EU CONCORDO COM
VERSÃO DE DILMA NÃO DURA 24 HORAS. É QUE O BOM DA DEMOCRACIA É A VERDADEDurou menos de 24 horas o formidável festival de hipocrisia do governo e, lamento dizer, de boa parte da crônica política, que saudava a “vitória” da ministra Dilma Rousseff — alguns já se antecipando e prevendo o seu espetacular avanço nas pesquisas eleitorais. E a razão de alegria tão curta é simples: a ministra se orgulha de ter mentido, sob tortura, na ditadura. Na democracia, num ambiente cortês, com sombra e água fresca, ela poderia ter dito a verdade. Mas não disse. Negou a existência do dossiê. E é mentira que o dossiê não exista. Já se sabe até o nome de um funcionário que vazou o documento: José Aparecido Nunes Pires.De forma dramática, imagino, sob tortura, Dilma ainda conseguiu, segundo seu próprio testemunho, exercer uma escolha: mentir ou falar a verdade. No Senado, ela não tinha escolha nenhuma: se falasse a verdade, cairia. Mas aí as nossas noviças estavam ouriçadas demais para prestar atenção ao que ela dizia. Todos ficaram mesmerizados com a proclamação do seu heroísmo. Está aí: o dossiê existe. Tanto existe, que vazou — e agora se tem ao menos uma das fontes de vazamento. José Aparecido Nunes Pires, apontado como aquele que passou um e-mail para um assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), parece estar disposto a falar. Concedeu ontem entrevista à reportagem da Globo. Negou tudo. Afirmou que “eles” — sei lá quem são eles — podem ter plantado coisas em seu computador.Dilma e o governo não querem punir Pires. Porque temem que, se for transformado na Geni do dossiê, ele bote a boca no trombone. Não por acaso, no Senado, Dilma afirmou que os documentos sobre gastos de governos passados não são mais sigilosos, segundo parecer que lhe foi enviado pelo general Jorge Felix, do Gabinete da Segurança Institucional. Felix agora é o nosso legislador, o nosso Licurgo. Como se vê, o carnaval sobre a tortura serviu como cortina de fumaça: quem fez o dossiê? E a mando de quem? No Senado, Dilma insistiu que o papelório é só um banco de dados. Mas foi incapaz de dizer: “Eu mandei fazer”.A verdade é que o dossiê, sepultado apressadamente pelo suposto desempenho brilhante de Dilma, está vivo de novo — e mais vivo do que nunca, pouco importa o malabarismo retórico que se tente. O heroísmo de quando Dilma tinha 23 anos — e não 19 — não esconde o fato óbvio de que funcionários do Estado brasileiro foram mobilizados para produzir uma peça política contra o governo anterior, o que já alimentava, diga-se, as colunas dos jornais. E isso é crime.Pires é petista e ligado a José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil. É um segredo de polichinelo que o ministério se divide, digamos, em duas correntes: a que continua fiel ao ex-titular e a que segue as orientações da atual ministra. Será que o petismo, composto, como é mesmo?, de “tantos companheiros de armas”, anda trocando balas entre si?No caso da telefonia — como já vimos —, os petistas racharam, não é? Novos negócios teriam aberto uma guerra civil na Casa Civil? Anotem: é uma boa vereda para o jornalismo investigativo avançar. Vocês sabem: aqueles “heróis”, hoje em dia, se tornaram bem mais pragmáticos, não é? Hoje eles torturam a verdade para que ela não confesse.OS NOVOS TORTURADORES: AGORA DE REPUTAÇÕESQuero voltar ao senador Agripino Maia (DEM-RN), tratado por alguns colunistas e cronistas como se fosse um torturador, o delegado Fleury do Rio Grande do Norte. Em sua resposta, a ministra Dilma afirmou que tinha 19 anos quando foi presa. Não. Tinha 23 quando foi detida, em 1970. E não deveria ter sido torturada nem que tivesse 43 ou 93, é claro. Ela também sugeriu que ambos estavam em lados opostos. Não é preciso ser um gênio para que se faça a associação óbvia: se ela estava sendo torturada, o senador deveria estar do lado dos torturadores.Alto lá! Em março de 1964, Agripino tinha, precisamente, 19 anos e um mês. No AI-5, em 1968, 23 anos. Sua carreira política só começou em 1979, nomeado prefeito de Natal — de modo indireto, sim. Como foi Mário Covas em São Paulo. A exemplo de todos os prefeitos de capitais. Era a lei. Em 1982, elege-se, em eleições diretas, governador do Rio Grande do Norte. E rigorosamente toda a sua vida política foi feita segundo o escrutínio democrático. Aliás, diga-se, ele tem em seu favor o que Dilma não teve até agora: voto.Se Agripino chegou a ter alguma vocação antidemocrática, guardou-a para si, porque ela nunca teve relevância. Ignora-se. Ser tratado como bandido também é assassinato, também é tortura, mais aí de reputação — e perpetrado em plena democracia. Já sobre as convicções democráticas pregressas de Dilma, o senador nada precisa dizer, eu digo: ela queria uma ditadura comunista. O grupo a que pertencia praticava atentados terroristas e assaltos. Verdade ou mentira?Ela deveria ter sido torturada por isso? A pergunta é ridícula. É óbvio que não. Quem justifica tortura hoje em dia são os defensores e apoiadores de Fidel Castro — não eu ou, que eu saiba, o senador Agripino. E esses iluminados estão no governo que Dilma Rousseff integra. Quem se deixou fotografar fotografando o ditador moribundo, mas ainda assassino, foi Lula.Agripino também não foi um dos signatários do AI-5, como foi, por exemplo, Delfim Netto — cuja inteligência admiro, deixo bem claro —, hoje um dos conselheiros de Lula. Querer tratar o DEM como herdeiro da ditadura é uma falácia. A Arena não existe mais — e tanto é assim que muitos ex-arenistas, golpistas de primeira hora incluídos, estão hoje com Lula. Usar o estado para produzir dossiês contra adversários é uma manifestação de exceção na democracia, é uma espécie de tortura exercida por outros meios. Pespegar num democrata — referência à índole de Agripino, não a seu partido apenas — a pecha de amigo da tortura também é tortura, também é assassinato; no caso, um assassinato de reputação.A forma como ele fez a pergunta foi, sem dúvida, infeliz — para ele, não para ela. Certamente pretendia ressaltar que o estado de exceção, por meio do horror da tortura, impunha a mentira. E que cumpre dizer a verdade na democracia. Mas se expressou mal, e Dilma aproveitou para exaltar o seu heroísmo. Acontece que a tortura diz muito do caráter do torturador — um ser desprezível — mas pouco do caráter do torturado. Submetido às piores agruras, o que ele diz deixa de ter relevância. O que quero dizer com isso? A tortura não confere exclusivismo moral a ninguém. E considerar o contrário, diferente do que parece, é piscar um olho para o horror. Falo mais a respeito no post abaixo.Reitero: estão querendo submeter Agripino ao pau de arara da mentira, à cadeira do dragão da mistificação.Extraído do Blog: http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
Dossiê : duas hipóteses e um único tomEstá sendo apresentado pela imprensa, em bloco, um "laudo técnico" feito para a Casa Civil na investigação dos computadores do Palácio do Planalto na investigação sobre quem vazou o que os meios de comunicação chamam de "dossiê com os gastos da presidência no governo Fernando Henrique". Quem deu o furo foi o Jornal Nacional, segundo quem "a investigação mostra que as informações sigilosas foram divulgadas por um funcionário da Casa Civil".O destaque dado pela imprensa ao fato de que a documentação saiu da Casa Civil esconde o que realmente revela de novo o laudo do Instituto de Tecnologia da Informação (ITI) , ou seja, que a divulgação dos dados sigilosos foi mesmo obra do senador pelo PSDB paranaense Álvaro Dias, pois nunca houve dúvida de que os dados tinham saído do Palácio do Planalto, pois é lá que esses dados estavam armazenados e isso nunca foi negado pelo governo federal.Outro dado novo é o nome do responsável pelo computador de onde saíram os dados sobre os gastos de FHC. José Aparecido Nunes Pires é secretário de controle interno da Casa Civil e enviou o material para André Eduardo da Silva Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias, do PSDB.Segundo o Jornal Nacional dá a entender, a Globo já estava de posse dos dados há dois dias e só os divulgou ontem à noite. A retenção das informações é mais significativa do que elas próprias. E o que dá a entender que houve tal retenção foi a seguinte locução da reportagem do JN: "Na terça-feira, Zé Aparecido prometeu entregar cópias dos e-mails trocados com André para provar que o anexo do e-mail não era o dossiê". O assunto, portanto, já vinha sendo desenrolado nos bastidores antes de vir a público.Ao contrário do tom do noticiário, a revelação do nome de quem entregou a documentação a Álvaro Dias e a confirmação de que foi do senador tucano que partiu a divulgação do "dossiê" para a imprensa é que são os fatos novos. E mais: esses fatos complicam muito mais a oposição do que o governo, porque, apesar do tom que está sendo ditado por jornais como Folha e Globo, foi a própria Casa Civil quem divulgou quem vazou para quem as informações furtadas do Palácio do Planalto.Nesse aspecto, a manchete de primeira página mais correta, ou menos deturpada, é a do Estadão, que diz o seguinte: "Casa Civil diz que aliado de Dirceu vazou dossiê anti-FHC". Sim, foi a Casa Civil quem divulgou o que está sendo apresentado como denúncia, pois a investigação é da Casa Civil, não da imprensa.Contudo, a manchete do Estadão tampouco é 100% correta, porque destaca que funcionário que trabalhava na Casa Civil quando o ministro-chefe da pasta era José Dirceu é o responsável pelo vazamento, quando o que se sabe é que foi do computador dele que partiu um e-mail supostamente contendo os dados sigilosos. A especificação de qual mensagem enviada daquele computador é acusada de conter anexados os dados furtados faz supor que já se possa comprovar que foi numa mensagem do ex-assessor de Dirceu José Aparecido para o assessor de Álvaro Dias André Eduardo que os dados foram vazados, mas o notíciário deixa dúvidas de que já seja possível comprovar isso.De qualquer maneira, a pergunta que mais interessa neste momento é a seguinte: por que José Aparecido enviou os dados para, no fim das contas, Álvaro Dias? Esses dados foram pedidos pelo senador ao seu assessor para que os obtivesse de José Aparecido ou foi este que os ofereceu ao parlamentar tucano? Com que intenção? Foi para chantagear o PSDB ou para comercializá-los com o partido?Para afirmar que foi para chantagear, é preciso provas. Não dá para afirmar isso porque pode ter sido o PSDB que supostamente corrompeu José Aparecido a fim de armar uma cilada para destruir a candidatura que o partido acreditava que estava sendo promovida por Lula usando o lançamento de obras do PAC, a candidatura de Dilma Rousseff.Existe um princípio investigativo que deve sempre ser observado para descobrir culpados por crimes. Recentemente, aludi a esse princípio em um texto sobre o caso Isabella Nardoni. Trata-se da expressão em latim "Cui Prodest", ou seja, a quem interessa, e o vazamento dos dados interessa aos dois fins.Há duas hipóteses completamente antagônicas sobre a razão de, supostamente, José Aparecido ter enviado a Álvaro Dias - no fim das contas - os documentos que, bem orquestrados, poderiam gerar a criminalização da ministra Dilma Rousseff.A de isto ter ocorrido ou a de que o que ocorreu tenha sido o contrário, de que houve esse envio de dados para intimidar o PSDB. Nenhuma das duas hipóteses, porém, pode ser descartada numa investigação policial. A mídia quer transformar a segunda hipótese em fato, mas, legalmente, ambas as hipóteses são admissíveis e precisam ser igualmente investigadas. E serão, não tenham dúvidas.Ao que parece, a demora de dois dias da Globo em divulgar essa notícia pode ter se devido também à emissora querer esperar o depoimento de Dilma Rousseff ao Senado na quarta-feira, a fim de corroborar as acusações que ali lhe seriam feitas. Contudo, o fator José Agripino Maia frustrou os planos globais ao paralisar as acusações da sessão do Senado em que a ministra foi perquirida. Então, pode ter sido criada uma fórmula para inverter a natureza da notícia, tirando Álvaro Dias da linha de fogo e colocando "os culpados de sempre", ou seja, José Dirceu, sempre chamado a responder pelas acusações dos braços midiáticos do PSDB.O senador Álvaro Dias diz, candidamente, que "não sabia quem tinha enviado o dossiê ao seu assessor, mas que agora sabe". Segundo a Globo, porém, "O senador não quis pronunciar o nome de André Eduardo da Silva Fernandes, o funcionário de seu gabinete que recebeu o dossiê. Mas confirmou que se trata dele mesmo".Álvaro Dias teria dito que “O nome que a Globo tem" ele confirma e que essa pessoa o autorizou a confirmar seu nome. Contudo, a emissora diz também que "O senador não soube explicar por que o dossiê foi parar na mão dele, que é de oposição". O tucano teria dito que "não imagina o porquê" e que "certamente houve uma alteração de cronograma, houve um atravessamento, não era hora de vazar esse dossiê, não era isso que estava estabelecido por quem ordenou", e que "O mais importante agora é saber quem mandou fazer esse dossiê e por que mandou fazer”.Essa é a versão de um dos principais envolvidos no caso, e não os fatos. Álvaro Dias pode muito bem ter orquestrado a obtenção dos dados valendo-se da amizade de seu assessor com o ex-assessor de Dirceu. Essa é uma hipótese tão boa quanto a que está sendo veiculada pela mídia como se fosse fato, à revelia de que ainda não há provas que favoreçam nenhuma das duas versões.O que se espera, no entanto, é que essas provas ainda surjam. Por isso, a mídia se arrisca muito ao bancar a versão de um dos lados, do lado tucano da investigação. O mais lógico seria ela aproveitar o factóide para diminuir a banho que Dilma Rousseff deu na oposição na quarta-feira e deixar o assunto de lado, mas isso seria o mais lógico e a mídia tem desprezado a lógica reiteradamente, agindo sempre de forma emocional diante dos gols que vem tomando do governo Lula.extraído do blog: http://edu.guim.blog.uol.com.br/
EU DISCORDO DE
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VERSÃO DE DILMA NÃO DURA 24 HORAS. É QUE O BOM DA DEMOCRACIA É A VERDADEDurou menos de 24 horas o formidável festival de hipocrisia do governo e, lamento dizer, de boa parte da crônica política, que saudava a “vitória” da ministra Dilma Rousseff — alguns já se antecipando e prevendo o seu espetacular avanço nas pesquisas eleitorais. E a razão de alegria tão curta é simples: a ministra se orgulha de ter mentido, sob tortura, na ditadura. Na democracia, num ambiente cortês, com sombra e água fresca, ela poderia ter dito a verdade. Mas não disse. Negou a existência do dossiê. E é mentira que o dossiê não exista. Já se sabe até o nome de um funcionário que vazou o documento: José Aparecido Nunes Pires.De forma dramática, imagino, sob tortura, Dilma ainda conseguiu, segundo seu próprio testemunho, exercer uma escolha: mentir ou falar a verdade. No Senado, ela não tinha escolha nenhuma: se falasse a verdade, cairia. Mas aí as nossas noviças estavam ouriçadas demais para prestar atenção ao que ela dizia. Todos ficaram mesmerizados com a proclamação do seu heroísmo. Está aí: o dossiê existe. Tanto existe, que vazou — e agora se tem ao menos uma das fontes de vazamento. José Aparecido Nunes Pires, apontado como aquele que passou um e-mail para um assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), parece estar disposto a falar. Concedeu ontem entrevista à reportagem da Globo. Negou tudo. Afirmou que “eles” — sei lá quem são eles — podem ter plantado coisas em seu computador.Dilma e o governo não querem punir Pires. Porque temem que, se for transformado na Geni do dossiê, ele bote a boca no trombone. Não por acaso, no Senado, Dilma afirmou que os documentos sobre gastos de governos passados não são mais sigilosos, segundo parecer que lhe foi enviado pelo general Jorge Felix, do Gabinete da Segurança Institucional. Felix agora é o nosso legislador, o nosso Licurgo. Como se vê, o carnaval sobre a tortura serviu como cortina de fumaça: quem fez o dossiê? E a mando de quem? No Senado, Dilma insistiu que o papelório é só um banco de dados. Mas foi incapaz de dizer: “Eu mandei fazer”.A verdade é que o dossiê, sepultado apressadamente pelo suposto desempenho brilhante de Dilma, está vivo de novo — e mais vivo do que nunca, pouco importa o malabarismo retórico que se tente. O heroísmo de quando Dilma tinha 23 anos — e não 19 — não esconde o fato óbvio de que funcionários do Estado brasileiro foram mobilizados para produzir uma peça política contra o governo anterior, o que já alimentava, diga-se, as colunas dos jornais. E isso é crime.Pires é petista e ligado a José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil. É um segredo de polichinelo que o ministério se divide, digamos, em duas correntes: a que continua fiel ao ex-titular e a que segue as orientações da atual ministra. Será que o petismo, composto, como é mesmo?, de “tantos companheiros de armas”, anda trocando balas entre si?No caso da telefonia — como já vimos —, os petistas racharam, não é? Novos negócios teriam aberto uma guerra civil na Casa Civil? Anotem: é uma boa vereda para o jornalismo investigativo avançar. Vocês sabem: aqueles “heróis”, hoje em dia, se tornaram bem mais pragmáticos, não é? Hoje eles torturam a verdade para que ela não confesse.OS NOVOS TORTURADORES: AGORA DE REPUTAÇÕESQuero voltar ao senador Agripino Maia (DEM-RN), tratado por alguns colunistas e cronistas como se fosse um torturador, o delegado Fleury do Rio Grande do Norte. Em sua resposta, a ministra Dilma afirmou que tinha 19 anos quando foi presa. Não. Tinha 23 quando foi detida, em 1970. E não deveria ter sido torturada nem que tivesse 43 ou 93, é claro. Ela também sugeriu que ambos estavam em lados opostos. Não é preciso ser um gênio para que se faça a associação óbvia: se ela estava sendo torturada, o senador deveria estar do lado dos torturadores.Alto lá! Em março de 1964, Agripino tinha, precisamente, 19 anos e um mês. No AI-5, em 1968, 23 anos. Sua carreira política só começou em 1979, nomeado prefeito de Natal — de modo indireto, sim. Como foi Mário Covas em São Paulo. A exemplo de todos os prefeitos de capitais. Era a lei. Em 1982, elege-se, em eleições diretas, governador do Rio Grande do Norte. E rigorosamente toda a sua vida política foi feita segundo o escrutínio democrático. Aliás, diga-se, ele tem em seu favor o que Dilma não teve até agora: voto.Se Agripino chegou a ter alguma vocação antidemocrática, guardou-a para si, porque ela nunca teve relevância. Ignora-se. Ser tratado como bandido também é assassinato, também é tortura, mais aí de reputação — e perpetrado em plena democracia. Já sobre as convicções democráticas pregressas de Dilma, o senador nada precisa dizer, eu digo: ela queria uma ditadura comunista. O grupo a que pertencia praticava atentados terroristas e assaltos. Verdade ou mentira?Ela deveria ter sido torturada por isso? A pergunta é ridícula. É óbvio que não. Quem justifica tortura hoje em dia são os defensores e apoiadores de Fidel Castro — não eu ou, que eu saiba, o senador Agripino. E esses iluminados estão no governo que Dilma Rousseff integra. Quem se deixou fotografar fotografando o ditador moribundo, mas ainda assassino, foi Lula.Agripino também não foi um dos signatários do AI-5, como foi, por exemplo, Delfim Netto — cuja inteligência admiro, deixo bem claro —, hoje um dos conselheiros de Lula. Querer tratar o DEM como herdeiro da ditadura é uma falácia. A Arena não existe mais — e tanto é assim que muitos ex-arenistas, golpistas de primeira hora incluídos, estão hoje com Lula. Usar o estado para produzir dossiês contra adversários é uma manifestação de exceção na democracia, é uma espécie de tortura exercida por outros meios. Pespegar num democrata — referência à índole de Agripino, não a seu partido apenas — a pecha de amigo da tortura também é tortura, também é assassinato; no caso, um assassinato de reputação.A forma como ele fez a pergunta foi, sem dúvida, infeliz — para ele, não para ela. Certamente pretendia ressaltar que o estado de exceção, por meio do horror da tortura, impunha a mentira. E que cumpre dizer a verdade na democracia. Mas se expressou mal, e Dilma aproveitou para exaltar o seu heroísmo. Acontece que a tortura diz muito do caráter do torturador — um ser desprezível — mas pouco do caráter do torturado. Submetido às piores agruras, o que ele diz deixa de ter relevância. O que quero dizer com isso? A tortura não confere exclusivismo moral a ninguém. E considerar o contrário, diferente do que parece, é piscar um olho para o horror. Falo mais a respeito no post abaixo.Reitero: estão querendo submeter Agripino ao pau de arara da mentira, à cadeira do dragão da mistificação.Extraído do Blog: http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/
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