do governo para impulsionar as compras e reativar o setor.

A Associação dos Construtores Europeus de Veículos (Acea) havia solicitado à Comissão Européia, algumas semanas atrás, um crédito de 40 bilhões euros para o desenvolvimento de veículos mais econômicos. Os conglomerados europeus se baseiam em ajudas semelhantes previstas para a concorrência norte-americana, no montante de 25 bilhões de dólares.

O comissário europeu da Indústria, Günter Verheugen, e o presidente da Acea, Christian Streiff, pretendem tomar uma posição sobre estas questões numa reunião de cúpula marcada para esta quarta-feira (29/10) em Bruxelas. Verheugen considera a situação "extraordinariamente ameaçadora" para a indústria automobilística.

O setor necessita de "nosso apoio e de uma ajuda bem concreta para impulsionar as vendas de carros novos", salientou o comissário alemão, que exclui a concessão de subsídios. Para ele, não é só a crise o fator responsável pela retração dos consumidores: "Clientes e fabricantes estão inseguros porque a política não tem uma clara linha em relação ao tema CO2".

Ao comprar um automóvel hoje, ninguém sabe que limites de emissões devem ser obedecidos, nem que impostos pagar, reclamou Verheugen em entrevista à Deutsche Welle.

Para acabar com esta insegurança, ele exige providências do Conselho Europeu e do Parlamento Europeu.

Após ajudar os bancos, a Europa agora terá de ajudar a indústria automobilística com recursos públicos?Convoquei para quarta-feira uma cúpula automobilística em Bruxelas. Presidentes de grandes empresas, ministros da Economia dos principais países fabricantes de veículos, sindicatos e outros deverão se reunir para falar sobre o que deve acontecer. Sobre subsídios, no sentido convencional do termo, certamente não será discutido.

Temos de falar, em primeiro lugar, sobre como eliminar o mais rapidamente possível a insegurança legal na qual se encontra a indústria automobilística. As montadoras precisam saber o que os legisladores querem delas. Já está demorando demais o fato de não saberem qual é, afinal, o tipo de carro que devem construir. Em segundo lugar, devem ser criados incentivos para que os proprietários de veículos se desfaçam de carros velhos e comprem veículos novos mais econômicos.E, em terceiro lugar, caso haja restrições na concessão de créditos aos fabricantes ou fornecedoras, se poderia pensar em disponibilizar créditos do Banco Europeu de Investimentos, cujos juros poderiam ser baixos, mas que tivessem o claro objetivo de desenvolver carros econômicos e de baixo consumo.

Sem claras subvenções?

Não. Como o senhor explicaria isso aos desempregados do setor?

Os bancos recebem ajuda e os fabricantes de veículos, não?

Temos uma política bem clara na Europa: não ajudar os setores econômicos através de subsídios. Eles têm de se impor através da concorrência. E, no que se refere aos bancos, trata-se de fianças e garantias legais disponibilizadas até certo limite, mas não está claro se serão usadas. Aqui, as coisas são bem diferentes: o sistema financeiro ameaçou entrar em colapso e foi absolutamente necessário tomar providências para garantir que ele continuasse cumprindo sua função de fornecer créditos à economia real.A indústria automotiva não está pedindo subsídios. O que realmente está sendo reivindicado é a criação de condições claras para que ela saiba em que situação se encontra e, se for o caso, tenha acesso a créditos baratos do Banco Europeu de Investimentos.Fala-se no perigo de que investidores do Extremo Oriente ou dos Estados ricos em petróleo se aproveitem do baixo preço de ações para assumir empresas européias de forma hostil. Como o senhor vê este perigo?A questão é: trata-se realmente de uma ameaça? Até agora, sempre dissemos na Europa que pretendemos ser um mercado atraente para investidores de outras partes do mundo. Sempre foi nossa política dizer que quem pretende investir aqui é bem-vindo. Não conheço nenhum caso de alguém que tenha investido na Europa para nos prejudicar ou fazer mal a si próprio. Gente que investe aqui quer ganhar dinheiro, e não desperdiçá-lo.Mesmo assim, podemos imaginar que há empresas que não se quer ver em poder de determinados grupos financeiros. Neste caso, as empresas têm de tomar providências. Nacionalizar não é a solução. Vivenciamos por muito tempo a estatização em grande parte da Europa. Não precisamos repetir esta experiência.

O senhor reage de forma alérgica à sugestão do presidente do Conselho Europeu, Nicolas Sarkozy, de proteger a indústria através de estatizações parciais! Não de forma alérgica! Ele nem pediu a nacionalização. Ele falou justamente o mesmo que eu disse: isto é, a preocupação em disponibilizar financiamentos acessíveis se as instituições de crédito não puderem mais fazer isso. Em segundo lugar, que é preciso analisar como proteger importantes indústrias européias de incorporações. A maioria dos países europeus já dispõe de regulamentações próprias que lhes permitem evitar tais incorporações em setores estratégicos.Não é preciso reavaliar esta política?Não vejo razão.A crise pode ser crucial para o senhor no posto de comissário da Indústria. A ajuda correta no momento certo pode impulsionar a Europa na concorrência internacional. Como o senhor aproveitará esta oportunidade?

Eu não vejo a indústria na crise que você parece ver. Temos esta forte retração nas vendas da indústria automobilística. As razões disso são diversas. O motivo principal é a hesitação dos clientes em potencial e isso se deve à insegurança econômica, que leva as pessoas a não gastar muito dinheiro. Elas também não estão comprando imóveis nem televisores caros. Aliás, a indústria tem o mesmo problema na Europa toda e no mundo. Temos que contar com um índice de crescimento econômico menor. O melhor que podemos fazer é praticar a política que já defendo há muito tempo: criar as melhores condições possíveis para a nossa indústria, mas não se intrometer em decisões que ela própria tem de tomar.

A CRISE CONTAMINA OS EMERGENTES !

"A notícia realmente chocante é a forma com que a crise está contaminando os mercados emergentes, países como Rússia, Coréia do Sul e Brasil. Eles estavam no centro da última crise financeira mundial, no fim da década de 90 (que pareceu grande coisa na época, mas não passou de um contratempo, se comparada ao que estamos enfrentando hoje)", constata Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia em artigo publicado no The New York Times e reproduzido pelos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo, 28-10-2008.
Segundo Krugman, "esses países responderam a essa experiência construindo um enorme cofre de guerra, cheio de dólares e euros, que deveriam protegê-los no caso de alguma emergência. E, não faz muito tempo, todos falavam no “descolamento”, a suposta habilidade de manter seu crescimento mesmo com os Estados Unidos em recessão. “O descolamento não é um mito”, garantiu a Economist, em março. “De fato, isso pode vir a salvar a economia mundial.”
E o economista continua:
"Mas isso já faz tempo. Agora, os mercados emergentes estão em grandes apuros. De fato, diz Stephen Jen, chefe de economia monetária do Morgan Stanley, a “aterrissagem forçada” dos mercados emergentes pode se tornar o “segundo epicentro” da crise mundial. (Os mercados financeiros dos EUA foram o primeiro)
O que aconteceu? Nos anos 1990, os governos dos países emergentes estavam vulneráveis porque tinham adquirido o hábito de tomar empréstimos no exterior; quando o fluxo de dólares foi interrompido, eles foram levados ao limiar da falência. Desde então, adotaram a precaução de tomar emprestado principalmente nos mercados domésticos, enquanto acumulavam consideráveis reservas de dólares.
Mas toda a a precaução foi posta a perder por causa do descaso do setor privado diante do risco. Na Rússia, por exemplo, os bancos e as corporações correram para conseguir empréstimos no exterior porque os juros sobre o dólar eram menores que os juros sobre o rublo. Assim, enquanto o governo russo reunia impressionantes reservas, as corporações e os bancos russos acumulavam dívidas igualmente impressionantes. Agora, as linhas de crédito foram cortadas e eles se encontram em terríveis dificuldades.
Não é necessário dizer que os problemas atuais do sistema bancário, somados aos novos problemas nos fundos de hedge e nos mercados emergentes, formam um ciclo que se retroalimenta. Enquanto isso, os elaboradores de medidas americanos ainda estão desperdiçando as oportunidades de fazer o que é necessário".
E Krugman conclui:
"Recebemos uma boa notícia quando Paulson finalmente concordou em depositar capital nos bancos, em troca de ações. Mas, na semana passada, Joe Nocera, do The Times, apontou uma fraqueza fundamental no plano: a ausência de garantias contra a possibilidade de os bancos simplesmente se sentarem no dinheiro. “Ao contrário do governo britânico, que está exigindo o cumprimento de requerimentos de empréstimo em troca de injeções de capital, nosso governo parece ter medo de fazer algo além de protestar.” E não resta muita dúvida, os bancos aparentemente estão açambarcando o dinheiro".

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

MORAL DA CRISE !

"A autodestruição econômica a que assistimos foi prevista por Emmanuel Mounier, meio século atrás: "Por mais racional que seja, uma estrutura econômica baseada no desprezo das exigências das pessoas contém os germes de sua própria condenação", escreve Rubens Ricupero, ex-secretário-geral da UNCTAD, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 26-10-2008.

Eis o artigo.
As análies da crise financeira falam de tudo, menos de moral e de política. Dão a impressão de que o problema se limita a aspectos técnicos, sem vinculação com os valores éticos e independentes das relações de poder.
Joseph Stiglitz foi o único a observar que a crise teria sobre o fundamentalismo de mercado o mesmo efeito que teve a queda do Muro de Berlim sobre o comunismo. Poderia ter acrescentado que a ligação dos dois eventos não é só comparativa. O fim do socialismo foi um maremoto político. O vácuo ideológico e o desequilíbrio de forças conseqüentes tornaram possível aquilo que era antes inconcebível: a absoluta hegemonia dos mercados financeiros e os excessos responsáveis pelo colapso atual.
Nos Estados Unidos, o setor financeiro saltou de 10% do total dos lucros corporativos em 1980 para 40% em 2006, apesar de gerar apenas 5% dos empregos!

Não se avança sobre quase metade dos lucros da economia sem contar com a cumplicidade do sistema político. A mudança de poder que abriu o caminho à hegemonia financeira foi, nesse período, a "revolução" neoconservadora de Reagan e de Thatcher, consolidada por Clinton e pela "terceira via" de Blair.
Sua ideologia era a mistura de globalização com liberalização. Globalização entendida como unificação em escala planetária dos mercados, sobretudo para as finanças. Liberalização no sentido de eliminar tudo que pudesse limitar as oportunidades de negócios. A fiscalização ficaria por conta da suposta capacidade auto-regulatória dos mercados.
Nesse clima, poucos ganharam muito, mas a desigualdade explodiu, o emprego se tornou precário, o salário real estagnou, multiplicaram-se as fusões com cortes de milhares de vagas, os melhores empregos industriais foram terceirizados para países de baixos salários.
O apodrecimento moral desse fim de reino era já perceptível em 2002, durante os escândalos da Enron, da WorldCom e de outras empresas que ocasionaram ao índice Nasdaq a perda de três quartos do seu valor, cerca de US$ 5 trilhões!
Na época, o banqueiro Felix Rohatyn escreveu que o dano causado ao capitalismo norte-americano era de tal gravidade que nem Lênin teria feito melhor!
Exagero, pois tudo se esqueceu: o papel dos bancos de investimento como o Goldman Sachs e o Merrill Lynch, a desmoralização das agências de avaliação de risco e de auditoria, todos novamente co-autores do desastre de agora. A lei Sarbanes-Oxley, as normas mais rigorosas de transparência contábil, nada foi capaz de evitar a repetição da catástrofe em dimensão maior. Alegava-se que o sacrifício dos seres humanos e da moral era o preço a pagar pela eficiência e pela racionalidade impostas pela globalização.Contudo, longe de ganhar vigor e competitividade, o setor produtivo norte-americano parece um campo de ruínas.
A autodestruição econômica a que assistimos foi prevista por Emmanuel Mounier, meio século atrás: "Por mais racional que seja, uma estrutura econômica baseada no desprezo das exigências das pessoas contém os germes de sua própria condenação".
Da mesma forma que no New Deal dos anos 1930, só uma nova correlação de forças políticas que devolva sentido moral à economia e a recoloque a serviço do interesse do maior número salvará o modelo norte-americano de recaídas periódicas e de inelutável declínio em competitividade produtiva e adesão dos cidadãos.


O historiador britânico Paul Kennedy ganhou celebridade há 20 anos, quando escreveu Ascensão e Queda das Grandes Potências e demonstrou, por exemplos históricos, que todo império hegemônico sucumbe quando não pode mais arcar com os custos militares necessários para manter suas conquistas e influência externa.
A reportagem e a entrevista é de Ruth Costas e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 26-10-2008.
O livro foi traduzido para 23 idiomas e tornou-se um clássico no estudo das relações internacionais. Mas as referências ao trabalho talvez nunca tenham sido tão freqüentes como agora, com os EUA atolados em conflitos no Iraque e no Afeganistão, com um déficit externo crescente, a imagem deteriorada em todo o globo - e diante de uma das piores crises econômicas desde a Grande Depressão de 1929.


“É o início do fim do império?”

é a pergunta que este professor da Universidade de Yale, no Estado americano de Connecticut, tem tido de responder nas últimas semanas. “Pode ser um sinal desse declínio, mas estão errados os que esperam uma queda livre”, diz. Kennedy, de 63 anos.
Eis a entrevista.


Toda vez que os EUA enfrentam problemas há quem anteveja o “declínio americano”, citando seu trabalho. Com a atual crise, qual o real tamanho do estrago?
A crise é mais um sinal de um lento e gradual declínio do poderio americano, mas não quer dizer que haverá uma queda livre. A história nos mostra que grandes potências demoram para perder sua supremacia. O Império Turco-Otomano levou 250 anos para entrar em decadência. O britânico teve seu auge no reinado da rainha Vitória (1819-1901) e durou pelo menos mais 80 anos. A teoria do meu livro é a de que toda grande potência precisa manter o equilíbrio entre gastos militares e capacidade econômica. Os problemas começam quando as atividades militares se expandem muito ou a economia perde o vigor e não pode mais arcar com tais custos. O presidente George W. Bush aumentou os gastos militares ao mesmo tempo em que reduziu impostos. A crise financeira só piorou tudo. A situação é certamente mais crítica hoje do que há 20 anos. Mas os EUA ainda estão numa posição muito à frente do restante do mundo e se o novo presidente, o Congresso e o Fed (o banco central americano) conseguirem reestabilizar o país num período relativamente curto e reduzir os gastos no Oriente Médio, a recuperação pode surpreender. E aí as referências ao meu livro diminuirão por um tempo. Ainda há um longo caminho pela frente antes que os EUA tornem-se apenas um país a mais. Dependerá do futuro novo líder do país frear o declínio com políticas sábias ou acelerá-lo com políticas estúpidas, de expansão.


Mas há mais espaço no mundo de hoje para o multilateralismo?
Sim. Há mudanças no equilíbrio de forças globais. Após 20 anos, estou sendo questionado sobre se estamos vendo o fim do período unipolar, de dominação americana, inaugurado com o colapso da União Soviética. Se pensarmos em poder militar, a mudança é pequena. Hoje os EUA respondem por 51% dos gastos de defesa globais, embora suas forças tenham vulnerabilidades - como lidar com o terrorismo e a guerra assimétrica. No campo econômico, há uma alteração mais significativa.

Depois da 2ª Guerra os EUA tinham 50% do PIB mundial. Hoje têm 20%. A Europa responde pela mesma porcentagem e a China, por 15%. E as previsões de crescimento da Ásia são maiores. Há uma necessidade maior de cooperação na área econômica e financeira que ficou evidente com a crise - o Fed não podia lidar com o problema sozinho porque ele tornou-se global. Todos os bancos centrais agiram. Além disso, também houve uma redução significativa do poder ideológico dos EUA. Pesquisas mostram que a imagem do país nunca esteve tão ruim no mundo.


Como a crise pode afetar a capacidade de os EUA manterem tantas tropas no exterior e sua capacidade de persuasão militar?
Há um grande debate hoje no Pentágono sobre a capacidade de os EUA se envolverem em um novo conflito, caso ele seja inevitável, uma vez que o orçamento para a Defesa deve ser mantido ou reduzido. O Exército e os fuzileiros navais dizem que a única forma de lutar uma nova guerra é aumentando o número de soldados em campo de batalha. Já a Marinha e a Força Aérea acham que deveria haver uma aposta em armamento sofisticado e de alta tecnologia no caso hipotético de um conflito com a Coréia do Norte, por exemplo. Obviamente, qualquer dessas alternativas exigiria grandes esforços e há muitos especialistas militares nos EUA que duvidam que o país conseguiria embrenhar-se em um novo conflito de maneira sustentável. Se o novo conflito se alargasse, chegaria o momento em que não haveria mais tropas, nem suprimentos, nem armas. Isso de certa forma também já mostra alguns limites da superpotência. Os EUA puderam lutar em duas frentes na 2ª Guerra e se sentiam confiantes com a possibilidade de ter de fazer o mesmo na Guerra Fria.


Que mudanças esperar do novo governo americano no que diz respeito a política externa?
Não acho que haverá diferenças significativas na política externa de um governo de Barack Obama ou de John McCain. Qualquer um que chegue à Casa Branca terá de lidar com a crise financeira e encontrar uma maneira de reduzir as tropas no Iraque em um curto espaço de tempo. Qualquer um terá de apoiar a Europa e tentará ser firme com (o primeiro-ministro russo) Vladimir Putin. E nenhum saberá o que fazer sobre o Afeganistão. Apesar dos discursos diferentes, seja quem for que ganhe as eleições, no curto prazo terá suas políticas definidas por esses desafios imediatos, que limitarão seu campo de ação. Acredito que até McCain deve ser mais inclinado ao multilateralismo do que sua retórica na campanha permite supor. E certamente, o próximo governo terá de se afastar bastante das políticas do governo Bush. Com a crise, acabou o tempo em que os neoconservadores de Washington podiam tentar agir sozinhos.

sábado, 25 de outubro de 2008

10 QUESTÕES SOBRE A CRISE FINANCEIRA GLOBAL !

Olha, a CRISE ESTÁ assustando, tá para deixar a gente pensando !!!!! E eu, como um cidadão deste mundo, também quero pensar, quero saber de tudo que posso. E nesta reportagem abaixo, da Folha de S. Paulo, temos mais questões sobre o tema
CRISE FINANCEIRA GLOBAL E O BRASIL !
BOA LEITURA !


10 questões para entender o tremor na economia
GUSTAVO PATU
da Folha de S.Paulo
O que era uma onda de calotes no mercado imobiliário dos Estados Unidos se transformou em uma crise nos mercados de ações, de crédito e de câmbio do planeta --e os efeitos já começam a chegar ao comércio, aos empregos e ao cotidiano de todos. As próximas páginas procuram trazer à linguagem comum as origens da crise, a dinâmica do mundo financeiro e os desafios a serem enfrentados pelo Brasil.
Leia a seguir dez explicações que ajudam a entender a atual crise:


1 - Como um momento de euforia econômica se transforma em pânico financeiro?
Crises especulativas como a atual --documentadas desde o século 17, com dimensões variadas-- são sempre gestadas em momentos de juros baixos e crédito farto, mais comuns em fases de prosperidade. E a economia mundial vivia o melhor momento desde a década de 70.
O acesso mais fácil ao dinheiro reduz a noção geral de risco. Tanto profissionais do mercado quanto cidadãos comuns se tornam mais propensos a investimentos ousados, em busca de lucros mais altos e rápidos.
Nesse cenário, surgem as 'bolhas': um tipo de investimento -sejam ações, moedas, imóveis, empréstimos ou, em tempos mais remotos, canais, ferrovias e até tulipas- se torna uma mania e se valoriza muito além das reais possibilidades de retorno. Cria-se um círculo vicioso: quanto mais gente entra no mercado, mais ele se valoriza; quanto mais se valoriza, mais gente entra.
No caso atual, a bolha foi criada no mercado imobiliário americano, antes de se disseminar por outros mercados e países. Casas e apartamentos com preços em alta serviam de garantia para financiamentos imobiliários que ajudavam a elevar os preços. A espiral culminou em financiamentos de altíssimo risco para clientes sem capacidade de pagamento.
Os participantes do mercado sabem que a festa não vai durar para sempre. Paradoxalmente, isso estimula a corrida à especulação: os investidores querem aproveitar a oportunidade antes do estouro da bolha.
Como se sabe que a situação é insustentável, o primeiro sinal --quebra de banco, disparada de uma moeda, moratória-- causa pânico geral, e todos querem fugir ao mesmo tempo e multiplicam as perdas. Decisões individuais racionais, portanto, podem levar a comportamentos coletivos irracionais.


2 - Se as autoridades culpam os especuladores, por que a especulação não é coibida?
Os especuladores, tratados no coletivo e no anonimato, são bodes expiatórios convenientes quando as crises explodem. Evoca-se a antipatia dedicada aos gananciosos que desejam enriquecer sem produzir, deixando em segundo plano os questionamentos à política econômica ou à atuação dos órgãos reguladores.
Propostas para restringir a especulação são antigas e periodicamente lembradas. A mais famosa, do economista americano James Tobin, é a de criar um imposto sobre todas as transações financeiras, uma espécie de CPMF global, para tornar mais lentos e mais caros os movimentos do mercado. Nas palavras de seu idealizador, jogar 'um pouco de areia' nas engrenagens do sistema.
Passadas as crises, no entanto, as ameaças e limites impostos aos especuladores são esquecidos ou contornados. Em parte porque o setor financeiro é influente no mundo das idéias e da política, mas, principalmente, porque a especulação é um dos motores da economia de mercado.
Os especuladores --aqueles unicamente interessados em comprar e vender com lucro- viabilizam e expandem os mercados de ações, de moedas e de títulos. Se não fosse a especulação, só compraria ações, por exemplo, uma meia dúzia de fato interessada em se tornar sócia de uma empresa.
A riqueza financeira se distancia cada vez mais dos valores que enxergamos diariamente. Em 1980, o volume de dinheiro aplicado no mercado financeiro era 20% superior à riqueza produzida no mundo. Em 2006, mais de 200%.
O Produto Interno Bruto global, no período, quase quintuplicou, de US$ 10 trilhões para US$ 48 trilhões. Mais espantoso foi o salto do volume de dinheiro aplicado nos bancos, em títulos e ações, que foi de US$ 12 trilhões para US$ 167 trilhões. Mais dinheiro no mercado significa mais possibilidades de investimento e crescimento -e mais riscos também.


3 - Por que os bancos quebram? Por que são socorridos?
Uma pessoa ou uma empresa quebrada é a que não consegue pagar suas dívidas. Um banco quebrado é o que emprestou dinheiro a quem não conseguiu pagar as dívidas, como mutuários do subprime americano.
O papel do sistema financeiro é intermediar o encontro entre os que desejam poupar e os que desejam investir. Sua tarefa é selecionar pessoas e empresas mais aptas a progredir e a conseguir pagar com juros o dinheiro recebido. Os menos aptos pagam juros maiores para compensar o risco.
Nos financiamentos imobiliários tradicionais, o banco empresta recursos da poupança. Para os mutuários sem emprego, sem documentos e sem garantias dos EUA, a operação foi muito mais sofisticada.
Os empréstimos serviram de base para títulos que proporcionavam a seus compradores os superjuros cobrados nos financiamentos imobiliários. De pequeno valor unitário e livremente negociáveis, títulos permitem que os credores se tornem múltiplos e anônimos.
Os títulos, por sua vez, serviram de base para derivativos, ou seja, contratos em que as partes perdem ou ganham a partir da variação de um ativo financeiro, muito semelhante a uma aposta num cassino.
A sofisticação não removeu o obstáculo mais prosaico e previsível: os pobres-coitados que habitam a economia real não puderam mais pagar as dívidas.
Administradores de poupança pública, os bancos podem provocar perdas generalizadas ao quebrar. E, quanto maior o erro, maior a chance de socorro por governos que querem evitar ou atenuar uma onda de falências e desemprego.


4 - De onde os bancos centrais tiram dinheiro para injetar nos bancos?
Os bancos centrais, mesmo os que estão formalmente subordinados a governos, como o brasileiro, têm poder de decisão para movimentar diariamente enormes quantias, necessárias para a execução da política monetária, ou seja, de controle do volume de dinheiro e crédito na economia.
Dos seus superpoderes, o mais usual e importante são as operações de mercado aberto, em que se negociam títulos com bancos. Quando querem elevar a oferta de moeda e reduzir juros, os bancos centrais compram títulos --como fizeram na semana passada os seis principais BCs do mundo.
Quando se deseja um aperto monetário, como o BC brasileiro vem fazendo para conter a inflação, vendem-se títulos, e há menos dinheiro na praça. Os juros dessas operações servem de base para as demais operações da economia e, por isso, são chamados de "taxa básica".
Para regular a oferta de crédito, os bancos centrais recolhem parte dos depósitos em contas correntes e aplicações financeiras. Nos últimos dias, o BC brasileiro liberou mais de R$ 100 bilhões desse recolhimento compulsório para tentar conter queda do volume de empréstimos e financiamentos.
Por fim, os bancos centrais têm o papel de atender, a seu critério, bancos que não conseguem obter no mercado recursos para operações diárias. Por maiores que sejam, esses empréstimos à base de emissão de moeda só resolvem problemas momentâneos de liquidez.
Se o banco tem problemas patrimoniais, ou seja, se o dinheiro dos devedores for insuficiente para saldar compromissos, seus donos têm de entrar com mais capital. Se não têm dinheiro, a solução do momento é achar um sócio --o governo, ou, mais exatamente, dinheiro dos contribuintes.


5 - Se as ações não estão diretamente envolvidas na crise, por que as Bolsas desabam?
Quem compra ações se torna sócio de uma empresa e, portanto, espera lucros com a expectativa de crescimento futuro da economia. Se as expectativas para os próximos meses e anos se tornam sombrias, os investidores se desfazem das ações, e o movimento de venda em massa derruba os preços.
Ainda que a maior parte dos participantes do mercado não queira relações duradouras com as empresas, mas apenas comprar e vender com vantagem suas participações, a valorização das ações depende das perspectivas para a empresa em particular e para o mercado em geral.
Ações de empresas diretamente envolvidas na crise, como as de bancos que se aventuraram no crédito arriscado ou nos derivativos a ele atrelados, tendem a cair mais, mas as demais tampouco estão a salvo.
Os mercados financeiros são interligados em todo o mundo. Um investidor que teve prejuízo com derivativos no Japão, por exemplo, pode ser obrigado a vender ações no Brasil para cobrir as perdas.
Ações são o que se chama de investimento de renda variável. Diferentemente de quem aplica na poupança ou em um CDB, os compradores de ações não sabem quanto nem quando vão ganhar. Sabem apenas que pretendem ganhar mais do que oferecem as opções conservadoras de renda fixa.
Não por acaso, há uma sucessão frenética de compras e vendas nas Bolsas, o que faz o índice geral das ações alternar altas e baixas em questão de minutos. O mercado brasileiro, com grande presença de capital estrangeiro e concentrado nas ações de poucas empresas grandes, como a Petrobras e a Vale do Rio Doce, tende a ser ainda mais volátil --ou seja, apresentar percentuais mais elevados de alta ou de baixa- do que a média das Bolsas de Valores do mundo.
Emoções à parte, quando se observa o comportamento do mercado em períodos mais longos, medidos em décadas, a tendência geral é sempre de alta -porque, afinal, também assim funciona, aos trancos e barrancos, o capitalismo.


6 - Por que o governo não consegue controlar a cotação do dólar?
O câmbio é o preço mais importante da economia, mais ainda em países, como o Brasil, cujas moedas não são aceitas como pagamento de importações ou pagamento de dívidas com o exterior.
O preço do dólar afeta o comércio, a inflação, as contas do governo, o crescimento econômico e a popularidade dos governantes.
Ainda assim, o governo passou os últimos anos tentando, sem sucesso, segurar a valorização do real -e as últimas semanas tentando, também inutilmente, deter a disparada do dólar. Devido a essa incapacidade, proclama-se oficialmente, desde 1999, que o câmbio é livre no Brasil.
Não é difícil entender: o mercado de câmbio é o maior dos mercados financeiros, com movimento diário de US$ 3 trilhões a US$ 4 trilhões que podem ir de um extremo a outro do planeta em alguns segundos.
Mesmo as nada desprezíveis reservas de US$ 200 bilhões acumuladas pelo Banco Central poderiam virar farelo se o governo tentasse, como no passado, administrar sua taxa de câmbio em um cenário de livre fluxo de capitais.
Para manter o câmbio, o governo precisa atender aos movimentos de compra e venda do mercado: se falta dólar, precisa vender suas reservas para ampliar a oferta e evitar uma disparada das cotações; se sobra, compra o excesso para manter o preço estável.
Nos últimos meses de câmbio administrado, o país precisava paralisar sua economia com juros de 40% ao ano na tentativa de atrair os dólares necessários.
Mas esse não é um caso de incompetência nacional. Os Estados Unidos e o Japão adotaram o câmbio flutuante na década de 70, e a Europa, nos 90.
Onde houve liberdade, o fluxo de capitais derrubou o sistema de cotações que havia sido acertado entre os países na conferência de Bretton Woods, em 1944 -a última iniciativa de controle das finanças globais, sempre lembrada em tempos de crise e esquecida logo depois.


7 - O que acontece em uma recessão?
Uma recessão começa quando investidores acreditam que a hora não é boa para investir e consumidores crêem que a hora não é boa para consumir. E, na tentativa de protegerem sua riqueza, todos empobrecem.
O desalento não é um mero estado de espírito. Empresas e famílias afetadas pela crise perderam efetivamente condições de investir e consumir, como os donos de ações e imóveis que perderam valor. Não se trata de um caso em que uns perdem e outros ganham, num jogo de soma zero: essa riqueza simplesmente desapareceu.
Quando não se confia no futuro, o medo toma o lugar da ganância. Evita-se emprestar dinheiro e procura-se poupar para dias difíceis. Mas, com a retração de investimento e consumo, empresas vendem menos; com a queda nos lucros, há mais demissões; com menos renda, as famílias cortam o consumo, e o ciclo recomeça.
Tecnicamente, os economistas consideram que há uma recessão quando o PIB (Produto Interno Bruto) cai por dois ou três trimestres consecutivos. Quando se imagina uma queda profunda e prolongada do PIB, fala-se, mais dramaticamente, em depressão --mas, após a década de 30, nenhum período da história econômica mundial chegou a merecer o termo.
Recessões mundiais são raras: na história recente, não há casos de anos em que o PIB global tenha terminado menor do que começou. Em 1982, em meio à crise da onda de calotes do Terceiro Mundo, a economia mundial cresceu 0,9%, e desde então não houve resultado pior. No Brasil, a pior recessão ocorreu em 1990, quando o Plano Collor confiscou depósitos bancários e o PIB caiu 4,4%.


8 - Por que o Brasil tende a crescer menos?
Depois de dois anos seguidos de expansão econômica na casa dos 5%, o governo já decretava que fazia parte do passado a comparação entre o crescimento brasileiro e um vôo de galinha. Agora, a galinha está prestes a pousar mais uma vez.
Não há, até o momento, previsões de recessão, mas é consensual que os percentuais de crescimento serão mais modestos em 2009. Andar mais devagar não é tão ruim quanto andar para trás, mas os efeitos econômicos e políticos são da mesma natureza.
O Brasil já sofre com a retração mundial do crédito. Boa parte do dinheiro emprestado aqui dentro é obtida lá fora. Com recessão nos Estados Unidos e na Europa, encolhe o mercado para as exportações brasileiras, que também cairão de preço. Multinacionais tendem a cancelar ou adiar planos de expansão no país.
Outra ameaça é a recente disparada do dólar, que não se sabe onde ou quando vai parar. Se o dólar se mantiver alto, importações ficarão mais caras e a inflação tenderá a subir. Nesse caso, o Banco Central, na contramão do resto do mundo, poderá optar por subir ainda mais os juros e conter o consumo, o investimento, o crescimento e os preços.
9 - Por que as empresas brasileiras que nada têm a ver com as origens da crise tiveram prejuízos milionários?
Empresas entram no mercado de derivativos para se protegerem de perdas, enquanto os especuladores assumem os riscos para ganhar. Sadia, Aracruz e Votorantim --entre muitas outras, teme-se-- acabaram participando de uma tentativa de fazer as duas coisas.
Embora o nome cause estranheza, derivativos fazem parte do cotidiano de quem faz, por exemplo, o seguro de um automóvel. O dono do carro não quer sair mais rico do negócio; quer simplesmente uma operação que, se for preciso, renderá dinheiro suficiente para cobrir possíveis prejuízos de sua atividade de motorista. É o que se chama de hedge.
Na outra ponta da operação, está um especulador apostando que o carro não será batido nem roubado, a seguradora. Se a aposta estiver correta, ela ficará com o prêmio pago pelo dono do carro.
Os demais derivativos podem ser mais complexos, mas seguem os mesmos princípios. Empresas exportadoras, com receita em dólar, buscam se proteger de uma desvalorização vendendo a moeda americana no mercado futuro por uma cotação considerada razoável. Se o dólar mudar de patamar, a perda em receita será compensada pelo derivativo.
Como o dólar caía sem parar, os bancos passaram a oferecer às empresas operações que prometiam ganhos superiores ao necessário para cobrir riscos de perdas. O que era hedge virou especulação. E dava lucro, até a crise provocar uma alta inesperada do dólar -que, se não for revertida, poderá revelar mais empresas no jogo e perdas maiores.


10 - Quais são as opções do governo brasileiro para lidar com os efeitos da crise?
A primeira reação do governo tem sido tentar evitar ou atenuar a secura de crédito, cuja expansão foi um dos motores da economia brasileira nos últimos anos, embora retórica oficial prefira dar mérito ao PAC.
Mas, como aconteceu em todas as crises recentes, o país pode ser obrigado a escolher entre crescimento e inflação --sacrificar o primeiro para evitar a segunda ou, na alternativa menos conservadora, tentar acelerar um correndo o risco de impulsionar a outra.
No primeiro caso, a receita é conhecida: os juros são mantidos ou até elevados, e o mesmo é feito com a meta de superávit primário (a parcela da arrecadação tributária destinada ao abatimento da dívida pública). As medidas reduzem o consumo público e privado, esfriam a economia e ajudam a impedir que a alta do dólar se transforme em aumento da inflação.
Esse era o cenário traçado antes do agravamento da crise, quando as atenções do governo se voltavam para a rápida piora da balança comercial, efeito colateral do consumo em alta. O projeto de Orçamento de 2009 já contempla a possibilidade de aumentar superávit primário.
Mas a perspectiva de contração econômica acima do esperado levou setores menos ortodoxos da equipe econômica a falar, até aqui no anonimato, em medidas pró-crescimento, de mais gastos públicos, menos impostos e menos juros. É o que os economistas chamam de política anticíclica: quando a economia vai bem, o governo faz mais economia; quando vai mal, gasta-se. No caso brasileiro, já não há mais tempo para a primeira parte do plano.

HÁ 79 ANOS, QUINTA-FEIRA NEGRA INICIOU O CRASH DE 1929 !

Há exatos 79 anos e um dia começava a fissura que engoliria Wall Street em 1929. Aquele ano, cujas características têm sido espelhadas no de 2008 em citações freqüentes por participantes do mercado internacional, marca catástrofes seqüenciais no mundo financeiro.
Em 24 de outubro de 1929 começava a rachadura em Wall Street, que antecipava em poucos dias o tremor que assolaria o mercado financeiro na crise que deflagrou a Grande Depressão Econômica.
Aquela Quinta-Feira Negra deu início a quedas sucessivas e ainda mais fortes nas Bolsas de Valores norte-americanas.
A reportagem é de Nalu Fernandes e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 25-10-2008.

Hoje, 79 anos depois da primeira faísca de 1929, analistas em Wall Street garantem que os EUA já estão em recessão, alertam que o processo também será inevitável na Europa e o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a economia global estará no “limiar da recessão” em 2009. Em Wall Street, os índices acionários Dow Jones Industrial Average e S&P-500 perderam 41,8% e 45,5%, respectivamente, desde o pico registrado em 11 de outubro de 2007. Desde então, Manhattan viu bancos de mais de um século de existência baixando definitivamente as portas ou sendo adquiridos pelos concorrentes.
A Quinta Negra de 1929 marcou uma queda apenas marginal da Bolsa, de 2% ante o dia anterior. Mas teve o destaque nas perdas intraday, que fizeram com que mais de 12 milhões de ações trocassem de mãos em um único dia, quando a média diária era de 4 milhões, o que deflagrou um “resgate” naquele mesmo dia orquestrado por banqueiros e pela própria Bolsa.
No fim daquela manhã dramática, já circulavam rumores de investidores pulando de seus escritórios em Manhattan, mas até hoje a veracidade destas fatalidades é questionada. No livro 1929: O Colapso da Bolsa, na edição em português, o célebre economista John Kenneth Galbraith classifica este episódio como um dos mitos da quebra da Bolsa: “Nos EUA, a onda de suicídio que seguiu a quebra do mercado de ações é também parte da lenda de 1929. Na verdade, não houve nenhum.”
Do pico do mercado acionário, registrado em setembro de 1929, o Dow Jones só teve estabilização anos depois. De setembro daquele ano, no ápice de pouco mais de 380 pontos, o Dow Jones seguiu para o fundo do poço em 1932, batendo em torno de 40 pontos. A perda acumulada chegou a quase 90%, sendo que 40% havia sido perdido em menos de dois meses, até outubro de 1929.

CRISE FINANCEIRA FAZ REAPARECER O... QUEM DIRIA... FMI !!!!!

Washington, 24 out (EFE).- A crise financeira ressuscitou o Fundo Monetário Internacional (FMI), que hoje anunciou um empréstimo de US$ 2,1 bilhões à Islândia e voltou a despontar como bóia de salvamento para muitos Governos com a água no pescoço.
Após meia década praticamente sem clientes, período no qual foi obrigado a reduzir seu quadro de funcionários e reavaliar seu papel no mundo, o órgão multilateral de crédito agora não pára de ouvir seu telefone tocar.
A entidade, de novo, se tornou credora de países que não conseguem empréstimos em nenhuma outra instituição.
Na porta do FMI, agora batem Paquistão, Belarus, Hungria e Ucrânia. Mas nessa fila ainda pode entrar a Bolívia, disse hoje à Agência Efe o ministro da Fazenda do país, Luis Arce.
A Islândia foi o primeiro país vítima da crise financeira e será o primeiro a obter recursos do órgão de crédito, que, pela primeira vez em décadas, vai emprestar dinheiro a um país desenvolvido.
Devido às turbulências nos mercados, o Governo da Islândia se viu obrigado a estatizar a maior parte de seu sistema bancário. Ao mesmo tempo, os juros de sua dívida dispararam e a moeda nacional perdeu 70% de seu valor.
Durante a semana, o país negociou com o FMI e vários países, como Rússia, Japão e seus vizinhos nórdicos, a possibilidade de receber ajuda para sair do atoleiro.
Porém, até o momento, o FMI foi o único que colocou dinheiro sobre a mesa. Ao todo, o órgão disponibilizará US$ 2,1 bilhões ao longo de dois anos, assim que seu Conselho Executivo ratificar o princípio de acordo no começo de novembro.
O objetivo da entidade, segundo um comunicado, é ajudar o país a "se ajustar à crise econômica de uma forma mais ordenada e menos dolorosa", dado o "colapso" de seu sistema bancário.
Embora a quantia do empréstimo possa parecer irrisória, já que Estados Unidos e Europa prometeram trilhões para estabilizar o sistema financeiro, para a Islândia esse crédito equivale a 10% de seu Produto Interno Bruto (PIB) e a 1.190% de sua contribuição ao FMI.
Essa comparação dá uma idéia da grande quantidade de dinheiro que será necessária para estabilizar as economias de outros países.
O FMI já disse contar com US$ 250 bilhões para essas operações. A Ucrânia pode receber US$ 15 bilhões desse bolo em dois anos, segundo seu Governo, enquanto o Paquistão pode precisar de US$ 10 bilhões.
Outros países da leste da Europa provavelmente engrossarão a lista de pedintes, devido aos seus altos déficits em conta corrente, que os tornam dependentes do capital externo em um momento no qual os investidores fogem de ativos de risco.
Arce, o ministro boliviano, admitiu que se os preços do petróleo continuarem caindo, seu país também precisará de dinheiro de entidades multilaterais de crédito.
"A idéia seria buscar financiamento para manter os investimentos públicos", afirmou.
Mas o dinheiro do FMI não é de graça nem de fácil aquisição, já que é preciso preencher vários requisitos para receber os empréstimos.
"A questão é se (o FMI) vai adotar medidas prejudiciais como no passado", disse Marc Weisbrot, co-diretor do Centro de Análise Econômica e Política (CEPR, na sigla em inglês), um instituto de pesquisa europeu.
Durante a crise asiática em 1997, o FMI exigiu dos Governos cortes nos gastos públicos, o que agravou a contração das economias socorridas.
"Os países ricos estão fazendo o contrário do que o FMI disse às nações em desenvolvimento durante décadas. Estão nacionalizando e aplicando políticas de expansão fiscal", declarou Weisbrot.
Desta vez, o órgão disse que imporá menos condições que o normal nos empréstimos de emergência contra a crise atual e que os analisará em duas semanas no máximo.
Alguns Governos já disseram que não lhes agrada a idéia de ter o órgão fiscalizando suas políticas monetária e fiscal. Mas, dadas as atuais circunstâncias, não restam muitas alternativas. EFE

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

AS AÇÕES DE LULA CONTRA A CRISE FINANCEIRA GLOBAL ! PARTE 01

O Presidente Lula surpreendeu a todos ao tomar medidas contra a Crise Financeira Global, que gerou controvérsias, do tipo: Intervir, não Intervir, ou viajar para o país buscando na população, as inspirações para sair desta crise que já atinge o Brasil.
Então vamos ler o que está correndo pela net sobre o tema:
O presidente Lula está cada vez mais inspirado no primeiro-ministro britânico Gordon Brown. Durante sua viagem à Índia, Lula conversou com Brown sobre a crise internacional. O primeiro-ministro traçou um quadro alarmante, que deixou Lula assustado com a extensão e a duração da crise.
A notícia é de Guilherme Barros e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 23-10-2008.
A partir dessa conversa, Lula determinou a Guido Mantega (Fazenda), e a Henrique Meirelles (BC), que adotassem ações mais vigorosas contra a crise global. A medida provisória publicada ontem no "Diário Oficial", que autoriza o governo a adquirir participação acionária em instituições financeiras privadas, segue essa linha.
Lula está convicto de que a saída para a crise foi a solução adotada por Brown. Ele lançou um pacote anticrise focado na estatização parcial de instituições financeiras em dificuldade, plano que está sendo copiado no mundo inteiro.
Entre os economistas, no entanto, a MP brasileira gerou controvérsias. Para Antonio Corrêa de Lacerda, da PUC, a medida é "uma prudência necessária", embora não haja evidências de que os bancos enfrentem problemas financeiros graves. Já William Eid Junior, da FGV, não viu a decisão com bons olhos. "Ao fazer isso, o governo está dizendo que há instituições financeiras em risco."
Por sua vez, Renata Lo Prete, na coluna 'Painel", publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 23-10-2008, informa que a MP da estatização não é a primeira decisão do governo Lula inspirada em Gordon Brown. Tanto o PAC como o projeto brasileiro de Parcerias Público-Privadas, que ainda não decolou, foram modelados a partir de políticas e projetos implantados pelo premiê britânico quando ministro das Finanças.
Ainda segundo a jornalista, "no núcleo do governo federal, Dilma Rousseff (Casa Civil) e Fernando Haddad (Educação) compõem com Guido Mantega (Fazenda) o fã-clube do "desenvolvimentista" britânico". Ela informa ainda que "da mesma maneira que a CEF deve entrar pesado no setor imobiliário, o governo espera um grande movimento do BB na área de financiamento de automóveis".

Lula quer comprar para depois vender
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condicionou a edição da MP (medida provisória) que permitirá aos bancos oficiais comprar a participação acionária em empresas privadas à venda futura desses ativos. Ou seja, o governo pretende vender esses eventuais ativos assim que uma houver melhora no cenário econômico nacional e mundial.

A reportagem é de Kennedy Alencar, jornalista, e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 23-10-2008.

Nas palavras de Lula, "não é para estatizar, é para comprar e vender depois", segundo relato de auxiliares que acompanharam as reuniões internas do presidente com a equipe econômica. Lula disse ter a preocupação de, no futuro, recuperar o dinheiro oficial investido, inclusive com eventual lucro.
Segundo um ministro, esse cenário é possível porque o governo fará compras na maré baixa. Esse ministro diz que uma eventual venda no futuro com lucro renderia dividendo político ao governo. No entanto, ele admite que uma venda com prejuízo teria efeito inverso.
Dois principais critérios devem ser levados em conta pelo governo, segundo um integrante da equipe econômica. O primeiro: se a eventual quebra da empresa poderá gerar um efeito dominó no setor em que atua. Isso vale para qualquer área, da financeira à construção civil.
O segundo critério é tocante à quantidade de mão-de-obra gerada. A área da construção civil é um setor de mão-de-obra intensiva.
Mais: em relação à operação de compra de pequenos bancos em dificuldade, o governo já detectou um lobby dos grandes bancos privados contra a MP. A medida dá aos bancos oficiais condições antes autorizadas apenas às instituições privadas.
Isso aumenta a concorrência no setor e permite que o Banco do Brasil e a Nossa Caixa tenham instrumentos jurídicos para agir como os bancos privados - estes perderam um diferencial que lhes dava vantagem nas negociações com pequenas instituições financeiras em dificuldades. Antes da MP, as eventuais aquisições do BB e da Caixa eram mais lentas.
Lula foi convencido de que o governo deveria aumentar os mecanismos jurídicos para enfrentar uma crise na economia real nos seus dois últimos anos de governo.
Lula pretende lançar a eventual candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e deixar o governo com popularidade. Uma grave crise econômica poderia afetar o seu cacife político e a chance de sucesso de sua candidata.
De acordo com o diagnóstico da equipe econômica apresentado ao presidente, a crise será longa e virá em ondas. Ou seja, poderá afetar na reta final do mandato de Lula setores da economia real que mais necessitam de mão-de-obra intensiva (que geram mais empregos).
Daí a Caixa ter ganhado autorização para se tornar sócia de construtoras ou até comprar completamente a empresa. Um integrante da equipe econômica disse que, se houvesse hoje um caso Encol (1996-1997), o governo compraria a empresa.
O governo já se preparava ao final da tarde de ontem para reagir às críticas da oposição à MP. Segundo um integrante da equipe econômica, se a MP for inviabilizada no Congresso, a oposição seria responsabilizada politicamente pela falta de instrumentos para enfrentar a crise com eficácia. Ou seja, Lula jogaria a culpa nas contas do PSDB e do DEM.
Com um discurso algo catastrofista, o governo espera vencer as resistências e aprovar a medida provisória.

O Pró-Tudo de Lula
"Tanto Banco do Brasil (BB) como Caixa (CEF) e suas subsidiárias podem fazer feira de instituições financeiras em estado pré-falimentar", escreve Vinicius Torres Freire, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 23-10-2008. Agora, "se a CEFfizer mau negócio, a conta cai no Tesouro Nacional".

Eis o artigo.
O governo baixou ontem uma medida provisória que autoriza um banco estritamente estatal, a Caixa, a comprar qualquer empresa. Medida preventiva, pois, como disse o ministro Guido Mantega, "nenhum banco está quebrando"? Pode ser, embora seu anúncio tenha sido um tanto assustador, para dizer o menos. Mas o essencial é: não há mecanismos mais transparente de evitar "riscos sistêmicos"?
Tanto Banco do Brasil (BB) como Caixa (CEF) e suas subsidiárias podem fazer feira de instituições financeiras em estado pré-falimentar.
BB e CEF foram autorizados a comprar seguradora, empresa de previdência privada (que tomaram tombos feios com a crise no mercado) etc. Mas o BB pelo menos tem ações na praça. Seus acionistas minoritários podem chiar, embora os governos tenham o costume de cobrir rombos do bancão federal.
Mas a CEF, além de ser todinha da União, ainda foi autorizada a criar um banco de investimentos, que pode comprar "participações" (parte ou o controle de empresas), entre outras operações típicas do setor. Se não for inócua, a CEF-Par" tem toda a cara de que será o bancão sombra da crise brasileira, o que vai engolir companhias podres, mas sem prestar contas claras (é um banco) e tendo o dinheiro público como o garantidor último de negócios ruins ou de negócios com amigos quebrados.
Em suma, se a CEF fizer mau negócio, a conta cai no Tesouro Nacional.
O Banco do Brasil recebeu ajuda em 1996 e em 2001, no governo FHC. A CEF, o Banco do Nordeste e o Banco da Amazônia entraram também no pacotão de 2001. O colunista não conseguiu fechar as contas precisas dos dois pacotões mas, em valores de hoje, começaram custando R$ 38 bilhões. A conta é difícil porque, além de dinheiro vivo e compra de ações pelo Tesouro, a União agasalhou créditos podres desses bancos (como dívida agrícola, dívida de financiamento imobiliário etc.). Aliás, em geral, os bancos fazem tais negócios ruins porque lobbies pedem, e o governo cede.
Há dois problemas graves e essenciais no Pró-Tudo de Lula. Primeiro é o público simplesmente não vir a saber que risco estará correndo, pois as operações do banco de investimento da CEF não vão aparecer no sistema de contabilidade pública.
Ou melhor, podem aparecer: quando a conta do negócio ruim chegar.
Ou ainda antes: ou a CEF não tem dinheiro para bancar a feira de empresa ruim (e a medida é inócua) ou vai acumular passivos obscuros e/ou receber aporte de recursos do Tesouro desde já. Será essa a próxima medida provisória?
Segundo problema maior: o privilégio. Considere-se que uma empresa ou banco fez negócio ruim e está para quebrar. A CEF então dá uma mãozinha, compra "participação".
Os acionistas ou donos das firmas que fizeram maus negócios ficam com a empresa e com o subsídio público. Impedir que a empresa quebre é bom para os funcionários e para o país? Ok. Mas por que é preciso haver subsídio para o proprietário?
O PT fez aquela chacrinha com o Proer, o programa federal de cobertura de rombos dos bancos privados, criado no governo FHC. Mas o Proer, ainda com algumas obscuridades, parece muito mais claro do que o Pró-Tudo de Lula.

SOCIALISMO DOS RICOS ?

"Além das ações estatais tomadas diante da crise, é preciso uma revisão ampla e profunda do papel do Estado", propõe Marcio Pochmann, presidente do Ipea, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 23-10-2008.
Eis o artigo.
Toda cantilena neoliberal que ganhou mentes e corações nas últimas duas décadas não chegou ao fim, mas já se encontra profundamente abalada. Primeiro, por sua já comprovada desconexão das promessas enunciadas com os resultados alcançados e, segundo, por sua inconfiabilidade aos ricos justamente nas fases de baixa da economia, como observada na crise financeira atual.
Ao ser recuperado o conjunto norteador das teses neoliberais, constata-se a fé inquebrantável no caminho único da desregulamentação, no alívio tributário para os ricos e no enxugamento do papel do Estado, que foi a maior fonte da contenção do desempenho econômico e do alargamento da pobreza e da desigualdade no mundo. Essa doutrina levada às últimas conseqüências produziu um mundo com enorme desequilíbrio, marcado pelo brutal poder econômico concentrado em poucas hipercorporações transnacionais, em geral superior ao de países e de organismos multilaterais.
Associado ao decorrente enfraquecimento da governança global, assistiu-se ao avanço da crença de que os pobres e os destituídos do mundo devessem assumir a culpa por sua condição. Outrora reconhecida por vítima do sistema econômico excludente e demandante de apoio público, a parcela excluída da população viu ruir a base pela qual encontrava propulsão para sua emancipação em face da desconstrução das políticas universais e a ascensão das ações cada vez mais focalizadas aos pobres pelo raquitismo estatal.
A desregulação, a regressividade tributária e o desvirtuamento do compromisso do Estado com ações emancipatórias do conjunto da população não geraram apenas um mundo mais desigual e profundamente injusto. Houve também a desconfiança generalizada de que o homem não mais seria capaz de construir coletivamente uma trajetória superior, dada a ênfase no curto-prazismo das decisões políticas e gerenciais e do individualismo narcisista apoiado na economia do ter, inclusive com a inviabilização da sustentabilidade ambiental do planeta. Tudo isso, é claro, na fase de alta dos negócios, quando só os "neobobos" -como se convencionou à época- ousavam pensar diferente das teses neoliberais.
Quando entra em cena a fase de baixa da economia, os postulados da desregulamentação e da responsabilidade fiscal são rapidamente esquecidos. Os recursos que anteriormente faltavam para combater a pobreza e para potencializar a emancipação dos excluídos aparecem em profusão para salvar os ricos, mesmo com operações de socorro ocorrendo a descoberto. Em nome da solvência das grandes corporações econômicas, desaparece a defesa da auto-regulação das forças do mercado para dar lugar à centralidade do Estado na intervenção de quanto for preciso e onde for necessário.
Justificam-se, evidentemente, as ações estatais tomadas até o momento diante da complexidade da fase de baixa da economia desencadeada pela crise financeira. Mas isso não pode ocorrer desacompanhado da revisão ampla e profunda do papel do Estado. O retorno do Estado ao centro da coordenação econômica concede oportunidade inédita para uma nova regulação que viabilize oportunidade equivalente a todos em torno do bem-estar socioeconômico.

Caixas-fortes e Marx estão em alta
Por medo de sofrer um novo “corralito” ou de perder diretamente seu capital, poupadores retiram depósitos para guardá-los em espécie ou em barras de ouro em cofres de segurança. Também aumentaram as vendas de O Capital, de Karl Marx. A reportagem é de Eduardo Febbro e publicada no jornal argentino Página/12, 21-10-2008.

A tradução é do Cepat.
Dois objetos contraditórios viram suas vendas aumentarem com a crise financeira internacional: as caixas-fortes e a obra de Karl Marx. Assustados com a ameaça de verem seus depósitos bancários serem tragados pela montanha artificial das finanças, muitos poupadores tiraram suas economias dos bancos e os depositaram em caixas-fortes pessoais, seja em forma de dinheiro ou de ouro. Os números do setor das caixas-fortes mostram um crescimento de vendas concentrado num mesmo período, setembro e outubro. Christophe Camus, gerente de um sítio de internet (infosafe.fr) especializado na venda de caixas-fortes, reconhece que “de um mês para cá, as vendas de caixas-fortes aumentaram consideravelmente. É uma loucura”.
A mesma curva ascendente aumenta as vendas e o interesse pela obra do principal teórico da crítica do capitalismo. Há mais de um ano, o pensamento de Marx vem suscitando um interesse constante. Na França, a partir de 2007, Marx foi objeto de numerosos ensaios e edições especiais de revistas de grande circulação, incluindo os semanários econômicos. Mas nos meses de setembro e outubro, Marx se consagrou duas vezes.

A primeira, quando o ultraliberal ministro alemão de Finanças, Peer Steinbrück, declarou ao semanário alemão Der Spiegel que “algumas partes da teoria de Marx não são falsas”, entre elas aquela que fala “de um capitalismo que termina por se autodestruir por força da avidez”.
A segunda, quando a Editora berlinense Karl-Dietz-Verlag revelou que as vendas da obra maior de Marx, O Capital, “aumentaram consideravelmente”.

Em 2008, já foram vendidos 1.500 exemplares do primeiro volume de O Capital contra 500 dos anos anteriores. Segundo o editor da Editora, os novos leitores do pensador alemão pertencem “a uma jovem geração de intelectuais que se defronta com a queda do neoliberalismo e dos pilares do sistema capitalista”.

Giro surpreendente da história: no final de 1989, os países do leste europeu pertencentes ao ex-bloco comunista derrubavam a golpes de machado as estátuas de Karl Marx. A estrepitosa queda do comunista deu lugar a uma celebração universal da economia de mercado e a um enterro não menos universal de Karl Marx. Quase 20 anos depois, os espantados pelo capitalismo voltam a colocá-lo no pedestal. Seus defensores atuais não são nostálgicos da foice e do martelo, mas formosos representantes da desordem liberal.
Em dezembro passado, o semanário econômico francês Challenges consagrou a Marx uma edição especial. Apresentada sob o título “uma análise sempre atual”, a edição incluía uma entrevista com Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Lamy dizia: “Atualmente, se se quer analisar o capitalismo de mercado mundializado o essencial da caixa de ferramentas reside no que Marx e alguns de seus inspiradores escreveram”.
Dois “objetos” do passado reapareceram assim numa mesma corrente de atualização. As caixas-fortes, esses pesados mastodontes de aço de formas repetitivas e desenhos antiqüíssimos, acompanham o autor de O Capital na aventura contemporânea. Alain Minc, um ensaísta francês de corte liberal, comenta que Marx “é o único a ter pensado ao mesmo tempo a economia e a sociedade”. Justamente, a sociedade encontrou um refúgio mais seguro que os bancos para salvar suas economias.
Um vendedor de caixas-fortes de um grande centro comercial parisiense reconhece que “nunca viu coisa igual. Como ninguém sabe o que vai acontecer, as pessoas preferem tirar o dinheiro dos bancos e protegê-lo em suas casas”. Nicolas Rebaudengo, diretor da empresa Coffers-Forts Salon, calcula em 30% o aumento das vendas. “Com meias palavras, as pessoas nos dizem que têm pouca confiança em seu banco e assim antecipam um eventual problema”. Em outro ramo de negócios, a BS Protection, as vendas subiram cerca de 20% impulsionadas pela clientela “que não pertence à cultura da caixa-forte, mas que quer saber quanto custa proteger-se”.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

CRISE EXPÕES PERIGO DE FORTALECIMENTO DA DIREITA !

Soa a Hugo Chávez, com sinal ideológico trocado: o presidente francês, Nicolas Sarkozy, diz que as cúpulas globais que está tratando de convocar destinam-se a construir o "capitalismo do século 21".

A reportagem é de Clóvis Rossi e publicada no jornal Folha de S. Paulo, 22-10-2008.
Ambiciosa idéia, como quase todas as que Sarkozy maneja -se as coloca em prática é outra discussão -, mas que também serve para delimitar claramente o sentido político-ideológico do pós-crise: não se trata de substituir o capitalismo, mas de colocar-lhe freios, na forma de uma melhor regulação.
De todo modo, duas semanas de uma crise sem paralelo nos últimos 80 anos causaram suficiente ruído para que a revista britânica "The Economist", a mais sofisticada porta-bandeira do liberalismo, puxasse para a capa da edição que está em circulação uma suposta ameaça.
"Agora, a liberdade econômica está sob ataque. [...] Todos os sinais estão apontando na mesma direção: um papel mais amplo para o Estado e um menor e mais restrito para o setor privado."
Errado, responde Sarkozy: "Esse tipo de capitalismo [o dos últimos anos de frenesi desregulador] é uma traição ao capitalismo em que acreditamos".
Continua o hiperativo presidente francês: "Os hedge funds [que apostam em diferentes ativos] não podem continuar operando como o fazem; paraísos fiscais, tampouco; instituições financeiras que não estão sob controle regulatório não são mais aceitáveis".
O também francês Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, estica a lista dos alvos: condena "conflitos de interesse e anomalias" entre as agências de avaliação de risco (aliás também criticadas duramente pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva) e dá uma cutucada no Fundo Monetário Internacional, sem mencioná-lo diretamente. "Houve uma subestimação da amplitude dos riscos", diz.
Em resumo, trata-se da "agenda do nunca mais", como a define Robert Litan, da Brookings Institution, dos Estados Unidos.
Explica: "Não se trata de procurar soluções para sair da presente confusão, mas para evitar que o imbróglio se repita no futuro".
Máquina produtiva
Não se trata, portanto, de trocar o capitalismo pelo socialismo ou qualquer coisa parecida, mas de "pôr a máquina do capitalismo a funcionar da maneira mais produtiva possível", como diz Nancy Koehn, historiadora da Harvard Business School.
Está claro, no entanto, que o Estado ganha um papel mais forte, até porque havia se retirado tanto do mundo das finanças que enfraquecer-se mais não seria possível.
O protecionismo, outro anátema para os liberais, fica igualmente justificado pelas necessidades práticas. Sarkozy, por exemplo, está propondo que os países da União Européia criem seus próprios fundos soberanos, para, de maneira coordenada, investir em empresas da UE de forma a evitar que caiam em mãos do capital externo.
"Não gostaria que os cidadãos europeus, dentro de alguns meses, descubram que as empresas européias pertencem a capitais não-europeus que as compraram a preço baixo nas Bolsas", diz Sarkozy.Na verdade, ao menos neste momento, em que a crise gera mais calor do que luz, o debate está mais entre os modelos de capitalismo norte-americano e europeu (que, para os conservadores norte-americanos, é socialista).
David Leonhardt, colunista do "New York Times", concorda que "a economia parece estar se encaminhando para um período de mais regulação". Mas acrescenta: "Ainda será um capitalismo estilo Estados Unidos, mais dentro das linhas nas quais operou nos anos 1950, 1960 e 1990".
Se correta a tese, voltar alguns anos atrás significará apenas, completa Leonhardt, recuperar a idade de ouro do capitalismo: "Essas décadas produziram os maiores ganhos e os mais amplamente compartilhados desde a Segunda Guerra Mundial".
Faltou, no entanto, acrescentar que, nesse mundo, os países ditos emergentes não contavam. Agora, Sarkozy leva ainda esta semana sua hiperatividade à China e à Índia, exatamente para envolvê-las na busca do "capitalismo do século XXI".


O britânico Eric Hobsbawm, considerado um dos historiadores mais influentes do século 20, disse à BBC nesta terça-feira que o maior perigo da atual crise financeira mundial é o fortalecimento da direita. “A esquerda está virtualmente ausente. Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita”, disse Hobsbawn, em entrevista à Rádio 4.

O historiador marxista comparou o atual momento “ao dramático colapso da União Soviética e ao fim de “uma era específica”. “Agora sabemos que estamos no fim de uma era e não se sabe o que virá pela frente.” Hobsbawn diz não acreditar que a linguagem marxista, que lhe serviu de norte ao longo de toda sua carreira, será proeminente politicamente, mas intelectualmente, “a análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante”.

Abaixo, os principais trechos da entrevista.


Muitos consideram o que está acontecendo como uma volta ao estadismo e até do socialismo. O senhor concorda?

Bem, certamente estamos vivendo a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Lembro-me de um título recente do Financial Times que dizia: O capitalismo em convulsão. Há muito tempo não lia um título como esse no FT. Agora, acredito que esta crise está sendo mais dramática por causa dos mais de 30 anos de uma certa ideologia “teológica” do livre mercado, que todos os governos do Ocidente seguiram. Porque como Marx, Engels e Schumpeter previram, a globalização - que está implícita no capitalismo -, não apenas destrói uma herança de tradição como também é incrivelmente instável: opera por meio de uma série de crises. E o que está acontecendo agora está sendo reconhecido como o fim de uma era específica. Sem dúvida, a partir de agora falaremos mais de John Maynard Keynes e menos de Milton Friedman e Friedrich Hayek. Todos concordam que, de uma forma ou de outra, o Estado terá um papel maior na economia daqui por diante. Qualquer que seja o papel que os governos venham a assumir, será um empreendimento público de ação e iniciativa, que será algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora.


E em relação ao Estado como redistribuidor?

O que tem sido feito até agora parece mais pragmático do que ideológico... Acho que continuará sendo pragmático. O que tem acontecido nos últimos 30 anos é que o capitalismo global vem operando de uma forma incrivelmente instável, exceto, por várias razões, nos países ocidentais desenvolvidos.

No Brasil, nos anos 80, no México, nos 90, no sudeste asiático e Rússia nos anos 90, e na Argentina em 2000: todos sabiam que estas coisas poderia levar a catástrofes a curto prazo. E para nós isto implicava quedas tremendas do FTSE (índice da bolsa de Londres), mas seis meses depois, recomeçávamos de novo. Agora, temos os mesmos incentivos que tínhamos nos anos 30: se não fizermos nada, o perigo político e social será profundo e ainda mais depois de tudo, da forma com a qual o capitalismo se reformou durante e depois da guerra sob o princípio de “nunca mais” aos riscos dos anos 30.


O senhor viu esses riscos se tornarem realidade: estava na Alemanha quando Adolf Hitler chegou ao poder. O senhor acredita que algo parecido poderia acontecer como conseqüência dos problemas atuais?

Nos anos 30, o claro efeito político da Grande Depressão a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo. Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece. A esquerda está virtualmente ausente, Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.


O que vemos agora não é o equivalente à queda da União Soviética para a direita? Os desafios intelectuais que isto implica para o capitalismo e o livre mercado são tão profundos como os desafios enfrentados pela direita em 1989?

Sim, concordo. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que acabou uma era. Não sabemos o que virá pela frente. Temos um problema intelectual: estávamos acostumados a pensar até então que havia apenas duas alternativas: ou o livre mercado ou o socialismo. Mas, na realidade, há muito poucos exemplos de um caso completo de laboratório de cada uma dessas ideologias. Então eu acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla. E principalmente até que ponto esta mistura será motivada pela consciência do modelo socialista e das conseqüências sociais do que está acontecendo.


O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?

Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar que este capitalismo está fundamentado em uma série de crises”. Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante.


O senhor sente um pouco recuperado depois de anos em que a opinião intelectual ia de encontro ao que o senhor pensava?

Bem, obviamente há um pouco a sensação de schadenfreude (regozijo pela desgraça alheia). Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado. O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados. Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos. Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média. Sobretudo, nos últimos 30 anos, os benefíciários deste grande crescimento têm sido nós, no Ocidente, que vivemos uma vida imensuravelmente superior a qualquer outro lugar do mundo. E me surpreende muito que o Financial Times diga que o que se espera que aconteça agora é que este novo tipo de globalização controlada beneficie a quem realmente precisa, que se reduza a enorme diferença entre nós, que vivemos como príncipes, e a enorme maioria dos pobres.