Era uma terça-feira, no dia 9 de setembro de 2001, lembro-me como se fosse nesses dias atuais, nestas últimas duas semanas, quando tive de parar a todo o momento para explicar o que aconteceria com o mundo após os atentados à Torres Gêmeas.
Na escola, aquele espanto ! Terceira Guerra Mundial ? Fim do Mundo ? e eu, um pobre e até então professor leitor do mundo, tive de explicar o que estava em meus conhecimentos, muito mais do que lia nos jornais, e acabei formulando hipóteses sobre tudo. Cara, não é que acabei por fazer muita gente boa,(alunos, alunas, colegas professoreas e professores, parentes, esposa) entender o que estava se passando naquele momento.
Atualmente, eu fico o tempo todo falando da CRISE NOS EUA, e continuo lendo, lendo, muita coisa acabo publicando aquí, que são opiniões que acredito, e ainda assim, tem gente que não está entendendo ainda muita coisa, pois ainda não caiu na "REAL", sem sacanagem, apesar de nossa moeda estar caindo muito, a realidade vai ser dura de assumir em todas as partes do mundo.
A crise vai nos pegar, falam uns economistas, outros porém dizem, que não nos afetará, não sentiremos nada, e me pergunto o que o povão que nem internet tem, pode sentir desta crise que afeta os mercados no mundo inteiro ?
Bom, o que publicarei hoje está neste sentido:
O QUE NOS ESPERA ? O QUE VEM POR AÍ? PARA ONDE CAMINHAREMOS?
QUE MODELO QUEREMOS PARA O MUNDO PÓS-EUA?
Fim de uma era?, pergunta Ricardo Carneiro, professor titular do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02-10-2008. Segundo ele, "a resposta à pergunta não é trivial e, a rigor, talvez não possa ser dada de imediato".
Pois, continua, "trata-se menos de impossibilidade determinada pela contemporaneidade dos fatos e mais pelo caráter múltiplo das saídas que se colocarão aos eventos do último ano. Dito de outra forma, não há, no desenrolar da crise financeira recente, soluções indisputáveis. A natureza do sistema que se porá no seu lugar será produto da correlação de forças políticas e, por que não dizer, da capacidade dos setores progressistas da sociedade, em particular da americana, de regular as finanças".
Pois, continua, "trata-se menos de impossibilidade determinada pela contemporaneidade dos fatos e mais pelo caráter múltiplo das saídas que se colocarão aos eventos do último ano. Dito de outra forma, não há, no desenrolar da crise financeira recente, soluções indisputáveis. A natureza do sistema que se porá no seu lugar será produto da correlação de forças políticas e, por que não dizer, da capacidade dos setores progressistas da sociedade, em particular da americana, de regular as finanças".
Eis o artigo.
Há cerca de 30 anos, em outubro de 1979, a guinada radical da política monetária americana, comandada por Paul Volcker, marcou o início da reafirmação econômica americana no plano internacional, e uma nova forma de operação do capitalismo, constituindo um marco simbólico do início da globalização. Aos que estão presenciando, há um ano, os fatos dramáticos nos mercados financeiros, cabe perguntar se um deles ou o seu conjunto marca o fim de uma era.
A resposta à pergunta não é trivial e, a rigor, talvez não possa ser dada de imediato.
Trata-se menos de impossibilidade determinada pela contemporaneidade dos fatos e mais pelo caráter múltiplo das saídas que se colocarão aos eventos do último ano. Dito de outra forma, não há, no desenrolar da crise financeira recente, soluções indisputáveis. A natureza do sistema que se porá no seu lugar será produto da correlação de forças políticas e, por que não dizer, da capacidade dos setores progressistas da sociedade, em particular da americana, de regular as finanças.
A recusa inicial do socorro ao sistema financeiro por parte da Câmara dos Deputados constitui uma ilustração da natureza das alternativas em questão. Para analisar os interesses em jogo, é necessário destacar o caráter indispensável dessa ajuda, o que, porém, em nada elucida a forma específica que deve assumir o pacote.
É forçoso reconhecer que a intervenção do Estado nos mercados é crucial para deter a exacerbação das perdas. Mas é indispensável reconhecer as implicações da forma do auxílio no que tange à distribuição das perdas já ocorridas.
Como arbitrá-las?
O governo de George W. Bush fez a sua proposta, pela qual o Tesouro americano transferiria para um fundo a quantia de US$ 700 bilhões, a serem utilizados na compra de títulos de pior qualidade das instituições financeiras, estancando suas perdas e evitando a contaminação de outros títulos e agentes.
Várias críticas têm sido endereçadas à proposta, muitas delas com um nítido sabor moral, ou mesmo fundamentalista, como é o caso daqueles que acreditam que o Estado jamais deveria interferir nos mercados.
Defeitos
Contudo, é preciso reconhecer que a proposta Bush-Paulson tem vários defeitos.
Por estar centrada exclusivamente na compra de ativos podres, ela pode não ser suficiente para deter o aprofundamento das perdas, exigindo mais recursos, sempre demandados com a urgência da iminência da catástrofe.
Por sua vez, se bastar, ela poderá não resolver a questão crucial da retomada dos financiamentos à economia em razão da excessiva descapitalização das instituições financeiras, além de jogar toda a conta exclusivamente nas costas do Tesouro americano.
Com base nas objeções anteriores, economistas americanos têm insistido na alternativa de conceder a ajuda com outro formato, qual seja, a da capitalização das instituições em dificuldades.
O Tesouro dos Estados Unidos aportaria os recursos na forma de capital, e viraria, ao menos temporariamente, sócio das mesmas. A injeção de capital, na magnitude proposta, elevaria o nível de confiança do sistema, permitindo mesmo a retomada de financiamentos.
Além disso, reforçaria o poder do Tesouro na arbitragem das perdas, por torná-lo ator essencial na administração dos ativos e passivos das instituições.
As opções discutidas acima podem parecer excessivamente técnicas e irrelevantes, mas não são. Da sua escolha, somada a outras tantas que se porão no futuro imediato, emergirá um novo formato das finanças. Só a partir daí poder-se-á responder a questão da emergência de uma nova era.
O triste fim de Wall Street. O sistema financeiro acabará nas mãos do Estado?
A nova versão do Plano Paulson não porá fim à crise financeira internacional, opina Paulo Nogueira Batista Jr., economista, em arigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02-10-2008.
Há cerca de 30 anos, em outubro de 1979, a guinada radical da política monetária americana, comandada por Paul Volcker, marcou o início da reafirmação econômica americana no plano internacional, e uma nova forma de operação do capitalismo, constituindo um marco simbólico do início da globalização. Aos que estão presenciando, há um ano, os fatos dramáticos nos mercados financeiros, cabe perguntar se um deles ou o seu conjunto marca o fim de uma era.
A resposta à pergunta não é trivial e, a rigor, talvez não possa ser dada de imediato.
Trata-se menos de impossibilidade determinada pela contemporaneidade dos fatos e mais pelo caráter múltiplo das saídas que se colocarão aos eventos do último ano. Dito de outra forma, não há, no desenrolar da crise financeira recente, soluções indisputáveis. A natureza do sistema que se porá no seu lugar será produto da correlação de forças políticas e, por que não dizer, da capacidade dos setores progressistas da sociedade, em particular da americana, de regular as finanças.
A recusa inicial do socorro ao sistema financeiro por parte da Câmara dos Deputados constitui uma ilustração da natureza das alternativas em questão. Para analisar os interesses em jogo, é necessário destacar o caráter indispensável dessa ajuda, o que, porém, em nada elucida a forma específica que deve assumir o pacote.
É forçoso reconhecer que a intervenção do Estado nos mercados é crucial para deter a exacerbação das perdas. Mas é indispensável reconhecer as implicações da forma do auxílio no que tange à distribuição das perdas já ocorridas.
Como arbitrá-las?
O governo de George W. Bush fez a sua proposta, pela qual o Tesouro americano transferiria para um fundo a quantia de US$ 700 bilhões, a serem utilizados na compra de títulos de pior qualidade das instituições financeiras, estancando suas perdas e evitando a contaminação de outros títulos e agentes.
Várias críticas têm sido endereçadas à proposta, muitas delas com um nítido sabor moral, ou mesmo fundamentalista, como é o caso daqueles que acreditam que o Estado jamais deveria interferir nos mercados.
Defeitos
Contudo, é preciso reconhecer que a proposta Bush-Paulson tem vários defeitos.
Por estar centrada exclusivamente na compra de ativos podres, ela pode não ser suficiente para deter o aprofundamento das perdas, exigindo mais recursos, sempre demandados com a urgência da iminência da catástrofe.
Por sua vez, se bastar, ela poderá não resolver a questão crucial da retomada dos financiamentos à economia em razão da excessiva descapitalização das instituições financeiras, além de jogar toda a conta exclusivamente nas costas do Tesouro americano.
Com base nas objeções anteriores, economistas americanos têm insistido na alternativa de conceder a ajuda com outro formato, qual seja, a da capitalização das instituições em dificuldades.
O Tesouro dos Estados Unidos aportaria os recursos na forma de capital, e viraria, ao menos temporariamente, sócio das mesmas. A injeção de capital, na magnitude proposta, elevaria o nível de confiança do sistema, permitindo mesmo a retomada de financiamentos.
Além disso, reforçaria o poder do Tesouro na arbitragem das perdas, por torná-lo ator essencial na administração dos ativos e passivos das instituições.
As opções discutidas acima podem parecer excessivamente técnicas e irrelevantes, mas não são. Da sua escolha, somada a outras tantas que se porão no futuro imediato, emergirá um novo formato das finanças. Só a partir daí poder-se-á responder a questão da emergência de uma nova era.
O triste fim de Wall Street. O sistema financeiro acabará nas mãos do Estado?
A nova versão do Plano Paulson não porá fim à crise financeira internacional, opina Paulo Nogueira Batista Jr., economista, em arigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02-10-2008.
"Não vamos nos iludir: o Plano Paulson, ainda que substancialmente revisto, ampliado e emendado, não põe fim à crise financeira internacional. Conseguirá, no máximo, proporcionar uma trégua por alguns meses", escreve o economista. Pois, segundo ele, "a situação financeira nos Estados Unidos - e também na Europa - é calamitosa. Instalou-se o pânico. Em vários países desenvolvidos, começaram a acontecer corridas contra instituições financeiras. A verdade é que grande parte do sistema está enfrentando problemas de solvência. Muitas instituições estão à beira do colapso, lutando pela sobrevivência".
Segundo ele, "tanto aqui nos Estados Unidos como na Europa percebe-se que uma crise como a atual -a mais profunda desde a Grande Depressão da década de 1930 - exigirá uma recapitalização maciça dos bancos pelos governos por meio da compra de ações preferenciais".
E Paulo Nogueira Batista Jr. conclui:
"É provável que grande parte do sistema financeiro acabe nas mãos do Estado".
Segundo ele, "tanto aqui nos Estados Unidos como na Europa percebe-se que uma crise como a atual -a mais profunda desde a Grande Depressão da década de 1930 - exigirá uma recapitalização maciça dos bancos pelos governos por meio da compra de ações preferenciais".
E Paulo Nogueira Batista Jr. conclui:
"É provável que grande parte do sistema financeiro acabe nas mãos do Estado".
Rezemos porque isso aí é pior que o 11 de setembro’
Em Wall Street as Bolsas fecham e se abrem as igrejas. No dia mais escuro desde o início da crise, o povo da grande finança redescobre a fé em Deus e busca refúgio na religião.
A reportagem é de Francesco Semprini e publicada pelo jornal La Stampa, 30-09-2008.
Em Wall Street as Bolsas fecham e se abrem as igrejas. No dia mais escuro desde o início da crise, o povo da grande finança redescobre a fé em Deus e busca refúgio na religião.
A reportagem é de Francesco Semprini e publicada pelo jornal La Stampa, 30-09-2008.
Passou um pouco das quatro horas da tarde e Lower Manhattan, sede do distrito de negócios mais importante dos EUA, é dominada por um clima de uma calma surreal.
Os momentos frenéticos que até a pouco acompanharam a queda das bolsas deixa espaço para o silencio. Dos bancos, dos escritórios, das Bolsas, as pessoas saem com o rosto baixo, em filas desordenadas, sussurando qualquer coisa mas não no bar ou no café de sempre. Desta vez o povo de Wall Street vai para as igrejas. “O aumento dos fiéis nas últimas semanas chegou ao ápice no dia de hoje. Nunca, nesta hora, a igreja esteve tão cheia de homens com casaco e gravata e por mulheres em tailleur”, explica o reverendo Mark Bozzuti-Jones da Trinitiy Church, igreja episcopal de Wall Street.
Manager e ‘brocker’ se encontram entre os bancos da paróquia do bairro financeiro, rezam ou refletem, mas, geralmente, procuram refúgio. “Estão perturbados, com medo. Buscam uma palavra de conforto – diz -, uma situação deste tipo não se via desde o dia 11 de setembro de 2001”.
Terminada a função litúrgica muitos se aproximam do altar para trocar uma palavra com o reverendo.
Mark, como se faz chamar pelos fiéis, correu para o Ground Zero assim que soube que o plano Paulson fora derrotado na Câmara. “Eles têm medo de perder o trabalho, de não poderem pagar a escola dos filhos, o aluguel, especialmente aqui em Manhattan, muitos temem perder a pensão”. Talvez temam simplesmente de não poderem continuar a boa vida de antes? “Para encontras estas pessoas tens que ir para o outro lado da rua”, responde Terry Smith, broker da Amex, apontando o dedo para os andares altos de uma conhecida empresa financeira cuja sede é próxima da igreja. “Eles – prossegue – não admitem a culpa”.
O reverendo Bozzuti-Jones organizou encontros de grupo para ajudar as vítimas de Wall Street a superar psicologicamente o estresse. “É necessário afrontar as dificuldades que nos afligem”, explica o padre Madigan, da igreja católica de St. Peter, a poucos metros do World Trade Center. “O caráter perverso desta crise é que deve ainda manifestar os piores efeitos, especialmente sobre a vida das pessoas que vivem sozinhas” – prossegue padre Madigan enquanto convida os fiéis a tomarem assento nos bancos. “Muitos deles não são freqüentadores habituais e têm vergonha de sentar mais na frente”, explica.
No grande portão lateral entram dezenas de pessoas. Entre elas está o manager do Nyse, o reconhecemos pelo crachá, o banqueiro do Goldman, o mesmo que volta e meia intervém na TV com dados financeiros, até o responsável da nova filial do Chase onde todos param sacar dinheiro na hora do almoço. “Muitas destas pessoas viveram o 11 de setembro”, recorda o reverendo Bozzuti-Jones convencido que como aqueles ataques mataram três mil pessoas num só golpe, esta crise matou, financeiramente, somente em Nova York, dez mil pessoas: “Muitas delas não querem que Nova York lhes leve o único que lhes sobrou: a fé”.
Brasil, 2002 e EUA, 2008. Dois pesos, duas medidas
O jogo de pressões contra o Brasil, em 2002, por causa da eminência da vitória de Lula, foi pesado e claro. O então secretário do Tesouro americano, Paul O'Neill, no meio das turbulências que abalavam o país, declarou que se opunha à concessão de um empréstimo de emergência do FMI. "Jogar dinheiro do contribuinte dos EUA na incerteza política do Brasil não me parece brilhante", afirmou. O fato é narrado por Maria Inês Nassif, jornalista, em artigo publicado no jornal Valor, 02-10-2008. Segundo ela, "tratava-se de um desembolso de US$ 10 bilhões de um crédito que o Brasil já tinha. Somente a seguradora AIG, durante essa crise de 2008, levou US$ 85 bilhões do dinheiro do contribuinte dos EUA".
Eis o artigo.
No dia 29 de abril de 2002, os bancos de investimentos Morgan Stanley Dean Witter e Merrill Lynch recomendaram a seus clientes que reduzissem a exposição a títulos brasileiros, e o Salomon Smith Barney reduziu a projeção do Ibovespa de 2002. No dia 2 de maio, foi a vez do ABN Amro reduzir baixar a recomendação de negócios com o Brasil; no dia 3, o Santander; no dia 6, o Goldman Sachs. Em poucos dias, foi dada a largada para um longo ataque especulativo contra o país que só viria a arrefecer, de fato, quando o mercado soube os nomes dos escolhidos pelo presidente eleito apesar das pressões do mercado, Luiz Inácio da Silva (PT), para comandar a economia e o Banco Central - isso, já no final do ano.
O governo americano e o Fundo Monetário Internacional (FMI) atuaram intensamente para que o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) contornasse a crise que se fabricou em torno de um processo eleitoral em que o petista era o preferido sem se distanciar do modelo político neoliberal - e para que o candidato com maiores chances de vitória se comprometesse com a manutenção dessa política.
O jogo de pressões foi pesado e claro. O então secretário do Tesouro americano, Paul O'Neill, no meio das turbulências que abalavam o país, declarou que se opunha à concessão de um empréstimo de emergência do FMI. "Jogar dinheiro do contribuinte dos EUA na incerteza política do Brasil não me parece brilhante", afirmou. Teve que se desdizer depois por pressão do Departamento de Estado - e se tratava de um desembolso de US$ 10 bilhões de um crédito que o Brasil já tinha. Somente a seguradora AIG, durante essa crise de 2008, levou US$ 85 bilhões do dinheiro do contribuinte dos EUA.
O atual secretário do Tesouro, Henry Paulson, era presidente do Goldman Sachs em 2002 - a instituição de onde emergiu, como uma provocação, uma fórmula feita por um analista, Daniel Tenengauzer, batizada por ele de Lulômetro, que "media" o medo que Lula causava no mercado. A direção do banco repreendeu o funcionário, mas só depois que o governo brasileiro reagiu.
Os jornais noticiaram, com furor, as análises dos bancos e as opiniões de operadores de mercado sobre as eleições brasileiras, com as devidas interpretações sobre o discurso de Lula e os documentos do PT.
Em "Diretrizes para um Programa de Governo", aprovado pelas instâncias partidárias, os "players" apontavam como evidência de que o PT não iria respeitar contratos, caso vencesse a disputa para a Presidência, um trecho onde se definia o compromisso com uma "profunda alteração no perfil do gasto público envolvendo a redução da vulnerabilidade externa e a recomposição das finanças públicas". De alguma forma, Lula cumpriu a promessa. Não parece, todavia, que isso tenha sido a socialização do país, nem uma adesão ao "chavismo" que os bancos acusavam em 2002.
Os organismos multilaterais, o governo americano e os analistas de bancos impunham suas exigências de condução de políticas econômica e monetária. O subsecretário de Tesouro dos EUA, John Taylor, jogando nas costas do processo eleitoral as turbulências econômicas do país, disse que os EUA esperavam que os chamados "fundamentos" da política ortodoxa de FHC fossem mantidos, independentemente de quem fosse o eleito ("EUA dizem esperar 'governo clone' de FHC", FSP, 13/6/2002).
As contas do país se deterioraram de tal forma, ao final de um período especulativo que entrou por todos os poros das fragilidades da economia brasileira, que quando o eleito Lula e os petistas que se envolveram com a formação do governo analisaram os números levantados pelo governo de transição, não restava outra alternativa senão "manter o conservadorismo fiscal e monetário", conforme recomendara, em seminário do Banco Central, o representante do FMI no Brasil, Rogério Zandamela, em junho (entre outras muitas e insistentes recomendações "de fora"). O primeiro governo Lula não teve escolha, pelo menos até tirar o pé do país da lama em que se afundara num processo eleitoral.
Esses atores são quase os mesmos da crise americana. A pressão do mercado, do governo dos EUA e dos organismos multilaterais sobre o Brasil, em 2002, foram no sentido de manter o país que era o aluno exemplar do neoliberalismo no caminho das "reformas estruturais" e da ortodoxia. O empréstimo do FMI tratou de garantir solvência ao país para resolver suas pendências com o capital especulativo que investia em títulos de sua dívida. Agora, a pressão do mercado financeiro e dos demais países sobre os EUA é para que garanta a solvência de um sistema financeiro, o que só ocorrerá se for jogado para debaixo do tapete, pelo menos provisoriamente, o receituário neoliberal.
Seria ingênuo cobrar coerência do mercado financeiro, ou imaginar que a crise brasileira de 2002 e a americana de 2008 fossem tratadas da mesma forma. Mas não existe nenhuma lei internacional que impeça que se cobre a isonomia - teoricamente, esse é um direito. O presidente Lula, em Nova Iorque, na semana passada, teve o seu dia de lavagem de alma. "Eu cobrei do G8, cobrei do FMI e do Banco Mundial que estava na hora de eles se manifestarem, porque quando é um país pequeno que tem crise, todos eles dão palpite. Quando é a maior economia do mundo que entra em colapso, a gente não vê nenhum palpite deles", reclamou. Deu-se ao direito de também orientar política econômica alheia, decretando o fim do neoliberalismo, pois a crise "demonstra que também no sistema financeiro é preciso ter seriedade, é preciso ter ética, não é apenas o cidadão comum que tem que ser ético". E, por fim, recomendou aos dois candidatos presidenciais uma "Carta ao Povo Americano" expressando compromissos para acalmar o mercado. A "Carta ao Povo Brasileiro" divulgada pelo PT em junho de 2002 foi uma exigência do mercado financeiro, que especulava que Lula romperia contratos e jogava o dólar nas alturas. Recomendar a McCain e a Obama o mesmo foi uma pequena provocação. Um pequeno prazer antes de voltar ao Brasil e esperar para ver o estrago que a crise americana vai fazer no nosso quintal.
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